Da gaveta

LUSO QUÊ? 22/01/2021

Editorial

Bem-vindos a mais uma edição. Desta vez decidimos explorar o espólio inesgotável das nossas gavetas, caixas, baús e arcas. Armazenados, nesses recipientes que se fecham guardando neles a segurança da escuridão, às vezes durante anos, no esquecimento ou aguardando a oportunidade certa, estão autênticos tesouros. Ao monte, em total barafunda ou arrumadinhos e organizados, dependendo de cada espaço ou contentor, encontrámos bem conservadas as sugestões que vos trazemos esta sexta-feira. Vamos lá remexer no fundo das gavetas!

Bem “armazenada” está a estória do Museu da Língua Portuguesa. Iremos até lá visitá-lo e conhecer melhor que maravilhas guarda este espaço de homenagem e preservação histórica do português.

No gavetão, o legado dos Grandes, dos génios, daqueles que marcam profundamente a história fica entre nós quando partem, eternizando-os. Apadrinhados pelo mestre, a nata formada por jovens e prometedores escritores tem sido premiada e incentivada a continuar a caminhar brilhantemente na realização dos seus livros. Veremos quem são os Herdeiros de Saramago.

Depois vamos investigar o que está numa caixa com selo da Guiné-Bissau. Convidar-vos-emos para dançar, embalados na energia cálida e contagiante que Maio Coopé emprega na sua música.

Começamos a fechar com fita as caixas, a empurrar as gavetas, mas ainda há tempo para umas gargalhadas com Guilherme Geirinhas. Assuntos difíceis, feridas abertas, temas proibidos… é o “Coisas chatas com humor”.

Os (in)Raizados ficam em banho-maria, cozinhando lentamente para chegar à vossa mesa na próxima edição.

Até já!

1. Estação da saudade

Já imaginaram um museu dedicado a homenagear e contar uma língua. Pelos vistos existe um e logo da língua que amamos – o português. Numa antiga e bem conservada estação ferroviária – a Estação da Luz – em São Paulo (Brasil) está sediado o Museu da Língua Portuguesa, cuja inauguração ocorreu em 2006. Poder visitá-lo será mais uma razão, de peso, para dar um pulo até esta magnífica metrópole.

Embora atualmente esteja a ser reformado, podemos fazer visitas, descobrir o que conserva e explorá-lo à distância sem perder nem uma migalha do interessante espólio que alberga. Na página oficial do museu somos convidados a realizar uma completa e muito bem organizada visita virtual. Através do canal de Youtube temos à disposição inúmeros vídeos alusivos a exposições temporárias que se realizaram neste espaço, homenagens e eventos especiais, entre outros conteúdos interessantíssimos.

O que podemos ver no museu? Muitas coisinhas boas e interessantes. A cronologia histórica da língua portuguesa desde as suas origens e o seu desenvolvimento até à atualidade. Curiosidades sobre palavras tão presentes na lusofonia como “saudade” ou “trabalho”. A maior palavra da língua portuguesa. O processo de mistura entre o português original de Portugal com as línguas indígenas e as línguas europeias originando o português do Brasil. Notas sobre o importante contributo que Oswald de Andrade teve para a génese da cultura brasileira (prometemos dedicar futuramente um artigo ao brilhante poeta paulista). Também há espaço para futebol (como não, se estamos no Brasil?) e cinema. E a árvore das palavras, que apresenta aspetos etimológicos relacionados com o latim e o grego. Tudo isto e ainda mais coisas que não desvendamos.

O programa “Conhecendo Museus” fez uma ótima reportagem sobre o museu. Em aproximadamente 25 minutos, guiados pelo Diretor António Carlos Sartini, ficamos com uma ideia clara sobre a história do museu, a sua missão, como estão organizadas as exposições, a relação da instituição com importantes artistas brasileiros, etc. Tudo isto numa linguagem acessível que nos mantém com a atenção ativa durante todo o episódio e nos dá a oportunidade de contactar com o português do Brasil.

Ficamos ansiosamente aguardando pela reabertura. Entretanto, vão lá espreitar!

Conhecendo Museus – Museu da Língua Portuguesa


2. Ler sem ler

A pensar nos preguiçosos da leitura, aqueles que gostam de ler, mas nunca encontram o momento certo. Sim, este artigo é para vós.

Em 1999 foi criado o Prémio Literário José Saramago, que celebra a atribuição do prémio Nobel ao escritor em 1998. Instituído pela Fundação Círculo de Leitores, atribui-se bianualmente a uma obra literária, escrita em língua portuguesa por jovens autores, cuja primeira edição tenha sido publicada num país da lusofonia.

Até hoje foram 11 os galardoados com a importante e honrosa atribuição do prémio. Obviamente, trata-se de um prestigioso prémio que reconhece a qualidade excelente das obras destes escritores, colocando-os na antecâmara de um trajeto literário que se adivinha rico, profícuo e marcante. A RTP (Rádio Televisão Portuguesa) estreou em novembro passado um programa onde se conta mais sobre a vida e obra destes escritores. Em “Herdeiros de Saramago”, somos presenteados com 11 capítulos (evidentemente, cada um alusivo a um dos premiados) em que ficamos a conhecer melhor as origens, a família e amigos, o mapa conceptual da sua obra, as influências, a vida mais além da escrita, as estórias e os “tesourinhos” da infância ou da adolescência de cada um deles.

A estreia do programa no final do 2020, não terá sido uma coincidência já que este ano teremos nova atribuição do prémio. Quem será o ou a feliz afortunad@? Aceitamos palpites…

Fica feito o desafio. Não há desculpas para a procrastinação, pois estamos a falar de 25 minutos por capítulo – quem os não pode despender numa tarefa tão prazenteira! Consultem a página da RTP onde podem selecionar os capítulos que mais vos interessarem.

Deixamos como sugestão um dos nosso favoritos, o 2º episódio, dedicado ao talentoso José Luís Peixoto.

Herdeiros de Saramago – José Luís Peixoto

3. Cabaça que baila quentinha

Vai um pezinho de dança? Uma ondulação de anca e um giro compassado? Marcando o regresso ao estúdio após 20 anos de pausa discográfica, Maio Coopé ressurgiu em 2020 com fabuloso trabalho – “No Na Riba Terra” (disponível no Spotify).

O novo disco, produzido pelo experiente conterrâneo Manecas Costa, cuja tradução do título de crioulo para português é “Nós vamos regressar à Terra”, pretende enviar uma mensagem de confiança num futuro melhor. Esta mensagem de esperança está fortemente presente no conceito e abordagem assumida pelo músico e intérprete guineense sediado há vários anos em Massamá (Sintra, Portugal). Sonhar e concretizar o regresso ao país de origem foram inspirações para a realização deste disco, num momento em que as circunstâncias extraordinárias da pandemia já pairavam no ar, juntando-se à complicada conjuntura que a Guiné-Bissau enfrenta.

As canções do artista englobam a tradição guineense através da influência do funaná e gumbé, com belos coros e inebriantes arranjos de cordas. Canta-se e contam-se estórias deste povo e do seu belo país, inebriados pelo toque exótico tão característico desta geografia africana. Este “embaixador” da cabaça como percussão traz, na sua expressiva voz, em cada tema, o calor e energia contagiante, que todos apreciamos e ao qual se torna impossível resistir sem dar uns passos de dança.

Deixamos aqui duas sugestões que, no mínimo, vos deixarão com um sorriso de orelha a orelha quando as escutarem e dançarem.

N’dingui


Squema


4. Gargalhadas tabu

Saber rir-nos de próprios é um poderoso elixir na luta contra o envelhecimento e um potente dínamo a caminho da felicidade. Tratar assuntos delicados com uma atitude idêntica é também uma arte tão difícil, como necessária nos tempos que correm.

O jovem humorista Guilherme Geirinhas já anda nas lides do riso a partir do desequilíbrio e do escape da zona de conforto, há vários anos. Através do projeto “Coisas chatas com humor” trata assuntos e temas incómodos, complexos e delicados. Aquele tipo de matéria que pode facilmente dar cabo de uma reunião familiar ou azedar uma cerveja tomada entre amigos. Mete o dedo na ferida e de forma informada, bem estruturada, e com a inevitável dose de humor, ironia e sarcasmo vai tocando temas como o racismo, a política e os políticos, as eleições, a eutanásia, o casamento, o Brexit… entre tantos outros.

Podem consultar todos os vídeos disponíveis no canal de Youtube do humorista. Como aperitivo propomos que assistam a esta divertida lição sobre política.

És de esquerda ou de direita?


(in)Raizados

Esta secção está dedicada a contar as aventuras e desventuras, as peripécias e o  quotidiano de pessoas fantásticas que nasceram em países lusófonos e agora andam pelo mundo fora fazendo pela vida, fazendo a sua vida e espalhando a língua portuguesa pelos 4 cantos do globo.

És ou conheces algum (in)Raizado sobre quem possamos contar estórias aqui no LUSO QUÊ?? Escreve um breve texto com esse relato (máximo uma página A4, aproximadamente 450 palavras), junta uma foto do(s) protagonista(s) e envia-o por escrito para o endereço eletrónico disponível em O vosso espaço. Se és daquelas pessoas que dizem não ter jeito para escrever, contacta-nos e nós ajudamos-te a dar forma à aventura que tens para contar – as boas estórias não se podem perder!

Agradecimentos

Muito obrigado pela vossa colaboração e pelos “grãos de areia” lançados ao projeto:

  • João Antunes
  • Nacho Flores
  • Pedro Sereno
  • Pilar Pino

O vosso espaço Queres falar connosco? Tens sugestões ou ideias? Há temas ou assuntos que gostarias de ver tratados? Queres colaborar com o LUSO QUÊ?? Estamos à tua espera de braços, ouvidos e olhos bem abertos! Escreve-nos