Portugal e os portugueses

LUSO QUÊ? 11/06/2021

Editorial

Viva Portugal. Viva Camões. Viva todas as comunidades portuguesas!

No rescaldo do dia 10 de junho achámos que um dia por ano é sobejamente pouco para celebrar tudo o que se tem feito ao longo de quase 900 anos de história. Quisemos por isso prolongar a celebração.

Sim, é sabido que nem tudo o que se fez correu bem, foi correto ou acertado. Cometeram-se, cometem-se e cometer-se-ão erros. Faz parte de existir e fazer acontecer de modo individual ou coletivo. É importante que sejam indesejados e involuntários. Oxalá saibamos antecipar-nos a eles, aprender quando se dão e fazer melhor.

Contudo, é certo que este povo conseguiu (vá lá saber-se como), a partir deste mínimo retângulo à beira-mar plantado, criar impossíveis e impensáveis. Portugal, os portugueses, bem como as ramificações lusófonas espalhadas pelo mundo formam inegavelmente parte da história universal.

É evidente que um país, uma nação, não se ergue e desenvolve sem pessoas. Convidamo-vos a dar um passeio pela vida e obra das gentes portuguesas. Uma vista de olha por figuras mais ou menos ilustres, conhecidos e desconhecidos, que ajudaram/ajudam a concretizar a terra das “quinas” com os seus feitos. Não cabem cá todxs. Nem aqui nem em lado algum, já que são tantos e tantas… ficam aqui as histórias de alguns deles.

Até já!

1. De olho nele

No dia 10 de Junho de 1579 faleceu o poeta de Portugal. Daí que a celebração do dia de Portugal e das comunidades portuguesas aconteça no mesmo dia em que se celebra a morte de Luís de Camões. É considerado uma das mais importantes figuras da literatura lusófona e um dos grandes poetas da tradição ocidental. O seu contributo para as fundações e pilares estruturantes da língua e literatura portuguesa foi fulcral e importantíssimo, sendo por esse motivo frequentemente apelidado de “pai” da língua portuguesa.

Na edição número 20 tínhamos já abordado a vida e obra desta figura incontornável da cultura e história portuguesas. Deem uma vista de olhos no artigo e documentário então publicados.

2.  Por aqui, por acolá e por além

Um traço que caracteriza os portugueses é a facilidade que têm para adaptar-se a outros países e culturas quando emigram. Os lusitanos andaram desde sempre viajando pelo mundo fora, explorando, misturando-se, levando a cultura e tradições à volta do mundo e regressando com novos “inputs” artísticos e culturais que somariam à génese portuguesa. Viajando por mar, por terra ou ar houve e há atualmente muitos milhares de portugueses fazendo a sua vida em países espalhados pelo globo. O facto de viver fora de Portugal aumenta as saudades da portugalidade, o que conduz à vontade de perpetuar as tradições portuguesas nos países onde agora estão, procurando simultaneamente respeitar e adaptar-se à vida e cultura de acolhimento.

Estes portugueses e portuguesas “anónimos”, ilustres desconhecidos, enquanto tratam de fazer pela vida, ajudam à criação da expansão da cultura lusófona e até da língua portuguesa. São eles que passam para além fronteiras uma ideia de portugalidade, apoiando as comunidades espalhadas por todo o planeta e divulgando a singular cultura e tradição que caracteriza os lusitanos.

O programa “Portugueses pelo Mundo” da RTP mostra-nos as vidas de alguns destes “heróis do mar”. Ora espreitem, neste episódio (30:46), como se vive no Luxemburgo, um dos países onde existe uma das maiores comunidades de portugueses.

3. Motinha veloz

A nossa Rosa. Com um apelido que lhe assenta como uma luva. Foi ela, Rosa Mota, atleta nascida no Porto e a primeira mulher portuguesa a pisar orgulhosamente o pódio olímpico. Foi em Los Angeles (1984) que pela primeira vez se hasteava a bandeira de Portugal nuns Jogos Olímpicos, por uma performance feminina. Esta “lingrinhas” fazia algo grandioso e incrível. Talvez uma ilustração metafórica da história portuguesa – os pequeninos do minúsculo retângulo à beira-mar plantado a fazer, a conseguir, a alcançar enormes feitos. 4 anos depois, nos Jogos Olímpicos de 1988 em Seul, dava-se a apoteose ao alcançar a medalha de ouro na maratona. Um país de pé assistindo orgulhosamente àquele “impossível” tornado real.

Passaram mais de 30 anos. Foi muito mais que um êxito desportivo. Abriu-se ali uma nova era em que os portugueses ganhavam novo fôlego e voltavam a acreditar na sua capacidade de realizar e fazer acontecer. Crescia a auto-estima, o espírito de risco e empreendedorismo que marcou os anos 90 em Portugal. Percebia-se então que não precisamos necessariamente de ser melhores que outros ou ser mais que os outros, mas antes, fazer o melhor de nós mesmos. Para quê as comparações constantes? A memória balançava novamente para os sucessos, em vez de na eterna “saudade” que nos caracteriza, levar-nos aos dramas, misérias e derrotas do passado. Podemos ser nós mesmos, procurando a excelência e usando as qualidades que nos são intrínsecas para triunfar. Limava-se aquele característico sentimento de inferioridade e um novo impulso, uma energia renovada, começava a empurrar-nos novamente em boa direção e sob bons ventos.

Rosa ganhou, desde então, um lugar especial no coração dos portugueses. Mais que os brilhantes resultados desportivos por si alcançados, fascina pela sua perseverança, espírito de luta, aliados à humildade e simpatia que sempre a caracterizaram sempre. Um exemplo vivo!

Revejam neste vídeo narrado pela própria, o que aconteceu naquele dia memorável.

A memória olímpica de Rosa Mota (6:42)


4. Vistos que salvaram

Sabem onde está Cabanas de Viriato? Provavelmente, não. Eu sei porque tenho lá raízes de sangue. Foi nessa freguesia portuguesa de Carregal do Sal ((Viseu) que nasceu um bom homem, um homem bom que salvou dezenas de milhares de vidas usando “apenas” selos e papel e colocando-se em risco. Falo-vos de Aristides de Sousa Mendes, um diplomata português que usou o poder que lhe fora outorgado, à revelia das autoridades, para durante 3 dias e 3 noites (em plena Segunda Guerra Mundial) conceder vistos de entrada em Portugal a milhares de refugiados, incluindo muitos judeus, que fugiam da Alemanha, Áustria, da própria França e dos países já ocupados pelos exércitos alemães, mas também outros indivíduos de cidadania portuguesa, britânica, americana, etc. que tentavam regressar às suas pátrias.

Esta maravilhosa estória esteve durante décadas esquecida e apenas recentemente se lhe tem prestado mais atenção, pelo que quisemos dar-lhe visibilidade. Venham conhecer um pouco mais sobre a vida e obra deste homem que decidiu corajosamente salvar vidas, pagando um preço elevadíssimo por esse feito. O historiador André Canhoto Costa conta muitíssimo bem e de forma breve como tudo aconteceu no programa “Portugueses com História” da RDP Internacional (9:59).

5. Em português todas as semanas

Querem saber tudo o que está acontecendo e o que estão fazendo os portugueses por este mundo fora. Existe um programa semanal que nos conta as estórias das comunidades portuguesas e da diáspora – “Hora dos Portugueses” da RTP. Esta semana, como não podia deixar de ser, o programa incide na celebração do dia nacional. Espreitem o episódio 23 da 7ª temporada de a “Hora dos Portugueses”(36:43).

Lusoqueamos?

Estreamos um novo espaço dedicado à interação com os nossos leitores. Nesta secção queremos partilhar, juntos, as descobertas lusófonas que cada um faz no âmbito do universo da lusofonia e da língua portuguesa.

Estás a aprender português como língua estrangeira? Leste um maravilhoso livro de um autor ou autora lusófona? Viste um filme que aborda um aspeto da cultura lusófona ou decorre em algum dos territórios em que se fala português? Conheceste alguém lusófono e queres contar-nos essa experiência? Estás ou vais viver num país lusófono? Descobriste uma bela canção e queres dançá-la connosco? Tiveste uma experiência gastronómica incrivelmente deliciosa em terras lusófonas?

Grava um vídeo (com a imagem em horizontal e sem exceder os 2 minutos) onde contes essa experiência. Depois faz-nos  chegar a gravação (por email para info@lusoque.es, usando google drive, wetransfer, etc) e nós publicá-lo-emos aqui. Partilhemos as nossas narrativas pessoais sobre a lusofonia, em português! As boas estórias não se podem perder!

LQ? FM

Esta secção vem, de alguma forma, dar continuidade ao que já se fazia nos “Discos Pedidos” dos números anteriores, embora com um foco ligeiramente distinto.

Tendo como pano de fundo a nossa playlist no Spotify, com o título “Luso Quê? – Sons da Lusofonia”, usaremos este espaço para ir destacando as novas entradas, as descobertas felizes, as canções preferidas pelos nossos seguidores e também as sugestões que nos façam. Dancemos e cantemos juntos!

“Mistura” – Senza (4:03)

Esta tinha encaixado tão bem no nosso anterior número intitulado “Somos mistura”. Ainda vamos a tempo… Senza canta a beleza de entender que somos realmente uma incrível amálgama cultural e isso é o que nos torna únicos e irrepetíveis. O genial cavaquinho do mestre Júlio Pereira e a percussão com instrumentos da música popular dão uma cor especialmente viva e rica a esta canção.


“Eu sou do roque” – Marco Rodrigues (3:17)

Nem tudo é fado. Nem toda a música portuguesa é fado. Nem todos os fadistas cantam apenas fado. Ora vejam como Marco Rodrigues explica com arte e algum humor numa letra fantasticamente redigida que os fadistas também podem gostar de “xutos” e de andar no “moche”.


Agradecimentos

Muito obrigado pela vossa colaboração e pelos “grãos de areia” lançados ao projeto:

  • João Antunes
  • Joca Marino
  • Nacho Flores
  • Pedro Sereno
  • Pilar Pino

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