Editorial
Nesta última edição de 2020 (fazemos uma pausinha paras as festividades) queremos levar-vos alegria e positividade, já com os olhos e o coração esperançadamente postos no 20+1.
Vamos pois dedicar esta edição à música e dança como meio de celebração e detox. O nosso gira-discos deixará que nos adentremos num vinil múltiplo e pluralista, um universal esperanto sonoro, para navegar embalados pelas melodias criadas em diferentes lusofonias.
No final de um 2020 tão singularmente surpreendente, tratemos de celebrar a união, o conjunto, a cooperação, a amizade entre culturas, nações, raças de homens e mulheres. Demos voz, usemos a linguagem do mundo, aquela que é una e que todos conhecem. A da paz, da empatia, da tolerância, do respeito e do amor!
A agulha toca o disco, o som vintage, o ruído fino da antecipação e somos imediatamente arrebatados pelo ritmo. Chega Gonzaguinha espalhando alegria e cantando a inabalável esperança de um povo.
Continuamos a escuta, agora com mais intensidade na poesia cálida e doce de Eneida Marta Cantam-se e contam-se estórias de vidas e de uma terra onde apesar das dificuldades, há sempre espaço para mais um sorriso genuíno.
O set atinge o seu ponto médio. Baterias já recarregadas e alma sanada, urge novo momento dançante e Pacas vai tratar do assunto. Contem com movimento, energia contagiante através da união das influências africanas com inúmeros géneros e uma capacidade interpretativa incomum.
Não deu para descansar… Vamos deixar-nos guiar pelo experimentalismo e a conjugação de sonoridades que aparentemente podem parecer distantes ou que dificilmente namorariam num mesmo palco. Orelha Negra conduz-nos por uma travessia de intensidades variáveis onde a música surge como uma amálgama sonora perfeita.
Em jeito de fecho, vamos acendendo progressivamente as luzes apontadas para a pista. O baile vai ficando mais morninho. A cadência afrouxa. Os corpos acalmam e descansam. Amaura murmura-nos ao ouvido a sua vida feita poesia e voltamos à realidade mais equilibrados.
A agulha levanta-se lentamente e volta ao ponto de partida. Mente sã e corpo são!
Estreamos também una nova secção – (in)Raizados – onde contaremos em cada edição a estória de lusófon@s que fazem a sua vida por aí, nos cantos arredondados do mundo.
Até já!
1. Cantar a felicidade
É samba, é bossa nova e é aquela batida enérgica e alegre que transpira no sorriso do povo brasileiro. É a esperança, a crença na felicidade mesmo quando ela parece estar bem longe do nosso alcance. É Gonzaguinha!
O compositor e cantor, apesar da sua breve carreira (faleceu prematuramente num acidente de automóvel durante uma das suas digressões em 1982), conquistou a nação. Filho de uma outra lenda musical, Luís Gonzaga, iniciou a sua carreira num tom mais crítico e ativista, mas ao longo da sua discografia vai-se aproximando mais de temas como o amor, a amizade e a felicidade. Eis dois temas icónicos e que impossibilitam manter o pezinho parado no chão.
O que é que é?
Música e trabalho: é
2. Dureza doce
Esta guineense, combina de uma forma moderna e atual as tradições musicais do seu país de origem usando instrumentos tradicionais como a corá , o balafon e percussão com cabaça, em arranjos de uma beleza sonora indescritível. Nos seus discos combina os estilos tradicionais da Guiné como o Gumbé, o Tina, o Singa, o Djanbadon, o Afro-beat e canta em Mandinga, Fula, Crioulo, Futa-Fula e Português
As canções de Eneida Marta não nos deixam indiferentes, elas contam rostos duros e profundos, também a alegria, o (des)amor, as agruras da vida, a força das mulheres, a família, as paisagens maravilhosas da Guiné-Bissau e o seu fantástico povo. Embarquemos na melosa voz ao colo dos deliciosos dedilhados e batidas da sua obra.
Amor livre
Mindjer doce mel
3. Na rua de todos
Nascido em Luanda, crescido em Lisboa. Quase 3 décadas dedicadas à arte e pelo meio imensos quilómetros em tournée (Tabanka Djaz, They Must Be Crazy, entre muitos outros), inúmeros palcos e a participação em projetos variados de música, dança e animação cultural.
Pacas é tudo isto e mais. A sua música é como o sorriso que ostenta sempre: grandiosa, contagiante e enérgica. Nas suas canções coabitam inúmeras influências e géneros musicais que vão desde o soul e jazz, ao rap e hip hop, funk e pop, tudo bem temperado com o calor do jindungo africano e moderado pela urbanidade lisboeta, numa interpretação singularmente intensa. Topem só algumas das faixas bailantes do seu mais recente álbum “A rua é minha”.
Boato
Geração Yo!
4. Laboratório sonoro
Experimentalismo controlado e com altíssima qualidade! Estes “cientistas” musicais, em 2010, pegaram nas sinergias que foram descobrindo ao longo de colaborações em estúdio e na estrada e criaram, como se de um laboratório se tratasse, um projeto com uma sonoridade realmente única.
Em Orelha Negra estamos perante um grupo constituído por elementos de diferentes gerações, distintos backgrounds musicais (temos jazz, hip hop e rap, funk…), que através de uma espécie de comunhão sem censura ou travões criativos realiza um cruzamento extremamente profícuo de influências aproveitando o melhor que cada um tem para dar através da sua experiência.
Chama também a atenção ver como instrumentos como o baixo elétrico, a bateria e as teclas se unem plenamente e de forma harmonizada com os scratches do DJ e os samples lançados por Sam the Kid. Deixo-vos navegar livremente neste universo muito particular e tão especial.
M.I.R.I.A.M.
Parte de mim
5. Com a alma aberta
A enorme maturidade pessoal e musical refletem-se na carreira de Amaura . A artista está sem dúvida a passar por um momento brilhante e de grande produção.
Habituada a participar e colaborar com vários artistas nos seus projetos, nos trabalhos que lançou individualmente é clara a presença assumida de R&B, soul e jazz nos arranjos. Destaque também para o cunho pessoal das suas letras que contam amores mal-amados, desilusões geracionais e inconsistências com o próprio ser. Fechamos a sessão com esta bela voz, numa boa vibe.
Denso
EmContraste
(in)Raizados
Esta nova secção está dedicada a contar as aventuras e desventuras, as peripécias e o quotidiano de pessoas fantásticas que nasceram em países lusófonos e agora andam pelo mundo fora fazendo pela vida, fazendo a sua vida e espalhando a língua portuguesa pelos 4 cantos do globo.
Gente ordinária que faz coisas tão extraordinárias como simplesmente andar de bicicleta, dedilhar uma guitarra, tratar e cuidar de animais, plantar flores, cozinhar petiscos, passear à beira-rio, dançar com amigos, desenhar paisagens ou escrever poesia… Onde nasceram e onde vivem, com quem partilham os seus dias, o que fazem nos seus tempos livres, quais os seus projetos profissionais?
Estreamos este espaço com a fabulosa estória de uma grande amiga – a Lena .
Helena Matos (40 anos, Antuérpia)
Nasci em Lisboa e sou a segunda filha de um jovem casal de retornados. Fui uma criança tal como as outras mas que, desde sempre, soube que o meu futuro não seria em Portugal. Aos 3 anos, pelo que conta a minha mãe, já lhe dizia que eu não era dali, que vinha de França.
Estudei em Lisboa, onde me formei em gestão de empresas e comecei a trabalhar numa conhecida empresa internacional. A experiência não foi muito boa e cedo soube que aquele não era o meu lugar.
Em fevereiro de 2005 surgiu um projeto em Barcelona, numa ONG, como responsável por projetos internacionais de voluntariado. Apesar de não ser a minha especialidade, tinha tanta vontade de viver e conhecer coisas novas que aceitei logo o desafio. Foi o início da minha aventura! Em Barcelona aperfeiçoei o meu espanhol e aprendi catalão. Conheci pessoas de inúmeros países e vivi experiências novas e inéditas. Adaptei-me à realidade do momento e, passados alguns meses, conheci o meu atual marido – o Jelle. Ele é belga e estava a fazer o mesmo tipo de trabalho que eu noutra ONG catalã.
O tempo passou e surgiu a oportunidade de fazer o mesmo trabalho, mas em Paris. Aceitei sem hesitar e, em meados de 2006, enquanto o Jelle voltava para a Antuérpia, comecei a viver na capital francesa. Foi uma experiência espetacular! Para nos vermos, viajávamos de 2 em 2 semanas de TGV, entre a França e a Bélgica.
Ao fim de meio ano o meu projeto acabou e decidimos ir viver juntos para a Antuérpia. 2007 foi um ano de altos baixos. Por sorte, encontrei logo trabalho, mas as mudanças foram tantas num pequeno espaço de tempo, que fiquei doente. Foi o início de uma doença crónica com a qual tive de aprender a viver e que hoje em dia está controlada.
Sou uma pessoa positiva e com a ajuda de família, amigos, festas e viagens consegui dar a volta e, em 2011, decidimos começar a tentar ter filhos. Em 2012 nasceu o Daniel. Passados 2 anos, voltei a ficar grávida. Infelizmente, durante o nascimento houve complicações, e a Laura faleceu. Foram momentos dificílimos. Para ser sincera, tenho a sensação que 2014 foi um ano em que não vivi…só respirei. A nossa vida parou naquela época mas, pouco a pouco, com muito esforço, em 2015 começámos a dar a volta. No fim desse mesmo ano, voltei a ficar grávida e, em 2016, nasceu a nossa estrelinha de esperança – o Mathis.
Os anos foram passando, mudei de trabalho, aprendi novas línguas e conheci novos amigos. Ri, chorei, aprendi a viver o dia a dia e hoje, em tempos de pandemia, não me deixo levar pelo pânico. Sempre que ele “bate à porta”, olho para trás e penso: isto é apenas mais uma parte da minha aventura! Uma nova estrelinha de esperança chegará.
És ou conheces algum (in)raizado sobre quem possamos contar estórias aqui no LUSO QUÊ?? Escreve um breve texto com esse relato, junta uma foto do(s) protagonista(s) e envia-o por escrito para o endereço eletrónico disponível em O vosso espaço. Se és daquelas pessoas que dizem não ter jeito para escrever, contacta-nos e nós ajudamos-te a dar forma à aventura que tens para contar – as boas estórias não se podem perder!
Agradecimentos
Muito obrigado pela vossa colaboração e pelos “grãos de areia” lançados ao projeto: Helena Matos, João Antunes, Nacho Flores e Pedro Sereno.
Editorial
Cá estamos de volta com mais estórias para dar um toquezinho de cor e sabor ao fimde-semana que já espreita. Preparem-se para mexer bem esses ossos, pois temos uma edição estimulante e que certamente vai ativar os 5 sentidos, numa nova viagem por várias latitudes.
Chave na ignição e arrancamos deixando o Cais do Sodré atrás. Metemos a 1ª e soltando a embraiagem rapidinho, rodas a derrapar, já estamos a rolar a alta velocidade como o Gustavo Ribeiro na sua tábua. Curvas, saltos e peripécias garantidos, pelo meio de cenários urbanos únicos. Não esqueçam o capacete!
Engrenamos a 2ª, sem deixar desembalar, e num pulo vamos avançando pela Marginal aos som da East Side Radio. Abrimos a pista de dança contagiados pelos ritmos alegres e coloridos que jorram das colunas como cataratas dançantes.
A 3ª vem em seguida, mas aqui temos já uma acalmia. A mudança arranha ao entrar… sem problema, agora há tempo. Vamos lá assimilar e digerir com calma a estória “animada” de Vasco Granja, o professor que ensinou uma geração através da sua paixão pelos desenhos animados.
Estamos a chegar ao Guincho… o mar embravece-se, o vento levanta-se, os deuses manifestam-se, os papagaios losango sobrevoam as dunas e como se pudéssemos continuar a conduzir pelo Atlântico adentro, metemos a 4ª e relaxamos. Apetece pensar em coisas divertidas e que nos façam soltar umas valentes gargalhadas. Tocamos solo brasileiro e entramos pela Porta dos Fundos! Ironia, sarcasmo, toques na ferida, crítica acutilante e rir como se não houvesse amanhã.
Nada como finalizar em velocidade cruzeiro. A 5ª vai soltinha e encaminha-nos para
Cabo-Verde com passagem rápida por Portugal. Somos recebidos pelo imenso sorriso de Lura e inebriantes ondas de boa vibe. Convite para deixarmos corpo e mente guiarem-se pelos ritmos cálidos desta magnífica intérprete que mistura na perfeição as raízes africanas com as vivências em Portugal.
Até já!
1. Rolamentos alfacinhas
Fica difícil escrever com calma sobre quem anda normalmente a rodar a grande velocidade.Gustavo Ribeiro (skateboarder) tem demonstrado ser um verdadeiro prodígio numa atividade que reúne em si mesma inúmeras características. Desporto radical, movimento urbano, arte expressiva ou grito de emancipação para alguns. Sem dúvida, uma paixão incontrolável para os seus amantes e praticantes.
Este jovem lisboeta (19 anos) tem deixado o mundo de boca aberta com a sua genialidade e destreza incomuns para dominar o skate. Capaz de realizar manobras e truques incríveis (criador inclusive de movimentos novos), que por vezes nem em câmera lenta se conseguem entender ou percecionar na totalidade. Gustavo vem ganhando cada vez maior notoriedade e prestígio, pelo que tem viajado e levantado a bandeira portuguesa por este mundo fora.
Em 2019 obteve a medalha de bronze no campeonato do mundo, numa prestação e demonstração de mestria incrível. Não estranha portanto que faça parte de um restrito grupo de atletas (SLS “9 Club”) onde se encontram aqueles que conseguiram obter uma nota 9 ou superior por um truque ou manobra realizado durante um campeonato mundial de Street Skating.
Atualmente, faz parte da equipa profissional de renome mundial Red Bull e representa a JART Skateboards. Apesar de o solo ser o habitat natural onde expressa a sua arte, o céu parece ser o limite.
Saltem daí e venham ver algumas manobras vertiginosas e alucinantes!
2. Discos à solta
DJ sets em jeito de autêntica filigrana sonora, malta cheia de garra e com muita música dentro. Veterania certificada e com provas dadas, mas também sangue novo cheio de vontade de despontar. É o que nos espera neste projeto de radio online iniciado em 2019 por André Granada e Tiago Pinto (duo que forma Funkamente) com o objetivo de passar música sem uma linha editorial rígida e cuja programação não seja formal nem regular como acontece normalmente nas rádios FM. Aqui o foco está na arte dos convidados e na sua seleção musical.
Atualmente, de modo provisório, têm o estaminé montado nas traseiras da mercearia mexicana Pistola y Corazon e é desde aí que emitem.
A East Side Radio promove uma programação diversa que dura das 14h às 18h, de segunda a sexta-feira onde o convidado de serviço faz as honras da casa.
3. O eterno menino pedagogo dos “bonecos”
Quem nunca vibrou com as ousadias, as aventuras e desventuras, os enredos e rápidos twists, as lutas entre os bons e os maus, as derrotas e a glória, as façanhas dos superheróis? E há por aí alguém que não tenha sido extraordinária e repetidamente feliz navegando no universo dos desenhos animados?
A infância nutre-se desses mundos de personagens fantásticos, nas suas cores e formas deslumbrantes, nas possibilidades ilimitadas e também através da possível identificação que fazemos com alguns desses seres imaginados que, no fundo, têm vida própria. Talvez parte da formação do caráter até se jogue nessas partidas, nessas fascinantes sessões de desenhos animados.
Ultimamente, nas bizarras circunstâncias que vimos experimentando nos últimos meses, precisamos cada vez menos de vilões e desejamos que cheguem cada vez mais heróis que nos ajudem e nos motivem para seguir em frente. Um dos meus super-heróis é na realidade humano (verbalizo no presente, apesar de já ter partido) e fez algo que merece um franco tributo que procuraremos fazer humildemente aqui no nosso espaço. Vasco Granja (apresentador, cineclubista e professor) foi um dos maiores responsáveis pela difusão dos desenhos animados naquele ido e profundamente rural Portugal dos anos 70.
Durante anos e anos (em mais de 1000 emissões) este Sr. com ar de “cientista louco”, com cabelo grisalho e meio desgrenhado, óculos de massa, entrava assídua e magicamente pelas nossas casas. No seu sorriso permanente, era ele quem nos levava a alegria, o entusiasmo, a criatividade e magia, em suma a magnificência única dos desenhos animados na TV. Fazia-o numa linguagem que não sendo paternalista ou abebezada nós, crianças, entendíamos perfeitamente. Recordo como enquadrava e contextualizava o que se ia ver em seguida, nas suas introduções. Aproveitava sabiamente aquele espaço de entretenimento para introduzir referências culturais, artísticas e históricas. A genialidade de juntar o útil ao agradável – “sim, veem desenhos animados, mas entretanto também aprendem!”
Falamos do tempo em que os miúdos do bairro se juntavam nas casas dos amigos para verem os desenhos animados na televisão. A pantera cor-de-rosa, o Bugs Bunny e o Duffy Duck, o Mickey, o Tom e Jerry… Era a antecipação, a conversa prévia, os deliciosos lanches preparados com carinho pelas mães e avós… depois, em silêncio, os olhos pousavam no ecrã tentando não perder pitada. E quando acabava a magia, era continuar a sonhar transpondo as aventuras para as brincadeiras, já com a expectativa posta na sessão da tarde seguinte.
Fica, pois, o convite para que espreitem alguns desses momentos que marcaram indelevelmente e de forma positiva a vida de muitas crianças, deixando belas e bonitas recordações em toda uma geração.
4. Humor tropical
No cinema, o que acontece lá atrás, nas traseiras de casas, restaurantes, lojas e outros locais, costuma ser misterioso. É frequentemente algo que manifestamente se pretende ocultar e esconder. Nessa retaguarda entram personagens suspeitos, de forma sorrateira e à socapa. Também saem em corrida sujeitos em fuga, almas penosas e assustadas… É justamente nessa dualidade de entradas e saídas em terrenos pantanosos, que outros evitam ou procuram manter à distância, que a Porta dos fundos se movimenta livremente e com um à vontade estonteante.
Este coletivo brasileiro de excelentes atores toca sem medo e sem tabus os temas mais delicados da sociedade. Vamos rir-nos enquanto pensamos e refletimos sobre política, relações amorosas, ambiente laboral, religião e espiritualidade, estereótipos, racismo, e tantos outros assuntos atuais, pertinentes e nem sempre fáceis de abordar.
Humor ácido e acutilante baseado em guiões fantasticamente estruturados que recriam fielmente situações quotidianas que com um toque de especiarias ganham a dimensão exagerada, ridícula ou absurda que as torna irresistivelmente hilariantes.
Eis algumas sugestões para aquecer os motores. No canal oficial do Youtube encontrarão centenas de propostas imperdíveis.
5. A voz crioula com berço luso
São já mais de 25 anos de carreira repletos de discos, tournées pelo mundo fora, participações em projetos discográficos variados (Red Hot + Lisbon foi um dos mais destacados pela crítica), dança e energia contagiante. É impossível assistir a Lura em palco e ficar indiferente às suas atuações. Essa energia contagiante chega-nos também quando ouvimos as canções gravadas em estúdio.
Nascida em Lisboa, desde muito jovem começou a dominar o crioulo cabo verdiano que aprendeu junto da família, amigos e colegas de escola. O seu amor pelo país originário dos seus pais levou-a a cantar e compor usando essa língua e também reunindo as influências que estão na génese musical que caracteriza os sons nascidos nessa costa atlântica do continente africano.
A oportunidade que teve de trabalhar e acompanhar de perto a lenda da música cabo verdiana Cesária Évora (em Lisboa durante a Expo 98 e em Paris numa série de concertos), a participação no Festival RTP da Canção foram, entre outras, experiências que a ajudaram a construir uma carreira sólida que conta com inúmeros discos editados. Tem-se afirmado ao longo dos anos como uma das principais embaixadoras da música e cultura cabo verdianas.
Deixem-se guiar pela energia única desta diva, ao som de ritmos mexidos!
Editorial
Esta semana regressamos com sugestões que nos farão viajar por geografias variadas, contactando com a ruralidade, o campo e a natureza no seu estado mais puro. Mas também pisaremos espaços urbanos e as ruas de grandes cidades e metrópoles, sempre focando a gente que cria, recria e conta as estórias de que o mundo é feito.
A nossa travessia inicia-se por uma imersão no cerne da música popular portuguesa, sem complexos, sem luxos nem grandes efeitos especiais ou fogos-de-artifício. Abriremos a caixinha de A Música Portuguesa a Gostar dela Própria para constatar que nem sempre é mau ser-se um pouco narcisista e que não é preciso ser-se Mozart ou Jimi Hendrix para compor temas musicais inebriantes, cantar e tocar instrumentos.
Ainda cantarolando canções ao ritmo do estalido dos dedos e entre assobios, chegamos à segunda paragem. Aterramos bem pertinho da linha equatorial, no belíssimo e açucarado arquipélago de São Tomé e Príncipe. Entre aromas de café e cacau visitaremos alguns dos locais mais emblemáticos, enquanto cozinhamos entre sorrisos Na Roça com os Tachos.
A imensa natureza exótica, este povo tão amável, generoso e genuinamente anfitrião, mais as paisagens de cortar a respiração… É uma jornada fantástica, mas lenta e progressivamente começamos agora a sentir vontade de saltar de novo até à urbe, com a sua confusão inebriante, as luzes intermitentes e o ritmo acelerado – reféns talvez desta coisa de querermos sempre o que não está à mão de semear… Então, num pulo, entramos a abrir no mundo artístico colorido, multifacetado, inovador e incrivelmente rico de Odeith e Bordalo II, dois jovens artistas portugueses absolutamente geniais na forma como conceptualizam e executam as suas obras.
Eis então que surge o convite para nos adentrarmos nos túneis da língua portuguesa, sem nos deixarmos perder nos seus labirintos. É melhor irmos com quem sabe do assunto! Vamos apanhar boleia do Babelite com os provérbios ao volante e as expressões idiomáticas no banco do pendura. E nós? Lá atrás, bem sentadinhos a gozar as curvas.
O circuito aproxima-se já do final… Vamos até ao Brasil sem sairmos do sofá, claro. Com o Novo Cine podemos empanturrar-nos de curtas até nos sair cinema de alta qualidade pelos ouvidos. Sim, em versão original! Sim, grátis! Ainda bem que há coisas das quais podemos abusar sem nos sentirmos culpados e cujos efeitos secundários só poderão ser benéficos.
Até já!
1. Música portuguesa??? Com muito gosto!
Acontece com frequência que começamos por ver o que está lá longe, no horizonte, sem antes observarmos atentamente o chão que pisamos. Não que haja algum mal nisso, cada um deve caminhar como e para onde quer. Só que andar sempre com binóculos faznos passar ao lado de verdadeiros tesouros que estão mesmo à frente do nosso nariz.
Observo como a rapidez estonteante com que recebemos música de todo o globo, de diferentes géneros e estilos, privilegiando os tops, por vezes não deixa espaço para podermos ver (neste caso escutar) os temas, as canções populares que piam em voz baixinha nos youtubes e afins.
Neste sentido, A Música Portuguesa a Gostar dela Própria, trabalho que Tiago Pereira (realizador, documentarista, visualista, mentor e coordenador deste projeto) e a sua equipa vêm realizando desde 2011 é absolutamente notório. Num excelente labor de documentação resultante de uma pesquisa exaustiva é-nos apresentado um panorama abrangente da música popular feita em Portugal , na sua versão mais autêntica e genuína. Recordam-se a tradição oral, as cantigas, os romances, os contos, as práticas sacroprofanas, as músicas, as danças e também a gastronomia, reutilizando fragmentos da memória de um povo. Aqui não encontramos estrelas e palcos gigantes, nem lantejoulas ou luzes e focos potentes, tão pouco colunas do tamanho dum camião… Em compensação somos enfeitiçados por vozes absolutamente únicas e preciosas, instrumentos artesanais e ancestrais e também instrumentos acústicos ou elétricos. Tudo isto emoldurado com os rostos do povo (desde anciãos a crianças) em cenários quotidianos (interiores e exteriores, urbanos, rurais e campestres) capazes de cortar a respiração, que contam estórias sem a necessidade de dizer.
A visita à web possibilita pesquisar por distritos e ilhas, num total de 2980 projetos apresentados em 5368 vídeos, reunindo 9171 instrumentos (dados do dia 30 de novembro de 2020). Números que à medida que teclo me parecem surreais e custam a assimilar, sublinhando a grandiosidade desta iniciativa. Podemos também aceder ao canal do youtube e escolher os vídeos a la carte.
Merece totalmente a pena dar uma vista de olhos e uma escuta de ouvidos. Pezinho de dança garantido!
2. Façam o favor de ser felizes!
É com esta melosa e alegre frase que João Carlos Silva (JCS), no seu sorriso de orelha a orelha, se despede em cada um dos episódios de “Na Roça com os Tachos”.
Neste programa da RTP2 que se emitiu entre 2003 e 2005, somos convidados a viajar pela mão de JCS através da beleza única e da tremenda paisagem exótica do arquipélago de São Tomé e Príncipe, a pretexto de aprender mais sobre a culinária local usando os recursos naturais.
Em cada capítulo JCS desloca-se a uma roça diferente onde prepara 3 pratos (normalmente uma entrada, um prato principal e uma sobremesa) usando os produtos locais. Pelo meio contacta com as gentes, faz referências culturais e históricas e mostranos aspetos da fantástica flora.
Se esperam cozinhas ultra-sónicas ou de última geração, tirem o cavalinho da chuva – isto não é para vocês. É fascinante o tanto que se pode fazer com tão pouco! A cozinha conta apenas com o essencial: uma bancada, um pequeno fogão a gás e meia dúzia de utensílios… Só que o “chef” JCS vai cozinhando enquanto brinca e nos embala com o seu bom-humor e boa disposição. Ali dança-se, canta-se, “namora-se” com os alimentos, tudo com tempo, pausado e com carinho, enquanto se vai preparando o petisco, sempre ao som de excelente música e de algumas piadas com o câmera – Calú.
Mesmo quem não tem mãozinha de cozinheiro deve dar uma olhadela a esta delícia, sobretudo nos dias em que estamos “de chuva”, cabisbaixos, mal-humorados ou a precisar de genica. As cores de São Tomé e Príncipe e a alegria de JCS contagiam e curam!
3. Urbanar-te
A arte urbana, da rua com a rua e na rua, nas suas mais variadas formas é hoje em dia um potente dínamo cultural e uma das expressões de criatividade associadas a mensagens pensadas, com uma intenção clara (por vezes rompedora, provocadora ou agitadora), um espírito inovador e em constante transformação. Se andarmos com os sentidos alerta enquanto passeamos pelas ruas das grandes cidades do mundo, é impossível não sermos convidados pelos estímulos à nossa volta a apreciar obras de pintura, escultura, desenho, graffiti, entre outros.
Uma das características mais fascinantes de alguns destes artistas é a integração de materiais pouco convencionais nas suas criações, dando uma segunda oportunidade a estruturas e edifícios que estavam moribundos, à beira da morte, e esquecidos ou abandonados pela nossa vista. Mas muitas vezes não se ficam por aí, usando diretamente esses materiais já encaminhados ao desuso, ao lixo, ao fim terminal, como parte integrante e definidora das suas obras.
Nesta perspetiva transformadora e recuperadora, encontramos dois nomes que vêm realizando um trabalho simplesmente extraordinário, cada vez mais reconhecido em Portugal e a nível internacional.
Um verdadeiro mestre no uso da perspetiva, da escala e conhecido pelo perfeito realismo tridimensional, Odeith resgata paredes em escombros, espaços devolutos e outras estruturas abandonadas e dá-lhes uma nova vida. O seu trabalho surpreende pela forma, mas também pelo conteúdo e a visão conceptual que transpira em cada novo projeto do artista. Filho da revolução – nascido nos finais dos anos 70 – representa uma geração de ouro no que respeita à arte urbana em Portugal.
Um pouco mais jovem, nascido no final dos anos 80 e igualmente genial, Bordalo II tem uma abordagem artística simplesmente singular. Este artista recupera materiais do lixo e transforma-os em “luxo” artístico. Numa perspetiva que promove a reutilização dos materiais, protetora do ambiente, do planeta, da fauna e flora, o artista constrói enormes peças (normalmente em paredes de edifícios). As suas obras são indecifráveis ao perto, o que nos convida a distanciar-nos delas para podermos apreciar o que inicialmente parecera um monte de quinquilharia e sucata e agora se nos afigura como algo concreto e definido – quase sempre animais que se integram com a arquitetura. O nada, passa a ser algo através da interpretação de quem vê e sente.
Percam a vergonha e deem um salto pelo trabalho magnífico destes dois artistas lusitanos!
4. Grão a grão, em pedra dura… nem é 8, nem se mede aos palmos!
Zás! O carreto do trangalho dobrou-se, a roda do pivanço empenou e os provérbios mesclaram-se todos numa amálgama de desastre. Como saímos desta?
Sem stress, está aí o Babelite para salvar a situação! Esta web (de estética e aspeto pouco apelativos, há que dizê-lo) procura dar solução a uma das maiores dificuldades dos estudantes de línguas estrangeiras (e até de falantes nativos), enquanto faz também o papel fundamental de registo e arquivo.
As expressões idiomáticas e os provérbios são geralmente uma tremenda dor de cabeça! Representam lições, tradições, lendas, procuram fornecer uma moral ou derivam de factos históricos que frequentemente escapam aos falantes não nativos, sobretudo no início do percurso de progressão linguística. Ainda por cima, são usados com muita frequência e a impossibilidade (quase sempre) de os entender através da tradução literal e direta provoca angústia, chegando a impossibilitar a participação comunicativa eficaz.
Como funciona? Muito simples! Primeiro temos de escolher uma das 5 opções de línguas disponíveis (inglês, francês, castelhano, catalão ou português). Basta teclar a expressão ou a palavra-chave que pretendemos pesquisar e imediatamente são-nos sugeridas várias hipóteses como resultado. Podemos então consultá-las e procurar a que mais se adequa ao contexto em questão.
É fantástico? É apelativo? Não e não, mas procura esclarecer e dar respostas que nem sempre são fáceis, contribuindo para melhorar o conhecimento no domínio dos provérbios e das expressões idiomáticas. Não é excelente, mas é melhor que nada e, como se costuma dizer: quem não tem cão, caça com gato!
5. Curtas brasileiras
E vamos aproximando-nos do final da viagem de esta semana. É sempre bom ter a opção de escolher como acaba, como termina e se conclui o passeio e a aventura. Afinal de contas somos todos diferentes, sendo todos iguais. Aqui oferecemos a possibilidade de escolher como se ramifica o término, o interlúdio até à próxima semana.
Na web Novo Cine encontra-se disponível uma excelente seleção de curtas-metragens brasileiras, com elencos recheados de qualidade (estreias e valores inquestionáveis) e que abrangem um vasto leque de temas e géneros. Um autêntico manjar para os amantes da 7ª arte!
Todos os títulos em versão original e com legendas disponíveis em espanhol e inglês (para os que possam ter maior dificuldade de compreensão do português do Brasil).
Celebremos esta fantástica iniciativa da Embaixada do Brasil em Espanha. Divulgação através da qual ficamos a conhecer o que de melhor se está a fazer, no panorama do cinema mais atual, no outro lado do Atlântico.
Já fomos petiscando… impressionante o trabalho do “gigante” Lima Duarte em “A volta para casa”.
Vão lá buscar as pipocas!