1 ano de palavras
LUSO QUÊ? 26/11/2021
Editorial
E zás! Número 26 no dia 26… a vontade é tanta que nos antecipamos um dia ao nosso primeiro aniversário (27) para lançarmos o regresso do LQ? no dia da semana a que vos temos habituado, a sexta-feira!
Foi um ano em cheio! Um ano repleto e completo, de experiências cheias de palavras. Desejamos, portanto, assinalar a data representativa de um ano de desafios, aprendizagem, avanços e recuos, erros e acertos… parece que foi ontem o arranque, mas temos feito um bonito caminho, que nos vem permitindo desenvolver o projeto com um crescimento gradual, ponderado e consciente – sempre com o vosso apoio!
Esta publicação é um ramo importantíssimo do nosso projeto de ensino/aprendizagem e divulgação da língua portuguesa e da lusofonia. Voltar a publicá-la é um prazer. É certo que sem a vossa atenção e interesse, sem as vossa PALAVRAS, não seria a mesma coisa.
Vamos então focar-nos nas palavras… nas ditas e nas caladas. Nas que possuem uma sonoridade bela, mas também nas que são mais feiosas. Veremos as que estão escritas. Esgravatemos os seus significados, os leques semânticos e as relações que estabelecem umas com as outras. Os cantos, as esquinas e os labirintos dos guardiães de palavras, os dicionários. Os contextos. A ortografia e a grafia ou o grafismo. A comunicação. Quais acentos? Cantar-se-ão palavras. Sussurros ou gritos. E a pontuação? As palavras sublimes e nobres, as asneiras ou palavrões. A leitura em voz baixa e a interpretação, as palavras ditas com arte. A pronúncia e a fonética. As minhas, as nossas e as vossas palavras. Deixaremos espaços por preencher para que durante o próximo ano os possamos ir preenchendo… JUNT@S!
Até já e façam o favor de ser felizes!
1. Palavras vossas
Poderia haver melhor forma de arrancar esta edição do que apontar os holofotes às palavras dos que nos seguem e dão sentido a este projeto? Lançámos o desafio e a vossa adesão bateu as nossas expectativas! Cada seguidor escolheu a sua palavra preferida e explicou porque gosta dela e o que representa para si. Recebemos centenas de mensagens e vibrámos ao lê-las, pela multiplicidade de motivos que conduzem às vossas escolhas – a sonoridade, a origem, o contexto em que se aprendeu a palavra, uma recordação específica, a forma escrita… Muitíssimo obrigado pelo vosso entusiasmo e interesse!
Publicamos aqui uma seleção das palavras que recebemos juntamente com o nome e localização do seu autor ou autora. Cliquem em cada uma das palavras e poderão consultar diretamente a entrada da mesma (com o seu significado, a divisão silábica, a indicação de origem, exemplos de aplicação e sinónimos) no nosso “fiel amigo” – Dicionário Priberam Online.
Maria Cruz Barradas (Sevilha/Espanha)
Missanga, é uma palavra bonita que me faz lembrar as cores e os ritmos africanos, os meus avós viveram vários anos em Moçambique e o meu pai nasceu lá numa povoação que se chamava Vila Pery e hoje é Chimoio.
Rita Veloso (Oeiras/Portugal)
Gosto da palavra gentileza, pelo seu significado e porque devemos ser sempre gentis com/para o outro. Gosto especialmente da expressão «gentileza, gera gentileza» porque é isso mesmo, se formos gentis com o próximo, a resposta será dentro da mesma medida, com respeito, empatia e amabilidade. Ser-se gentil, é um ato tão simples e natural, que fico perplexa quando vejo as pessoas agirem de forma contrária.
Carmen Martínez (Sevilha/Espanha)
A minha palavra favorita é «maresia«. Me faz cheirar, sentir o mar … e isso não existe em espanhol.
Hugo Pereira (Lisboa/Portugal)
Palavras que destaco, provavelmente por sentir a sua falta são a ética e a coerência. Numa sociedade e num «mercado» onde o capital é a única regra, única lei e único fim. Não se liga ao processo, não se liga aos produtores, nem aos consumidores. A minha visão de vida é tão distante que a vejo tudo isto como uma utopia… essa também é uma palavra gira e que casa bem com as duas anteriores.
Pedro Roldán (Sevilha/Espanha)
Gosto da palavra «luvas» porque me traz recordações das minhas primeiras viagens a Lisboa e adoro a pronúncia da letra “v”.
Nuria Silveira (Cáceres/Espanha)
A minha palavra preferida é saudade, parece-me uma palavra bonita e o seu significado faz-nos lembrar coisas e pessoas… É o título de uma canção da Cesária Évora muito triste, mas linda, linda.
Carmen Herrera (Sevilha/Espanha)
A minha palavra preferida é gafanhoto.Eu sei que há palavras mais lindas como “saudade” ou particulares como “chatice”, mas a palavra “gafanhoto” é muito sonora e gosto do facto de que é muito diferente da tradução ao espanhol: saltamontes. Acho que é uma palavra jeitosa.
Javier Suárez (Ilhas Canárias/Espanha)
Depois de ter pensado na minha palavra portuguesa favorita acho que não posso destacar só uma porque eu gosto de todas as palavras da língua portuguesa. Gosto delas pela sonoridade e a pronúncia delas nos meus ouvidos. Por isso para representar toda a língua numa única palavra escolho: português, o nome do idioma e que além disso tem uma bonita grafia com o acento circunflexo no “e”.
Nuria Montero (Sevilha/Espanha)
Das minhas palavras favoritas eu tenho fundamentalmente duas. Paneleiro – foi uma das palavras que eu primeiro aprendi nas minhas aulas de português. Cabeleireiro – é também outra palavra favorita e é porque no princípio das minhas aulas parecia-me impossível de dizer, é muito difícil.
Esteban Moreno Hernández (Sevilha, Espanha)
Para mim, desde que tirei o primeiro ano da língua e cultura portuguesa, a palavra mais bela da vossa língua é, sem dúvida, o luar. Não conheço outra similar nas restantes línguas. Descreve muito bem uma noite de clara lua cheia, não precisa muito mais. Beleza, simplicidade e poesia numa palavra.
Elaine Santos (Pindamonhangaba – São Paulo/Brasil)
Obnubilante. Gosto muito dessa palavra, deriva do verbo obnubilar, que significa: escurecer, tornar-se obscuro; ou provocar alteração de consciência. Mas o que mais me atrai não é nem o seu significado e sim o seu som, as movimentações que provocam na boca ao falar: «ob-nu-bi-lan-te!» É como se minha língua dançasse dentro da boca, levada pelos diferentes ritmos de cada sílaba. Para mim é uma palavra musicalizada e por isso gosto tanto de sua pronúncia.
Germán Montes (Sevilha/Espanha)
Pirilampo é a minha palavra preferida. Sempre achei essa palavra no limite da descrição da realidade para a fantasia. Parece uma palavra dirigida às crianças, com um som musical e mágico. É por isso que eu gosto dela.
Chiti (Cáceres/Espanha)
A minha palavra favorita é “nós”. É curta, mas grande, com acento, com força e fácil de escrever. Gosto muito do seu significado.
Angie (Sevilha/Espanha)
Uma das minhas palavras preferidas é “orvalho”. Pela sua musicalidade e o seu significado. Muito ouvida na música brasileira. Algumas canções em que aparece: Viver na fazenda (Maria Bethania), (Adoro toda a família Veloso jejeje), «Eu gosto da gota de orvalho na flor do canteiro», E sobre tudo, na arquiconhecida “Felicidade” – «A felicidade é como uma gota de orvalho numa pétala de flor».
2. Fica apalavrado
Eis um projeto que trata a palavra por tu. Quer conhecê-la, abordá-la, explorá-la “nas suas múltiplas vertentes, combinações e possibilidades”. Em “a palavra” encontramos como protagonista principal o vocábulo em vários prismas e ângulos. Merece absolutamente a pena dar uma vista de olhos no seu site oficial – www.apalavra.pt
3. Caixa forte dos vocábulos
Não é que seja inviolável, no sentido literal (até porque o seu expólio cresce sem parar). O dicionário online PRIBERAM é indubitavelmente um fiel e preciso companheiro para quem quer saber mais sobre as palavras da língua portuguesa. Contém diferentes variantes da língua (como a europeia e a brasileira), indica a divisão silábica (preciosa ajuda para a pronunciação correta), explicita a morfologia da palavra e dá exemplos de uso da mesma, apresenta sinónimos e palavras relacionadas com a que estamos pesquisando e, muito importante, no caso dos verbos apresenta a conjugação completa. Sem dúvida um “must” que deve residir na mesa de trabalho ou estudo de quem aprecia a língua portuguesa
4. Mata… dá vida às palavras
Que palavras tem guardadas para nós a grandiosa Vanessa da Mata? Querem ouvir? E dançar ao som da batida?
As palavras – Vanessa da Mata (4:27)
5. Vidas com história dentro
Com as palavras contam-se estórias e a História. Sempre adorei as histórias das pessoas, das suas vidas. Podem ser mais ou menos fantásticas, mas todas têm sumo nelas. Quando são narrativas com rugas, com mãos gastas e cabelos grisalhos a coisa fica ainda mais apetecível – são os mais velhos, mestres da vida a contá-la. Em “histórias de vida”, uma iniciativa apoiada pela Câmara Municipal de Oeiras, ficamos a conhecer em primeira mão e pela voz de cada protagonista uma das histórias da sua vida. Que maravilha. Consultem a web oficial – https://historiasdevida.cm-oeiras.pt/ – para aceder à informação completa. Entretanto, deixamos aqui uma das histórias para vos aguçar o apetite.
Um museu de vontade (3:58)
6. Palavra de Pedros
Não podia faltar nesta edição a referência a quem sabe dizer como ninguém. Escolhemos, por isso, dois Pedros muito especiais que darão um toque de excelência a este número. O Pedro Freitas que é também conhecido como “o poeta da cidade” e que declama poesia aproveitando-a para agitar as mentes. E o Pedro Lamares, colaborador de imensos projetos e conhecido pela forma muito pessoal que tem de declamar os poemas dos grandes mestres (e não só). Ora ouçam!
Raízes – Sofar Lisbon
“Uma pequenina luz” de Jorge de Sena por Pedro Lamares (3:09)
7. Lar das palavras
Sim… é uma insistência. Convite renovado para regressar ao recém reformado Museu da Língua Portuguesa (São Paulo/Brasil). Já tínhamos abordado este assunto no LQ? #7, mas pareceu-nos fundamental incluir novamente esta proposta, uma vez que tratamos justamente das palavras. Regressem lá e acedam à web oficial, onde encontrarão todas as novidades sobre este fantástico museu!
8. Palavras miúdas
Sam The Kid é um verdadeiro génio que encontra nas palavras (e nos “beats”) a matéria-prima para criar a sua obra. É incrível a forma como manipula e adapta as palavras, as frases, brincando com elas e moldando-as a seu belo prazer. É sem dúvida uma referência e um referente da língua portuguesa contemporânea e claramente um dos seus maiores defensores (desde o início da sua carreira). É uma tarefa difícil selecionar apenas um tema seu, dada a elevada qualidade da sua obra, pelo que deixamos aqui uma espécie de ode à canção “em português”. Acabou-se a vergonha de cantar em português! Deliciem-se!
Poetas do Karaoke – Sam The Kid (5:36)
9. Quando a língua nos atraiçoa
É a “Porta dos Fundos” no seu melhor. Ai a malandra da pronominalização! Nem os nativos acertam…
Português fluente – Porta dos Fundos (2:44)
10. Sobre elas muito se tem dito e escrito…
“A melhor prosa, a mais perfeita, a mais lúcida, a mais lógica, a que tem sido a grande educadora literária e tem civilizado o mundo, é feita com meia dúzia de vocábulos que se podem contar pelos dedos.” – EÇA DE QUEIRÓS
“Descobri vivendo que sofrer não deixa nada mais dramático, que chorar não alivia a raiva e que implorar não traz ninguém de volta… A palavra é valor!” – LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO
“Em vez de ouvirem os escritores em busca de respostas sobre o que somos, as pessoas precisam ouvir-se umas às outras, porque nós, autores, não somos mais do que meros trabalhadores da palavra.” – JOSÉ SARAMAGO
“As palavras são a nossa condenação. Com palavras se ama, com palavras se odeia. E, suprema irrisão, ama-se e odeia-se com as mesmas palavras!” – EUGÉNIO DE ANDRADE
“Aprendi novas palavras e fiz outras mais bonitas.” – CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
“Podemos ter muitas palavras para dizer uma coisa que aparentemente é a mesma, mas a verdade é que cada um a diz de forma diferente. É por isso que as possibilidades de reprodução do mundo pelas palavras são tantas.” – JOSÉ LUÍS PEIXOTO
“Saiba também calar-se para não se perder em palavras.” – CLARICE LISPECTOR
“A gente quer exprimir sentimentos em relação a pessoas e as palavras são gastas e poucas. E depois aquilo que a gente sente é tão mais forte que as palavras…” – ANTÓNIO LOBO ANTUNES
“Muitas coisas se diz melhor calado, pois o silêncio não tem fisionomia, mas as palavras sim têm muitas faces.” – MACHADO DE ASSIS
“Um poema é a projeção de uma ideia em palavras através da emoção. A emoção não é a base da poesia: é tão-somente o meio de que a ideia se serve para se reduzir a palavras.” – FERNANDO PESSOA
11. Com bonecos
Portuguesices… um dicionário das expressões idiomáticas que se usam na língua portuguesa (sobretudo em Portugal e no Brasil). Neste projeto encontramos belas ilustrações que com uma pitada de humor e boa disposição nos permitem conhecer o sentido e a semântica encerrada em muitas das frases que fazem parte da lusofonia quotidiana das ruas. Vão lá “dar uma vista de olhos”!
12. Além das palavras
Estamos acostumados a ficar “sem palavras” quando procuramos descrever o Camané partindo a louça toda com a sua voz e interpretação únicas. Como o adjetivariam? Ficam aqui as suas palavras sobre as palavras.
As Palavras – Camané (4:42)
13. Com queda para as palavras
Já deslizando para o final deste número. A nossa existência está repleta de quedas e o regresso à verticalidade. Nesses movimentos encontramos a poesia. No podcast – O poema ensina a cair (no link encontramos acesso direto a várias plataformas onde podemos assistir) – temos a oportunidade, pela mão de Raquel Marinho, de escutar entrevistas a artistas que de formas múltiplas e variadas trabalham com as palavras. Quem anda por lá? Muita gente… Capicua, Luca Argel, Afonso Cruz, Márcia… Vão lá descobrir!
14. A brincar, a brincar…
Inventar ou criar palavras deve ser certamente complicado. Já conheci quem o faça… No entanto, podemos sempre brincar e divertir-nos com elas sozinhos, com amigos ou com a família. Em puzzel.org podem criar sopas de letras, crucigramas e outros jogos com palavras portuguesas. É fácil, intuitivo, extremamente criativo e muito divertido. Experimentem e depois contem-nos como foi!
Agradecimentos
Muito obrigado pela vossa colaboração e pelos “grãos de areia” lançados ao projeto:
- João Antunes
- Joca Marino
- Nacho Flores
- Pedro Sereno
- Pilar Pino
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