Será?
Vamos fazendo anos. Fazemos? Construímos de forma planeada as primaveras pelas quais vamos passando, passeando e semeando cuidadosamente. É assim? Damos, como se diz frequentemente nos dias que correm, uma e outra volta em roda do sol. Giramos? Fazemos anos. Como um dever, uma ordem, o devir ou diretriz de calendário?
Sabemos real e inequivocamente para onde caminhamos. Ou vamos, antes, dirigindo e definindo a rota com o carro já em marcha, em ponto morto, e decidindo em cada curva apertada, reta longa, buraco ou cruzamento e curva perigosa à direita, qual a melhor rota e que mudança engrenar? Aperta o cinto. Cuidado com o amarelo âmbar do semáforo a cair para vermelho…
Traçamos, planeamos escrevendo no bloco de notas, em cada momento, quem sobe connosco no comboio da vida, quais são as carruagens que o formam e as suas respetivas categorias. Ai é? Se calhar não dominamos todas as estações e apeadeiros, nem os penduras que vão entrando à socapa e sem bilhete. Mais os descarrilamentos, os alta velocidade atrasados e as bebedeiras no vagão bar. E ainda as mochilas às costas, as malas atabalhoadas que teimosamente não se deixam fechar, as trouxas apressadas e postas ao ombro…
Conhecemos como as palmas das mãos quem nos rodeia e faz parte da mobília do nosso coração. Será que antevemos todas as rachas na madeira, as quincas, riscos e arranhões no verniz que ainda estão por vir? E ainda os acrescentos ao anexo, as prateleiras montadas à pressa que ficam desniveladas na parede, os beliches e os velhos banquinhos de madeira para quem chegou sem avisar para o jantar?
Avançamos com as certezas absolutas, as convicções, os ideais, os projetos no bolso… bem guardados. Cerramos os dentes, apertamos os punhos, calamos o cansaço e como um dardo certeiro somos atirados para a frente porque de outra maneira não poderia ser. Não poderíamos ser. Tem de ser! Sempre se fez assim… Quiçá pelo meio abracemos a dúvida, a incerteza e o medo também. Ou caímos inevitavelmente na preguiça, na morna inércia, na cegueira, que nem rebanho teleguiado?
Saciamos a sede ancestral evoluindo e montando as pecinhas todas, os cacos do progresso. Procedemos criteriosamente ao estudo da escala (sim, tudo hoje em dia tem de ser escalável), para o mundo crescer até ao infinito. Sabedoria, dinheiro, poder, controlo… mais conhecimento, tecnologia e inovação. Educação? Empatia? Paz? Humanidade?
As coisas vão mudando de sítio e encontrando novos cantinhos onde instalar-se mais comodamente. Mais rugas, menos cabelo e os músculos a amolecer. Ouve-se pior, mas escuta-se acutiladamente. Tantos pares de óculos depois somos guiados pela visão periférica da experiência, da existência. Saudades da explosividade da juventude, do ímpeto e da espontaneidade. Mas agora temos o calo, novas cartas na manga, a sagacidade adquirida pela queda e também as dores nas articulações. Costas quentes?
Fazemos anos. Ganhamos idade. Passam os anos. Sopramos velas. Vivemos muitos, tantos, anos. Não sabemos nada. Nem sabemos os outros. Tentamos? Talvez esteja a exagerar… sabemos um pouquinho. Antecipamos as coisas que hão de vir, que estão sendo e chegando já, sem ter a segurança absoluta de nada. E enquanto vamos andando para a frente com a cabeça quase sempre erguida, tropeções e passos firmes pelo meio, concluímos que no final e afinal somos todos “apenas” pessoas vivendo entre pessoas, com pessoas, procurando saber ser plenamente só isso mesmo. Deveras?
Prometo que este não é um texto que procure inocentes, nem culpados. Talvez seja unicamente um desabafo necessário, uma redundância, uma fuga cega, um calado grito de desespero que já não pode ficar mais tempo dentro, um chamamento, uma brisa de loucura, um banho de realidade, a vergonha queimando, a urgência de agir… Nem sei bem se se poderá chamar-lhe crónica. Deixarei que sejam vocês a decidir.
Ontem, com o telemóvel na mão, premi automaticamente o botão de “play”. Vi. Rostos negros, pretos. Suor, lágrimas e sangue. Centenas de corpos… uns em movimento e outros pausados. Amontoados, encaixados uns nos outros. Cores vindas de África. Esgares de dor, feridas abertas. Braços erguidos a custo, mãos abrindo lentamente os dedos. Onde estavam os sorrisos de orelha a orelha e o inato ritmo dançante? Seres humanos exaustos e entregues à sorte após uma luta desleal e desigual pela conquista de uma vida melhor. De uma vida digna. De uma vida. Um futuro?
Também observei a violência pura e em várias tonalidades. Eram outros olhos, agora. O desprezo e a raiva. Uniformes e capacetes. Movimentos robóticos, a rotina vigilante. Homens atuando provavelmente sob o jugo de uma obrigatória desconexão mental capacitante para a desumanidade cometida. Pontapés e empurrões. A dor plasmada na sua escala graduada com todos os tons.
Ali, naquela imagem absurda, procurei “degrades”, deslizes entre as cores. Quis desfocar os olhares que me procuravam, exilar-me momentaneamente. Porém, a escala de cinzas abalara da cena, estava já submerso na escuridão e não havia escape possível para mim. Tinha de ver. Ver, olhar e processar aquilo. Como?
Fiquei ali naquele limbo momentâneo à procura de uma lógica, uma razão ou rápida explicação para que aquele horror tivesse realmente acontecido. Apeteceu-me, e quase cedi, encontrar as culpas e os responsáveis, alvos para onde apontar antes de disparar. Finalmente, a incredulidade e a falência da razão travaram-me, deixando-me a planar sobre a lamentável visão daquele fragmento de realidade.
Tanta poesia, quantas palavras poderíamos usar. Esquecemos. Andamos na nossa “vidinha” e não há tempo. E de vez em quando levamos pancada no lombo. A crueza pega num pau e zás, toca a acordar que já é de dia! Dói, mas nada que não tenha cura com gelo e um ibuprofeno.
O grande Godinho canta há vários anos que “isto anda tudo ligado”. Será que não andamos, mas é terrivelmente desligados? Uns dos outros. Cada um no seu carril, viajando paralelamente e sem permitir cruzamentos com as linhas dos demais.
Quantas Melillas mais?
Talvez esta imundice (in)humana tenha começado no dia em que se construiu o primeiro muro alto e tosco entre homens diferentes (não seremos todos “diferentes”, afinal?) para separar, segregar, dominar, cegar. E desde então continuaram a escavar-se fossos, a erguer-se cercas e vedações. Subsequentes arames farpados simbólicos ou literais que vêm acentuando a diversidade (sem prestar atenção à beleza que ela encerra) enquanto escavam ainda mais a desigualdade de pontos de partida, que resultam na criação de maratonas tão distintas e às quais muitos nem resistem para chegar a ver a linha de meta.
Bombas, explosões. Silêncios e hipocrisias. Guerra e dinheiro. Poder. Amar e matar… ou deixar morrer. Tudo isto leva dentro um pouco de nós. Pelo que fazemos e também pelo que não fazemos ou pelo que calamos e permitimos.
O mais provável é que isto que escrevo não sirva para absolutamente nada. Contudo, não posso deixar de perguntar-me se nós que descobrimos o fogo e a roda, fomos à lua e inventamos a internet, sim, nós que criámos línguas, que abraçámos, que inventámos incessantemente, que solucionámos, errámos e amámos, que voámos e navegámos sem parar, não seremos capazes de fazer algo inédito e inovador na próxima vez que nos apetecer ir comprar tijolos para começar a fazer um muro novo.
Nuno Veloso
Em Abril chega a luz forte e poderosa. A claridade. A flora ganha fulgor visível. O enérgico cantar matinal dos passarinhos pousados nos ramos das árvores e flores do jardim para o qual aponta a janela do quarto ganha agora contornos mais evidentes e posso por isso escutá-lo com maior nitidez. Estou talvez mais atento ou mais sensível. Disponível? Cheira outra vez ao perfume da liberdade. Escavamos no passado. Destapamos. Brilha o tesouro. Quase cinquenta anos.
Nesta época do ano trazemos à ribalta, de novo, as caras das personagens que fizeram acontecer. Dos libertadores e também dos derrotados que outrora guardavam a liberdade fechada a sete chaves. É necessário continuar. É fundamental manter a memória. Ir fazendo a luta sem armas nem munições reais.
Recordamos eventos daqueles outros tempos. As datas, os dias e as horas. Os locais. Aquelas terríveis histórias de medo, de opressão, de horror e tortura. De ignorância e bondade. De obediência cega. De cegueira. Também de desassossego e de inquietação. De procura. De união em torno de um bem comum. De esforço e de foco.
Depois os tanques e os militares. Grândola Vila Morena. Mares de gente. Mais horas e locais daquele dia, do 25. Sorrisos e aplausos. Dia do triunfo de Abril. Cravos vermelhos. Mais e mais gente nas ruas. Esperança e júbilo. Vitória!
Eu não vivi essas odisseias (nem as terríveis pré 1974, nem as grandiosas do dia da liberdade ou as ondas posteriores), nasci em 1977 – LIVRE. Mas sei-as de cor. Esta liberdade que me veste e sempre me arroupou vem de trás. De antes de mim. Esta pele que me cobre e que desde que sou gente me outorgou ser livre tem nos seus poros outros. Nas suas camadas estão heróis e vilões, toda uma história de décadas que forjou Portugal. Teceu novas redes onde já se encontravam outras bem antigas, seculares, encerrando nelas inúmeras narrativas. E eu mamei desde bebé essas estórias. Escutei tantas vezes como o meu pai passou umas horas numa cela porque não se calou. Como não se podia dizer que as batatas estavam caras. Os livros e os discos proibidos. Ouvi vezes sem conta a minha avó Ana contar como a PIDE levava, a torto e a direito, de arrasto, pessoas do elétrico ou de qualquer esquina por terem dito palavras proibidas. E os exilados, os presos políticos. Os amigos do bairro e da escola que no seu olhar contavam, sem querer, as guerras coloniais e o horror dos que tiveram de fugir (mais as desgraças dos que lá estavam e lá ficaram).
Essas andanças não as vivi, mas sei que as recebi. Há seguramente em mim migalhas dessas aventuras e desventuras do “Portugal de Salazar” (¿haverá outra maneira de escrever isto sem transmitir a ilusão de que esse homem em algum momento possuiu um país?). Essa opressão, bem como a luta contra ela, habitam de certeza o meu sangue. E é por isso que eu, tendo sido sempre livre, me arrepio quando chega Abril. É uma sensação de agradecimento profundo pela sorte que tive e tenho. Aquela coisa de dar graças (que vai mais além de um fundo religioso que não possuo) aos que tornaram a liberdade possível, partilhar com os da minha geração uma espécie de frequência nossa (dos livres filhos de abril) e, em simultâneo, desejar ser capaz de continuar com os mais novos esta poderosa missão herdada.
“Vejam bem”…, a pouco mais de uma semana de celebrarmos o dia da liberdade é isto que me vem à cabeça. Eu que nunca soube o que é dela estar privado…
Na verdade, quando me sentei em frente ao teclado trazia outros planos. Ia falar-vos dos livros que ando a ler e a descobrir. De novos discos que venho (re)descobrindo e de concertos que estão para acontecer. Das exposições que não podemos perder. Queria ainda focar atenções no grande ecrã do cinema e nas séries faladas em português. E emoldurar-vos algumas citações que andam em “loop” na minha mente como se fossem uma página web em que apenas temos de deslizar o dedo para cima ou para baixo. E os podcasts… há tantos, tão variados, tão necessários e estimulantes… tão maravilhosamente bons. Disto e de outras tantas coisas.
Era… Sim, eu ia falar-vos de tudo isso. Mas a liberdade tomou conta de mim e quis que vos falasse um pouco sobre ela. E não me importo nadinha. Tudo está bem e bem estará enquanto mandar a LIBERDADE.
Vejam e ouçam como A GAROTA NÃO, através da canção em homenagem a José Mário Branco, enaltece a “querida” liberdade.
Canção a Zé Mário Branco – 6:06
Convite para assistirem a este concerto de três amigos, três lutadores incansáveis pela liberdade. “3 cantos” juntou em palco, num momento absolutamente histórico, José Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto. Homenagem à luta!
3 cantos (2009) – 1:22:47
Nuno Veloso
Editorial
No arranque de 2021 o LUSO QUÊ? começa logo com surpresinhas espetaculares!
Não repararam no nosso logótipo. Ah, não? Ora voltem a espreitar… Lindo, não é? Obra do amigo Pedro Sereno, que conseguiu transformar a inicial ideia apresentada em rabiscos, nesta maravilha de design. Tudo começou com uns esboços em post it, folhas usadas, guardanapos que fui fazendo e guardando. Procurava uma forma visual para definir o conceito. O Sereno, na sua generosidade e com imensa paciência e dedicação, realizou um estudo aprofundado e após várias versões chegámos à versão final, que tanto nos agrada! Esperamos que gostem!
Após esta abertura de presentinho, já estamos lançados. Passemos pois em seguida às propostas desta semana. Vamos devagarinho que ainda agora o ano começou…
Todos temos um poeta dentro de nós, mas nem sempre somos conscientes da sua existência ou não sabemos como evocá-lo. Margarida Fonseca Santos vai ajudar-nos a descobrir como encontrá-lo. Incentivar as nossas crianças a ler e a escrever é possível e até divertido. Venham daí!
Quando se junta malta cheia de ganas de promover e produzir arte e cultura, acontecem coisas estimulantes e incríveis como o projeto Gerador. Aqui vamos necessitar de tempo, paciência, calma e atenção para fruir de tudo o que esta gente maravilhosa anda a fazer.
Depois visitaremos a obra consolidada de Luís Afonso. Um cartunista absolutamente genial, que através da sua arte realiza humor, fazendo uma análise crítica e inteligente da atualidade portuguesa e internacional, com singular mestria.
Teremos ainda a oportunidade de descobrir o Museu Virtual da Lusofonia, onde podemos desfrutar de interessantíssimas propostas culturais e artísticas em domínios variados.
Finalmente, desmoemos com a música intimista de Carolina Deslandes, dando especial enfoque a um dos seus mais recentes trabalhos. Uma gravação “de trazer por casa”.
Os (in)Raizados pausam esta semana, prometendo voltar com novas estórias vibrantes em breve.
Até já!
1. A brincar, a brincar vai-se escrevendo!
É comum ouvir alguém manifestar a sua incapacidade para a escrita: “Epá, eu escrever é mesmo só a lista das compras!”. Também acontece que pessoas que leem muitíssimo, fruto do enorme respeito que nutrem pela literatura e a arte de bem escrever, verbalizem não estar à altura de escrever, nem que seja um pequeno relato, conto, poema ou estória. Sabemos ainda que captar a atenção e gosto das crianças e jovens pela leitura e escrita se afigura como um dos maiores desafios para pais, educadores e professores.
Pois bem, Margarida Fonseca Santos, escritora, professora de pedagogia e formação musical, com mais de 100 obras publicadas (a sua maioria na área infantojuvenil), aproveitou a sua enorme e vasta experiência para criar projetos integrados no PNL (Plano Nacional de Leitura) que procuram incentivar a leitura e escrita através de desafios estruturados e apoiados em pilares didáticos e pedagógicos.
O blogue das Histórias em 77 palavras está aí para demonstrar que não só é possível, como é também divertidamente desafiante escrever bonitas narrativas em poucas palavras. Nesta plataforma de desafios de escrita com participantes dos 6 aos 101 anos encontramos uma seleção dos melhores textos produzidos e temos acesso à lista completa de desafios de escrita por temas (com as devidas orientações e regras para cada um deles). Há ainda orientações (com materiais) para professores e escolas que queiram aplicar e usar as histórias com 77 palavras nas suas aulas e observações no âmbito do PNL.
No projeto Re-Word-It – Brincar a sério com as palavras, a escrita e a leitura andam de mão dada com o treino da atenção e da memória, numa perspetiva integradora dos alunos no processo de aprendizagem. Aqui encontramos 5 áreas de trabalho – escrita, leitura, audição interior, atenção e metacognição – que servem de base de atuação através de distintos modos: aulas continuadas para crianças, jovens e adultos; cursos individuais ou em grupo para crianças, jovens, pais, educadores, professores; partilha de materiais didáticos para trabalhar a escrita e a leitura .
Já começaste a descoberta do teu poeta escondido. De que estás à espera?
Linkedin – Margarida Fonseca Santos
O blogue Histórias em 77 palavras
2. A incubadora cultural para todos
O que se faz no Gerador? Talvez seja mais acertado perguntarmos o que é que não se faz nele… E quem pode participar? Todos.
Esta plataforma assume-se como sendo “de ação e comunicação para a cultura portuguesa que acredita que a identidade de um país é a federação de todas as suas culturas pessoais.” O projeto, que conta com a pujante colaboração de parceiros de peso, apresenta como missão a reflexão usando a investigação académica e a educação cultural, atuando com enfoque na aproximação das pessoas através de iniciativas culturais, numa perspetiva de enfoque comunicativo obtido pelas suas publicações.
No seu espaço online encontramos um vastíssima e abrangente seleção de conteúdos disponíveis. Temos o palco online onde podemos assistir a conversas, entrevistas, concertos, entre outros “conteúdos geradores”. Há uma secção dedicada a reportagens e crónicas e uma outra onde podemos consultar artigos de opinião. Na agenda encontramos “iniciativas culturais indispensáveis que podem ser aproveitadas em segurança fora de casa ou no conforto desta”. Apresenta-se também o programa EP COLAB 2020, uma iniciativa colaborativa entre artistas e criadores ibéricos. Como se não bastasse, há também a academia com inúmeras propostas de formação através de cursos e workshops, o espaço dedicado à revista Gerador e a loja.
Quem não gosta? Podem fazer-se sócios obtendo condições especiais e descontos ou simplesmente contribuir para o financiamento do projeto.
Vá… vão lá dar uma demorada vista de olhos!
3. Bonecada à séria
Procurem imaginar um barman com uma grande bigodaça, atrás do balcão, e que através das suas perguntas ou observações ao “cliente” do momento exalta os acontecimentos mais importantes da atualidade nacional e internacional. Já existe, desde 1993, na forma de tira diária do jornal Público e chama-se Bartoon.
Este é talvez o trabalho com maior visibilidade do talentoso cartunista Luís Afonso, embora nas últimas décadas nos tenha presenteado com a tira Barba e Cabelo no jornal A Bola (centrado em temas desportivos) e A Mosca, série de animação na RTP, entre outros projetos de grande interesse e qualidade.
É incrível a forma como em apenas 4 “quadradinhos”, 3 ou 4 frames na TV, somos levados a pensar, a refletir, a sorrir e rir como resposta ao sarcasmo e à acutilante crítica, por vezes retórica, que o artista coloca nas suas obras.
Se vos apetece uma fatia de humor inteligente, irónico e sem papas na língua façam o favor de ir dar uma vista de olhos no fantástico trabalho deste cartunista alentejano de gema.
Maratona de Bartoon
A mosca – “Democracia não funciona”
4. Virtualmente lusófonos
E agora venham daí dar uma voltinha pelo Museu Virtual da Lusofonia. Este projeto procura “promover o conhecimento por parte dos países lusófonos das suas inúmeras formas de expressão artística e cultural, que devem ser reunidas, preservadas e difundidas, quer dentro do contexto lusófono, quer a nível internacional.”
Nesta plataforma de ”cooperação académica, em ciência, ensino e artes, no espaço dos países de língua portuguesa e das suas diásporas” é possível aceder a arquivos divididos em 5 secções: biblioteca, filmoteca, fonoteca, galeria e glossários. Temos também acesso à programação que apresenta eventos, exposições e ainda a agenda científica (com seminários e congressos).
A equipa é essencialmente composta por elementos da Universidade do Minho em estreita colaboração com membros de universidades de países lusófonos (Brasil, Moçambique, Cabo Verde, Timor-Leste e Angola) e, inclusivamente, de outros países como Espanha e os Estados Unidos da América.
Trata-se de uma excelente iniciativa em crescimento e desenvolvimento e que pretende contar com a importante colaboração da cidadania através da sua participação ativa na recolha de obras (fotografias, registos sonoros, registos audiovisuais, textos, músicas, registos dos patrimónios arquitetónico e etnográfico) para engrandecer os seus arquivos e promover a lusofonia a nível internacional.
Merece totalmente a pena visitar e também, se for possível, colaborar direta e ativamente com a equipa do museu no desenvolvimento deste magnífico projeto.
Web oficial do Museu Virtual da Lusofonia
5. As portas abertas de Carolina
Há quem goste de viver fiel a si mesmo, com as suas manias, as suas incongruências, as suas “freakalhadas”, o seu sistema de valores, a sua forma de ver o mundo e de se relacionar com os outros, ainda que isso suponha pagar o preço alto de não reunir consensos, criar invejas e fomentar a crítica constante. Carolina Deslandes é uma destas pessoas. Não parece realmente importar-se com o que os demais pensam sobre o que faz, pensa e diz. Trata apenas de ser e existir, doa a quem doer.
A jovem artista cujo percurso musical tem sido variado, marcado no seu início pela passagem por um conhecido show de talentos na TV (Ídolos) com apenas 18 anos, vem construindo uma sólida carreira que atingiu uma maturidade incomum através do lançamento do álbum “Casa”, em 2017. Com três filhos pequeninos, gravar um álbum de modo tradicional num estúdio e, ao mesmo tempo, acudir às tarefas e responsabilidades familiares era algo que se adivinhava complicadíssimo. Carolina encontrou a solução na sua cozinha… sim, foi aí que montou um estúdio “caseiro” e, rodeada de uma equipa à altura do desafio, gravou as 15 belas canções que compõem este disco.
Em “Casa” encontramos bonitos arranjos acústicos onde a guitarra brilha, suportada pela secção rítmica. Jazzy, com toques de bossa nova, vamo-nos embalando na pura voz de Carolina e nos versos que canta, contando os amores e guardando um espaço especial para os seus “meninos” (A vida toda e Benjamim).
Algumas surpresas como os duetos (Coisa mais bonita com António Zambujo, Não me deixes com Maro e Avião de Papel com Rui Veloso) e também a versão de Circo de Feras (Xutos e Pontapés) tornam este disco numa ótima proposta musical para os momentos que pedem calma, reflexão e relaxamento.
Ainda uma nota final. Durante a pesquisa para este artigo encontrámos um dos mais recentes trabalhos da artista, que merece destaque. No passado dia 25 de novembro, a propósito da comemoração do dia internacional contra a violência, foi estreado o seu trabalho áudio visual em estilo curta-metragem, intitulado “MULHER”. Não percam!
A vida toda
Avião de papel
Mulher
(in)Raizados
Esta secção está dedicada a contar as aventuras e desventuras, as peripécias e o quotidiano de pessoas fantásticas que nasceram em países lusófonos e agora andam pelo mundo fora fazendo pela vida, fazendo a sua vida e espalhando a língua portuguesa pelos 4 cantos do globo.
És ou conheces algum (in)Raizado sobre quem possamos contar estórias aqui no LUSO QUÊ?? Escreve um breve texto com esse relato (máximo uma página A4, aproximadamente 450 palavras), junta uma foto do(s) protagonista(s) e envia-o por escrito para o endereço eletrónico disponível em O vosso espaço. Se és daquelas pessoas que dizem não ter jeito para escrever, contacta-nos e nós ajudamos-te a dar forma à aventura que tens para contar – as boas estórias não se podem perder!
Agradecimentos
Muito obrigado pela vossa colaboração e pelos “grãos de areia” lançados ao projeto:
- João Antunes
- Nacho Flores
- Pedro Sereno
- Pilar Pino
Editorial
Os reis magos deixaram-nos uma prenda espetacular! Anunciamos finalmente o lançamento da nossa página web, HOJE.
Após vários meses de desenvolvimento, numa estreita e imprescindível colaboração com o fantástico Nacho Flores (grande amigo made in Murcia), está pronta. Graças ao seu engenho e generosa dedicação, podemos navegar confortavelmente, com estilo, fino design e elegância, sem perder pitada dos conteúdos disponíveis. Muito obrigado!
A partir de agora o acesso à nossa publicação passa a estar disponível online em www.lusoque.es, tornando a experiência e interação mais intuitiva, mais fácil e também mais apelativa. Lá encontrarão também a proposta de ensino e aprendizagem de PLE (Português como Língua Estrangeira) através do “método Nuno” – flexível e adaptável a todos os níveis, perfis de aluno, motivações e objetivos. Ainda não foram lá espreitar? Não esperem mais e deem já um salto lá!
Fazer um número dedicado ao FADO era um desejo assumido desde o primeiro dia. Nada acontece por acaso. No início da semana passada tínhamos decidido avançar para este número desenvolvendo artigos relacionados com o fado, os seus intervenientes, os espaços, os protagonistas, os figurantes e os que sem estar com o foco a eles apontado são imprescindíveis para que o fado aconteça. Não poderá ser assim…
De repente, no dia 1, logo no início do 20+1, partia Carlos do Carmo. Ao realizar-se o seu fado (destino), o FADO e toda uma nação ficou tristemente de luto e, contudo, simultaneamente, celebrava-se a eternidade do Homem e da Obra. Quando se diz Carlos do Carmo diz-se uma imensidão. Diz-se génio, mestre, avô, pai e marido, amigo, cidadão ativo… homem do mundo e da cidade (a sua cidade – Lisboa). Diz-se artista, fadista, intérprete, contador e cantador. Diz-se, inevitavelmente, FADO. Não há volta a dar… e tampouco temos vontade que seja de outra forma. Contemos e cantemos o fado procurando homenagear da forma possível e genuína Carlos do Carmo. Não se adivinha tarefa fácil contar a vida e obra deste “gigante”, nem é nossa pretensão fazê-lo plenamente aqui neste espaço com recursos e tempo limitados. Contudo tentaremos dar umas boas pinceladas sobre a vida do mestre para aguçar o vosso interesse e curiosidade e, assim, fomentar a pesquisa e descoberta. Este LUSO QUÊ? vai inteirinho para ele. Muito obrigado, “Mestre”!
Os (in)Raizados continuam em lume brando. Temos feito vários contactos com o intuito de trazer-vos novas narrativas e prometemos voltar com mais estórias vibrantes em breve. Quem se atreve?
Até já!
Até já, Mestre!
Poucos são os que conseguem reunir unanimidade em relação à sua própria pessoa, bem como à sua obra. É raro atirar um nome ao ar e constatar a total aceitação, a conexão absoluta e o sentimento de pertença com ele. Escassas vezes se encontra alguém de quem nunca se ouve uma agrura, um comentário fora do sítio, insultos ou qualquer palavra dura. Homenageamos alguém que era absolutamente respeitado quer no meio artístico, quer nos restantes meios e setores da sociedade.
Carlos do Carmo (C.d.C.) era (como custa ainda escrever o pretérito!!!) um verdadeiro senhor, um cavalheiro. Alguém que sorria sempre. Alguém que apoiava e motivava quem o rodeava. Um homem que pensava e refletia, que tinha valores e convicções e as defendia abertamente. Quando falava, dava gosto e merecia absolutamente a pena escutá-lo com toda a atenção (afortunados os que tiveram a honra de conversar com ele). Humilde e trabalhador incansável, empurrou os atrevidos jovens que despontavam para a arte que amava, o que lhe valeu a elogiosa alcunha de “Mestre”. Alguém que canta e conta estórias da vida, de amores e desamores, das gentes, dos que pouco têm e dos que têm de sobra, das ruas, das calçadas alfacinhas, dos jardins perfumados, da sua Lisboa que conhece como ninguém. Alguém que viveu intensamente, viveu muito e com muitos – fez viver. Teve a sorte (embora a sorte custe muito trabalho, como se costuma dizer) de rodear-se sempre dos melhores músicos e letristas ao longo da sua longa carreira. Nunca esqueceu os grandes mestres que o antecederam, inspiraram e tornaram sólidas as fundações da sua paixão a que dedicou a vida – o fado. Alguém que viveu privado dela, por ela ansiou e lutou, acabando por vê-la chegar – a liberdade, que amou e cantou com alegria e orgulho. Um homem reto e honrado, mas brincalhão e divertido, com um invejável sentido de humor. Alguém que inspirou e representa todo um povo. Provavelmente, sem o procurar ou desejar, na sua missão incansável de cumprir o FADO, tornou-se num símbolo de Portugal e é sem dúvida (juntamente com Amália Rodrigues) o embaixador desta forma de arte lusitana que ajudou intensamente a divulgar por todo o mundo.
Seguidamente, abordaremos, não necessariamente numa lógica cronológica, aspetos e factos relevantes sobre a vida e obra do nosso homenageado que na sua carreira de mais de 50 anos de longevidade acumulou centenas de concertos, cantou aproximadamente 250 canções próprias distribuídas por mais de 40 álbuns em estúdio e ao vivo. Falemos então deste Senhor que encantou com a sua arte e carisma várias gerações, não se ficando por aqui – a aventura póstuma continua!
Pode dizer-se que C.d.C. nasceu no fado. O seu pai era o proprietário de umas das mais reputadas casas de fados de Lisboa – o Faia – e a sua mãe era a fadista Lucília do Carmo. Teve pois a oportunidade desde muito novo de sorver o ambiente e atmosfera tão próprios dos locais onde se canta o fado, chegando a assistir ao vivo a nomes icónicos como Alfredo Marceneiro e Maria Teresa Noronha. Estudou na Suíça, tendo acesso a uma educação e instrução de qualidade (pelo que falava fluentemente vários idiomas), algo reservado a poucos naquela época. Confessou que em jovem andou afastado do fado, encantando-se mais pelas sonoridades das estrelas da época – Frank Sinatra e Jacques Brel.
Em 1962, após a morte do seu pai, assume a gerência de “O Faia” e começa a atuar para os clientes, dando o salto para uma assumida carreira musical em 1964. O início dos anos 70 marca um período de intensa reaproximação ao fado, gravando vários trabalhos.
Por morrer uma andorinha
Em 1976, ainda no fervor da recente revolução de abril, assume o protagonismo total no Festival da RTP, onde surge como único intérprete e canta 8 canções.
No teu poema – Festival da RTP (1976)
Em 1977, lança Um Homem na Cidade, disco que ficou na história da sua carreira e também do fado. É claramente um disco que canta a liberdade reconquistada e a esperança renovada, enquanto nos leva a passear pela bela Lisboa. Conta com a importantíssima colaboração do seu grande amigo Ary dos Santos nas letras e apresenta composição e arranjos inovadores para a época.
Um homem na cidade (legendas em espanhol)
A década de 80 veio coroar o percurso internacional que C.d.C iniciara nos inícios dos anos 70. Os dois concertos de estreia que deu no Olympia de Paris em outubro de 1980 são disso bom exemplo e marcam essa viragem, esse crescimento e a dimensão internacional do artista.
Medley do concerto no Olympia de Paris (1980)
A partir do início da década de 90 a carreira, já consolidada e consagrada de C.d.C., teve uma evolução e desenvolvimento muitíssimo profícuos. Entre discos gravados e digressões, apresentou um programa de 30 episódios, com o seu nome na TV e atuou nos mais importantes e reconhecidos palcos a nível nacional e internacional.
Raul Mendes & Carlos do Carmo no Coliseu (1994)
“I’ve got you under my skin” (1995)
A chegada do século XXI trouxe consigo um C.d.C. cada vez mais artisticamente ativo.
Não podemos deixar de sublinhar a forma como C.d.C. contribuiu diretamente, enquanto Embaixador Oficial, para a candidatura (ganha) do Fado a Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO. Este vídeo demonstra com grande fidelidade a origem e evolução do Fado.
Destacamos a forma como se evidenciaram ainda mais as colaborações com outros artistas – consagrados e também jovens debutantes. Conhecido pela sua generosidade para com os colegas de profissão e todos os que colaboraram na sua obra (letristas e músicos, também técnicos), por artistas de outras artes, sempre atento ao panorama musical, participou inúmeras vezes em projetos colaborativos. Apadrinhou muitas caras novas do fado, sem ser paternalista ou sequer vangloriar-se por isso, antes pelo contrário. Seria impossível publicar aqui todas as referências, deixamos portanto apenas alguns bons exemplos.
Carlos do Carmo & Bernardo Sasseti – O Sol
Carlos do Carmo & Mafalda Arnauth – Nasceu Assim, Cresceu Assim
Carlos do Carmo & Rui Veloso – Os velhos do jardim
Carlos do Carmo & Mariza – Estranha forma de vida
Carlos do Carmo & Camané – Por morrer uma andorinha
Referir também um dos seus concertos mais emblemáticos, quando comemorou em 2004 os 40 anos de carreira num momento único recheado de convidados e surpresas, no Coliseu dos Recreios em Lisboa. Vemos também na entrevista de 2013 para o programa Só Visto, a propósito dos 50 anos de carreira e do lançamento do álbum de duetos “Fado é Amor”, a sua faceta humana, na simplicidade, humildade, educação e humor com que interage com Sílvia Alberto. Fica ainda um dos seus concertos do final da década. Carlos do Carmo ao vivo no Largo de São Carlos, Lisboa – 9 de Setembro de 2016
Em 2019, com 79 anos, anunciou a despedida definitiva dos palcos. No dia 9 de novembro do mesmo ano deu aquele que seria o seu último concerto, no Coliseu dos Recreios de Lisboa. E já então começava a instalar-se a saudade… No mesmo ano, o DJ Stereossauro, num dos mais assinaláveis trabalhos discográficos dos últimos tempos, Bairro da Ponte, prestava-lhe homenagem pelo seu contributo ímpar para a música e cultura portuguesa, através da publicação de uma versão de “Cacilheiro”.
Deixamos também aqui o registo da sua última entrevista, concedida ao Diário de Notícias, no passado dia 19 de novembro e novamente publicada no passado dia 4 de janeiro. Apesar de já se encontrar fragilizado, mas plenamente lúcido, não foi capaz de negar uma breve entrevista… que durou”só” 2 horas. O mestre era assim.
Ao longo da sua carreira foram imensos os prémios e distinções que recebeu a nível nacional e internacional. Para não arriscar maçar os leitores com dados que são facilmente consultáveis, destacamos a distinção como Comendador da Ordem Infante D. Henrique (em 1990, pelo Presidente da República, Jorge Sampaio) e a distinção como Grande Oficial da Ordem do Mérito (em 2016, pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa). Em 2008 recebeu em Espanha o Goya na categoria de melhor canção original com o “Fado da Saudade”. Em 2014 recebeu o Grammy Lifetime Achievement pela sua carreira musical. Estes são apenas alguns dos muitíssimos que recebeu.
Grandes êxitos, canções incontornáveis e inesquecíveis… são inúmeras. Fiquemos com alguns dos temas que se transformaram em hinos, que marcaram momentos históricos, que ajudaram várias gerações a trilhar o seu caminho. Todo este palmarés foi, curiosamente, criado por um génio que não tocava qualquer instrumento e tampouco escrevia as letras das canções. Talvez este facto lhe atribua ainda maior valor, destacando a pujança do seu caráter e o forte carisma, aliados a uma capacidade interpretativa incomum e uma singular empatia com o público, que manteve sempre. Ouvidos bem abertos e silêncio que se vai cantar o fado!
Lisboa, menina e moça
Rosa da noite
Os putos
Estrela da tarde
No teu poema
Fado do Campo Grande
Agora, no adeus sentido, surgem novas homenagens ao “Mestre”. A Câmara Municipal de Lisboa decretou “Lisboa, Menina e Moça” como canção oficial da capital portuguesa. Vários artistas que de alguma forma trabalharam, colaboraram, aprenderam com C.d.C., numa iniciativa da Rádio Comercial, conseguiram num par de dias gravar um vídeo onde aparecem interpretando uma emocionante versão da canção, em jeito de agradecimento eterno. Após a notícia do seu falecimento foi decretado um dia de luto nacional em Portugal.
Muito obrigado Carlos do Carmo! Sabemos que não é um adeus, apenas um até já!
(in)Raizados
Esta secção está dedicada a contar as aventuras e desventuras, as peripécias e o quotidiano de pessoas fantásticas que nasceram em países lusófonos e agora andam pelo mundo fora fazendo pela vida, fazendo a sua vida e espalhando a língua portuguesa pelos 4 cantos do globo.
És ou conheces algum (in)Raizado sobre quem possamos contar estórias aqui no LUSO QUÊ?? Escreve um breve texto com esse relato (máximo uma página A4, aproximadamente 450 palavras), junta uma foto do(s) protagonista(s) e envia-o por escrito para o endereço eletrónico disponível em O vosso espaço. Se és daquelas pessoas que dizem não ter jeito para escrever, contacta-nos e nós ajudamos-te a dar forma à aventura que tens para contar – as boas estórias não se podem perder!
Agradecimentos
Muito obrigado pela vossa colaboração e pelos “grãos de areia” lançados ao projeto:
- João Antunes
- Nacho Flores
- Pedro Sereno
- Pilar Pino
Editorial
Esta semana propomos uma pianada light. Uma sequência musical tocada com piano, neste caso, ligeirinha a deixar espaço para que cada leitor a combine e complete como quiser. Celebremos os pianos e @s pianistas!
Não apresentamos um estudo aprofundado e detalhado sobre a história deste objeto majestoso e maravilhosamente belo, de uma mecânica precisa e altamente elaborada e cuja complexidade de execução aliada às suas ilimitadas possibilidades de composição o tornam num instrumento único. Também não iremos fazer uma espécie de enciclopédia sobre os grandes mestres pianistas. Basta dizer que como o tempo não chega para tudo, teremos de deixar de fora uma pianista que merecia um número só para ela – Maria João Pires. E outros tantos! Mas há mais marés que marinheiros… remediado será!
Faremos uma breve passagem pela obra de alguns artistas lusófonos que “dão cartas” no piano e encantam com a sua arte. Nomes consagrados, mestres e malta mais jovem que anda a fazer pela vida e a espalhar talento. Habitaremos vários estilos, pisando as fronteiras mais além dos territórios inatos ao piano – o jazz e a música clássica. Daremos espaço aos “atrevimentos”, às mesclas e cruzamentos, namoros e casamentos felizes de pianos e pianistas com outros artistas e instrumentos. Assistiremos a abordagens e sonoridades capazes de vos “inquietar” e agitar, fazendo-vos reagir à genialidade sonora deste instrumento único que é capaz de impossíveis quando tocado pelo talento.
A orquestra dá a primeira nota e arranca com uma paragem (respeitando o silêncio musical) para escutar a genialidade de quem partiu cedo demais. Deixar-nos-emos embalar pela magia eterna de Bernardo Sassetti.
Conheceremos a bonita e singular estória de paixão, dedicação, dor e esperança que o pianista e maestro João Carlos Martins vem protagonizando ao longo da sua vida.
Escutaremos atentamente a chuva de talento que Júlio Resende provoca em todos os multifacetados projetos em que colabora, cruzando simbioticamente o piano, com improváveis sonoridades.
Iremos até Macau espreitar como o jovem José Li Silveirinha fez uma sentida homenagem à revolução da liberdade, dedicada à obra do homem que dedicou a vida a cantar abril.
Também vos contaremos o que Rita Abranches anda a tramar. Conversámos com a talentosa pianista que interpreta e toca a natureza, as viagens, a vida acontecendo, como se estivesse atrás duma câmera.
Fecharemos esta dose de pianada com uma “cereja” no topo do bolo. Daremos um cheirinho pelo universo especial e riquíssimo do fantástico e único, Mário Laginha.
Os (in)Raizados regressam em força para nos contarem a incrível e contagiante estória de alguém que vive a vida, com alegria e positividade, como um peixe na água.
Até já!
1. Cedo demais…
Começar pelo fim… É difícil falar de Bernardo Sassetti, afastando o olhar dos trágicos e enigmáticos acontecimentos em que a sua morte se viu envolta. O que fazer quando um homem genial, no “prime” artístico da sua vida, nos é arrebatado de forma tão fugaz e inesperada? Talvez a melhor forma de o recordar seja apreciando atentamente o produto da sua criatividade e trabalho.
Desde muito cedo despertou para o piano. Começou a ter aulas aos 9 anos e nunca mais parou, dedicando-se sobretudo ao jazz. Considerado um prodígio e uma mente brilhante, ao longo da sua carreira colaborou com imensos artistas, de estilos variados e “escolas” diversas. 2 temas que ilustram bem esta faceta.
Com Sérgio Godinho em estúdio
Com Pacman – A palavra – tema para Sassetti
Publicou trabalhos de composição própria e desenvolveu obras a solo e em trio de jazz.
Noite
Bernardo Sassetti Trio @ Lux Jazz Sessions
Destaque, pela sua originalidade, e certamente porque reúne num só disco 3 gigantes do piano. O disco de 2007, “3 pianos”, reúne Mário Laginha, Pedro Burmester e o próprio Sassetti, num autêntico e imperdível tesouro musical.
3Pianos – Bolero (Maurice Ravel)
Ficam ansiosos por descobrir mais? Vão até à página web da Casa Bernardo Sassetti, criada em 2012 após a sua morte, como “resposta ao vazio deixado pelo desaparecimento prematuro do artista” .
2. Paixões que (quase) matam
A vida do pianista e maestro João Carlos Martins dava um excelente filme. Já foi feito. Em 2017 estreou “João, o mestre” – filme autobiográfico onde se narra a trajetória do artista desde a sua infância até (quase) à atualidade. Assim, em jeito de slide rápido, a estória resume-se a alguém que nasceu com um dom especial para a música. Nascido a 1940, em São Paulo, o seu pai era um apaixonado pelo piano (não pôde ser pianista devido a um acidente que lhe provocou lesões permanentes na mão) e tratou de passar a paixão pela música, e pelo piano em particular, aos seus filhos. Mas João era especial. Um prodígio. A sua relação com o piano era inata e desde cedo demonstrou aptidões e capacidades incomuns que o lançaram para uma carreira internacional. Um especialista em Bach, apaixonado, loucamente perdido de amor pelo piano, quis sempre superar-se e alcançar a perfeição. Teve de aprender a lidar com essa perigosa obsessão. Há acidentes, perigos, surpresas, viagens por todo o globo, fama, amor, dor e sofrimento, determinação, superação e… um final feliz.
Dizemos que no filme se conta “quase” até aos dias de hoje porque houve um importantíssimo evento recente que mudou drástica e dramaticamente, de forma positiva, a vida do mestre João. O pianista viveu, desde muito jovem, assombrado por graves lesões (físicas e neurológicas) que afetaram as suas mãos. Depois de inúmeras cirurgias, de ter chegado a tocar com apenas a mão esquerda ou com apenas alguns dedos, teve de deixar o piano. Foi aí que a opção de ser maestro surgiu como uma solução natural. Caminho que acabaria também por gerar a criação de uma importante fundação e vários programas em que a música contribui para ajudar crianças carenciadas a estudar. Mas em 2020, graças a um “milagre” tecnológico, umas luvas biónicas, pôde voltar a tocar. As imagens desses momentos são poderosamente emocionantes.
Breve entrevista
É absolutamente incrível a obra de uma carreira com 60 anos de existência, recheada de atuações nos palcos mais famosos e célebres das maiores e mais importantes cidades do mundo. Deixamos aqui um breve excerto de uma atuação ao vivo onde João Carlos Martins interpretou maravilhosamente um tema de dificílima execução que poucos outros se atreveram a tocar.
Espreitem o facebook do mundialmente famoso e aclamado pianista e maestro.
3. O 4×4 das teclas
É exatamente isso. Júlio Resende é como um todo-o-terreno que se adapta e move com total liberdade em qualquer terreno musical. Tendo começado a estudar piano muito jovem, com apenas 4 anos, e apesar da sua formação ser fundamentalmente de jazz e clássica, este genial pianista gosta de atravessar e habitar territórios sonoros variados.
A sua vasta e extensa obra, tendo em conta a sua idade, demonstra-nos exatamente esse gosto pela exploração do fado, rock e outros géneros. Daí surgiram imensas colaborações e participações em projetos com outros artistas. Por exemplo, em 2017, numa homenagem aos 20 anos do álbum “Ok Computer” dos Radiohead, com Salvador Sobral (ambos membros do projeto Alexander Search). Também com António Zambujo, em 2013 no Hot Club de Lisboa, interpretando “A tua frieza gela”. Ou, com Elisa Rodrigues onde toca “Dumb” de Nirvana, em 2011.
Um destaque especial para o disco “Amália”(2013), onde Júlio Resende se “atreve” a interpretar canções da fadista maior. “Medo” é um dos temas mais bonitos deste álbum.
Medo – dueto com Amália Rodrigues
Num dos seus mais recentes trabalhos, vemos como integra a eletrónica na sua composição, resultando numa sonoridade viva e enérgica, bastante coesa e com um toque inovador.
Fado Cyborg
Ainda uma referência ao “Júlio Resende Fado Jazz Ensemble” onde podemos ouvir pérolas tão belas como este “Vira Mais Cinco (para o Zeca)”.
Vira Mais Cinco (para o Zeca)
Visitem a página oficial deste engenhoso artista para acederem a mais surpresas deliciosas.
4. Abril macaense
Piano e pianistas. Pois claro! Mas quem poderia imaginar um jovem pianista a fazer uma sentida e bonita homenagem à revolução dos cravos, desde Macau? Aconteceu em abril de 2020, a propósito das comemorações do 25 de abril de 1974.
Com apenas 15 anos, José Li Silveirinha interpreta temas como o “Grândola, Vila Morena” ou “Maria Faia”, numa atuação de se lhe tirar o chapéu que recorda o momento histórico e a obra do grande Zeca Afonso.
Canções de Portugal – Homenagem a Zeca Afonso
Ficamos à espera de novas prendas do jovem pianista.
5. Luzes, câmera… piano
Uma conversa de uma hora não é suficiente para ficarmos a saber TUDO sobre a talentosa pianista e professora de piano Rita Abranches. Mas dá para ficarmos com uma ideia bem clara e completa sobre quem é, o que fez e o que anda a tramar…
Desde cedo, esta lisboeta, soube que amava o piano. Sentia a necessidade de criar livremente, com espontaneidade, na procura de expressar-se livre de moldes. Foi desenvolvendo a arte de criar livremente, seguindo os seus instintos, mas usando a sólida herança obtida pela formação clássica, como podemos absorver e observar em “Gize”, uma das primeiras peças que compôs para piano.
Gize
A música da Rita é extremamente visual, provavelmente pela estreita relação que a artista tem com a poesia, a dança e o cinema. Música criada para imagens e com imagens. Compôs música para curtas-metragens, documentários e cinema. Destaque para uma série de documentários sobre Macau da RTP – “Macau 2012/13”, que posteriormente evolui para uma longa metragem – “Macau , um longe tão perto”.
As viagens, a liberdade, o sonho e o mar são linhas e fontes constantes de inspiração presentes nos seus trabalhos. Música que oscila entre um carácter mais sereno e etéreo, a leveza e alegria e uma dimensão com um carácter mais profundo e existencialista que reflete sobre o sentido e significado da vida. “Karuna” espelha esta identidade própria onde está a portugalidade misturada com cores, cheiros e sabores de outras geografias.
Karuna
Em “Vagueando” (2013), reuniu um belíssimo conjunto de oito temas para piano e no mais recente, “Vida e Nuvem” (2019), expandiu a sua linguagem integrando outros instrumentos para além do piano e apresentando também algumas canções no disco.
Fica lançado o desafio. Querem saber e conhecer mais sobre esta fantástica intérprete e estar a par das novidades ? Deem um salto ao seu canal do youtube.
6. Por culpa de Keith
Será que a genialidade de contagia? Sabemos que não… contudo, no caso do pianista Mário Laginha foi um bocadinho assim. O talento inato foi espicaçado pela audição da música de Keith Jarret. O resto tem sido estudo, trabalho, dedicação e talvez um bocadinho de sorte (cuidado com ela, dá muito trabalho conseguir ter sorte).
O que contar-vos? Como engarrafamos a vida e obra deste “monstro” do piano nuns poucos parágrafos? Podemos começar por dizer que a sua música é alegre, simpática, está em paz com a vida, serena e muitíssimo bela.
A saber, Mário Laginha conta com 23 álbuns publicados tendo iniciado os registos discográficos em estúdio no início da década de 80. No panorama musical contemporâneo, seria impossível falar de música, mais concretamente de jazz, sem mencioná-lo com sublinhado e a negrito.
Ciclo “Piano Solo” – “Moira Poama”
Um dos melhores, rodeado pelos melhores. No jazz e não só. Falar do pianista inclui incontornavelmente dizer Maria João. A parceria entre a cantora e o pianista resulta na publicação de vários discos absolutamente fabulosos.
Maria João · Mário Laginha – Iridescent (Gulbenkian)
Ficou também para sempre gravado nos anais do jazz o famoso Sexteto de Jazz de Lisboa.
Véspera
E, não poderíamos igualmente deixar de mencionar todo o trabalho realizado em formato de trio.
Muirapuama
E a amizade e cumpicidade musical com Sassetti , Burmester (que antes mencionámos) e com tantos outros. Não há espaço nem tempo suficientes para dar-vos tudo, mas fica ainda este perfume de um dos seus mais recentes trabalhos com o fadista Camané.
Com que voz
Ficaram com vontade de ouvir e saber mais? Toca a ir ao facebook do pianista e encher-se de boa música!
(in)Raizados
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Esta semana temos o prazer de contar a estória de um amigo de toda a vida – o Hugo.
Hugo Andrade (36 anos, Cabo da Roca)
Eu sempre pensei que o meu sonho era ser veterinário e nunca imaginei, nem nos meus sonhos mais ambiciosos, que poderia ter a oportunidade de trabalhar diretamente com alguns dos animais mais fascinantes da nossa terra.
Ter nascido e ter sido criado sempre junto ao mar talhou sem qualquer sombra de dúvida todo o percurso da minha vida até agora. Sempre tive um espírito bastante aventureiro e busquei tirar o máximo partido da vida em geral e trabalhar por gosto e paixão, embora sabendo que tal nem sempre seja fácil
No dia 30 de Abril de 1984 iniciei esta odisseia a que chamamos vida. Com mãe moçambicana e pai angolano, ritmo e diversidade estiveram sempre presentes .
Em criança, procurei ultrapassar os meus limites. No meu caso e naquela época eram fugir à escola ou ir de bicicleta de Paço de Arcos, a minha terra natal, até à Torre de Belém. Foi assim, até ter feito, contra a vontade da família toda, a minha primeira grande viagem sozinho a Nova Iorque com 20 anos.
2007 foi um ano de viragem em todos os aspetos da minha vida, tanto geográficos como de crescimento pessoal. Depois de duas entrevistas intensas e de ter viajado 1160km em dois dias, fui contratado pelo Zoomarine como Assistente de Treinador. Foi nessa altura que percebi que me tinha saído o euromilhões, uma oportunidade absolutamente única na vida, que em nada se assemelhava ao que eu entendera como trabalho até então. Ia ser necessária uma elevadíssima dedicação para lidar com animais como leões marinhos, focas, manatins e golfinhos. Foram 5 anos de cuidado, amor e respeito mútuo entre animais e colegas com muitos desafios. Só assim é possível. O público por vezes não tem noção da logística que envolve o cuidado e treino destes animais desde a nutrição aos cuidados médicos. Imaginem-se dentro de água com um golfinho e ter uma relação de confiança que vos permite fazer quase qualquer coisa com estes animais, é indescritível, inesquecível e por isso, um sentimento especial que guardarei sempre comigo.
Procurei novos desafios na Holanda e em Palma de Maiorca como treinador de mamíferos marinhos. O resultado de estar tanto tempo fora do meu país fez com que, ao fim de algum tempo, a saudade batesse à porta. Comecei a procurar voltar, mas desta vez para trabalhar por conta própria. Abri um surf camp na Praia da Areia Branca (costa de prata) – O pura vida beach hostel e passados 2 anos tive a sorte de encontrar um moinho no ponto mais ocidental da Europa, reabilitá-lo e fazer uma casa de sonho que pudesse albergar pessoas de qualquer parte do mundo – O moinho da roca.
“Encontra um trabalho que gostes e não terás que trabalhar nem mais um dia da tua vida” e, por mais cliché que isto possa soar, é a mais pura das verdades. Ter vivido com essa frase na cabeça fez com que o meu percurso fosse bem mais estimulante e sempre em busca de algo melhor, não me acomodando.
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- João Antunes
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Editorial
Bem-vindos a mais uma edição. Desta vez decidimos explorar o espólio inesgotável das nossas gavetas, caixas, baús e arcas. Armazenados, nesses recipientes que se fecham guardando neles a segurança da escuridão, às vezes durante anos, no esquecimento ou aguardando a oportunidade certa, estão autênticos tesouros. Ao monte, em total barafunda ou arrumadinhos e organizados, dependendo de cada espaço ou contentor, encontrámos bem conservadas as sugestões que vos trazemos esta sexta-feira. Vamos lá remexer no fundo das gavetas!
Bem “armazenada” está a estória do Museu da Língua Portuguesa. Iremos até lá visitá-lo e conhecer melhor que maravilhas guarda este espaço de homenagem e preservação histórica do português.
No gavetão, o legado dos Grandes, dos génios, daqueles que marcam profundamente a história fica entre nós quando partem, eternizando-os. Apadrinhados pelo mestre, a nata formada por jovens e prometedores escritores tem sido premiada e incentivada a continuar a caminhar brilhantemente na realização dos seus livros. Veremos quem são os Herdeiros de Saramago.
Depois vamos investigar o que está numa caixa com selo da Guiné-Bissau. Convidar-vos-emos para dançar, embalados na energia cálida e contagiante que Maio Coopé emprega na sua música.
Começamos a fechar com fita as caixas, a empurrar as gavetas, mas ainda há tempo para umas gargalhadas com Guilherme Geirinhas. Assuntos difíceis, feridas abertas, temas proibidos… é o “Coisas chatas com humor”.
Os (in)Raizados ficam em banho-maria, cozinhando lentamente para chegar à vossa mesa na próxima edição.
Até já!
1. Estação da saudade
Já imaginaram um museu dedicado a homenagear e contar uma língua. Pelos vistos existe um e logo da língua que amamos – o português. Numa antiga e bem conservada estação ferroviária – a Estação da Luz – em São Paulo (Brasil) está sediado o Museu da Língua Portuguesa, cuja inauguração ocorreu em 2006. Poder visitá-lo será mais uma razão, de peso, para dar um pulo até esta magnífica metrópole.
Embora atualmente esteja a ser reformado, podemos fazer visitas, descobrir o que conserva e explorá-lo à distância sem perder nem uma migalha do interessante espólio que alberga. Na página oficial do museu somos convidados a realizar uma completa e muito bem organizada visita virtual. Através do canal de Youtube temos à disposição inúmeros vídeos alusivos a exposições temporárias que se realizaram neste espaço, homenagens e eventos especiais, entre outros conteúdos interessantíssimos.
O que podemos ver no museu? Muitas coisinhas boas e interessantes. A cronologia histórica da língua portuguesa desde as suas origens e o seu desenvolvimento até à atualidade. Curiosidades sobre palavras tão presentes na lusofonia como “saudade” ou “trabalho”. A maior palavra da língua portuguesa. O processo de mistura entre o português original de Portugal com as línguas indígenas e as línguas europeias originando o português do Brasil. Notas sobre o importante contributo que Oswald de Andrade teve para a génese da cultura brasileira (prometemos dedicar futuramente um artigo ao brilhante poeta paulista). Também há espaço para futebol (como não, se estamos no Brasil?) e cinema. E a árvore das palavras, que apresenta aspetos etimológicos relacionados com o latim e o grego. Tudo isto e ainda mais coisas que não desvendamos.
O programa “Conhecendo Museus” fez uma ótima reportagem sobre o museu. Em aproximadamente 25 minutos, guiados pelo Diretor António Carlos Sartini, ficamos com uma ideia clara sobre a história do museu, a sua missão, como estão organizadas as exposições, a relação da instituição com importantes artistas brasileiros, etc. Tudo isto numa linguagem acessível que nos mantém com a atenção ativa durante todo o episódio e nos dá a oportunidade de contactar com o português do Brasil.
Ficamos ansiosamente aguardando pela reabertura. Entretanto, vão lá espreitar!
Conhecendo Museus – Museu da Língua Portuguesa
2. Ler sem ler
A pensar nos preguiçosos da leitura, aqueles que gostam de ler, mas nunca encontram o momento certo. Sim, este artigo é para vós.
Em 1999 foi criado o Prémio Literário José Saramago, que celebra a atribuição do prémio Nobel ao escritor em 1998. Instituído pela Fundação Círculo de Leitores, atribui-se bianualmente a uma obra literária, escrita em língua portuguesa por jovens autores, cuja primeira edição tenha sido publicada num país da lusofonia.
Até hoje foram 11 os galardoados com a importante e honrosa atribuição do prémio. Obviamente, trata-se de um prestigioso prémio que reconhece a qualidade excelente das obras destes escritores, colocando-os na antecâmara de um trajeto literário que se adivinha rico, profícuo e marcante. A RTP (Rádio Televisão Portuguesa) estreou em novembro passado um programa onde se conta mais sobre a vida e obra destes escritores. Em “Herdeiros de Saramago”, somos presenteados com 11 capítulos (evidentemente, cada um alusivo a um dos premiados) em que ficamos a conhecer melhor as origens, a família e amigos, o mapa conceptual da sua obra, as influências, a vida mais além da escrita, as estórias e os “tesourinhos” da infância ou da adolescência de cada um deles.
A estreia do programa no final do 2020, não terá sido uma coincidência já que este ano teremos nova atribuição do prémio. Quem será o ou a feliz afortunad@? Aceitamos palpites…
Fica feito o desafio. Não há desculpas para a procrastinação, pois estamos a falar de 25 minutos por capítulo – quem os não pode despender numa tarefa tão prazenteira! Consultem a página da RTP onde podem selecionar os capítulos que mais vos interessarem.
Deixamos como sugestão um dos nosso favoritos, o 2º episódio, dedicado ao talentoso José Luís Peixoto.
Herdeiros de Saramago – José Luís Peixoto
3. Cabaça que baila quentinha
Vai um pezinho de dança? Uma ondulação de anca e um giro compassado? Marcando o regresso ao estúdio após 20 anos de pausa discográfica, Maio Coopé ressurgiu em 2020 com fabuloso trabalho – “No Na Riba Terra” (disponível no Spotify).
O novo disco, produzido pelo experiente conterrâneo Manecas Costa, cuja tradução do título de crioulo para português é “Nós vamos regressar à Terra”, pretende enviar uma mensagem de confiança num futuro melhor. Esta mensagem de esperança está fortemente presente no conceito e abordagem assumida pelo músico e intérprete guineense sediado há vários anos em Massamá (Sintra, Portugal). Sonhar e concretizar o regresso ao país de origem foram inspirações para a realização deste disco, num momento em que as circunstâncias extraordinárias da pandemia já pairavam no ar, juntando-se à complicada conjuntura que a Guiné-Bissau enfrenta.
As canções do artista englobam a tradição guineense através da influência do funaná e gumbé, com belos coros e inebriantes arranjos de cordas. Canta-se e contam-se estórias deste povo e do seu belo país, inebriados pelo toque exótico tão característico desta geografia africana. Este “embaixador” da cabaça como percussão traz, na sua expressiva voz, em cada tema, o calor e energia contagiante, que todos apreciamos e ao qual se torna impossível resistir sem dar uns passos de dança.
Deixamos aqui duas sugestões que, no mínimo, vos deixarão com um sorriso de orelha a orelha quando as escutarem e dançarem.
N’dingui
Squema
4. Gargalhadas tabu
Saber rir-nos de próprios é um poderoso elixir na luta contra o envelhecimento e um potente dínamo a caminho da felicidade. Tratar assuntos delicados com uma atitude idêntica é também uma arte tão difícil, como necessária nos tempos que correm.
O jovem humorista Guilherme Geirinhas já anda nas lides do riso a partir do desequilíbrio e do escape da zona de conforto, há vários anos. Através do projeto “Coisas chatas com humor” trata assuntos e temas incómodos, complexos e delicados. Aquele tipo de matéria que pode facilmente dar cabo de uma reunião familiar ou azedar uma cerveja tomada entre amigos. Mete o dedo na ferida e de forma informada, bem estruturada, e com a inevitável dose de humor, ironia e sarcasmo vai tocando temas como o racismo, a política e os políticos, as eleições, a eutanásia, o casamento, o Brexit… entre tantos outros.
Podem consultar todos os vídeos disponíveis no canal de Youtube do humorista. Como aperitivo propomos que assistam a esta divertida lição sobre política.
És de esquerda ou de direita?
(in)Raizados
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Editorial
Salada de frutas! Pura energia. Vitaminas e pujança! Nela cabe um montão de coisas… a fruta que um quiser ou tiver à mão. E outros ingredientes que a vêm engrandecer. Só coisinhas boas, saborosas, coloridas e perfumadas. Todas deliciosas. Com mais ou menos açúcar ou até sem ele. Com chantili, natas batidas ou ao natural. A fruta cortadinha em pedaços geométricos, mais arredondados ou toscos. Pequenos e grandes. Com ou sem casca. Com frutas caras e exóticas ou numa versão mais espartana… tudo vale. Só no verão? Nãaaaaa… Salada de frutas é quando nós quisermos!
Eis pois que esta semana vos trazemos um registo tutti frutti, uma combinação de fazedores de mundos que ajudam a dar forma a este, tão belo e único, em que vivemos.
Vamos começar por saber algumas curiosidades sobre a salada de frutas e aprender a prepará-la em grande estilo, numa das suas infinitas versões, com um conhecido chef português.
Depois, uma colherzinha de sumo de limão por cima das frutas e iremos “curvar” pelo mundo fora conhecendo mais sobre Oscar Niemeyer, o arquiteto mundialmente famoso que odiou assumidamente o ângulo reto.
Um pequeno toque de nata… Teremos ainda tempo para observar como um filantropo arménio, por portas travessas, se viu vivendo em Portugal e ficou para sempre ligado à história da arte, cultura, ciência e ensino através do mecenato. Saltinho à vida e obra de Calouste Gulbenkian.
Antes do cafezinho, ainda uma última colherada a rapar a tigela. Apanhamos nela o exotismo da manga, o sabor fresco do coco, a frescura ligeiramente ácida do ananás. Mayra Andrade vai embalar-nos com a sua sensualidade musical.
Os (in)Raizados ficam mais uma semana em lume brando.
Até já!
1. Mix irresistível
É difícil saber quando foi inventada ou preparada pela primeira vez. A salada de frutas é certamente uma solução culinária muito antiga usada em todo o mundo. Talvez uma das maiores dificuldades em situar historicamente o seu aparecimento e desenvolvimento tenha que ver com a forma como a fruta foi perspetivada e aceite do ponto de vista sócio-cultural. Se hoje em dia está claro que a fruta crua é um ingrediente seguro e até fundamental para o crescimento e desenvolvimento dos humanos, isto nem sempre foi assim.
Atualmente associamos fruta a comida saudável, portadora de vitaminas e nutrientes necessários para o desenvolvimento harmonioso do nosso corpo e mente. É evidente que cada vez se mistura mais entre si e se combina com outros ingredientes e elementos, criando pratos verdadeiramente ricos e deliciosos.
“Salada de frutas”, do ponto de vista linguístico e comunicativo, pode sugerir um mix de muitas coisas ou até a aglomeração de uma grande quantidade de elementos pertencentes a uma mesma categoria. Em determinados contextos pode significar algo feito à pressa, de retalhos, pedaços ou fragmentos, sem grande planificação ou preparação.
Seja como for, com quem for e em que época for, será sempre uma saborosa sugestão. Fiquem com a proposta de elaboração da dita cuja, pelas mãos do grande chef (laureado com duas estrelas Michelin) – Henrique Sá Pessoa.
Receita de salada de frutas
2. O elogio da curva livre
A arquitetura conta estórias e explica muito do que se passa na evolução da civilização. No dicionário define-se como a “arte de projetar e construir edifícios”. Mas vai bastante mais além disso. Através dela sonhou-se e sonha-se um novo mundo. Os desafios e a procura de soluções, as loucuras e aventuras, os riscos e equilíbrios, os atrevimentos e ousadias, os namoros e divórcios, os casamentos e traições que os arquitetos e arquitetas tiveram com a realidade desde o início dos tempos transformaram-na. E assim continuará sendo!
A obra de Oscar Niemeyer é um marco fundamental. Há um antes e um depois. É brutalmente inspiradora, surpreendentemente inovadora e de uma beleza incrível. A visão do mestre, o seu conceito e modus operandi conceptual na forma de exercer a bela arte, modificaram a estética do planeta. Transformaram-se os espaços e a relação que temos com eles.
Foram muitas as narrativas que Oscar protagonizou. Nunca deixou de trabalhar e criar, estando ativo até poucos dias antes da sua morte – com 104 anos! Carioca, nascido em 1907, marcou profundamente a arquitetura do século XX e dos inícios do século XXI. Conhecido como o “escultor de monumentos”, projetou uma quantidade imensa de edifícios na sua longa carreira. Podemos destacar vários edifícios cívicos em Brasília (por exemplo, o Congresso Nacional), a sede da ONU (Nova Iorque), o Museu de Arte Contemporânea (Niterói), o Museu Oscar Niemeyer (Curitiba), o Centro Internacional Oscar Niemeyer (Avilés/Espanha) e a última obra que idealizou – A cidade das artes e da cultura (Essaouira/Marrocos). Esta é uma lista sobejamente incompleta…
Na página oficial da Fundação Oscar Niemeyer podem consultar mais informação sobre a vida e obra do artista.
Convidamo-vos a assistir ao documentário “Oscar Niemeyer: A Vida é um Sopro”. Aqui poderão presenciar na voz do próprio como o gosto pelo desenho, que teve desde criança, e o conduziu à arquitetura. A tremenda e estonteante humildade do artista. A presença e o respeito pela natureza no seu trabalho. O poder de ter uma ideia, uma solução. A extrema importância da liberdade, da beleza e da fantasia. A sua procura pela curva perfeita. A aversão ao capitalismo. A consciência social e o alerta para a desigualdade. A simpatia assumida pelo comunismo, o exílio e as várias ações de protesto. Também a preciosa participação de importantes figuras de quadrantes variados, que de alguma forma estiveram ligados ao artista, e contam a singular e fantástica estória do arquiteto.
Documentário – “Oscar Niemeyer: A Vida é um Sopro”
3. O negociador colecionador
Dilema! Como contar Calouste Gulbenkian em 3 ou 4 parágrafos? Já é costume, basta ver o que acaba de suceder com Niemeyer. Bom, centremo-nos nos principais aspetos sobre a vida e obra deste ilustre arménio.
Nascido em 1869, formou-se em engenharia petrolífera e desde cedo demonstrou uma especial habilidade para os negócios. Através da exploração de petróleo financiada pelas grandes corporações internacionais, acumulou ao longo dos anos uma grande fortuna.
É justamente essa riqueza, associada à sua sensibilidade, bom gosto e paixão pela arte, que resultam na extraordinária coleção que reuniu. Estima-se que a sua coleção, principalmente composta por arte europeia e asiática, rondaria as 6000 obras.
Enquanto judeu, a sua situação complicou-se durante a segunda guerra mundial, sendo perseguido e ameaçado. Acabou por visitar e, acidentalmente por questões relacionadas com a sua saúde, instalar-se definitivamente no país até à sua morte em 1955.
Criou uma fundação com o seu nome, que herdou a sua fortuna e que tem fins artísticos, caritativos, científicos e educativos. A Fundação Calouste Gulbenkian é um referente mundial no que respeita ao mecenato de talento de variados setores – artísticos, culturais, científicos e educativos. A escolha de Lisboa (Avenida de Berna junto à Praça de Espanha) como localização para a sede da fundação foi a forma encontrada pelo filantropo para agradecer a hospitalidade e apoio recebidos por si e pela sua família, em Portugal, no período crítico da segunda guerra mundial. Uma visita à capital portuguesa deve, sem duvida alguma, incluir uma visita ao magnífico espaço que alberga a fundação (belos e amplos jardins com lago, biblioteca, sala de concertos e anfiteatro, salas de exposições – a permanente e as temporárias, entre outros).
Para os que gostam do Mário Laginha (sim, foi um dos visados no número dedicado aos pianistas), um miminho. O concerto de comemoração dos 60 anos da Fundação Calouste Gulbenkian (2016) – realizado no anfiteatro natural – onde atua a fantástica Orquestra da fundação com o pianista, sob a direção do Maestro Pedro Neves.
4. Exotismo nómada
Ouvir a música de Mayra Andrade é um autêntico bálsamo para a alma. É também viajar pelo mundo, pelos vários mundos desta enorme promessa da música de raiz cabo-verdiana.
A cantora, desde cedo, embarcou numa viagem pelo globo. Nascida em cuba há 35 anos, na sua infância e juventude “vagueou” por vários países até assentar arraiais em Paris e, mais recentemente, em Lisboa. A adolescência passada em Cabo Verde marcou positiva e fortemente a formação da sua personalidade, o que veio a revelar-se um dos traços mais presentes na música que cria e interpreta.
Senegal, Angola, Alemanha e Cabo Verde foram algumas das suas paragens. Esta vivência manifestamente multicultural transportou-se para a sua música. É, portanto, natural que cante e fale fluentemente vários idiomas (incluindo, claro, o crioulo de cabo verde e o português). É também bem visível a fusão de todos estes “universos” que conhece tão bem nos ritmos e estruturas musicais que caracterizam os seus temas. Na sua obra encontramos perfumes urbanos e essências do campo ou da praia, todos equilibrados e devidamente combinados num resultado extraordinário.
A alegria contagiante, a forma sensual e intensa como se expressa e a entrega que demonstra nas suas canções, ainda mais notória ao vivo (façam favor de ir espreitar as suas atuações – deixamos aqui o vídeo do concerto no Africa Festival Würzburg – 2014) apresenta plenamente essa “salada de frutas” que a caracteriza enquanto cidadã do mundo.
Sugerimos 3 canções que vos abrirão o apetite musical e aguçarão seguramente a vossa curiosidade. Visitem a web da artista para conhecerem mais sobre a sua magnífica obra.
Afeto
Manga
Tan Kalatan
(in)Raizados
Esta secção está dedicada a contar as aventuras e desventuras, as peripécias e o quotidiano de pessoas fantásticas que nasceram em países lusófonos e agora andam pelo mundo fora fazendo pela vida, fazendo a sua vida e espalhando a língua portuguesa pelos 4 cantos do globo.
És ou conheces algum (in)Raizado sobre quem possamos contar estórias aqui no LUSO QUÊ?? Escreve um breve texto com esse relato (máximo uma página A4, aproximadamente 450 palavras), junta uma foto do(s) protagonista(s) e envia-o por escrito para o endereço eletrónico disponível em O vosso espaço. Se és daquelas pessoas que dizem não ter jeito para escrever, contacta-nos e nós ajudamos-te a dar forma à aventura que tens para contar – as boas estórias não se podem perder!
Agradecimentos
Muito obrigado pela vossa colaboração e pelos “grãos de areia” lançados ao projeto:
- João Antunes
- Nacho Flores
- Pedro Sereno
- Pilar Pino
Editorial
Depois da paz… Há realmente um “depois”? Quanto tempo duram as pazes? Será que não andamos antes numa busca permanente por esse estado de equilíbrio? Enquanto os séculos continuam a transcorrer, sem botão de pausa que nos valha, e ainda na ressaca da celebração do dia mundial da paz, sublinhemos os espíritos tolerantes, empáticos, e que cheios de esperança vivem pacificamente dedicando-se à arte que amam. Afinal de contas, fazer o BEM não é assim tão difícil.
Começaremos por numa breve nota recordar o trabalho extraordinário que dois timorenses – José Ramos Horta e o Bispo Ximenes Belo – realizaram no processo de pacificação do conflito entre a sua terra e a Indonésia, no final do século XX.
Em seguida, atravessamos o Atlântico para conhecermos Mauricio Araújo de Sousa e como ele vem encantando gerações com as divertidas estórias da sua “turminha”.
Entretanto, meio distraídos ou apenas curiosos, talvez nos surjam algumas dúvidas sobre língua portuguesa. Vamos então dar um saltinho online às CiberDúvidas da Língua Portuguesa e esclarecer tudinho.
Já com a cabeça leve e as ideias claras, vamos até à praia assistir às maravilhas rendilhadas que Nic Van Rupp realiza controlando com singular mestria a sua “tábua” por entre as ondas.
Quase a finalizar, um momento musical pelas mãos de um homem que cantou com coração, desde as profundezas da tolerância, com o dom pacificador. Dançaremos e cantaremos embalados por Waldemar Bastos.
Os (in)Raizados desta semana são um maravilhoso casal de amigos que anda há uma década a “espalhar” a língua portuguesa por terras africanas.
Até já!
1. Ainda a paz
No final dos anos 90, o conflito pela desejada soberania da Indonésia resultou na ocupação pela força do território timorense. O conflito ficou marcado por massacres a civis indefesos e por complicados conflitos políticos, geradores de dor e sofrimento no coração de um povo pacífico. Foram tempos de imensa instabilidade no país. A comunidade internacional tentava intervir e apoiar, mas enquanto a ajuda tardava em chegar e as soluções pareciam distantes houve dois homens que desde cedo se destacaram pelas suas ações na procura da paz para Timor.
Pacificadores, ambos lusófonos. Falamos de José Ramos Horta (reconhecido pelo seu trabalho diplomático e político) e do Bispo Ximenes Belo (cuja ação de ajuda e apoio à população mereceu destaque).
Quisemos celebrar novamente a distinção com o Prémio Nobel da Paz feita a ambos no ano de 1996, recordando que agora mais do que nunca é tempo de arregaçar as mangas e começar a criar pontes, perdoar, unir, comunicar, construir, juntar, pacificar, ser tolerante e flexível mentalmente e pensar no todo e não apenas nas partes. Como humanos, praticar a humanidade. Será tão difícil?
2. A turminha do Mauricio
Ao longo de 6 décadas, a banda desenhada criada pelo cartunista Mauricio Araújo de Sousa tem alegrado e feito feliz uma geração atrás da outra. Miúdos e graúdos a rir! O criativo empresário, membro da Academia Paulista de Letras, criou um universo divertido, colorido e pedagógico onde se cruzam personagens humanas e animais em narrativas cativantes.
Estamos, claro, a falar da Turma da Mônica! Esta fantástica banda desenhada brasileira assenta as suas estórias nas peripécias de protagonistas com características vincadas e exageradas, que as tornam fortes e ao mesmo tempo próximas dos leitores. Há um bocadinho de tudo… O menino que detesta tomar banho – Cascão, a menina que está sempre a comer fruta – Magali, o cãozinho azul – Bidu, o menino do interior brasileiro, Chico Bento… destacando as duas estrelas Cebolinha (menino que não diz os erres) e Mônica que munida da sua forte personalidade, pretende sempre controlar o que acontece em cada aventura.
São já imensas as personagens e também a quantidade de turmas que foram surgindo depois da original, a da Mônica. A evolução da “turma” tem sido realmente exponencial. Inicialmente era publicada em papel, no típico formato de banda desenhada, mas ao longo dos anos expandiu-se para a televisão e cinema, ocupando formatos muito variados. Uma visita pela web oficial permite conhecer a fundo a estória da publicação e do seu autor.
Também podem consultar o canal de youtube onde encontrarão vídeos variados, entre os quais episódios e edições especiais ou comemorativas da banda desenhada, como este que aqui deixamos.
Maratona – episódios mais vistos em 2020
Por favor, dediquem uns minutinhos a viajar nas peripécias, aventuras e desventuras desta “turminha”.
3. Duvidas que tens dúvidas?
Ter a capacidade de duvidar, dizem, é uma excelente alavanca para a aprendizagem e evolução. Nativo ou não, dúvidas de língua portuguesa surgirão!
Uma equipa de gente dedicada, altamente preparada, e apaixonada pela língua portuguesa vem, desde 1997, procurando esclarecer as mais variadas dúvidas relacionadas com o uso do português. O espaço online CiberDúvidas da Língua Portuguesa é um projeto sem fins lucrativos e que, de forma inclusiva e aberta, trata de debater e promover o português “numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa”.
Na página web podemos procurar a resposta a dúvidas que foram anteriormente colocadas, colocar novas dúvidas e explorar artigos interessantíssimos relacionados com a temática da língua portuguesa e seus protagonistas.
A quem interessa? A alunos e professores, pais e encarregados de educação ou tutores, escritores, jornalistas, tradutores… a todos os que usam a língua portuguesa e nutrem uma especial paixão pela língua de Camões.
Não esperem mais e vão lá dar uma voltinha!
4. Navegante contemporâneo
Portugal é por excelência uma terra de navegantes. Quantas estórias se poderiam contar sobre os mares? Desde os corajosos e valentes lusitanos que se atreviam a sulcar os oceanos em busca de terras e culturas novas, até aos destemidos pescadores do bacalhau nos mares escandinavos… são narrativas a perder de vista. É indubitável a relação de proximidade que o povo e a cultura portuguesa têm com o mar. Está sempre presente. Na gastronomia, na literatura, na música, no cinema…
Nas últimas décadas Portugal tem aumentado significativamente a relevância dada ao surf. Se por um lado se trata de um setor que produz enorme riqueza, por outro a qualidade dos espaços naturais e as especificidades geográficas (concretamente as características climatéricas que proporcionam ondas incríveis) do país vêm-no colocando no top dos destinos mais procurados e cotados do circuito mundial de surf .
Hoje falamos, por tudo isto, de um marinheiro moderno – Nic Von Rupp – “sacado do forno” dos grandes surfistas lusófonos. É sem dúvida uma das maiores promessas do panorama atual.
Nic nasceu em Sintra, em 1990, filho de pai alemão e mãe portuguesa. Desde cedo mostrou uma habilidade especial para o surf. Entre 2004 e 2007 ganhou vários prémios e alcançou ótimas classificações nos campeonatos internacionais em que participou como júnior, o que lhe valeu um importante contrato com a Quicksilver. A partir daí foi sempre a subir até ao topo. Em 2009, já como sénior, estreou-se no circuito mundial e através da extrema dedicação e trabalho, aliados ao seu talento inato, foi alcançando posições no top 10 em várias competições ao longo dos anos. 2013 foi um ano excelente e que marcou uma grande mudança na sua carreira. Foi integrado na fabulosa equipa da Hurley e recebeu um incrível patrocínio da Monster. O ano seria coroado com um momento alto e de destaque – a presença na lista dos melhores 100 surfistas do mundo.
A atitude de Nic face à sua paixão, a arte do surf, expressa uma constante vontade de romper barreiras e fazer o que ainda não foi feito. A sua irreverência e a constante fome por novos desafios, resultam numa abordagem às ondas muito particular. No vídeo documental “Rail Road” podemos observar como o surfista português se lançou numa expedição de comboio por toda a Europa em busca das melhores ondas, reveladora da sua atitude face ao surf e à vida.
Rail Road with Nic Von Rupp
Não podíamos falar de surf em Portugal sem mencionar as famosas e tão cobiçadas “ondinhas” da Nazaré. Deixamos, portanto, um vídeo onde vemos como o Nic surfa com valentia e precisão as gigantescas ondas da Nazaré.
Giant Waves in Nazaré
Se quiserem saber mais sobre este mestre das ondas, em paz com ele mesmo, visitem o seu facebook e instagram.
5. “Muxima” imenso
A estória deste cantor, músico e compositor angolano está repleta de eventos e circunstâncias que podiam ter contribuído para que fora tudo, menos um homem profundamente preocupado e ocupado em fazer o bem.
É surpreendentemente a forma como o sofrimento pode originar um discurso centrado na unificação, tolerância e interculturalidade. No caso de Waldemar Bastos e da sua obra musical, é explícita e presente essa mensagem de fraternidade universal, esperança, perdão e construtivismo positivo.
Esteve preso durante alguns anos, sem motivo. Coisas da PIDE… Já com uma promissora carreira a nível internacional, viu-se obrigado a seguir à independência (1975) a abandonar Angola. O terror da guerra civil, a instabilidade política, o drama da miséria provocada pelo derramamento de sangue inocente tornaram-se insuportáveis para o artista. A isto juntou-se o facto de entender claramente que naquele momento e naquelas circunstâncias se congelavam as hipóteses de crescimento artístico.
Partiu, com Angola no coração, no “muxima” (palavra usada neste país para designar o coração) e dedicou a vida a cantar a sua terra e a identidade de um povo. Viveu no Brasil vários anos e posteriormente em Portugal, até à sua morte. As suas canções transmitem essa multiculturalidade e espírito aberto de viajante. Ora em ritmos mais dançantes, ora em baladas mais pausadas, em português ou em dialetos angolanos (às vezes salpicados com a pronúncia brasileira) vai contando e cantando as agruras e dificuldades, a beleza da sua terra, a fraternidade entre angolanos, estórias da guerra e da independência.
O homem que sofreu imenso pela “sua terra, sua Angola” nunca perdeu a esperança num mundo melhor e mais justo, sabendo pelo caminho perdoar e sempre procurando unir através da tolerância…(espreitem e oiçam algumas das suas palavras, tão conciliadoras, a propósito do último disco que gravou em 2012 com a London Symphony Orchestra).
Deixou-nos em agosto de 2020, mas ficou o seu maravilhoso legado. Deixamos aqui algumas das suas canções mais emblemáticas.
Em concerto – Jarasum Jazz Festival 2013
Velha Xica Velha Xica (featuring the London Symphony Orchestra)
Disco “Preta Luz”
(in)Raizados
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Esta semana vamos conhecer a fabulosa estória do Leandro e da Xana.
Leandro Brandão (38 anos) e Xana Esteves (45 anos) – Joanesburgo, África do Sul
Somos um casal de professores (o Leandro de Esmoriz e a Xana de Ponte de Sor) que se conheceu em 2007, na Escola Básica e Secundária Dr. Isidoro de Sousa, em Viana do Alentejo, onde ambos fomos colocados.
Partilhamos o gosto por viajar e conhecer diferentes realidades. Em 2011, motivados por este interesse comum e pela desmotivação da condição de professor que se vivia em Portugal, decidimos deixar o país e lecionar na África do Sul. Partimos com o objetivo de ficar 1 ou 2 anos. No entanto, já passaram 10 anos e ainda aqui estamos… e regressar, para já, não está nos nossos horizontes.
Viver na África do Sul, em Joanesburgo, tem sido uma incrível lição de vida. Estar num país tão pluricultural e com contrastes socioeconómicos extremos, tem-nos ensinado a compreender a perspetiva de ângulos opostos e a relativizar problemas ou obstáculos. E, ao mesmo tempo, valorizar aquilo que tantas vezes damos como garantido, nomeadamente o acesso a educação ou saúde…
Ensinamos português, enquanto língua estrangeira, para alunos de todas as idades, num ambiente multicultural. A aprendizagem e a partilha são mútuas, embora tenhamos a noção que a maioria dos estabelecimentos onde lecionamos, está longe de representar a condição socioeconómica da maioria da população.
Moramos numa área modesta com vizinhos de diferentes origens, credos e nacionalidades: zulus, xhosas, africânderes, moçambicanos, indianos, árabes, etc… Algo ainda pouco comum numa África do Sul onde o apartheid ainda tem fortes raízes. A tendência social do ser humano, em qualquer parte do mundo, é a de agrupar-se junto dos que partilham a mesma língua e identidade cultural. Esforçamo-nos por sair dessa bolha.
Joanesburgo é a maior metrópole do país, tendo um número de habitantes semelhante ao de Portugal (cerca de 10 milhões). A nossa longa estadia tem nos permitido sair da vasta metrópole e conhecer o imenso país de norte a sul e de este a oeste, bem como os recantos mais isolados, onde as raízes culturais predominam e as maravilhas naturais emergem. A diversidade e o contraste acentuam-se quando se atravessam fronteiras e se percorrem países vizinhos tão díspares como o Lesoto, a Namíbia, o Botsuana, Moçambique, Madagáscar, e outros…
A experiência em África tem contribuído para uma consciencialização pessoal, social e existencial: a perceção de que as sociedades, do chamado mundo ocidental, não são necessariamente mais éticas, tolerantes e inclusivas; de que a exploração (des)humana dos recursos naturais em África é, em grande parte, fruto de um colonialismo económico que se perpetua (sobretudo em países consequentemente mais instáveis); e de que a (des)conexão da espécie humana com outras espécies e o mundo natural, determinam o bem-estar da sua existência. Afinal, ao contrário de outras, a nossa existência enquanto espécie depende da existência de outras. E nenhuma depende de nós…
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Agradecimentos
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- João Antunes
- Leandro Brandão
- Nacho Flores
- Pedro Sereno
- Pilar Pino
- Xana Esteves
Editorial
Já estamos na edição 10. Foram dez, ou melhor, onze números (houve um número 0) repletos de entrega, aprendizagem e trabalho. Está a valer totalmente a pena! Atentos ao feedback que nos tem chegado e que muito agradecemos, procuramos ir corrigindo e modificando alguns aspetos e detalhes para tornar o LUSO QUÊ? cada vez melhor, mais apelativo e interessante – ainda mais irresistível.
Uma novidade incrível a coroar esta edição! Acreditamos no poder das ilustrações, enquanto valor acrescentado ao que se escreve e se conta. Elas também falam… Através do desenho conceptualizado e criado pelo nosso amigo e assíduo colaborador/consultor, Pedro Sereno, passaremos a poder contar com uma ilustração que represente cada edição.
“Uma imagem vale 1000 palavras”. Isto não significa que seja sempre possível, até mesmo desejável, substituir uma pela outra. Trabalham bem juntinhas e de mão dada… Igualmente acertado é que, não raras vezes, há sons, canções ou temas musicais que falam mais além do que dizem nas suas letras. Gravam-se na memória e no coração e lá pernoitam para sempre. Que dizer quando se casam as 3 – imagem, música e palavra?
Esta semana, abrimos as cortinas e entramos na dimensão do que ocorre atrás das câmeras através das lentes. Sim, fotografia e cinema, um tema que nos é querido e será certamente alvo de novas abordagens no futuro próximo.
Vamos ver como um jovem fotógrafo vem enriquecendo o jornalismo através do seu olhar muito particular e a sua enorme paixão pelas imagens que contam estórias. João Porfírio abre esta edição.
Depois damos um salto até à sétima arte e viajamos pela obra de um dos mais talentosos realizadores da atualidade. Nuno Xico, que entre muitos outros projetos, trabalhou recentemente com uma estrela mundial da pop.
Procuraremos dar umas pinceladas sobre a vida e obra de um dos fotógrafos mais consagrados em todo o mundo pela forma como o seu trabalho procura “gritar” e colocar o foco em zonas do globo e respetivas populações, fauna e flora, que necessitam seriamente de atenção. Sebastião Salgado marca presença.
Para o final, guardamos os momentos musicais. Conheceremos dois projetos cuja sonoridade e estética encaixam perfeitamente nesta noção de imagem+música+palavra, tão cinematográfica. Faremos uma visitinha a Rodrigo Leão e também aos Dead Combo.
Os (in)Raizados ficam mais uma semana a marinar.
Até já!
1. João “sem medo”
Passamos os olhos, lendo em diagonal a descrição do que já fez até hoje. É impossível que não nos perguntemos como um jovem com 26 anos anos conseguiu já realizar tanta coisa. Sobretudo porque se trata de grandes desafios e alguns deles representam objetivos sonhados por muitos fotógrafos que já andam nisto há muito tempo. Na sua carreira já viajou por diversos países como Estados Unidos, Iraque, França, Espanha, Reino Unido, Alemanha, Croácia, Sérvia, Turquia, Grécia, Hungria, Eslovénia e Marrocos.
Determinado, arrojado, aventureiro, perfeccionista… são alguns dos adjetivos que normalmente estão associados a João Porfírio. Natural de Portimão, foi lá que se iniciou como fotógrafo realizando trabalhos para um jornal local. Em pouco tempo deu o salto para a capital, estagiando na prestigiada Agência Lusa.
Atualmente faz parte da equipa do jornal online “Observador”. É conhecido na redação pela sua obsessão por estar constantemente atualizado sobre o que ocorre no mundo. Afirma ter muita dificuldade em estar desconectado, sem ter notícias, mais que uns minutos por dia. Sabe que a sua missão de informar, chegando no momento certo e fotografando, choca frequentemente com o equilíbrio e estabilidade da sua vida pessoal, mas não resiste ao sentido de missão que lhe é inato.
Dono de uma elevada ética profissional e consciente do poder que as imagens têm, o fotógrafo viveu recentemente momentos inesquecíveis enquanto fotografava. Venceu o Prémio Estação Imagem 2019 na categoria de Notícias com as reportagens dos incêndios de Monchique durante o Verão de 2018, intitulada de “A Imagem do terror tem som” Teve acesso privilegiado enquanto jornalista a cobrir bem de perto as eleições norte-americanas que opuseram Trump a Biden. Num dos seus últimos trabalhos esteve 85 horas no interior do Hospital Santa Maria (Lisboa) fazendo uma cobertura exaustiva e muito próxima da realidade que lá se viveu num dos momentos em que a pandemia bate forte.
Para conhecerem melhor o seu trabalho e as suas fotos incríveis, vejam a entrevista que deu no “Maluco Beleza” e consultem o seu Instagram.
Entrevista com Rui Unas “no Maluco Beleza”
2. Um lisboeta em Nova Iorque
Acontece às vezes alguém cruzar-se connosco e desse encontro, surgir uma relação artística difícil de explicar ou replicar. Isto foi um pouco o que aconteceu ao editor criativo e realizador Nuno Xico.
Com um trabalho sólido e uma carreira bem consolidada em Portugal, em 2010 percebeu que tinha de mudar-se para um palco maior para poder continuar a crescer artística e profissionalmente. Lançou-se e foi para Nova Iorque.
Foi na “grande maçã” que em 2012, por coincidência conheceu a rainha da pop – Madonna. Um amigo seu realizou um breve vídeo do workshop de Madonna quando ela estava a escolher os bailarinos que a iriam acompanhar na MDNA Tour. Pediu a Nuno que editasse esse vídeo e a cantora gostou tanto do resultado que pediu para trabalhar com ele mais vezes. Aquilo que parecia ser apenas um encontro fortuito, acabou por revelar-se uma forte relação artística quando no ano seguinte Nuno se juntou à equipa da curta-metragem “Secret Projet Revolution” (uma curta-metragem política em prol da liberdade artística) de Madonna e Steve Klein.
Desde então Nuno passou a ser um colaborador habitual da rainha Madonna. Entre muitos outros trabalhos, destaca-se a preciosa colaboração que teve no álbum Madame X (2019). É público e assumido pela artista que esse disco teve origem nas experiências que teve durante a longa estadia em Portugal, muitas delas resultado da orientação que o cantor Dino d’ Santiago generosamente lhe deu para que conhecera todos os cantinhos e toda a gente (tornando-se grandes amigos). A lusofonia, a mistura cultural e as influências oriundas de todo o globo, que marcam vincadamente a vibração lisboeta, estão patentes neste trabalho.
Documentário Madame X
Madonna, Swae Lee – Crave
O trabalho de Nuno está longe de estar confinado a Madonna ou à música. O seu portfólio conta com trabalhos de cariz humanitário e também de grande nomes e marcas como BMW, Beyoncé, Justin Timberlake, Adele, Clinique, Italian Vogue, Fabrizio Ferri, Tom Ford Dior. O vídeo que se segue é disto um bom exemplo.
Stern – boy=girl
Para conhecerem mais em profundidade o trabalho deste artista genial, visitem a sua web oficial ou o seu perfil no instagram. Deixamos também aqui o link para o artigo do Diário de Notícias que serviu de fonte para a redação deste artigo.
3. O sal Salgado
Começar pelo fim. Faltam palavras… ou será que sobram? Queria contar-vos a estória de Sebastião Salgado, fotógrafo e bastante mais que o nome que se dá a quem realiza a arte a que dedicou a sua vida. Durante a minha pesquisa percebi que alguém já o fez e fê-lo de uma maneira tão sublime que não sou capaz de sequer tentar acrescentar mais. Melhor que tudo o que eu possa contar-vos, mesmo com adornos literários, será verem o documentário realizado por Juliano Salgado (o filho primogénito de Sebastião) em parceria com um fotógrafo/cineasta alemão que dispensa apresentações – Wim Wenders. “O sal da terra” (2014) foi premiado com o Oscar de Melhor Documentário em 2015. Deixo-vos com esta obra incrível sobre a vida e obra de um gigante da captação da vida, da terra, do mundo, da gente através de uma lente. Consultem mais sobre o seu trabalho na sua conta de instagram.
O sal da terra
4. O som das imagens
Imbuídos neste minimalismo da palavra, trazemo-vos estas propostas musicais que expressam com fidedignidade o casamento perfeito entre imagem e musicalidade. Fazem parte das nossas assíduas preferências pelo que seguramente, em futuras edições, aprofundaremos a estória da vida e carreira de ambos os projetos/artistas. Hoje deixar-vos-emos desfrutar tranquilamente da sonoridade mágica de Rodrigo Leão e de Dead Combo. Entretanto, podem ir espreitando nas respetivas páginas oficiais (rodrigoleao.pt e deadcombo.net ) o que estes “meninos” vêm tramando há vários anos.
Dead Combo – Lisboa mulata
Rodrigo Leão – Voltar
Dead Combo – Cuba 1970
Rodrigo Leão – Rosa
Dead Combo – Povo que cais descalço
Rodrigo Leão – Pasión
(in)Raizados
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- João Antunes
- Nacho Flores
- Pedro Sereno
- Pilar Pino
Editorial
Cumplicidades entre africanos e portugueses. África e Portugal. Séculos de História em comum, estórias que se entrecruzam criando arte e cultura, também tradições e identidade. Viagens, movimentos migratórios, intercâmbios, trocas, cruzamento, mistura, mestiçagem, partilha, aprendizagem e evolução. Sim, também os aspetos menos bonitos e bem duros que arrastam feridas com profundas raízes como o drama da colonização, a escravidão, os processos de independência, os conflitos políticos. Não! Não é desses que vamos falar. Vimos antes falar da beleza existente em projetos que evidentemente apontam para pontes culturais, aqueles que através do fascínio pela diversidade, pela diferença, pela mescla, apontam justamente o caminho da humanização através de novas construções.
Essa cumplicidade incrível realizada através do desejo de comunicação real, seria provavelmente bastante mais difícil sem uma língua comum a unir e juntar, a aproximar o que o oceano em tempos separava. Iremos dar um salto ao Portal da Língua Portuguesa para saber um pouco mais sobre o “Novo” Acordo Ortográfico e mais algumas coisinhas.
Em seguida daremos uma voltinha pela música de um poeta e músico, um artista singular e inovador, que nasceu em África, mas foi em Portugal que ficou para sempre ligado à génese e desenvolvimento do rap e hip hop. Boss AC está na área!
Neste número conheceremos também a fantástica estória de Rui Dias, alguém que na juventude pensava ser mestre da fast food e que, afinal, vem viajando por todo o mundo empregando a arte de bem editar vídeo e fazer entrar pela nossa casa e nos cinemas os melhores programas de TV e filmes.
Encerraremos com uma das maiores promessas musicais do momento, um guineense com uma sensibilidade inusual e que representa com mestria o sentir e pulsar da sua terra e da sua gente. Vamos dançar e cantar com Binhan Quimor.
Os (in)Raizados ficam mais uma semana em banho-maria.
Estreamos com muita alegria a secção Discos Pedidos!. O que é que os nossos leitores andam a ouvir?
Uma nota! Esta edição é dedicada a Pilar Pino – assídua colaboradora, apoio fundamental e constante fonte de inspiração para o projeto LUSO QUÊ?. Parte deste número e dos detalhes finais de maquetação foram feitos no quarto do hospital onde se encontrava devido a uma cirurgia programada (tudo correu muito bem e está já em casa, em recuperação).
Até já!
1. De acordo!
Conseguir chegar a um acordo ortográfico da língua portuguesa foi “o cabo dos trabalhos”. Essa vontade de unir e uniformizar a ortografia do idioma que se usava em distintas geografias lusófonas por tantos milhões de falantes tardou anos em materializar-se e só em 1990 se conseguiu chegar a uma versão final assinada por vários países: Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe Brasil e Portugal. É certo que ainda hoje há polémica e algumas feridas abertas em relação a este tema (com tomadas de posição mais ou menos extremas), o que é legitimo e era também expectável pela dificuldade de agradar a todas as sensibilidades envolvidas no processo. Deixemos isso de lado.
O que vos queremos mostrar é um projeto extraordinário (já com uns aninhos) que ajuda, entre outras coisas, a esclarecer as dúvidas referentes à aplicação do “novo acordo” – o portal da língua portuguesa. Sabemos que as novas gerações que aprenderam a língua materna já com o acordo em vigor não sentem grandes dificuldades neste campo, mas para os mais experientes na vida, aqueles que aprenderem português antes, há várias décadas, por vezes ao escrever surgem dúvidas ortográficas.
É portanto “um repositório organizado de recursos linguísticos (…) que pretende ser orientado tanto para o público em geral como para a comunidade científica, servindo de apoio a quem trabalha com a língua portuguesa e a todos os que têm interesse ou dúvidas sobre o seu funcionamento “. Está especialmente focado em vocabulário (uma base de dados gigante e muitíssimo completa) e, como se disse, no uso do acordo ortográfico através da ferramenta “lince”.
Vão lá espreitar e experimentar o potencial desta “pérola” linguística!
2. O “pai” do hip hop tuga
Os anos 90 foram uma época de ouro no que respeita a transformações, mudanças e evoluções artísticas e culturais em Portugal. Começou a sair-se ainda mais da casca. Quando pensamos nas formas de arte urbana como o grafíti, no surgimento da malta do skate, nos primeiros festivais de música, na transgressão dos pearcings, tatuagens e penteados marados, não podemos deixar também de pensar no rap e no hip hop que então despontavam. Houve um antes e um depois da mítica compilação RAPública do ano 1994 – trata-se de um disco que reuniu os primórdios do movimento rap e hip hop em Portugal e, claro está, o “chefe” já andava por lá.
Haverá certamente vários pais e mães deste “bebé” em forma de género ou estilo musical, mas inegavelmente há um nome unânime apontado por todos quando nos referimos ao nascimento e génese do hip hop em Portugal. Falamos obviamente de Boss AC.
As letras dos seus temas são incrivelmente pujantes e transmitem um processo de escrita preciso e fruto de tremenda dedicação. Poesia ritmada e com a métrica aguçada. As palavras combinam-se entre si de formas impensadas originando poesia viva, em movimento. Tocam-se assuntos abrangentes, procurando contar e falar sobre a realidade próxima – não se inventa ou ficciona, fala-se do que é, do agora, daquilo que acontece nas vidas das pessoas . É certo que a evolução de Boss AC como artista fez do “menino” um Homem, o que se nota na forma como foi escolhendo e selecionando o que tinha a dizer e também como dizê-lo. Sempre autêntico aos seus valores e princípios é, ainda assim, impossível não notar a crescente maturidade pessoal e artística que imprime na sua obra.
A musicalidade das suas canções apresenta-se através do seu estilo muito pessoal e próprio. Há samples, misturas e fusões com géneros musicais variados. Embora nunca seja igual, sabemos sempre que está lá a sua mãozinha… é o som do “patrão”.
Longe de pretendermos querer fazer aqui um relato aprofundado sobre este mestre do hip hop, deixamo-vos algumas faixas que vos dão uma breve ideia do percurso musical de Boss AC. Para descobrirem mais consultem o seu perfil no soundcloud.
A verdade (1994)
Andam aí (1998)
Baza, baza (2002)
Hip hop sou eu e és tu (2005)
A bala (2005)
Alguém me Ouviu (Mantém-te Firme) – 2009 – com Mariza
Tu és mais forte (2012)
Orelha Negra – Parte de Mim feat Boss Ac e Ace (2016)
3. Perdeu-se um mestre do hambúrguer…
… mas ganhou-se um excelente editor de vídeo e um grande aventureiro! É mesmo assim. Recentemente falámos aqui sobre o talento dos que através das câmaras nos fazem chegar belas imagens. Hoje vamos conhecer alguém que trata as imagens com arte, dando-lhes o formato necessário para que possam chegar à TV ou às grandes telas dos cinemas. Tivemos a sorte de poder conversar com Rui Dias e saber em primeira mão como se desenhou o trajeto profissional que o tem feito andar pelos 4 cantos do mundo.
Nascido em Lisboa, mas filho de Cascais, define-se como um cascaense no mundo cuja fonte de inspiração se encontra no Guincho, entre a serra e o mar. Não é portanto de estranhar que em cada prémio que o Rui recebe no seu discurso refira sempre a vila de Cascais, o Guincho e o orgulho que tem em ser cascaense.
Cedo percebeu que a história e a arqueologia eram dois mundos complementários, que o fascinavam. Foi assim, sem surpresa, que se viu como universitário perseguindo esse sonho na Universidade Sorbonne, em Paris. Nessa época trabalhava na conhecida empresa dos arcos amarelos a fazer hambúrgueres. A sua competência indicava que cresceria rapidamente dentro da organização, começando a equacionar a hipótese de ir para os Estados Unidos e licenciar-se na Universidade do Hambúrguer. O caminho começava a definir-se.
Mas na vida por vezes nas situações mais banais e circunstanciais é onde se definem as rotas e direções. Foi o que aconteceu a Rui. Um amigo convidou-o para assistir ao vivo ao programa televisivo do momento em França – “Taratata”. Naquele dia, pela primeira vez tão próximo da ação em estúdio, mal podia imaginar que ia suceder algo imprevisto que modificaria a sua vida para sempre. Atuavam Jon Bon Jovi e Bob Geldof, sobre quem o enfoque do programa recaía nessa noite. Rui e o seu amigo, sentados entre o público, aguardavam impacientemente pelo início do programa quando um membro da equipa de produção se aproximou e lhe disse: “o nosso assistente está indisposto, poderias ajudar-nos?”. Meio atrapalhado e sem saber se era uma brincadeira, ripostou: “mas eu não percebo nada disso, é a primeira vez…”. Não o deixaram terminar a frase – “só tens de mover o cabo da câmara acompanhando o movimento para que não estorve”. Aceitou.
A partir daí foi tudo muito rápido. “Pai, quero desistir da universidade”… era o querias! Terminou não uma, mas duas licenciaturas na Sorbonne (a de História e a de Cinema e Televisão) e passou a fazer uns ganchos na televisão, abandonando de vez a promissora carreira na indústria da carne picada e das batatas fritas.
Deu os primeiros passos no Canal + e começou a desenhar um palmarés impressionante como editor de vídeo com participação em importantes projetos televisivos e cinematográficos que podem consultar no seu extenso e rico perfil publicado na web oficial da imdb.
Em mais de 25 anos de atividade foram já 18 os países em que trabalhou. Atualmente a sua residência já não é França, mas sim bem perto do seu Guincho apesar de passar mais tempo do ano fora de Portugal, pois a natureza da sua atividade e a abundância de solicitações implicam constantes viagens. Para este ano de 2021 tem trabalhos agendados em Angola, Moçambique, Canadá, Dubai e Qatar . No dia da entrevista, falou comigo desde África onde se encontra a desenvolver um aliciante projeto.
Para os que conhecem a história da TV em Portugal, poderá ser impressionante pensar que Rui foi responsável pela edição de programas tão marcantes como o mítico reality “Big Brother” (as primeiras edições), a famosa série “Morangos com açúcar” e o “5 para a meia-noite”, entre muitos outros. Tem também no seu portfólio inúmeros trabalhos no cinema e publicidade como “Les mots bleus” (2005), “En solitaire” (2013), “Pressure” (2015) “Can’t skip us, can’t skip Portugal” (2017).
Impossível prever que novas pérolas irá tramar ou quantos mais prémios, (já são dezenas e dezenas) irá Rui ganhar. Duas certezas, porém: este editor navegante continuará pelo mundo fora a criar magia colando as imagens para que nos chegue a arte através do ecrã e cumprirá um sonho antigo – regressar à sua bela vila de Cascais e poder fazer algo pela comunidade e pelos cascaenses, contribuindo para o desenvolvimento local através de formação na sua área e da realização de outros projetos aliciantes.
4. Cantar um povo
Há pouco mais de 40 primaveras a Guiné-Bissau via nascer Binhanquinhe Quimor ou, simplesmente, Binhan. Desde cedo demonstrou um forte interesse e especiais dotes para as artes, entre elas a música. Ainda na infância e adolescência, a participação no coro da igreja evangélica e também nos concursos de cantigas que se realizavam durante a campanha da apanha do arroz nas bolanhas deram-lhe boas fundições para o que viria a produzir anos mais tarde.
O seu nome foi começando a soar por todo o país e foi para Bissau, onde integrou vários projetos musicais de renome nacional – destaque para os Super Mama Djombo. É a partir daqui que começa a viajar por todo o mundo e vai fazendo amigos e estabelecendo contactos com músicos um pouco por todo o lado.
As suas canções falam de intervenção social, criticam o comportamento de alguns militares e políticos, contam o amor e exaltam a paz. São por isso temas que lhe valem a identificação com todo um povo. Binhan canta a terra, a sua gente e a nação guineense.
De momento conta apenas com um álbum publicado a solo – “Lifanti Pupa” (2017). Trata-se de uma obra fantástica onde os magníficos arranjos de cordas e os coros inebriantes tornam os temas absolutamente irresistíveis. Ritmos orgânicos e bem estruturados que transmitem a percussão natural desta geografia do globo. Destaque também para a mensagem unificadora, pacífica e de celebração do seu país, cultura e gente. A voz de Binhan transmite um calor e uma empatia impressionantes, numa frequência calma e com uma tranquilidade extraordinária.
Sabemos que está já a trabalhar num próximo disco onde seguramente se notarão influências vibrantes pelo facto de estar a residir em Lisboa há já algum tempo. Ficaremos bem alerta para ver que novas pérolas nos trará. Entretanto, desfrutemos de algumas das suas canções. Se quiserem descobrir mais sobre este fantástico artista guineense consultem o seu perfil no instagram ou o artigo que nos serviu de fonte para a reconstituição da sua biografia.
Lifanti calai
Guiné nha terra
Tudo na passa
N’ghâla Ndan
(in)Raizados
Esta secção está dedicada a contar as aventuras e desventuras, as peripécias e o quotidiano de pessoas fantásticas que nasceram em países lusófonos e agora andam pelo mundo fora fazendo pela vida, fazendo a sua vida e espalhando a língua portuguesa pelos 4 cantos do globo.
És ou conheces algum (in)Raizado sobre quem possamos contar estórias aqui no LUSO QUÊ?? Escreve um breve texto com esse relato (máximo uma página A4, aproximadamente 450 palavras), junta uma foto do(s) protagonista(s) e envia-o por escrito para o endereço eletrónico disponível em O vosso espaço. Se és daquelas pessoas que dizem não ter jeito para escrever, contacta-nos e nós ajudamos-te a dar forma à aventura que tens para contar – as boas estórias não se podem perder!
Discos Pedidos!
Hoje dançamos e cantamos com…
María Almela (Murcia)
“Trevo” é uma canção muito especial. Todas as pessoas espanholas que a escutam consideram que é maravilhosa, doce e cheia de sentimento. A primeira vez que eu ouvi esta canção foi numa aula de Design na Faculdade de Ciências da Comunicação na Universidade do Porto, onde vivi durante 6 meses. Mal eu podia adivinhar que esta seria a banda sonora de toda a minha estadia nesta bela cidade.
Foi o meu querido amigo Pedro que a descobriu e me mostrou. Para mim foi como um presente fantástico. Tal como ele, que é um dos melhores amigos que encontrei nesse caminho incerto que é a vida.
No final do meu Erasmus, eu fui ao Rock In Rio Lisboa para assistir ao concerto dos MUSE e foi uma surpresa pra mim quando comecei a escutar, ao longe, o Diogo Piçarra e Anavitória cantando juntos. A partir desse instante, Portugal e Brasil ficaram no o meu coração para sempre.
Trevo (tu) – ANAVITÓRIA featuring Diogo Piçarra
Marieta Freitas (Lisboa)
Há canções que nem nos lembramos bem quando começámos a gostar delas. Às vezes não são odes à escrita e composição, nem têm vídeos ao estilo de super produções. Este é um desses casos. Escolhi partilhá-la convosco simplesmente porque me deixa muito bem disposta sempre que a ouço. Pareceu-me razão suficiente!
Oração – A banda mais bonita da cidade
Nesta secção desejamos que partilhem connosco as vossas canções favoritas. O que é bom é para se partilhar! Podem contar estórias relacionadas com elas, quando as ouviram por primeira vez, quem ou que situações vos recordam, situações em concertos, etc. Como? Muito simples. Basta enviar-nos um e-mail para info@lusoque.es com o vosso nome e o local de onde nos escrevem, o título da canção e o seu autor/grupo/projeto e trataremos de a publicar junto ao respetivo vídeo.
Agradecimentos
Muito obrigado pela vossa colaboração e pelos “grãos de areia” lançados ao projeto:
- João Antunes
- Joca Marino
- Nacho Flores
- Pedro Sereno
- Pilar Pino
Editorial
Comes e bebes. Petiscadas, festas e comemorações… nelas os amigos, a família, quem amamos e as recordações. Pois é. Muito de nós, da nossa identidade se constrói ao redor da alimentação. O que comíamos e comemos, com quem e onde. Enquanto saciamos a fome para manter-nos vivos através da imprescindível nutrição tratamos também (até de forma inconsciente) de construir a nossa realidade. É aquele lanchinho aos domingos preparado a rigor e preceito pela avó, a jantarada anual com os velhos amigos de infância, as eternas horas a negar a comida do refeitório escolar enquanto a muito custo se engolia, o cozido familiar de domingo. Também a sopa com croquete e café a correr para regressar ao trabalho, a sandes que se prepara com carinho para os filhos levarem para a praia, os memoráveis banquetes de casamentos e batizados ou o jantar em que se pede a mão de alguém. Ainda a imperial fresca e os caracóis num qualquer final de tarde de verão, as sardinhas quentinhas a saltar em cima do pão ao som dos santos populares, a mousse de chocolate que remata um repasto.
Cada um tem a sua perceção única destas vivências associadas à comida e bebida, incluindo naturalmente protagonistas diversos. Se pensarmos neste aspeto como algo inequivocamente relacionado com o meio que nos rodeia podemos imaginar os milhões de variantes do menu pessoal de cada um.
Nesta edição, o desafio que nos propusemos é o de criar um menu lusófono. É uma tarefa impossível… mas nesta casa, a do LUSO QUÊ?, gostamos dos impossíveis. E portanto vamos atrever-nos (esperando que ninguém leve isto demasiado a sério) a sugerir aquele que poderia ser uma das 1001 combinações possíveis capaz de reunir numa ementa a infinita variedade deliciosa existente nos países e culturas que formam, todos eles, a lusofonia.
Estamos então perante uma edição com um formato diferente do usual. Hoje serão deliciosos e ricos ingredientes, os tachos e as panelas a brilhar. A ideia é apresentar a ementa com pratos e bebidas de cada um destes países que se unem através da língua portuguesa e da cultura lusófona. Seguidos de algumas receitas tradicionais para vos convidar a meter a mão na massa e ir até à cozinha experimentar. Fechamos com uma breve playlist sugerida para vos acompanhar enquanto cozinham e/ou degustam estas delícias.
Os (in)Raizados esta semana trazem-nos a bonita história de um português já com umas quantas costelas “cacereñas” (de Cáceres, entenda-se).
Continuamos de ouvidos bem abertos para descobrir o que nos guarda a secção Discos Pedidos!. O que é que os nossos leitores andam a ouvir?
Até já!
1. O nosso pitéu
Como seria esse cardápio, essa ementa democrática e flexível bem ao jeito da nossa publicação? Inúmeros caminhos, rotas e sequências gastronómicas possíveis. O manjar capaz de roçar a perfeição. Uma sala de jantar imensa onde há de tudo um pouco ou uma pequena tasca onde os pratos são servidos com carinho e muita personalidade. Cada um puxe pela sua imaginação e procure visualizar a situação.
Enquanto esperamos pela nossa mesa vamos tomando uma imperial estupidamente fresca, como manda a regra do malandro da rua. Alguns optam pela caipirinha talvez embalados pelo samba que se ouve de fundo. Houve ainda quem se atrevesse a abrir o palato com um fino e requintado vinho do Porto e um outro amigo que pediu água de coco, talvez em busca da paisagem do rio de janeiro nas suas memórias.
Os narizes detetam já a maravilhosa essência que sob a forma de perfume vai saindo da cozinha e invadindo a zona do balcão. Começamos a sentir água na boca. É a antevisão da delícia que nos espera. É uma surpresa o que iremos comer e beber, mas sabemos que naquela pequena cozinha estão chefs de várias latitudes: do Brasil, de Angola, de Moçambique, de Cabo Verde, da Guiné, de São Tomé e Príncipe e de Portugal. Nada mau poderá sair daquela assoalhada.
Somos conduzidos à mesa. Está bonita e composta com as entradas. As chamuças ainda quentinhas e fumegantes ao lado dos pastéis de bacalhau. A farinheira com ovos mexidos a piscar o olho ao queijinho amanteigado de azeitão. Marisco vindo de todas as costas atlânticas cuja cultura se reúne nesta mesa. Conversas e gargalhadas. Vai-se começando a abrir as “hostilidades”, ou seja, vai-se começando a aconchegar o estômago.
O que é que se bebe? Há gostos para tudo. Um tinto do Douro, um branco alentejano ou simplesmente um verde à pressão em jarro da casa. Outros preferem o famoso catembe moçambicano (coca-cola com vinho tinto) ou um vinho de caju da Guiné-Bissau (kimbombo em Angola). Os mais moderados escolheram sumo de Nzua (feito a partir de mucua – a fruta do embondeiro).
Quem sabe de comezainas e patuscadas, sabe que é prudente comer uma sopinha antes de atacar os pratos fortes. Acamam o estômago e só têm coisinhas boas. Como se não houvesse por onde escolher… caldo verde, canja de galinha ou uma sopinha de feijão com massinhas. Claro está que também houve quem se deliciasse com uma saladinha de agrião ou de alface com cebola e coentros.
Avançamos para os pratos principais. Aqui a coisa começa realmente a compor-se. É que as opções são imensas e todas muito convidativas. Carne ou peixe? Vegetariano? Temos de tudo um pouco. Vi passar a fumegar o espeto do rodízio brasileiro com picanha e cupim e maminha, rodeado pelo arrozinho branco, o feijão preto e a fruta (ananás e manga) para desenjoar. Do outro lado, um grupinho de angolanos via como aterrava à sua frente uma rica moamba de jinguba (amendoim) com funge. Os guineenses pediram arroz para acompanhá-la, como manda a tradição, mudando o nome à moamba e chamando-lhe chabeu. Vi as maravilhas que saíam da brasa do churrasco – o franguinho e o entrecosto com batatinhas, o bacalhau e o polvo à lagareiro, as sardinhas e os carapaus com arroz de tomate. De relance observo em frente como chegam as delícias moçambicanas: a matapa e o caril de amendoim. Esta é mesa é tão grande e somos tantos que chega a ser difícil observar tudo o que aqui se passa. Um casal brasileiro vai tirando a tampa ao tacho da feijoada, enquanto termina a moqueca de marisco. O são tomense está totalmente concentrado no maravilhoso calulu de peixe, de que desfruta avidamente.
O tempo vai passando, as conversas crescendo e o volume da mesa subindo. Todos satisfeitos, todos sorrindo. Começam a ser retirados os pratos e vai-se ajeitando a mesa. Alguém se lembra que uma festa como esta não pode terminar sem sobremesas, café e digestivos. Como é que pedimos? Uma de cada para o centro e todos provam!
Nova avalanche de sabores. A mousse de chocolate a querer empurrar o arroz doce e a baba de camelo. O bolo de bolacha a travar-se de razões com o pudim flan, primo do molotof. A sericaia em longos diálogos com os brigadeiros e o quindim. Nada tímida, no seu estilo mangolé está a kifufutila de amendoim arrebitado.
Chegam os digestivos, em modo de sapadores, para salvar a situação. Licor beirão, grogue (aguardente de cana cabo-verdiana), a aguardente (“bebida do chefe”, em Angola), um bagaço, uma cachaça ou uma macieira.
Abraços e beijos. Breves despedidas até ao próximo encontro. Toda esta fantasiosa estória à volta da comida, das gargalhadas e sorrisos, piadas e anedotas não é mais que o desejo e a certeza de que em breve poderemos unir-nos e abraçar quem amamos, voltando a escrever sem tinta as narrativas que nos definem.
2. As receitas
Vamos lá espreitar algumas propostas de receitas de alguns dos deliciosos pratos que formam a nossa ementa. Atenção que aqui vão encontrar as receitas do povo, feitas pela gente que sabe realmente do que está a falar. Não esperem vídeos espetaculares, grandes planos ou efeitos especiais. Mas o principal está lá – a arte de bem cozinhar com carinho e dedicação.
Calulu de peixe de São Tomé
Cachupa de cabo verde
Matapa moçambicana
Moamba angolana
Bacalhau à lagareiro
Brigadeiro brasileiro
3. A banda sonora do manjar
E agora deixamos aqui uma listinha de belos temas para ouvirem pela ordem que quiserem enquanto preparam estas ou outras receitas lusófonas. Misturem, fundam, organizem, baralhem e voltem a dar. Bom apetite!
Seu Jorge – Burguesinha
Dino D’Santiago – Kriolu feat. Julinho KSD
Mind a Gap – Todos gordos
Deltino Guerreiro – Com Amor Se Paga
Bonga – Mulemba Xangola
(in)Raizados
Esta secção está dedicada a contar as aventuras e desventuras, as peripécias e o quotidiano de pessoas fantásticas que nasceram em países lusófonos e agora andam pelo mundo fora fazendo pela vida, fazendo a sua vida e espalhando a língua portuguesa pelos 4 cantos do globo.
Hoje vamos conhecer a estória de Paulo, um lisboeta apaixonado por Cáceres.
Paulo Oliveira (48 anos) – Cáceres, Espanha
Hoje, a Elisa e o José Carlos falam-nos do Paulo Oliveira (seu amigo e professor de português), um homem de Lisboa, que mora em Cáceres há 15 anos. Já é quase espanhol!
Ele veio para Cáceres por amor e foi cativado pelo nosso modo de vida. Mas, nem tudo foi fácil! No começo, sentiu-se um emigrante, não falava espanhol e tinha saudades de Portugal, o seu belo país.
Com o passar dos anos e depois de trabalhar em audiovisuais no Centro de Cirugia de Mínima Invasão de dar aulas dessas matérias na Câmara Municipal e academias da cidade, de ser empregado de mesa, de trabalhar numa loja de música e muitas outras coisas, hoje em dia dá aulas de inglês, português e guitarra.
A música esteve e está sempre presente na vida do Paulo e por isso mesmo vai saltando entre o baixo e guitarra nas 4 bandas distintas em que participa. Tem também, um canal no Youtube onde toca algumas músicas, versões e originais. Deem uma olhadela!
Com uma das suas bandas, Kaplan, gravou há um ano um álbum, “Speaking in Silver”. Kaplan é uma banda formada por músicos de diferentes partes do mundo (Espanha, Portugal e Reino Unido) que faz uma música muito pessoal e agradável. Podem ouvi-los no Spotify. Mas não é a primeira vez que o Paulo grava em estúdio, já que em Portugal, mais concretamente em Tomar, gravou com Ex-Cedentes, a primeira banda da sua vida. Era um grupo de miúdos portugueses que gostavam de rock e do qual o nosso protagonista guarda boas lembranças.
Além de ensinar-nos o seu bonito idioma, nas aulas de português ele fala sobre a História e os costumes portugueses. Vemos monólogos, ouvimos canções e lemos livros e outras publicações como o LUSO QUÊ?.
O Paulo é um homem feliz, agradável e educado, que ri muito e tem muitos amigos. Os seus alunos adoram-no!
És ou conheces algum (in)Raizado sobre quem possamos contar estórias aqui no LUSO QUÊ?? Escreve um breve texto com esse relato (máximo uma página A4, aproximadamente 450 palavras), junta uma foto do(s) protagonista(s) e envia-o por escrito para o endereço eletrónico disponível em O vosso espaço. Se és daquelas pessoas que dizem não ter jeito para escrever, contacta-nos e nós ajudamos-te a dar forma à aventura que tens para contar – as boas estórias não se podem perder!
Discos Pedidos!
Hoje dançamos e cantamos com…
Bruno Coelho (Lisboa)
“Azul é o mar” simplesmente porque o mar é muito (e muito azul) aqui em Portugal! Carlos Bica também é um (in)Raizado, contrabaixista português que encontrou estes dois colegas em Berlim: o alemão Frank Mobus na guitarra e o americano Jim Black na bateria. Trio maravilha, que tive a oportunidade de ver várias vezes ao vivo. Este tema em especial leva-me até aos anos 90, e lembra-me muito as férias de Verão na Zambujeira do Mar. O vídeo tem bonitas imagens da nossa Lisboa!
Azul é o mar – Trio Carlos Bica, Frank Mobus e Jim Black
Rita Veloso (Oeiras)
Como amante da música brasileira e do seu povo, esta música expressa bem a essência do povo brasileiro. É um espanto como a alegria transborda nas palavras. Deixa-me feliz e espero que a partilha vos transmita o mesmo.
O meu lugar – Arlindo Cruz
Nesta secção desejamos que partilhem connosco as vossas canções favoritas. O que é bom é para se partilhar! Podem contar estórias relacionadas com elas, quando as ouviram por primeira vez, quem ou que situações vos recordam, situações em concertos, etc. Como? Muito simples. Basta enviar-nos um e-mail para info@lusoque.es com o vosso nome e o local de onde nos escrevem, o título da canção e o seu autor/grupo/projeto e trataremos de a publicar junto ao respetivo vídeo.
Agradecimentos
Muito obrigado pela vossa colaboração e pelos “grãos de areia” lançados ao projeto:
- João Antunes
- Joca Marino
- Nacho Flores
- Pedro Sereno
- Pilar Pino
Editorial
Mulheres!!!
Esta honesta e singela homenagem é quase um atrevimento, já que seriam necessárias páginas infinitas para poder realmente falar sobre todas as mulheres que merecem destaque pelo que são ou foram, fazem ou fizeram.
Não se trata de assumir posições, politizar ou querer lutar contra a discriminação histórica que as mulheres veem sofrendo ao longo dos séculos… obviamente que repudiamos esse ponto de vista sobre as mulheres e nos parece absurdo que seja ainda necessário ter de discutir e lutar por algo que deveria ser uma evidência absolutamente natural. Claro que ao escrevermos estas linhas estamos já, de alguma forma, a apoiar e contribuir para a luta e conquista da igualdade por parte de todas as mulheres.
Aquilo que nos propomos fazer é dedicar a publicação desta semana a exaltar e enaltecer mulheres que contribuíram ou contribuem positivamente através daquilo a que se dedicam para que o mundo evolua – seja através da arte, cultura, política, desporto, ciência ou qualquer outra área. Mais ou menos famosas, jovens ou experientes, vivas ou já falecidas, de vários países (lusófonos), estas 11 mulheres (8 de março = 8+3) merecem o devido reconhecimento. Optámos por apresentar de forma breve cada uma delas e deixar-vos o caminho aberto para poderem investigar mais sobre as vossas preferidas. A ordem em que aparecem é aleatória e não corresponde a qualquer valoração ou hierarquia específica.
Os (in)Raizados esta semana trazem-nos a estória de um português, portuense de gema que anda a fazer a vida na capital andaluza.
Mais uma semana cheia Discos Pedidos!. O que é que os nossos leitores andam a ouvir?
Até já!
1. A voz de um povo
É a senhora que figura na capa da edição desta semana. Uma voz conhecida em todo o mundo, embaixadora do Fado e cara de um país e de um povo. Quem não sabe pelo mundo fora quem é Amália Rodrigues? Arriscamos dizer que o seu nome é sinónimo de Portugal, quando ele soa em qualquer geografia do planeta. Quando canta para os portugueses, as suas palavras atingem proporções abismais! Canta para nós, canta-nos em conjunto e como se conhecesse cada um de nós na sua essência! Possuindo uma genialidade absolutamente ímpar transformou totalmente o panorama cultural contemporâneo do século XX através da sua forma singular de cantar, expressar e interpretar as palavras, a alma e as emoções. Nunca teve papas na língua e, sempre à sua maneira, desenvolveu uma magnífica e longa carreira repleta de êxitos e prémios. A sua contribuição específica para a evolução e visibilidade internacional dada ao Fado constitui um legado eterno. No ano passado comemorou-se o centenário do seu nascimento. Desfrutem de um dos seus concertos!
Amália ao vivo na TV italiana
2. A pujança crua do sentido de missão
A primeira mulher a publicar, em 1990, um romance no seu país natal – Moçambique. Paulina Chiazane conta com uma extensa obra publicada onde aborda o tema da guerra e das grandes convulsões políticas que marcaram durante décadas o quotidiano moçambicano. O seu trabalho denota uma forte preocupação pela defesa das mulheres e dos seus direitos, apontando para fatalidades com por exemplo a poligamia vigente no seu país. Temas como o racismo e a discriminação são também prato da casa, tratados sem atalhos e medo ou subterfúgios. Espreitem esta eloquente entrevista de uma escritora que fala sem papas na língua e merece toda a atenção (só custa 25 minutinhos de vida). Vamos ouvir e pensar.
Entrevista no Programa Extra-classe – Paulina Chiziane
3. Punhos cerrados, mente aberta
Imaginam uma mulher negra integrando plenamente a redação de um jornal no início do século XX em Portugal… Agora somem a essa imagem o facto de esta mulher ser abertamente lésbica. Falo-vos de Virgínia Quaresma. Filha de um importante Oficial da Cavalaria do Exército Português e de uma doméstica (filha de escravos africanos), cedo soube que não aceitaria que decidissem por ela como seria a sua vida. Foi uma das primeiras mulheres a formar-se em Letras em Portugal e uma das primeiras mulheres a enveredar plenamente pela carreira jornalística. Realizou serviço diplomático em vários países europeus e residiu intercaladamente no Brasil, onde trabalhou como jornalista e travou várias lutas ativistas a favor de diferentes causas. Ativista crente e inabalável, enfrentou o Estado Novo e abraçou a causa da defesa dos direitos das mulheres, escrevendo vários artigos e dando entrevistas ao longo da sua vida. É considerada uma das principais responsáveis pela génese do feminismo português.
4. Dedo na ferida
E agora? Falar desta “gigante” em meia dúzia de linhas… Bem, a Adriana Calcanhotto é uma intérprete, cantora, produtora musical, escritora e mais coisas, brasileira (nascida em Porto Alegre). Apaixonada pelas palavras, pelo texto e poesia, e pela comunicação. As suas canções são realmente únicas e movimentam-se no universo particular por ela criado onde se fala de tudo sem complexos ou barreiras. A necessidade de apontar o que está errado ou incorreto, as injustiças e o mal, em busca de soluções é uma das suas características, embora tenha também canções de teor mais infantil e doce. A sua extensa discografia (realizada ao longo de 30 anos) cresceu recentemente com o lançamento do disco “Só canções da quarentena”. Vale absolutamente a pena escutar.
Adriana Calcanhotto – Só
5. Rodas para que vos quero
Há pessoas que têm dificuldade em ouvir “não” ou “não podes” ou “é impossível”. Estas palavras, quando ouvidas por elas, parece que se transformam imediatamente em combustível de alto rendimento. A narrativa pessoal de Elisabete Jacinto é uma vida com rodas, o que não significa que lhe tenha corrido sempre tudo sobre rodas. Foi e é uma absoluta pioneira, ao ter lutado durante toda a vida para encontrar seu espaço num meio especialmente dominado por homens – o desporto motorizado. Começou por dar os primeiros passos nas motos, no Rally Dakar, mas foi ao volante de um camião que se notabilizou e alcançou os melhores resultados. Durante dezenas de anos traçou um difícil caminho rumo ao sucesso, com muitos altos e baixos. Nunca cruzou os braços. A vitória obtida no rally em 2019 representa, do ponto de vista desportivo, o momento mais alto da sua carreira, a juntar a tantos outros triunfos que foi acumulando ao longo da sua carreira. A sua estória e trajeto de vida são uma autêntica lição, um exemplo real, de como a perseverança, o esforço, a dedicação e motivação constantes na procura pela excelência naquilo que nos tem apaixonados sempre compensam. Uma mulher verdadeiramente inspiradora!
Vitória histórica no Africa Eco Race 2019
6. Matar não cala
Foi cobardemente assassinada no dia 14 de março de 2018 na região do Rio de Janeiro. Marielle Franco tinha 38 anos de idade. A História da humanidade está, infelizmente, repleta de mortes por assassinato que têm como protagonistas pessoas que lutaram firmemente pelas suas convicções de forma altruísta. Marielle foi uma socióloga e política filiada ao Partido Socialismo e Liberdade(PSOL), elegeu-se vereadora do Rio de Janeiro para a legislatura 2017-2020. Defendia o feminismo, os direitos humanos, e criticava a intervenção federal no Rio de Janeiro e a Polícia Militar, tendo denunciado vários casos de abuso de autoridade por parte de policiais contra moradores de comunidades carentes. Mataram-na vilmente, mas jamais abafarão a sua voz!
Breve entrevista – Mulher, raça e classe
7. Transístores no feminino
Elvira Fortunato é uma cientista, investigadora e professora catedrática portuguesa. É especialista pioneira mundial na eletrónica de papel, nomeadamente em transístores, memórias, baterias, ecrãs, antenas e células solares. É considerada a “mãe” do transístor de papel. Em 2020 foi distinguida pela Comissão Europeia com o Prémio Impacto Horizonte (consultem o artigo).
8. Queda para as vitórias
Um terramoto, uma força da natureza, “intratável” quando pisa o tatami. Telma Monteiro é a judoca portuguesa mais premiada de todos os tempos. Vem fazendo história ao longo dos anos, sendo detentora de um palmarés absolutamente inacreditável. Destaque para o facto de ter sido 5 vezes campeã da Europa e 4 vezes vice-campeã mundial. Em 2016 obteve a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos. Não se deixem enganar pela sua cara simpática – quando pisa o tatami, parte a loiça toda!
Imparável
9. Morna escaldante
A alma da música cabo-verdiana. Foi ela que colocou os sons e a musicalidade das ilhas de Cabo Verde no mapa e boca do mundo. Dona de uma personalidade única, consensual, Cesária Évora começou a cantar bem cedo. Com apenas 7 anos Cize, como era conhecida pelos amigos já animava a praça principal da sua cidade, Mindelo. A rainha da morna, como a apelidavam carinhosamente, gravou mais de 2 dezenas de discos e durante décadas viajou por todo o mundo dando concertos. Em 2004 ganhou o Grammy para melhor álbum de world music. A sua obra representa uma influência importantíssima para a música contemporânea. Tirem o pezinho do chão… soooltaaa!
Cesária Évora – Live d’amor (Paris 2004)
10. A luz das sombras
A poetisa do primeiro quarto do século XX que se tornou um ícone cultural de forma póstuma. Nos breves 36 anos que durou a sua tumultuosa vida, Florbela Espanca criou uma obra literária de referência não apenas em Portugal, país que a viu nascer na transição do século em Vila Viçosa. A sua escrita está carregada de erotismo e feminilidade. Especialista na escrita em forma de soneto, mas também com obra publicada em prosa. Rompeu padrões, saltou barreiras e foi quem quis ser, como quis ser. Até na morte. Saibam mais sobre a sua vida em obra, em apenas 10 minutos.
Ler + ler melhor – documentário
11. A beleza do bem
É uma das atrizes e apresentadoras mais conhecidas em Portugal com uma sólida carreira de dezenas de anos. A sua simpatia, empatia, tolerância e respeito pelo próximo são qualidades que todos lhe reconhecem. Catarina Furtado é, desde o ano 2000, Embaixadora de Boa Vontade do UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas). Neste âmbito, realiza um trabalho de proximidade em diferentes países, nas áreas da Saúde, incluindo a sexual e reprodutiva, Igualdade de Género, Violência sobre as Mulheres, Discriminação, Envolvimento Masculino, Mutilação Genital Feminina, Maternidade Segura, Maternidade/Paternidade Adolescente, Planeamento Familiar, entre outras. Conheçam-na!
Entrevista no Só Visto
(in)Raizados
Esta secção está dedicada a contar as aventuras e desventuras, as peripécias e o quotidiano de pessoas fantásticas que nasceram em países lusófonos e agora andam pelo mundo fora fazendo pela vida, fazendo a sua vida e espalhando a língua portuguesa pelos 4 cantos do globo.
Hoje vamos conhecer a estória de André, um portuense radicado em Sevilha.
André Marinho Rocha (36 anos) – Sevilha, Espanha
Para contar a minha estória, devo começar por mostrar-vos uma canção: Carminho – Saia Rodada, do Álbum Canto (2014) Esta música marca um princípio e um fim na minha vida. Um começo. Uma transição! Tal como a saia que roda, gira, flutua no ar e, sobretudo, teima em não parar, a minha vida também rodava uma vez mais, trazendo-me definitivamente a Sevilha, depois de um ano de namoro e de idas e voltas entre Sevilha e Lagos (Portugal). Trajeto repetido a bom ritmo, feito num vai e vem, estilo acordeão, estilo saia, estilo volante de um “traje de flamenco”, donde em cada volta que dá forma uma espécie de espiral que te aproxima ou distancia da tua amada e do teu país. Fecha-se um círculo apenas para abrir o seguinte, uma e outra vez. Saia que é saia nunca para. Não pode! A sua natureza é o movimento. É o seu fado. É símbolo de renovação. É o ontem e o amanhã. É a saudade dos giros que já deu e é a ânsia dos que estão por dar. É a vida!!
Umas semanas depois do que seria a minha “última” aterragem em Sevilha (Setembro de 2015) uma amiga da minha, ainda, namorada Sara, alertou-nos para a existência de um festival de Fado cujo cartaz era toda uma surpresa. Nesse instante decidimos ir ver a Carminho, sem saber que iríamos ouvir a música que nos marcaria para sempre e que se entoaria várias vezes no dia 10/03/2018. Dia do nosso casamento! Aniversário celebrado há apenas 2 dias, especial e quase irrepetível, já que fazemos 3 anos de casados e somos 3 elementos na família. Sim, entretanto a saia rodou uma vez mais e a família cresceu. A Clara nasceu!
A primeira vez que ouvi esta música foi, portanto, especial em vários sentidos pelas inúmeras “primeiras vezes” que representa. Primeiro concerto em Sevilha. Primeiro contacto com o lindíssimo e célebre Teatro Lope de Vega. Primeiro concerto de fado (a sério) que assisti na minha vida. E, claro está, a primeira música a entoar no dia do meu casamento, acompanhando a entrada e o desfile serpenteante dos noivos no salão donde se celebraria o copo de água (banquete).
És ou conheces algum (in)Raizado sobre quem possamos contar estórias aqui no LUSO QUÊ?? Escreve um breve texto com esse relato (máximo uma página A4, aproximadamente 450 palavras), junta uma foto do(s) protagonista(s) e envia-o por escrito para o endereço eletrónico disponível em O vosso espaço. Se és daquelas pessoas que dizem não ter jeito para escrever, contacta-nos e nós ajudamos-te a dar forma à aventura que tens para contar – as boas estórias não se podem perder!
Discos Pedidos!
Hoje dançamos e cantamos com…
Miguel Martínez (Sevilha, Espanha)
Eu gosto muito pela música e sobretudo pela letra e o refrão: “Vida da minha vida, peço a meu protetor, se for pra ser vivida diga pra onde eu vou”. E o pagode é simplesmente glorioso.
Vida da minha vida – Grupo fundo de quintal
Nuno Alves (Sintra, Portugal)
Apesar de não ser uma música que costume ouvir demasiado, esta faixa é muito refrescante, apesar do tema comentar uma face mais negra da nossa sociedade em bairros das cidades. Não tão bem falada e com o uso de linguagem corrente de bairro, toca e foca-se em duras realidades, cujas histórias muitas vezes não têm um final feliz. Destaco a falta de orçamento para a realização deste videoclipe, mas cujos protagonistas improvisaram com uma simplicidade fantástica.
Da Weasel – Tudo na mesma
Nesta secção desejamos que partilhem connosco as vossas canções favoritas. O que é bom é para se partilhar! Podem contar estórias relacionadas com elas, quando as ouviram por primeira vez, quem ou que situações vos recordam, situações em concertos, etc. Como? Muito simples. Basta enviar-nos um e-mail para info@lusoque.es com o vosso nome e o local de onde nos escrevem, o título da canção e o seu autor/grupo/projeto e trataremos de a publicar junto ao respetivo vídeo.
Agradecimentos
Muito obrigado pela vossa colaboração e pelos “grãos de areia” lançados ao projeto:
- João Antunes
- Joca Marino
- Nacho Flores
- Pedro Sereno
- Pilar Pino
Editorial
Esta coisa da felicidade… grande sarilho em que nos fomos meter!
Um tema repleto de perguntas e dúvidas sobre a sua origem, definição, construção e gestão. Uma preocupação que remonta há muitos séculos, desde os primórdios da filosofia e do surgimento dos primeiros pensadores.
A propósito da celebração do dia internacional da felicidade (20 de março) já amanhã, imbuídos deste espírito de alegria e fulgor pelo início da Primavera, quisemos abordar a questão. Existem tantas perguntas legitimamente possíveis:
A felicidade procura-se ou encontra-se? Como sabemos que estamos felizes? Estamos felizes ou somos felizes? A felicidade é um estado que se alcança? Podemos ser/estar sempre felizes? A felicidade está relacionada com a supressão de necessidades ou de desejos?
Não encontrámos realmente respostas ou caminhos definitivos para estas e outras questões, mas tentaremos sobretudo “mandar umas achas para a fogueira” e, de alguma forma, contribuir para que os nossos leitores ampliem o seu conhecimento e capacidade de reflexão sobre o que é ser feliz.
Isto será um tratado bem-disposto sobre caminhos possíveis para construir estradas que conduzam a esse “gral” eternamente desejado – a felicidade! Teremos a possibilidade de assistir a algumas apresentações neste âmbito e escutar a playlist da felicidade.
Os (in)Raizados esta semana fazem uma pausa feliz.
Mais uma semana cheia Discos Pedidos!. O que é que os nossos leitores andam a ouvir?
Até já!
FAÇAM O FAVOR DE SER FELIZES!!!
1. O que é a felicidade?
A inevitável pergunta. Adianto-vos já que não temos respostas definitivas.
Os dicionários apontam para o “concurso de circunstâncias que causam ventura”, “o estado da pessoa feliz”, “a tendência para acontecimentos positivos ou favoráveis”, “o bom êxito”. (in Priberam Online)
A pesquisa na wikipedia indica que a felicidade “pode ser definida por um momento em que há a perceção de um conjunto de sentimentos prazerosos. A felicidade é um estado durável de plenitude, satisfação e equilíbrio físico e psíquico, em que o sofrimento e a inquietude são transformados em emoções ou sentimentos que vão desde o contentamento até a alegria intensa ou júbilo. A felicidade tem, ainda, o significado de bem-estar espiritual ou paz interior. Existem diferentes abordagens ao estudo da felicidade – pela filosofia, pelas religiões ou pela psicologia. O ser humano sempre procurou a felicidade. Filósofos e religiosos sempre se dedicaram a definir sua natureza e que tipo de comportamento ou estilo de vida levaria à felicidade plena”.
Temos, portanto, inúmeras definições decorrentes da escola de pensamento e da área ou abordagem que as sustenta. Se pensarmos que cada pessoa é um mundo, poderemos arriscar que existirá uma definição de felicidade para cada um de nós.
Tratemos então de agitar as ideias para depois cada um arrumar a casa à sua maneira!
2. O poder das coisinhas simples
Há um livro absolutamente delicioso, cujo título original é “Hapiness is… 500 things to be happy about” da autoria de Lisa Sterling e Ralph Lazar (também disponível na tradução espanhola). É o livro ideal para ter sempre por perto, na mesa da sala, na cozinha ao lado do fogão ou na mesinha de cabeceira. Pode abrir-se aleatoriamente e dar de caras com uma das 500 situações em que os pequenos nadas, genialmente ilustrados em modo comic, se transformam em felicidade plena. É impossível ficar indiferente ao ver as ilustrações e ler as pequeninas coisas que nos podem fazer tão felizes. Alguns exemplos: felicidade é um grande abraço de uma criança; felicidade é abrir as janelas do carro para que fiques despenteado; felicidade é receber uma carta de um amigo; felicidade é despertares e dares-te conta que é feriado e não tens de ir trabalhar. Fica a feliz sugestão!
Hapiness is…
3. Aqui e agora
O reputadíssimo jornalista e professor universitário de ética Clóvis de Barros Filho fala-nos nesta apresentação feita no evento TEDx em São Paulo (2016) sobre a importância vital de não adiar a felicidade. O seu estilo comunicativo é absolutamente contagiante. Na vida cada oportunidade é “única, virginal e inédita”. A felicidade acontece em todos os instantes. Podemos proporcionar a alguém um instante de vida que essa pessoa gostaria de algum dia de repetir… isso é a criação genuína de uma convivência feliz, isso é a felicidade. 16 minutinhos… Excelente reflexão garantida.
Felicidade é aqui e agora – Clóvis de Barros Filho (TEDx São Paulo)
4. As virtudes
O filósofo e escritor Luiz Felipe Pondé, no seu jeito direto, frontal e sem papas na língua, faz breves considerações sobre a felicidade. É a realização de um desejo. É também (na linha de Aristóteles) a aquisição de um conjunto de virtudes que gerarão uma ideia positiva sobre cada nós mesmos e que levará a que sejamos recordados com saudade e admiração. É ainda (de acordo com a tradição hebraica e com o cristianismo) a reunião numa pessoa de qualidades distintivas como a generosidade, o perdão, a humildade, a misericórdia alheia. Legado??? Vão lá espreitar! São apenas 5 minutinhos.
Breves considerações sobre a felicidade por Luiz Felipe Pondé
5. Karnalizando
O historiador e professor Leandro Karnal dá-nos uma breve e clara lição de 10 minutos sobre a felicidade. Não existe “uma” felicidade e ela não é universal. Não confundamos a felicidade com alegria e tristeza. A felicidade é estrutural. Ela é o presente, o aqui e o agora. A felicidade requer um treino de foco. Podemos, para além de trabalhar na procura da nossa própria, dar felicidade aos outros. A importância de saber o que está ao meu alcance e posso mudar. O autoconhecimento e a gestão de expectativas. Somos animais políticos e, logo, vivemos necessariamente em convivência com outras pessoas. Solitude vs solidão. Uma “chapada” doce! Vão ver.
4 passos para buscar a felicidade – Leandro Karnal
6. Vinil feliz
Umas canções animadas e belas para terminar de pintar a felicidade! Aqui fica uma playlist que por casualidade é exclusivamente brasileira. Ficamos com a ideia que se há povo que procura e fala abertamente sobre a felicidade, é sem dúvida o povo brasileiro. A música anda frequentemente de mãos dadas com a felicidade!
A gente merece ser feliz – Ivan Lins
Gente feliz (sinceridade) – Vanessa da Mata
Quintal do Céu – Seu Jorge
Peça felicidade – Melim
O que é o que é – Gonzaguinha
Tudo diferente – Maria Gadú
(in)Raizados
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Discos Pedidos!
Hoje dançamos e cantamos com…
Rita Veloso (Oeiras)
Não podia faltar África! Gosto tanto de ritmos africanos e esta música recorda-me muito um concerto do Matias (poço de simpatia e um ser humano incrível), que assisti em Oeiras…impossível não abanar a anca ao ritmo do compasso!
Semba do pé – Matias Damásio
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Agradecimentos
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- João Antunes
- Joca Marino
- Nacho Flores
- Pedro Sereno
- Pilar Pino
Editorial
Nos fundos dos baús é onde se encontram as “guloseimas”, as pérolas por vezes esquecidas ou adiadas. Decidimos ir esgravatar no nosso baú e trazer-vos a “nata” em forma de coisinhas que fomos desencantar nos espaços recônditos da nossa arca da esperança guardadas e que lá estavam à espera de poder ver a luz.
Esta edição será um rodízio eclético e heterogéneo de cruzamentos entre passado, presente e futuro.
A viagem desta semana inicia-se em São Paulo onde iremos passear pelos corredores e galerias do Museu Afro Brasil onde poderemos descobrir mais sobre a história do Brasil e a relação dos negros na construção da identidade do seu povo, no desenvolvimento cultural e artístico brasileiro.
Seguidamente tomaremos contacto com uma ferramenta linguística grátis e capaz de atuar como um magnífico auxiliar na aprendizagem e uso geral da língua portuguesa. Iremos espreitar a infopedia.
A paragem que se segue é feita sem trelas ou coleiras. Ficaremos a saber mais sobre o trabalho que a galeria de artistas underdogs vem realizando e daremos uma bela voltinha pela arte urbana em Lisboa.
A viagem prossegue com uma das suas últimas paragens. Vamos conhecer uma promissora artista que tem encantando com a sua música – A garota não. Iremos adentrar-nos na sua obra e conhecer de onde recolhe a sua inspiração.
Os (in)Raizados esta semana permanecem em pausa.
Mais uma semana cheia Discos Pedidos!. O que é que os nossos leitores andam a ouvir?
Até já!
1. Mestiçagem perpetuada
Situado na cidade de São Paulo (Brasil) no interior do parque Ibirapuera um importante pulmão e zona verde da cidade encontra-se o MAB – Museu Afro Brasil. O museu está dedicado à preservação e divulgação da herança cultural e artística do negro no Brasil resgatando-a e contando a história que nem sempre aparece nos livros. Pretende desconstruir o imaginário da população negra pela ótica da inferioridade transformando-o antes no prestígio, na igualdade e no reconhecimento. Note-se que estatísticas recentes indicam que aproximadamente 50% da população brasileira é mestiça, parda ou negra.
Foi fundado em 2004 pelo artista plástico, curador e museólogo Emanoel Alves de Araújo (atual Diretor do museu), que doou mais de 2000 mil obras ao museu. Atualmente conta com mais de 5000 itens em exposição reunindo diversas facetas culturais e artísticas dos universos africano e brasileiro. O espaço aborda vários temas de extrema riqueza e importância para a identidade nacional e histórica do país: a escravidão durante o período colonial até à independência; as longas travessias feitas desde África em condições miseráveis e penosas nos navios negreiros; o falhado processo de esquecimento forçado e a tentativa ao abandono das raízes; os mercados de venda de escravos; os objetos de tortura para disciplinar os escravos. Mostra-se também como ocorreu a introdução de sabedoria no país pelos escravos que conheciam tecnologias e possuíam saberes até então desconhecidos no Brasil. Como esses conhecimentos foram usados tanto no espaço rural, como no urbano acelerando os ciclos económicos e a riqueza. Observa-se a contribuição direta para a gastronomia através da introdução de novos ingredientes provenientes da cultura africana; o trabalho realizado com o acúcar, o café, a exploração mineira; a importância das religiões e a relação de espiritualidade na criação das tradições e celebrações brasileiras; o surgimento da capoeira (manifestação afro brasileira) como arte marcial que é meio jogo, meio dança e atualmente é mundialmente conhecida. Foca-se também a contribuição de negros que foram ou são personalidades reconhecidas de todos os campos e setores da sociedade.
O museu conta com uma biblioteca com cerca de 11000 entradas e está dividido em 2 partes – a exposição permanente com uma orientação histórica e as exposições temporais que mostram uma visão contemporânea sobre a mestiçagem. Uma visita imperdível e “obrigatória”. Para quem não está em São Paulo, deixamos um vídeo com a visita guiada a este fantástico espaço.
Visita guiada ao MAB
2. Martelo, alicate e chave de fendas das letras
A Porto Editora disponibiliza desde 2003 e em constante evolução/atualização a infopedia, uma excelente ferramenta e recurso para quem usa a língua de forma académica ou profissional. Focamos obviamente as possibilidades que oferece no que respeita à língua portuguesa, embora estejam também disponíveis outros 9 idiomas – inglês, francês, alemão, espanhol, italiano, holandês, chinês, grego e tétum.
O que se pode fazer com esta potente ferramenta? Pesquisar palavras no dicionário (da própria língua ou noutra das línguas disponíveis), consultar a língua gestual, procurar vocabulário ortográfico, esclarecer dúvidas relacionadas com o acordo ortográfico são algumas das imensas possibilidades. Possui também um apartado especial dedicado a dúvidas relacionadas com o uso da língua portuguesa.
É, portanto, um fabuloso recurso que recomendamos como auxílio da aprendizagem quer para falantes nativos, quer para quem está a dar os primeiros passos ou possui já alguma proficiência na língua portuguesa.
3. Arte rafeira
A arte urbana em Portugal tem assumido um papel importante e sofrido uma evolução impressionante. As cidades portuguesas são museus abertos em espaço público e repletas de expressões artísticas variadas. Hoje quisemos dar destaque ao maravilhoso trabalho da underdogs.
O projeto surgiu entre 2016 e 2017 e pretende complementar diferentes facetas do trabalho artístico, comercial e cultural realizado por um enorme e talentoso coletivo de artistas que conta com grandes nomes portugueses e também de outros países. Um movimento que permite dar visibilidade e criar espaço para artistas que por vezes são considerados menos convencionais, numa ode ao espaço urbano. Consultem no final do artigo o delicioso vídeo de apresentação do projeto. Podem também encontrar mais informação na página oficial e no Instagram.
Ficam ainda mais 2 guloseimas. Não resisti à tentação de deixar aqui o vídeo da exposição “marginal” realizada por Pedro Batista e Francisco Vidal – talentosos conterrâneos de Oeiras, a magnífica terra onde nasci. Nesta exposição contactamos com as influências que os artistas receberam durante os anos 90, criando imagens que não deixam ninguém indiferente. Finalizamos com um vídeo que é um passeio excecional pela arte urbana realizada em Lisboa e na sua zona metropolitana (incluindo também a zona conhecida como “margem sul”). Lisboa é um museu ao ar livre. Preparem os 5 sentidos. Vão adorar!
Underdogs – apresentação do projeto
Marginal
Lisbon stories – rota de arte urbana
4. “Rapariguinha” com sangue nas guelras
É sabido que um bom título, um nome bem escolhido, a filigrana das palavras, a sua fonética e semântica que encerram são aspetos fundamentais para gerar a intriga e curiosidade que nos conduzem a novas descobertas. Cátia Mazari Oliveira sabe-o como ninguém, não fosse ela mestre da escrita, como nos revela no recente projeto intitulado A garota não.
Assume gostar de escrever mais do que de falar, e de cantar mais do que escrever. Um conjunto de influências variadas, o contacto com várias culturas desde a infância, o gosto pelo jazz e bossa nova e a experiência adquirida ao longo de vários anos a cantar versões conduziram-na à necessidade de criar espaço para a sua criação própria. No disco de estreia “Rua das Marimbas n.º7” fá-lo com uma enorme pujança interpretativa onde se reflete a beleza da sua escrita acutilante e detalhista. As palavras são escolhidas a dedo, resultando em rimas belas e deliciosas, até mesmo quando contam e cantam medos, receios, revoltas ou preocupações. Fala-se da realidade social, de diferentes lutas e de conquistas, como a maior de todas elas – a liberdade.
Destacamos ainda a manifestação consciente e desejada de recordar para não esquecer. Cátia traz à baila, ativa a memória dos grandes que já partiram deixando um legado inquebrável com reflexos artísticos e na luta pela igualdade, tolerância e liberdade. Relembra Zeca Afonso e José Mário Branco, homenageando a sua vida e obra através da interpretação de canções dos mestres. Pisca também o olho aos grandes contemporâneos como Sérgio Godinho ou Fausto.
Deixamo-vos algumas sugestões para conhecerem melhor a “garota”. Ah… é verdade… o nome. Por que se chama assim o projeto? Só vos dizemos que tem de ver com a mítica canção “garota de Ipanema”. Vão descobrir. A entrevista dada ao New In Setúbal ajudará certamente. Podem e devem também espreitar o seu canal no Youtube e as contas no Facebook e Instagram (@a_garota_nao).
Que mulher é essa?
Showcase com entrevista no auditório do Público
Canção a Zé Mário Branco
Orelha Negra com A Garota Não – Ready
Menino d’Oiro
(in)Raizados
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Hoje dançamos e cantamos com…
Helena Matos (Antuérpia, Bélgica)
Os anos 90 foram os grandes anos da minha adolescência. Vivi-os na companhia de um grande grupo de amigos e juntos, brincámos, rimos, chorámos, divertimo-nos, viajámos, enfim, aproveitámos da melhor forma a nossa juventude. “O primeiro dia” de Sérgio Godinho é uma canção que nos acompanhou nesse período e que ainda hoje guardo com muito carinho no coração.
O primeiro dia (ao vivo no CCB) – Sérgio Godinho
Paulo Oliveira (Cáceres, Espanha)
É difícil escolher uma só uma música, há muitas que serão sempre parte de mim porque as ouvia em família, pela rádio ou pela televisão. Vou escolher um disco em vez de uma só música por inúmeras razões. Porque era a primeira vez que ouvia esses sons de Acid Jazz de que tanto gostava mas em português. Esse CD acompanhou-me também durante os primeiros anos de viagens a Espanha e tenho muito boas lembranças associadas. Pedro Abrunhosa e o seu disco “Viagens”.
Viagens -Pedro Abrunhosa
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Editorial
Irmanados… nem sempre. Nem todos. Às vezes. Em algumas coisas… em determinados momentos. A relação entre Portugal e Espanha remonta a mais de 1000 anos atrás. Está na génese criativa destas duas incríveis nações. Os conflitos e alianças, as batalhas travadas, os casamentos que uniram ou separaram, os guisados e desaguisados… deixaram marcas e raízes culturais e artísticas. Há semelhanças e diferenças. Contudo, uma certeza: há aqui qualquer coisa que partilhamos, que nos caracteriza de ambos os lados da fronteira e com a qual nos identificamos, apesar de talvez nem sabermos bem identificar o que é.
A relação entre espanhóis e portugueses parece vir ganhando um novo fôlego e um renovado fulgor nos últimos anos. Estamos cada vez mais próximos, mais além da antiga proximidade geográfica. Ultimamente temo-nos centrado mais no que nos une do que no que nos separa. Cada vez vão surgindo mais parcerias em projetos realizados por luso-hispanos. Nessa dinâmica, esta semana propomos uma visita a alguns projetos que se estão a desenvolver em solo espanhol, falados ou escritos em português. É ver a lusofonia em ação desde terras espanholas, numa demonstração de que a paixão pela língua portuguesa não tem fronteiras.
Começaremos por conhecer o C.C.L. – Centro Cultural Lusófono, que desde Sevilha vem há vários anos dedicando a sua atividade à divulgação da cultura lusófona e da língua portuguesa. Tivemos o prazer de conversar com a Presidente e o Vice-presidente da Junta Diretiva, que nos contaram detalhadamente como surgiu a associação e que caminhos tem trilhado desde então.
Depois iremos até Madrid para espreitar o que anda a fazer a editorial La Umbría y La Solana, uma editora que se propôs a si mesma o desafio de editar e publicar a obra traduzida em espanhol de vários reputados autores lusófonos. Ficaremos a saber tudo sobre os passos deste projeto aliciante, pela mão do seu representante, o editor Feliciano Nóvoa.
Segue-se a visita às páginas da revista Limite. Vamos até Cáceres, onde entrevistámos (à distância e online) o Diretor e uma das secretárias desta fantástica publicação académica redigida em português e dedicada ao português e à literatura lusófona.
Como não podia deixar de ser, reservamos um espacinho para música. Deixamos algumas propostas de canções interpretadas em parceria por artistas lusófonos e hispanos.
Os (in)Raizados esta semana trazem-nos a magnífica estória de alguém que nasceu além Atlântico e depois de muitas voltas, aterrou numa pequena povoação ao lado de Sevilha.
Mais uma semana cheia Discos Pedidos!. O que é que os nossos leitores andam a ouvir?
Até já!
1. Lusofonia com perfume Andaluz
Em conversa amena. Ou em amena cavaqueira, como se costuma dizer… assim, dessa forma tão tranquila, aberta e relaxada estivemos com dois membros da Junta Diretiva do C.C.L. – Centro Cultural Lusófono – Maria da Conceição Lucas da Silva (carinhosamente conhecida como “São”) e Pepe Aguilar (que se apresenta como “Zé” nas aulas de português). Foi à distância, mas parecia que estávamos a tomar um chá ou um café à mesma mesa. Contaram-nos toda a história da associação, como surgiu o projeto, as atividades que se têm desenvolvido ao longo dos anos e quais as projeções para o futuro. Deliciem-se e desfrutem!
A origem do C.C.L. como movimento informal remonta ao ano 2000. Naquele então um pequeno grupo de portugueses que viviam em Sevilha começaram, sem ter provavelmente consciência de que o estavam fazendo, a criar os pilares do que viria a ser o Centro Cultural Lusófono. Nesta época confluíam antigos alunos que tinham estudado português no instituto de idiomas da universidade de sevilha e queriam manter o contacto com a língua e cultura portuguesas com outras pessoas que nutriam um interesse pela cultura portuguesa (nesta época o grupo Madredeus e a presença frequente de José Saramago na cidade de Sevilha devido às raízes que a sua esposa Pilar mantém com ela, eram dois pilares que funcionavam como potente atração, dando visibilidade à língua e cultura portuguesa). Formava-se então o grupo “quartas quintas” que se reunia todas as quartas quintas-feiras de cada mês e aí se falava português, sobre arte, gastronomia, cultura… Este grupo começou a dinamizar as primeiras viagens a Portugal e as primeiras jornadas de âmbito cultural. De aí surge a ideia de formalizar a associação, em 2001 e em dezembro desse ano, aproveitando uma visita a Tavira, assinam-se os documentos de base que dão origem formal ao C.C.L., começando esta a operar em 2002 e realizando a apresentação formal no Consulado de Portugal em fevereiro de 2003, num evento memorável. Desde então tem-se verificado uma forte relação de cooperação com o Consulado de Portugal, incorporada na figura dos diversos Cônsules que passaram pelo cargo em todos estes anos.
Ao longo destas quase 2 décadas de existência o CCL vem desenvolvendo várias atividades com vista à promoção, aprendizagem e divulgação da língua portuguesa e da cultura lusófona. Destaque para: a publicação de livros e revistas próprias com a colaboração/participação dos sócios, clubes de leitura, realização de obras de teatro, workshops e concursos de fotografia, encontros gastronómicos par tomar contacto com os pratos de origem portuguesa, ciclos de música lusófona, noites de fado, viagens de imersão a Portugal para conhecer aspetos culturais e desenvolver competências linguísticas, organização de excursões e passeios em território português, grupos de conversação – o “cafezinho lusófono” (estando em funcionamento de forma incessante, mesmo após a pandemia – online), cursos de iniciação na língua portuguesa, concertos anuais (o momento estrela de cada ano com a participação massiva dos sócios) realizados no magnífico espaço do Consulado de Portugal (por ali passaram nomes como Nancy Vieira, António Zambujo e Salvador Sobral acompanhado por Júlio Resende num concerto extraordinário – deixamos os links diretos ao Facebook com umas pitadas do que aconteceu).
Atualmente o C.C.L. conta com 100 sócios dos quais apenas 5 são portugueses. É o resultado de um crescimento gradual, pretendendo-se manter a dimensão e escala e poder continuar a desenvolver e realizar as atividades previstas, tendo em conta a estrutura da organização não lucrativa.
Pondo os olhos já no futuro, um dos objetivos a curto prazo é conseguir pôr em marcha uma ideia que surgiu em 2016. Nesse ano realizou-se um concerto de música brasileira, com aulas de samba (dinamizado pela artista de origem brasileira, Marta Santa Maria) num espaço cedido pelo CICUS. Ao tomar conhecimento de que aí se realiza regularmente um certame de cinema africano, surgiu a ideia de adicionar uma mostra de cinema africano em português, sendo o C.C.L. o responsável por esta.
Para ficarem a conhecer mais detalhadamente o C.C.L. visitem a web oficial e a página disponível no Facebook.
2. Páginas em português, desde Madrid
Café ainda a ferver numa mão, caneta na outra, bloco de papel apoiado na mesa. Clique para ligar a vídeo chamada e zás, o rosto de Feliciano no écran com o sorriso que o caracteriza. Sorriso para cá, sorriso para lá… bom dia, tudo bem… vamos lá falar sobre uma editora espanhola que edita e publica livros de autores lusófonos… seria uma ótima ideia, sim senhor! Já existe! Sim, estivemos à conversa com o mentor e principal responsável pela La Umbría y La Solana – Feliciano Nóvoa. Contou-nos tudo sobre esta ideia que teve há alguns anos e que recentemente ganhou forma e feitio.
A origem da editorial remonta a 2016 quando as circunstâncias tornaram possível a conjugação de dois sonhos antigos de Feliciano, materializando-se no início do projeto sediado em Madrid. Primeiro, a mudança na sua vida profissional. A sua reforma do Ministério da Cultura de Espanha permitia-lhe então usar os conhecimentos e a experiência adquirida no meio cultural ao longo de anos, agora que dispunha de tempo. Por outro lado, a publicação de obras literárias de autores portugueses era um desejo de natureza pessoal, já que desde que é pessoa que tem relação próxima com Portugal, a sua gente e cultura. Nasceu em Tui (Galiza), a 200 metros da fronteira e desde cedo manifestou interesse e fascínio pela literatura lusófona.
Desde o 1º minuto estava decidido a dedicar bastante atenção à literatura portuguesa e a editorial iria seguramente publicar, à parte de autores espanhóis, autores lusófonos. Procurava então dar a conhecer a literatura portuguesa em terras espanholas, já que o público em geral conhecia apenas os nomes incontornáveis como Saramago e Pessoa. Foi, portanto, com naturalidade que os 4 primeiros livros publicados foram efetivamente todos de autores portugueses, destacando-se uma obra de Fernando Pessoa e outra de Almada Negreiros.
A editorial vem crescendo progressivamente e de forma estruturada, num esforço por pesquisar e continuar a alargar a variada oferta. Atualmente procura dar visibilidade a autores reconhecidos e também a novas caras. José Luís Peixoto, Lídia Jorge, Dulce Maria Cardoso, Rui Lage, Mário Cláudio e Antero de Quental são alguns dos nomes que formam parte do “sumarento” catálogo.
Estando de ótima saúde, a editorial projeta já o seu futuro mais próximo. Continuar a divulgar e promover o projeto junto de novos leitores, entidades e apoios são algumas das metas a alcançar. A reedição de “A Costa dos Murmúrios”, de Lídia Jorge, para retocar detalhes da anterior edição e a tradução com posterior publicação de “Adoecer”, de Hélia Correia são projetos já em marcha. Numa linha com orientação mais académica, está também a trabalhar-se na publicação das “Cartas Peninsulares” do Professor Oliveira Martins e um projeto relacionado com a História de Portugal da autoria do Professor António Apolinário Lourenço (Universidade de Coimbra).
Sonhos? Desejos… Feliciano pestaneja, respira e revela que publicar alguns dos romances de Camilo Castelo Branco, que leu durante a sua juventude, seria algo belo e que lhe daria muitíssimo prazer concretizar. Nova pausa e um suspiro… “Gostaria que o prémio de literatura Príncipe das Astúrias possa, algum dia, ser atribuído a um português ou uma portuguesa”. Não nos parece nada descabido, além de que manifesta o enorme carinho que Feliciano nutre pelos “irmãos” do outro lado da fronteira.
Querem saber mais sobre este projeto? Para além da web oficial, já disponível no primeiro parágrafo, podem consultar a conta da editorial no Instagram.
3. Sem limites
Fomos conhecer melhor a revista académicas Limite. Generosa e gentilmente o Professor Juan María Carrasco e a Professora Maria Luísa Leal, ambos docentes no âmbito no ensino da língua e literatura portuguesa pela Universidad de Extremadura, acederam a disponibilizar-nos um pouco do seu valioso tempo para contar-nos a história da revista. O fundador e Diretor da Limite, acompanhado pela Secretária (que partilha as responsabilidades na publicação com a Professora María Jesús Fernández) foram ao detalhe e não deixaram nada por dizer.
A origem da Limite remonta ao período de 2006/2007, associada ao início da oferta da licenciatura de português na UNEX. Desde o início tem claro o objetivo de promover o estudo e divulgação da língua e literatura portuguesas, sobretudo direcionando os seus conteúdos ao público do mundo académico. Começou por publicar 1 número anual, mas o aumento de material conduziu à necessidade de passar a publicar 2 números anuais. A publicação compõe-se por duas partes ou secções – o monográfico, associado a um tema/assunto específico e a variedade onde constam entre outros artigos, as recensões críticas de obras literárias. Participam na sua estrutura organizacional a Direção (composta por 3 membros – o Diretor e as 2 Secretárias anteriormente mencionadas), o Conselho Científico (que conta, entre outros membros, com a participação especial de Nuno Júdice) e um grupo de especialistas nas várias matérias. A mecânica de seleção de conteúdos assenta na receção de artigos que são avaliados por dois avaliadores eleitos de forma aleatória e uma vez aceites pelo Conselho Científico, são publicados.
Atualmente, a equipa da revista está a ultimar os detalhes da edição de 2020, cujo tema principal é a tradução no ensino da língua (trabalho que conta com a coordenação da Professora Ana Belén García Benito, da UNEX, e da Professora Ana Diaz, da Universidade de Granada). Já na calha, a edição de 2021 que estará dedicada aos poetas chamados “menores”. Nela serão abordadas questões como o cânone literário, o valor literário, as edições de autor, a obra de Raul de Carvalho – poeta incómodo e cofundador da revista Árvore, os poetas da “geração de cinquenta” e o pouco reconhecimento global que têm merecido alguns poetas com grande reconhecimento regional.
De olho no futuro, o desejo de estar em ainda mais bases de dados de reconhecido prestígio e desse modo, tornar a Limite num “chamariz” de participação de talento (investigadores e especialistas do mundo académico)
A revista está aberta com todas as suas edições disponíveis na web oficial e pode também ser adquirida a versão impressa tipograficamente através de encomenda (já que se optou por uma edição limitada de modo a proteger o ambiente).
Vão lá espreitar!
4. Cantemos juntos
Aproveitemos esta edição com tom sinergético para escutar, cantar e dançar alguns temas que reúnem artistas espanhóis e lusófonos, gerando canções formidáveis.
Meu fado meu – Mariza + Miguel Poveda
Mi condena – Vic Mirallas + MARO
Não sou perfeito – Nininho + Nya de la Rubia
Perdóname – Pablo Alborán + Carminho
(in)Raizados
Esta secção está dedicada a contar as aventuras e desventuras, as peripécias e o quotidiano de pessoas fantásticas que nasceram em países lusófonos e agora andam pelo mundo fora fazendo pela vida, fazendo a sua vida e espalhando a língua portuguesa pelos 4 cantos do globo.
Hoje a Pilar Medrano conta-nos a estória do seu amigo Roger Weber, um carioca de gema sediado na Andaluzia.
Rogerio Reis Weber (55 años) – Gines (Sevilha)- Espanha
Embora tenha nascido no Brasil, Roger é o resultado de uma perfeita simbiose de raízes diversas. Atualmente vive em Gines, no Aljarafe sevilhano, para o qual se mudou por amor em 2016. Trouxe com ele o calor, a espiritualidade e a cor de Maricá (Rio de Janeiro).
É membro de uma grande família cuja procedência nos leva a dar uma voltinha pelo mundo. A partir da Europa, o “velho mundo” como se lhe costuma chamar, recebeu influências de Coimbra pela mão da avó materna. Por outro lado, da Alemanha recebeu influências do avô paterno que nascera no início do século XX no barco durante a travessia em que a família viajava procurando uma nova vida no Brasil. Por sua vez, “Catuta” (a avó paterna) tem raízes na América e em África. É mameluca, filha de pai negro que escapara à escravidão e de mãe indígena do Brasil. Era uma mulher bondosa, amável e inteligente. Marcou profundamente e de forma positiva Roger, o seu neto favorito.
Como facilmente se adivinhava, Roger trabalha desde sempre em prol de um mundo sem fronteiras, que defenda a diversidade e a igualdade de direitos, um lugar mais justo e espiritual. Desde muito jovem milita no movimento humanista e participa em projetos neste âmbito pela Europa, América e África.
Jornalista, locutor, ator, editor, cinéfilo… tem estado sempre ligado ao mundo da cultura. Um conversador nato, sempre repleto de reflexões interessantes, sabe ouvir com atenção e sem pressa.
Quando chegou a Sevilha organizou na cidade a primeira edição do Festival de Cine por la No-violencia Activa-FICNOVA, na capital andaluza. Atualmente é um dos editores do Cuaderno de Cultura de Pressenza, uma agência de notícias presente em 24 países e que publica os seus artigos em 8 idiomas.
És ou conheces algum (in)Raizado sobre quem possamos contar estórias aqui no LUSO QUÊ?? Escreve um breve texto com esse relato (máximo uma página A4, aproximadamente 450 palavras), junta uma foto do(s) protagonista(s) e envia-o por escrito para o endereço eletrónico disponível em O vosso espaço. Se és daquelas pessoas que dizem não ter jeito para escrever, contacta-nos e nós ajudamos-te a dar forma à aventura que tens para contar – as boas estórias não se podem perder!
Discos Pedidos!
Hoje dançamos e cantamos com…
Cesar Carceglia (Córdoba, Argentina)
Gosto imenso desta canção. Quando soube que estava dedicada à filha do Caetano, fiquei surpreendido e pensei automaticamente nas minhas. E assim acontece sempre que a escuto.
Sozinho – Caetano Veloso
Nuria Silveira Torremocha (Cáceres, Espanha)
A minha canção favorita é DESFADO, da cantora Ana Moura, ouvi a canção há oito anos, quando eu me divorciei… Então um grande amigo meu ensinou-me com essa canção que eu podia estar mais feliz com a minha nova situação. Eu sei que vocês gostarão muito!
Desfado – Ana Moura
Ivan Romero (Sevilha, Espanha)
Eu queria partilhar a minha canção em português. Não é a minha favorita, mas tenho-a ouvido muitíssimo porque durante algum tempo não podia tirá-la da minha cabeça.
Só vendo que beleza (Marambaia) – Maria Betânia + Omara Portuondo
Nesta secção desejamos que partilhem connosco as vossas canções favoritas. O que é bom é para se partilhar! Podem contar estórias relacionadas com elas, quando as ouviram por primeira vez, quem ou que situações vos recordam, situações em concertos, etc. Como? Muito simples. Basta enviar-nos um e-mail para info@lusoque.es com o vosso nome e o local de onde nos escrevem, o título da canção e o seu autor/grupo/projeto e trataremos de a publicar junto ao respetivo vídeo.
Agradecimentos
Muito obrigado pela vossa colaboração e pelos “grãos de areia” lançados ao projeto:
- João Antunes
- Joca Marino
- Nacho Flores
- Pedro Sereno
- Pilar Pino
Editorial
Atentos às atuais circunstâncias, a tão badalada “nova normalidade”, e também atendendo às observações de alguns leitores que têm por vezes dificuldade em acompanhar todos os artigos das nossas edições, esta semana trazemos uma proposta mais “light”.
Basicamente, pensámos em reunir conteúdos variados que vos permitem disfrutar do fim-de-semana tendo à disposição atividades capazes de estimular os 5 sentidos. Sabemos que uma das coisas que nos tem custado mais não poder realizar é viajar. Seja como aventureiros ou turistas, seja profissionalmente ou, talvez mais comum, para estar com amigos e família. Está quase… os sinais são positivos e animadores. Mas, entretanto, ainda vai sendo aconselhável ter alguma prudência, pelo que inevitavelmente passamos bastante tempo em casa.
Trazemos, então, propostas divididas em 5 dimensões: para ver, para ouvir, para ler, para fazer e para comer. Têm um leque bastante variado de atividades que podem realizar. Algo que nos pareceu interessante é o facto de algumas delas poderem ser efetuadas em simultâneo, sendo que nalguns casos são até complementárias. Esperamos e desejamos que gostem da versátil seleção e passem bons momentos. Preparem o sofá, as almofadas, os auriculares ou colunas, a televisão e os dispositivos. Há que ter também à mão os óculos, alguma guloseima, almofadas para amparar o pescoço e os comandos necessários à navegação. Vamos lá explorar e descobrir!
Os (in)Raizados esta semana mergulham novamente numa pausa rejuvenescedora e criadora de intriga. Quem será o próximo ou a próxima?
Mais uma semana cheia Discos Pedidos!. O que é que os nossos leitores andam a ouvir?
Até já!
1. VER
Nesta estação encontramos programas que nos convidam a sentar-nos, recostar-nos comodamente para assistir a verdadeiras joias.
Não é obrigatório, mas viajar com um rumo e caminho definido evita surpresas e imprevistos. Há quem prefira planificar bem antes de pôr o pé. O “Rumos”, programa emitido ao longo de anos na RTP África, sempre dedicado às culturas lusófonas afigura-se como uma aposta segura para viajar dessa maneira. Aqui dispomos de centenas de episódios onde encontramos entrevistas com uma variedade de personagens e importantes intervenientes sobretudo da África lusófona, enquanto assistimos também a projetos artísticos e culturais que se vêm desenvolvendo não apenas em território africano. Uma chuva de fabulosas referências artísticas e culturais, a não perder. Decidimos sugerir-vos o episódio cujo foco recai sobre o multifacetado artista guineense, Ernesto Dabó. (31 minutos)
Rumos Episódio 24 – de 13 Jun 2018 – RTP Play – RTP
Querem viajar e pensar, refletir sobre temas estruturais e fundamentais da sociedade atual? Vamos a isso com um painel de luxo que numa parceria com a Sociedade Portuguesa de Autores reúne o físico e professor universitário Carlos Fiolhais, a escritora Dulce Maria Cardoso e o musicólogo e também professor universitário Rui Vieira Nery. No “Original é a cultura” toda a conversa moderada por Cristina Ovídio. Neste episódio fala-se sobre como a cultura pode funcionar com uma arma. Os poderes, os contra-poderes, a censura, as pressões sociais, a memória… está lá tudo. (37 minutos)
Original é a cultura – A cultura é uma arma?
Lembram-se do apresentador/cozinheiro de “Na roça com os tachos”? Pois, no LUSO QUÊ? #1 ficámos a conhecer a habilidade gastronómica e comunicativa empregue por João Carlos Silva. O seu bom humor e abrangente conhecimento sobre a cultura São Tomense estão de volta no programa “Desconversando”, apresentado por Abel Veiga. Ao longo dos episódios somos convidados, através da “amena cavaqueira” que se estabelece entre ambos, a conhecer aprofundadamente a cultura fantástica de São Tomé e Príncipe. Propomos uma caminhada em estilo de passeio cultural através do episódio sobre o artística plástico São Tomense, Kwame Sousa. (25 minutos)
Desconversando de 02 Abr 2021 – RTP Play – RTP
E uma travessia pelas mãos de Diogo Infante no seu bem afamado “Cuidado com a língua”? Sim, vamos por aí com este magnífico e exímio comunicador visitar terras portuguesas enquanto aprendemos mais sobre a língua portuguesa. As palavras vêm connosco por aí fora. Vamos conhecê-las, a origem, a sua raiz e etimologia e esclarecer possíveis erros ou más utilizações que habitualmente se fazem com elas. Neste episódio passeamos pelas vinhas e vinhedos descobrindo os perfumes e magníficos sabores das melhores castas. (15 minutos)
Cuidado com a língua – 5 de maio de 2020
2. OUVIR
Auriculares ou grandes sistemas de colunas a postos! Ajeitamos as almofadas no sofá e recostamo-nos para fruir destas maravilhosas pérolas.
Viajamos? Embora lá! Mas vamos com alguém que está bastante acostumado a andar de um lado para o outro e que também usa genialmente a sua arte e talento, através da literatura, para nos levar a viajar através dos seus livros. O consagrado escritor José Luís Peixoto leva-nos por aí, contando e narrando ou lendo. “Tanto Mundo”. Não percam este podcast maravilhoso onde sentimos que estamos lá, nos sítios fantásticos que são objeto de atenção em cada episódio, em modo de conversa da boa. Para arrancar deixamos o mais recente episódio, onde se revelam os segredos da ilha Graciosa, nos Açores. (13 minutos)
Tanto Mundo de 08 Abr 2021 – RTP Play – RTP
Uma boa viagem costuma pedir livros como companhia privilegiada. Pois “À volta dos livros” é uma excelente opção para levar no bolso durante as nossas odisseias. Sentadinhos no sofá podemos ouvir escritores lusófonos conversando sobre as suas obras, literatura e outros assuntos. Cada convidado interage fluidamente com a entrevistadora, contando, explicando e comunicando o que pensa, como vê o mundo… Cada conversa é fragmentada em cinco partes de 3 a 5 minutos, o que permite ir ouvindo em distintos momentos ou, se estivermos no “fluxo”, paparmos tudo numa só dentada. Para aguçar o apetite fica o início da conversa com o escritor angolano, Ondjaki. (5 minutos)
À Volta dos Livros de 14 Set 2020 – RTP Play – RTP
No ano de 1994 foi lançado um disco improvável que viria a mudar significativamente o panorama musical português. Pedro Abrunhosa, acompanhado pelos Bandemónio, sacou da manga o “Viagens”. Era um disco atrevido com uma sonoridade nunca antes experimentada de forma tão coesa e coerente em Portugal. Nele canta-se e conta-se, numa miscelânea de estilos e géneros musicais ora bailantes ora introspetivos, uma narrativa muito pessoal derivada de inúmeras e longas viagens feitas pelo intérprete e compositor oriundo do Porto. Aquele look meio estrambólico, misto de reggae boy com jazz master mas sempre lúcido e eloquente, foi capaz de gerar uma identificação incrível por parte do público. Um disco que ficou para a história, um marco artístico evidente goste-se mais ou menos dele. Ficam pois como sugestão duas das faixas deste singular álbum. Boas viagens pela “estrada” da “fantasia”! (5 minutos e 4 minutos)
Estrada – Pedro Abrunhosa e os Bandemónio
Fantasia – Pedro Abrunhosa e os Bandemónio
3. LER
Livros e revistas para ler, trocar e emprestar. Falar sobre eles e apoiar a cabeça ou simplesmente empilhá-los e sentarmo-nos neles. Veículos que nos permitem viajar sem sair do sítio seja em redes de pano e corda, em cadeiras de baloiço, relaxados na cama ou esticados no sofá… deitados no chão também vale. Toca a virar as páginas!
Se há alguém apaixonado por viagens é sem dúvida Gonçalo Cadilhe. Desde muito jovem que tem dedicado a vida a trotar mundo e ir documentando as suas jornadas de maneira a poder partilhá-las connosco. O auto denominado escritor e viajante vem publicando há vários anos as suas incríveis estórias quer em revistas e jornais de elevada reputação como por exemplo o Expresso e também através de vários livros. Vão dar uma vista de olhos ao seu trabalho na web oficial e deliciem-se embarcados nas imagens e palavras.
Ficaram sem ideias. Para onde ir, que sítios visitar e explorar? Deixem a revista “Volta ao mundo” levar-vos por aí. Têm disponíveis artigos e crónicas sobre viagens a todos os sítios que possam imaginar. Todas as dicas e sugestões para irmos preparando a próxima viagem pós “nova normalidade”. Entretanto, café ou chá na mão e rabinho no sofá viajamos com a mente e a imaginação que não é coisa pouca.
Vamos ainda desbravar caminho à conversa com escritores e escritoras lusófonos. Não lendo, mas ouvindo sobre leitura e literatura. Folheando páginas sonoras. Numa parceria entre o Camões I.P. e a Fundação Calouste Gulbenkian, através do Instituto Camões no Brasil, foi criado o podcast “Cruzamentos Literários” (disponível gratuitamente no Spotify). Nele os “gigantes” literários falam sobre o seu percurso literário, sobre a sua vida, experiências e obras num tom descontraído. Lêem-se passagens e excertos dos seus livros e há espaço para explicarem claramente opções ou decisões tomadas a nível artístico e também abrir alguns “melões” para jubilo dos seus leitores. Dos vários episódios disponíveis optámos pelo que está dedicado a um dos nossos poetas favoritos, o cabo-verdiano, José Luiz Tavares. (58 minutos).
Cruzamentos Literários – José Luiz Tavares
4. FAZER
Arregacem as mangas e vamos lá tratar de nos divertirmos enquanto fazemos ou criamos algo com as nossas mãos. Propomos um regresso às viagens através da execução e produção. Nesta era em que vivemos e tudo aparece frequentemente feito e pronto a usar, achamos interessante desafiar-vos a “sujar” as mãos. Ao concretizar algo através de tarefas entramos numa frequência muito particular em que contactamos com o nosso interior e aprendemos, gerando satisfação. As atividades que propomos podem também ser realizadas em cooperação com a família, o que promove um convívio salutar. Vamos passar pela oriental arte ancestral da dobragem de papel, pela construção de uma bússola (evitemos andar desnorteados) e alguns projetos feitos em e com madeira.
Origami – como fazer um Tsuru
Fazer uma bússola é mais fácil do que pensas
12 projetos incrivelmente simples com madeira
5. COMER
Tanta viagem abre o apetite. Tomem lá umas quantas receitas para sanarem o buraco na barriga. O “casal mistério” é composto por um experiente viajante e uma genial escritora. Dominam bem ambas as atividades e trazem sempre receitas deliciosas, fáceis de fazer e com uma excelente apresentação (vídeos curtos e apelativos com a receita completa na descrição). Vão dar umas voltinhas com elas. Boas “lutas” com os tachos!
Massa recheada com frango, queijo e molho Alfredo
Lombos de bacalhau com molho de mostarda e crème fraîche
Açorda de pão servida dentro de um pão alentejano
Bolo de chocolate só com 2 ingredientes
(in)Raizados
Esta secção está dedicada a contar as aventuras e desventuras, as peripécias e o quotidiano de pessoas fantásticas que nasceram em países lusófonos e agora andam pelo mundo fora fazendo pela vida e espalhando a língua portuguesa pelos 4 cantos do globo.
És ou conheces algum (in)Raizado sobre quem possamos contar estórias aqui no LUSO QUÊ?? Escreve um breve texto com esse relato (máximo uma página A4, aproximadamente 450 palavras), junta uma foto do(s) protagonista(s) e envia-o por escrito para o endereço eletrónico disponível em O vosso espaço. Se és daquelas pessoas que dizem não ter jeito para escrever, contacta-nos e nós ajudamos-te a dar forma à aventura que tens para contar – as boas estórias não se podem perder!
Discos Pedidos!
Hoje dançamos e cantamos com…
Begoña Feijoo (Santiago de Compostela, Espanha)
Escolhi uma canção que tem recordações muito especiais para mim e para o Manu. É uma canção que escutávamos quando nos conhecemos e depois de nos casarmos ele fez uma recompilação dos melhores momentos do casamento usando esta bela música como banda sonora. Acabo de ouvi-la agora mesmo e é uma canção que me dá “good vibes” e me recorda como estou apaixonadíssima pelo meu “chico”.
Os meus versos favoritos:
“Eu sou de ninguém
Eu sou de todo mundo
E todo mundo e meu também”
“Tou te querendo como ninguém
Tou te querendo como se quer”
Já sei namorar – Tribalistas
Eva Carballar (Gines, Espanha)
Para mim a música portuguesa tem um “não sei quê” especial que me fascina e me amarra. Na minha época universitária, há muiiiitos anos, Dulce Pontes, Amália Rodrigues ou Cesária Évora foram grandes referências. Foram tempos de abrir a mente, de observar o mundo como se pudéssemos transformá-lo, de reivindicar desde movimentos pacíficos… de ir moldando a pessoa que hoje sou. Gosto imenso de todas, mas hoje apetece-me mesmo ouvir a “Canção do Mar”.
“Vem saber se o mar terá razão
Vem cá ver bailar meu coração”.
Canção do Mar – Dulce Pontes
Esther Pino (Madrid, Espanha)
Não encontrei algo particular nesta canção que realmente justifique claramente a minha escolha… podia até ter sido outra de tantas que escuto frequentemente. Mas finalmente acabei por escolhê-la, pois sempre que a ouço fica-me no ouvido. Gosto bastante dela. Espero que também gostem!
Tonada de la luna llena – Caetano Veloso
Nesta secção desejamos que partilhem connosco as vossas canções favoritas. O que é bom é para se partilhar! Podem contar estórias relacionadas com elas, quando as ouviram por primeira vez, quem ou que situações vos recordam, situações em concertos, etc. Como? Muito simples. Basta enviar-nos um e-mail para info@lusoque.es com o vosso nome e o local de onde nos escrevem, o título da canção e o seu autor/grupo/projeto e trataremos de a publicar junto ao respetivo vídeo.
Agradecimentos
Muito obrigado pela vossa colaboração e pelos “grãos de areia” lançados ao projeto:
- João Antunes
- Joca Marino
- Nacho Flores
- Pedro Sereno
- Pilar Pino
Prefácio
Cá estamos, celebrando e vivendo o dia mundial do livro e do direito de autor. Vamos falar sobre os livros e a leitura em homenagem aos textos, aos autores e autoras e a todxs os que de alguma forma têm tornado possível a criação e distribuição desses objetos extraordinários que são os livros. Este número vai dedicado a todxs os que adoram ler e fruir dos livros!
Segundo o dicionário Priberam online, um livro é “um conjunto de folhas de papel, em branco, escritas ou impressas, soltas ou cosidas, em brochura ou encadenadas; uma obra organizada em páginas, manuscrita, impressa ou digital.” Sim, é isto e também mais, muito mais. É aprender, recordar, viver, experienciar, disfrutar, partilhar…
Vamos dar uma volta, um passeio pelo mundo dos livros. Falaremos de leitura e de leitores. Dos habitats naturais dos livros – as bibliotecas, livrarias e feiras. De como se fazem. Dos áudio livros e podcasts sobre livros e dedicados aos autores e às leituras.
Esperamos que esta edição seja daquelas lombadas que se destacarão nas prateleiras da vossa memória por muito tempo.
Os (in)Raizados esta semana mantêm-se novamente adormecidos. Quem será o próximo ou a próxima?
Mais uma semana cheia Discos Pedidos!. O que é que os nossos leitores andam a ouvir?
Até já!
Capítulo I
Sabem como como se faz um livro? Vamos lá espreitar duas sugestões. A primeira é uma visão mais editorial, em que o livro se perspetiva de forma industrial e cuja produção se faz em grande escala. Já a segunda, é uma proposta caseira de como criar um livro. Ficaremos a saber mais sobre a criação deste maravilhoso objeto e talvez até vos apeteça escrever e/ou fazer um.
Como se faz um livro? – Areal (7 min.)
Encadernação artesanal (10 min.)
É um lugar comum e também sabedoria popular, que a leitura deve fomentar-se desde terna idade. Na cidade do livro, em São Paulo, as crianças têm a oportunidade de apaixonar-se pelo mundo dos livros desde bem pequeninos.
Visita à cidade do livro (5 min.)
Capítulo II
Onde moram os livros? Para além de ter urbanizações inteiras nas estantes das nossas casas… Vamos lá espreitar as bibliotecas, livrarias e feiras onde os livros são os grandes protagonistas, orgulhosos moradores e presidentes do condomínio das páginas, capas, ilustrações, lombadas e afins.
Uma primeira paragem para espreitar as bibliotecas nacionais de Portugal e do Brasil e também algumas das bibliotecas mais majestosas do mundo.
Passemos pela biblioteca nacional de Portugal para ver e ouvir atentamente como um especialista nos fala sobre uma obra muito especial que se encontra nas instalações deste importante centro cultural.
A bíblia de Gutenberg (4 min.)
Em seguida podemos visitar a mais antiga instituição cultural do Brasil, a sua biblioteca nacional. Ficaremos a saber mais sobre um edifício com uma história rica e elevadíssima relevância no desenvolvimento cultural brasileiro.
Visita à biblioteca nacional (7 min.)
Não poderíamos deixar de ir dar uma vista de olhos à livraria mais antiga do mundo. Falamos, claro está, da livraria Bertrand. Fundada em 1732 e situada no Chiado (Lisboa), foi em 2011 registada no livro do Guiness como a mais antiga livraria do mundo.
A livraria Bertrand entrou no Guiness – breve visita (2 min.)
Nas circunstâncias atuais, devido à nova normalidade em que vivemos desde o início do ano transato, as feiras do livro sofreram naturalmente enormes alterações na forma como se realizam. Quisemos, portanto, fazer-lhes uma pequena homenagem. Aqui ficam imagens da edição da Feira do Livro do Porto de 2020, numa visita pela mão do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Fala-se também de “liberdade”, a dois dias de celebrar-se em Portugal mais um 25 de Abril.
Feira do livro do Porto 2020 (5 min.)
Concluímos esta passagem pelo segundo capítulo com um breve passeio por 10 bibliotecas muito especiais.
Top 10 das maiores bibliotecas do mundo (3 min.)
Capítulo III
Vamos lá tratar dessas leituras…
Sabemos bem que é frequente encontrar dificuldade para definir momentos de leitura, no atual rame rame diário em que vivemos a toda a velocidade. Rita França Ferreira sabe disso e criou o “desculpas para ler”, um espaço onde a leitura e a escrita são reis e senhores. Vale totalmente passar por lá (virtualmente falando) e deixar-se levar pelas fantásticas propostas disponíveis.
Um dos nossos podcasts favoritos sobre o universo da literatura é o “Daria um livro” (disponível no Spotify). Neste programa, o moderador Pedro Pacífico (criador do perfil literário Bookster no instagram) entrevista e conversa com personalidades relacionadas com a literatura. Há já uma variedade enorme de episódios disponíveis, mas queremos partilhar convosco a conversa com Leandro Karnal (60 min.) onde se fala sem falsos pretensiosismos e de forma descontraída e interessante sobre literatura, leitura, livros e muito mais.
Uma outra proposta é o podcast “Grande Leitores” onde Isabel Lucas entra em bibliotecas pessoais para uma conversa sobre a experiência de leitura. Dos vários episódios disponíveis selecionámos o que se dedica à reflexão sobre o que torna um livro bom.
Grandes leitores – o que é um bom livro? (67 min.) Grandes Leitores de 12 Mar 2021 – RTP Play – RTP
Vai um “Mia”? Quem não gosta? Bom, decidimos presentear-vos com a entrevista ao formidável e singular escritor moçambicano, Mia Couto, que poderão escutar através do podcast “À volta dos livros”. A conversa deliciosa com este cativante escritor e contador de estórias encontra-se dividida em 5 trechos do programa dedicado aos livros e aos seus autores.
À volta dos livros com Mia Couto (4 min.) https://www.rtp.pt/play/p312/e505300/a-volta-dos-livros
Capítulo IV
Ler sem ler é já possível há vários anos. Embora se trate de uma experiência diferente, os áudio livros têm feito as delícias de muitos nas últimas décadas. Não os entendemos como substitutos, mas antes como complementares aos livros em papel. Seja como for, apresentam vantagens indiscutíveis como a possibilidade de “ler” enquanto se realiza outra atividade em simultâneo e também o facto de serem mais económicos e não ocuparem espaço. Deixamos aqui algumas propostas de projetos onde podem aceder a áudio livros de diferentes tipos e de autores variados: audible, tocalivros e áudio livros grátis de spotify.
Já não houve tempo… Numa futura edição falaremos também sobre a realidade dos ebooks e de como apresentam vantagens e desvantagens que devem ser tidas em conta. Uma coisa é certa, estes dispositivos e esta nova forma de interagir com os livros e com a leitura chegaram para ficar.
Capítulo V
Há felizmente imensos livros para serem lidos. Todos os dias se publicam novos livros e todos os dias temos a oportunidade de descobrir uma referência bibliográfica que desconhecíamos. Muitos deles são excelentes e extraordinários, outros nem tanto. Mas por vezes é aborrecido ou pedante ouvir alguém que pretende ter o conhecimento absoluto e final sobre “quais” são os livros que temos mesmo de ler, sob a pena de sermos pessoas menores se não o fizermos. Talvez por isso não quisemos atrever-nos a fazer-vos sugestões literárias, mas deixamo-vos um breve vídeo onde se comenta o tipo de livros que podem representar leituras relevantes para o nosso crescimento e evolução pessoal. Em todo o caso, a mensagem mais importante é mesmo: LEIAM!
8 tipos de livros que todo o mundo devia ler (9 min.)
(in)Raizados
Esta secção está dedicada a contar as aventuras e desventuras, as peripécias e o quotidiano de pessoas fantásticas que nasceram em países lusófonos e agora andam pelo mundo fora fazendo pela vida e espalhando a língua portuguesa pelos 4 cantos do globo.
És ou conheces algum (in)Raizado sobre quem possamos contar estórias aqui no LUSO QUÊ?? Escreve um breve texto com esse relato (máximo uma página A4, aproximadamente 450 palavras), junta uma foto do(s) protagonista(s) e envia-o por escrito para o endereço eletrónico disponível em O vosso espaço. Se és daquelas pessoas que dizem não ter jeito para escrever, contacta-nos e nós ajudamos-te a dar forma à aventura que tens para contar – as boas estórias não se podem perder!
Discos Pedidos!
Hoje dançamos e cantamos com…
Manuel Otero (Santiago de Compostela, Espanha)
Esta canção, quando a ouvi pela primeira vez, estava de viagem pelos Açores e recordou-me muito o amor que sinto pelas minhas “Begos” (a minha filha e a minha esposa com o mesmo nome – Begoña). Desde então é uma das minhas músicas favoritas.
A vida toda (4 min.)
Rita Veloso (Oeiras, Portugal)
Música que apela ao convívio e cheia de alto astral! Dá-me alento e vontade de ver esta pandemia terminar e poder reunir com os amigos numa noite divertida e repleta de música.
Casa de Bamba – Mart’nália em Samba! (feat. Martinho da Vila) (3 min.)
Nesta secção desejamos que partilhem connosco as vossas canções favoritas. O que é bom é para se partilhar! Podem contar estórias relacionadas com elas, quando as ouviram por primeira vez, quem ou que situações vos recordam, situações em concertos, etc. Como? Muito simples. Basta enviar-nos um e-mail para info@lusoque.es com o vosso nome e o local de onde nos escrevem, o título da canção e o seu autor/grupo/projeto e trataremos de a publicar junto ao respetivo vídeo.
Agradecimentos
Muito obrigado pela vossa colaboração e pelos “grãos de areia” lançados ao projeto:
- João Antunes
- Joca Marino
- Nacho Flores
- Pedro Sereno
- Pilar Pino
Editorial
No passado domingo celebrou-se, celebrámos, o “sonho” feito realidade naquele dia 25 de abril de 1974. Dia importante. Fundamental na identidade portuguesa. Exemplo de luta e triunfo nascidos do querer de um povo. Justiça. Prova de fé. Recordar sempre para manter a liberdade viva e sã. Sobretudo recordar para nunca esquecer. Recordar para continuar a realizar “abril”… mais e melhor.
Andámos de volta das celebrações com os olhos e ouvidos bem abertos. Ainda que há distância, atentos aos movimentos, aos discursos, às vozes que contaram. Revendo novamente a História e as estórias dos que viveram de perto, na primeira pessoa, os feitos daquele dia memorável.
E depois, quando a passou emoção do momento pensámos no que teríamos a dizer. O que contar? Não pretendemos contar novamente a História. Já foi feito inúmeras vezes por quem sabe bem do assunto. Está escrito, gravado, narrado, marcado a ferro e fogo. Então o que sobra para incluir aqui no nosso espaço “lusoqueano”?
Bom, iremos dar uma volta breve por algumas janelas da liberdade. Estórias, personagens, canções, frases célebres que formam parte do imaginário coletivo português e que de alguma forma podem até ter já transcendido a sua relação de proximidade com a revolução dos cravos, sendo já traços de identidade cultural.
Os (in)Raizados ficam novamente “fora de jogo”. Quem será o próximo ou a próxima?
Mais uma semana cheia Discos Pedidos!. O que é que os nossos leitores andam a ouvir?
Até já!
1. As paredes falam
Lembro-me se ser criança e ver a cidade de Lisboa repleta de desenhos coloridos nas paredes. Havia pessoas pintadas por todo o lado com as mãos erguidas em jeito de luta e exaltação. Trabalhadores e operários habitualmente. Ainda dava os primeiros passos na leitura e escrita, enquanto lia continuamente, sentado à janela do comboio da linha de Cascais ou caminhando pelas ruas da capital, “a luta continua”, “viva a reforma agrária”, “25 de abril sempre”, “fascismo nunca mais”. Tudo aquilo estava tão longe do “p e um a, pá” que me metiam pela goela abaixo diariamente na escola. Não percebia, mas fascinava-me pelas linhas e cores, pelo poder do grafismo tosco e em bruto que na maioria dos casos acompanhava as mensagens.
As paredes podem falar e até gritar. Elas isolam e prendem, mas também formam lares e dão conforto. Em Portugal elas foram as páginas dos livros que exaltavam o desejo do povo pela liberdade e ilustravam a luta que se travava por esta. Estávamos longe da técnica e exuberância que os graffiti apresentam atualmente, mas o poder da mensagem estava plenamente plasmado ali. Fica a homenagem em jeito de recordação.
Os murais do 25 de abril (2:57)
2. Três Marias
Quando não há liberdade de expressão as almas definham, o corpo entorpece ou na versão oposta busca incessantemente e com todas as forças havidas e por haver, justiça e mudança. Assim andaram os corpos e almas lusitanas durante quase 5 décadas até que finalmente o túnel fez-se luz.
Mares de histórias com guiões de repressão, medo e ódio, opressão, abuso de poder, processos de lavagem cerebral e afins há para contar durante o regime ditatorial de Salazar e Caetano. Lembramos hoje o que sucedeu quando três escritoras portuguesas escreveram um livro sobre a condição das mulheres ao longo da história. As “3 Marias”, como ficaram conhecidas Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa estavam longe de adivinhar que ao publicarem, em 1972, “Novas cartas portuguesas” estavam a dar um passo longo, a escancarar as portas para que o regime fascista as perseguisse e tentasse destruir publicamente sem dó nem piedade. A obra foi considerada “pornográfica” e um “atentado à moral pública e aos bons costumes”. Havia assuntos e temas tabu que eram censurados e o regime estava decidido a não deixar passar em branco este livro que tocava em feridas abertas como o colonialismo, o estatuto social e legal das mulheres no Estado Novo e a família católica. Dedo na ferida! Castigo!
Foram acusadas formalmente e tiveram de comparecer a julgamento. Durante o tempo que durou o processo foram perseguidas, ameaçadas e maltratadas, vendo a sua imagem e honra abaladas por alguns. Mas involuntariamente, tornavam-se globalmente conhecidas e davam passos importantíssimos no que respeita à liberdade de expressão e das mulheres em concreto. Sem ter sido sua decisão davam um gigantesco passo feminista. Gritava-se liberdade!
A revolução da madrugada de 25 de abril de 1974 veio pôr fim ao seu tormento, pondo um término a um processo judicial lamentável, ridículo e absurdo. Outros não tiveram tal fortuna.
Conheçam a história ao pormenor através do artigo do IOL online que nos serviu de fonte.
3. Armas (en)cravadas
O grafismo da revolução portuguesa é incrível. Tanques cobertos com gente. Militares abraçados ao povo. Armas e flores? Metralhadoras tamponadas com cravos? É uma metáfora impressionante, quando pensamos que tudo aconteceu sem sangue, nem mortos ou outras atrocidades que seriam previsíveis numa situação deste tipo.
Acaso, sorte, circunstâncias ou contexto. De tudo um pouco, talvez. Foi assim que Celeste Caeiro se viu embrulhada na história daquele dia 25 de abril de 1974. A culpa parece ter sido do cigarro que não tinha.
Segundo conta a própria, naquele dia o estabelecimento onde trabalhava não chegou a abrir. O patrão alertara todos os funcionários que havia uma revolução em marcha e que, portanto, deveriam regressar às suas casas. Era costume oferecer-se aos clientes da casa um cravo, pelo que todos os dias se compravam cravos frescos. Para que não se estragassem, o patrão ordenou que os levassem. Quando Celeste passou pela rua do Carmo, a caminho de casa, deparou-se com o “desfile” de tanques militares. Um dos soldados pediu-lhe um cigarro. Morreu de vergonha por não ter um para lhe dar e num gesto de emenda acabou por dar-lhe um cravo que ele prontamente enfiou na ponta do fúsil. Os companheiros soldados pediram-lhe mais cravos e o gesto repetiu-se.
Tapavam-se as metralhadoras, calavam-se as balas. Não chegaram a ser disparadas. Não foi necessário. Num gesto singelo e espontâneo, Celeste apelidava a revolução.
Conheçam a história ao pormenor através do artido do Jornal da Universidade do Porto que nos serviu de fonte.
4. Cantigas livres
São tantas. Começando com “Grândola”, o hino criado por Zeca Afonso, passando pela canção código “E depois do adeus” de Paulo de Carvalho e fazendo paragens nos trabalhos de Fausto, Fernando Tordo e tantos outros. Há uma mão cheia de verdadeiros tesouros cancioneiros que cantam a liberdade. O antes, o durante e o depois da luta.
Escolhemos deixar-vos dois temas que nos parecem belos e especiais. A imortal ”liberdade” (já com várias versões desde a sua criação) cantada pelo multifacetado Sérgio Godinho. Quisemos passar este “hino”, ode à liberdade, sublinhando a merecida homenagem que o artista recebeu no passado dia 25. Tocamos também a sentida homenagem que o projeto A garota Não fez a José Mário Branco. Recordar o ativista e pensador, para não o esquecermos. Para não esquecermos quanto custou recuperar a liberdade e o seu incalculável valor.
Liberdade – Sérgio Godinho (3:52)
Canção a José Mário Branco – A garota não (6:06)
5. Os capitães na tela
Pensando naqueles que possam desconhecer o guião da revolução, quais os seus principais protagonistas, como era o panorama político, económico e social daquele ido Portugal dos anos 70, fica a sugestão do filme “Capitães de Abril”, que ilustra muito bem o que aconteceu no dia da revolução dos cravos. O trabalho da realizadora Maria de Medeiros foi lançado no ano 2000 e é seguramente uma visão clara como poucas dos acontecimentos do dia memorável.
Lamentamos a qualidade do vídeo. Não foi possível encontrar o filme numa versão gratuita com melhor qualidade. Capitães de Abril (1:58:38)
(in)Raizados
Esta secção está dedicada a contar as aventuras e desventuras, as peripécias e o quotidiano de pessoas fantásticas que nasceram em países lusófonos e agora andam pelo mundo fora fazendo pela vida e espalhando a língua portuguesa pelos 4 cantos do globo.
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Discos Pedidos!
Hoje dançamos e cantamos com…
Manuel Rodríguez (Madrid, Espanha)
Gosto da canção Lisboa menina e moça porque tenho muitas saudades de voltar a Lisboa. cidade que eu conheço há muito tempo e que visitei imensas vezes e agora por causa da pandemia só posso acalmar a minha saudade de voltar com recordações e percorrer os seus lugares nas vozes de quem também tem sentido o que eu estou a sentir nesta altura.
Lisboa menina e moça – tributo a Carlos do Carmo
Jaime Spinola (Sevilla, Espanha)
Esta bela canção que reúne dois “gigantes” da música brasileira recorda-me uma etapa concreta das minhas vivências em Madrid.
Garota de Ipanema – Tom Jobim com Vinicius de Moraes
Nesta secção desejamos que partilhem connosco as vossas canções favoritas. O que é bom é para se partilhar! Podem contar estórias relacionadas com elas, quando as ouviram por primeira vez, quem ou que situações vos recordam, situações em concertos, etc. Como? Muito simples. Basta enviar-nos um e-mail para info@lusoque.es com o vosso nome e o local de onde nos escrevem, o título da canção e o seu autor/grupo/projeto e trataremos de a publicar junto ao respetivo vídeo.
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Editorial
E cá estamos! Mais uma semana “lusofoniando”. Semana especial, já que na passada quarta-feira, dia 5 de maio, se celebrou novamente o DIA MUNDIAL DA LÍNGUA PORTUGUESA e da LUSOFONIA, a matéria prima que motivou e justifica a nossa existência enquanto projeto LUSO QUÊ?.
É possível que alguns dos nossos leitores não saibam que a UNESCO definiu desde 2019 que se celebraria o dia mundial da língua portuguesa, tornando este idioma o primeiro de todo o globo a ter direito a uma celebração planetária. Esta resolução surgiu após várias movimentações e projetos internacionais realizados por entidades dos nove países que fazem parte da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) e também de outros, demonstrando clara e inequivocamente a singularidade desta bela língua e a enorme diversidade cultural que o português representa para a humanidade.
A língua portuguesa é o eixo de união e reunião de aproximadamente 260 milhões de falantes espalhados pelos 5 continentes, representando por isso mesmo uma riqueza histórica, cultural e artística absolutamente única. Quando dizemos ou pensamos “português”, enquanto idioma, estamos, pois, a mencionar gente, geografias e realidades diversas que assentam nesse ponto comum unificador que é a língua utilizada por todos para comunicar. Há diferenças e variantes? Obviamente. Contudo, são precisamente essas diferenças que devem ser admitidas, aceites e integradas para que a língua portuguesa continue a desenvolver-se harmoniosamente e seja de todxs e para todxs.
Nesta edição, trataremos de celebrar a língua portuguesa, na sua variedade e diversidade, trazendo-vos sugestões e propostas que vos permitirão contactar com estas realidades diversas que habitam a língua portuguesa. Vamos dar um passeio por diferentes expressões artísticas de geografias diversas, procurando dar corpo visível ao magnífico e riquíssimo universo lusófono.
Os (in)Raizados continuam na sua timidez à espera que “arrisquem” e decidam contar a vossa história. Quem será o próximo ou a próxima?
Mais uma semana cheia Discos Pedidos!. O que é que os nossos leitores andam ouvindo?
Até já!
1. Uma língua, tanto para unir
Começamos aquecendo os motores com a visualização do vídeo comemorativo que a CPLP preparou para este ano de 2021, a propósito do dia mundial da língua portuguesa. Formosa mensagem de união e respeito pela diversidade.
5 de maio – dia mundial da língua portuguesa (1:26)
2. O que é?
Mas o que é afinal a lusofonia? O projeto “Conexão Lusófona”, trata de explicar claramente o que significa este termo que habitualmente gera dúvidas sobre o seu significado. Vejam o fantástico vídeo, pleno de multiculturalidade e pluralidade. Podem seguir atentamente o trabalho desta organização na sua página oficial e também no Instagram e no Facebook.
O que é a lusofonia? (5:11)
3. Cruzando
Já conhecem os “Cruzamentos Literários”, um dos nossos podcast fetiche. Fica a proposta para ouvirem a edição especial (20:12) dedicada ao dia mundial língua portuguesa, onde se realizam leituras de trechos de brilhantes autores lusófonos previamente entrevistados no programa. Uma ementa repleta de delícias: Paulina Chiziane, Mário de Carvalho, Ana Maria Gonçalves, Pepetela, Cristóvão Tezza, José Luiz Tavares, José Luís Peixoto e Milton Hatoum. Múltiplas vozes, geografias diversificadas, uma mesma língua.
4. Olho à Camões
É comum dizer-se que a língua portuguesa é a língua de Camões. Obviamente, o português não nasceu apenas no poeta, a língua portuguesa é muito mais que isso, embora o contributo de Camões tenha sido fulcral na sua definição. Longe de querer criar confusão o polémica na questão dos donos da língua, tentamos aqui, com este documentário, mostrar-vos a dedicação de Luís Vaz de Camões, revendo a história da sua vida e obra, e o seu contributo fundamental para a evolução e desenvolvimento da língua portuguesa, numa perspetiva globalizante e globalizadora.
Grandes portugueses – Luís de Camões (48:59)
5. Os Pessoas em Viegas
A genialidade de um artista absolutamente devoto à língua portuguesa. Mário Viegas foi um dos maiores entusiastas da língua portuguesa. Conhecedor profundo do idioma e da literatura, polémico e incómodo. A voz inesquecível, a dicção, a prosódia exata e precisa nas suas intervenções. Neste programa trata Fernando Pessoa por tu, viajando pela ironia que o caracterizava e declama poetas do autor maior. Uma forma diferente de conhecer melhor um pouco do inesgotável Pessoa… ou devo dizer, dos Pessoas?. Deliciem-se!
Palavras Ditas – Guardador de Rebanhos – Mário Viegas (27:11)
6. O trota mundos
Sabemos que o multifacetado Ondjaki cria constantemente ambientes e atmosferas muito particulares, onde se refletem as vivências do escritor angolano que está acostumado a caminhar pelas ruas da lusofonia, já que ao longo da sua vida viveu em Angola, Brasil e Portugal (também em Nova Iorque e Itália, onde estudou). Fica uma breve entrevista feita pelo TDM (canal de Macau) onde podemos conhecer um pouco melhor o poeta angolano e a variedade de experiências que vem vivendo nos últimos anos, bem como o trabalho que está realizando e uma visão pessoal sobre a Angola atual.
TDM entrevista Ondjaki (35:20)
7. Clarice
Ainda hoje andamos procurando respostas para entender plenamente a vida e obra de Clarice Lispector, a genialmente enigmática jornalista e escritora brasileira nascida na Ucrânia. A sua obra e legado são absolutamente valiosos e representam uma importantíssima contribuição para a literatura escrita em português. Era difícil de apanhá-la numa entrevista, pelo que quisemos deixar aqui a última entrevista que concedeu em 1977 (uma das pouquíssimas que deu durante a sua vida).
Entrevista a Clarice Lispector no “Panorama” em 1977 (22:42)
8. Destino
Em jeito de acabamento final e detalhado, quisemos propor-vos ver ou rever “Fados” (2008), o premiado documentário de Carlos Saura, já que nele se plasma a variedade e diversidade musical cantada em português (de todos os cantinhos do globo) e em crioulo ou mesmo em dialetos, mostrando que há inúmeros fados no fado, inúmeras raízes no destino de cada um de nós. Boa viagem!
“Fados” – Carlos Saura (1:28:44)
9. Nobel em português
Não quisemos deixar de mencionar Saramago nesta edição, guardando uma valiosíssima reflexão para o final desta viagem. Não cabe aqui, hoje, contar mais sobre este escritor maior da língua portuguesa. Fica, portanto, aqui apenas uma breve reflexão do escritor sobre a linguagem e o uso das preciosas palavras, à beira-Tejo. Um alerta para o valor inestimável da comunicação através dos vocábulos. “Quantas mais palavras conhecemos, mais somos capazes de dizer o que pensamos e o que sentimos”. Na mouche!
Saramago, sobre a linguagem (2:48)
10. Lusófona FM
“Bora” divagar pelas sonoridades, ritmos e batidas que embalam a língua portuguesa cantada. Uma playlist celebrando a lusofonia. Boas canções a pedirem excelsas audições e um vibrante pezinho de dança.
Tanto – Aline Frazão
Stereossauro (feat. Camané) (3:52)
Tive Razão (ao vivo) – Seu Jorge (9:15)
Coisas Bunitas – Sara Tavares (5:04)
Foi assim – Tabanka Djaz (3:57)
(in)Raizados
Esta secção está dedicada a contar as aventuras e desventuras, as peripécias e o quotidiano de pessoas fantásticas que nasceram em países lusófonos e agora andam pelo mundo fora fazendo pela vida e espalhando a língua portuguesa pelos 4 cantos do globo.
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Discos Pedidos!
Hoje dançamos e cantamos com…
Ivan Romero (Sevilla, Espanha)
Esta é uma das canções da Maria Betânia que mais gosto, pois fala sobre uma possível forma de ter uma casa.
Casinha Branca – Maria Bethânia (2:15)
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Editorial
Após uma sanadora pausa regressamos cheios de vontade de vos trazer novas “inquietações”. Mantemos a “gana” de continuar a mostrar, a promover e divulgar o que de bom se vai fazendo ou fez no âmbito da lusofonia e da língua portuguesa.
Reformámos o formato da publicação com base nas vossas opiniões e sugestões e também tendo em conta novas ideias que tínhamos em mente. Há novidades deliciosas. A partir de hoje o LUSO QUÊ? Será quinzenal, sexta sim, sexta não. Acreditamos que assim poderemos aprofundar melhor os temas e também dar-vos tempo para digerir calmamente as leituras e ainda ter tempo para investigar ou explorar os assuntos que mais vos possam interessar.
As secções “(in)Raizados” e “Discos Pedidos” são substituídas por duas novidades. No espaço “lusoqueamos” convidamos todxs os leitores a interagirem connosco partilhando vídeos próprios relacionados com estas coisas da lusofonia e língua portuguesa. Na secção “LQ? FM” destacaremos canções e artistas da nossa playlist, juntando o vídeo da faixa e um breve comentário alusivo aos autores e ao tema em concreto.
Nesta edição quisemos fazer alusão ao dia internacional da diversidade cultural para o diálogo e o desenvolvimento, celebrado no passado dia 21 de maio. Gostaríamos de dar especial enfoque à potencialidade que a lusofonia apresenta no domínio da promoção da diversidade cultural, sendo ela mesma uma viva representação desta. Pela sua variedade e abrangência, a cultura lusófona representa-se indubitavelmente como um poderoso veículo capaz de conduzir-nos rumo a um mundo diverso, tolerante e flexível. No fundo, resultamos de misturas e mesclas. Precisamos de dialogar, escutar, participando ativamente no desenvolvimento do nosso planeta A, já que não há versão B.
Como vem sendo nosso costume iremos apresentar-vos propostas diversificadas de material que aponta nesta direção de diversidade. Procurámos mergulhar objetivamente nos detalhes, as pequenas coisas, que isoladamente poderiam parecer dificilmente incorporar-se numa mesma cultura partilhada por tantos milhões de pessoas espalhadas por todo o globo.
Até já!
1. E agora… o corá
A música lusófona é um autêntico paraíso no que diz respeito ao sem fim de instrumentos que se tocam nos diferentes géneros e estilos existentes. Só no universo das cordas existe uma variedade incrível. Um dos instrumentos mais fascinantes, fortemente presente na música produzida no continente africano, é o corá. Falar-vos sobre ele é um desejo antigo que finalmente decidimos levar avante.
O corá é feita através de uma arte ancestral que se reflete num trabalho manual com uso de madeira e uma cabaça de grandes dimensões. É uma caixa de ressonância constituída por meia cabaça coberta com pele de cabra e um longo cabo cilíndrico com cordas sobrepostas em grupos. A sua versão tradicional conta com 21 cordas, que podem ser tocadas com os dedos indicador e polegar de ambas as mãos.
Como dissemos antes, trata-se de um instrumento maioritariamente presente em muitos países africanos, embora seja possível encontrar a sua presença em projetos musicais oriundos de outros continentes. A Guiné-Bissau é indubitavelmente um dos berços deste singular instrumento e é deste lindo país que têm surgido alguns dos melhores tocadores de corá do mundo.
Deixo-vos aqui um vídeo onde o Mestre Galissa, um verdadeiro especialista, nos transmite vários detalhes sobre os segredos do corá, quais as principais evoluções que o instrumento tem apresentado, como se pode construir um corá, como aprender a tocá-la, o que fazer para preservar esta arte e passá-la a novas gerações e algumas outras dicas valiosíssimas. Poderão também assistir à interpretação de pequenos trechos musicais em que o Mestre toca e canta.
Galissa – Mestre de Corá (9:50)
Finalmente, para que possam apreciar a belíssima e inebriante sonoridade deste instrumento (o seu efeito sonoro é absolutamente incrível quando combinado e integrado com outros instrumentos), algumas canções com dedilhados que vos vão fazer planar sobre as nuvens.
“Teiça” – Ernesto Dabo (5:36)
“I Korson di Kim” – Eneida Marta (5:10)
2. Somos Zé
Vamos da Guiné-Bissau a Portugal num abrir e fechar de olhos para ficar a conhecer um dos ícones da caricatura e cerâmica portuguesa – Rafaelo Bordalo Pinheiro. Nascido em 1846 em Lisboa, foi um artista multifacetado tendo dividido o seu tempo e energia em várias ocupações. Trabalhou como escritor, desenhador, aguarelista, ilustrador, decorador, ceramista, jornalista… era um homem com interesse em muitas áreas. Queremos, no entanto, destacar a sua faceta de caricaturista político e social.
Revolucionou totalmente o estilo e a estética aplicados ao conceito de caricatura, usando um traço inovador. A adaptação da sua visão conceptual foi adaptada na cerâmica originando belas peças de uma beleza única. Encontram-se frequentemente elementos naturais como frutos, vegetais ou animais nos trabalhos de cerâmica inspirados na genialidade de Bordalo Pinheiro. No entanto, foram também as obras de caráter caricatural que deram uma maior visibilidade ao seu trabalho.
Na sua figura mais popular, o Zé Povinho, conseguiu projetar a imagem do povo português de uma forma simples mas simultaneamente fabulosa, atribuindo um rosto ao país. Ele continua a ser retratado até aos nossos dias e utilizado por diversos caricaturistas para revelar os podres da sociedade criticando de uma forma humorística os principais problemas sociais, políticos e económicos do país ao longo de sua história, caricaturando o povo português na sua característica de eterna revolta perante o abandono e esquecimento da classe política, embora pouco ou nada fazendo para alterar a situação. Atente-se na forma como se inscreve a expressão “toma” na figura acompanhando o gesto feito com os braços, aludindo a uma possível mensagem de rebeldia do povo contra os poderes instalados.
A RTP apresenta neste programa uma completa viagem pelo universo de um dos mais profícuos e completos artistas portugueses de sempre. Interessantíssimos detalhes sobre a sua vida e obra e também visitas ao museu com o seu nome (em Lisboa), à fábrica e à Casa Museu São Rafael (Caldas da Rainha). Não percam! Visita Guiada – Rafael Bordalo Pinheiro (39:40)
3. Batuquemos
E lá vamos de volta a África. Esticámos os braços, as mãos abertas, caminhámos a passos largos e chegámos a Cabo Verde. Vamos conhecer uma das ancestrais tradições deste belo país e da sua acolhedora gente. O batuque, batuku ou batuk foi em 2003 adotado pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade e representa um género musical e simultaneamente um género de dança cabo-verdiana.
No batuque participam as batukaderas e as kantaderas. As primeiras executam um batimento polirrítmico que é preenchido pela melodia vocal realizada pelas segundas, criando um todo musical de grande beleza. Como dança, o batuque tradicional desenrola-se segundo um ritual preciso. Numa sessão de batuque, um conjunto de intérpretes (quase sempre unicamente mulheres) organizam-se, havendo uma solista e um coro que desempenha a função de resposta, num cenário chamado terreru (não tem de ser um lugar específico, pode ser um quintal de uma casa ou uma praça pública). A peça musical começa com as executantes desempenhando o primeiro movimento, enquanto que uma das executantes dirige-se para o interior do círculo para efetuar a dança. Neste primeiro movimento a dança é feita apenas com o oscilar do corpo, com o movimento alternado das pernas a marcar o tempo forte do ritmo. No segundo movimento, enquanto as executantes interpretam o ritmo e o canto em uníssono, a executante que está a dançar muda a dança. Neste caso, a dança (chamada da ku tornu) é feita com um requebrar das ancas, conseguido através de flexões rápidas dos joelhos, acompanhando o ritmo. Quando a peça musical acaba, a executante que estava a dançar retira-se, outra vem substituí-la, e inicia-se uma nova peça musical. Estas interpretações podem arrastar-se por horas.
Vejam alguns exemplos desta incrível arte expressiva.
Batuco – Sima Nos e So Nos (ao vivo em Utrecht) (4:07)
Batukaderas Fidju Di Nhu Santu Amaru – Mãe (4:47)
Batukaderas Bandera – Homenagem a Amílcar Cabral (3:50)
Nem a rainha da Pop, Madonna, ficou indiferente a esta joia cultural tendo integrado o batuque no tema “Batuka” do seu álbum “X”(2019). Nesta fascinante canção a artista reúne kantaderas e batukeras e funde a tradição com a inovação da eletrónica. Inquietação resultante da época em que viveu em Lisboa e pôde absorver na primeira pessoa a cultura lusófona e as raízes africanas nela patentes.
Batuka – Madonna (6:01)
4. A alma não se pode prender
Nunca melhor dito. Vamos de África até ao Brasil, fazendo o mesmo percurso que fez a capoeira. Esta arte marcial surgiu no Brasil durante o século XVI, tendo sido desenvolvida por escravos africanos e seus descendentes nos quilombos.
A sua musicalidade é um dos aspetos que a torna única, enquanto arte marcial. Ela é várias coisas em simultâneo – desporto, cultura popular, arte e música – tendo sido considerada pela Unesco, em 2014, Património Cultural Imaterial da Humanidade.
É visualmente irresistível. Caracteriza-se por golpes e movimentos ágeis e complexos, utilizando primariamente chutes e rasteiras, além de cabeçadas, joelhadas, cotoveladas, acrobacias no solo ou aéreas. Hoje em dia há muitos milhares de capoeiristas espalhados por todo o mundo.
Ficam aqui dois registos em vídeo desta magnífica arte marcial, com a promessa de que voltaremos numa futura edição a este tema procurando aprofundá-lo mais.
Capoeira Brasil (2:55)
Roda – Mindinho e Valente (10:08)
5. Atarracha
E como hoje decidimos conscientemente andar num frenesim, vamos de volta a África. Vamos até Angola dar um pezinho de dança para terminar a nossa fabulosa viagem desta semana.
É neste belo país que ficamos a conhecer a kizomba. Trata-se de um estilo de dança originário de Angola, por vezes confundido com o zouk devido ao ritmo ser muito semelhante. A sua origem parece remontar aos anos 50, quando era comum dançar-se nas farras conhecidas como “kizombadas” ao som de ritmos tipicamente angolanos como o semba, o kompa ou o caduque.
Pode descrever-se como uma mescla de ritmos e de sabores, uma dança plena de calor e de sensualidade que propicia uma verdadeira cumplicidade e empatia entre os pares. É comum os pares usarem o termo “atarrachar” quando se referem ao ato de dançar kizomba. Tem evoluído muito ao longo dos anos e tem atualmente um número imenso de fãs em todo o globo.
Um vídeo com as melhores faixas de kizomba e outro com uma performance para que vejam a beleza e extrema sensualidade desta dança. Atarrachamos?
Kizomba Mix 2021 (56:58)
Isabelle & Felicien – Fusion Kizomba Roma 2018 (3:07)
Lusoqueamos?
Estreamos um novo espaço dedicado à interação com os nossos leitores. Nesta secção queremos partilhar, juntos, as descobertas lusófonas que cada um faz no âmbito do universo da lusofonia e da língua portuguesa.
Estás a aprender português como língua estrangeira? Leste um maravilhoso livro de um autor ou autora lusófona? Viste um filme que aborda um aspeto da cultura lusófona ou decorre em algum dos territórios em que se fala português? Conheceste alguém lusófono e queres contar-nos essa experiência? Estás ou vais viver num país lusófono? Descobriste uma bela canção e queres dançá-la connosco? Tiveste uma experiência gastronómica incrivelmente deliciosa em terras lusófonas?
Grava um vídeo (com a imagem em horizontal e sem exceder os 2 minutos) onde contes essa experiência. Depois faz-nos chegar a gravação (por email para info@lusoque.es, usando google drive, wetransfer, etc) e nós publicá-lo-emos aqui. Partilhemos as nossas narrativas pessoais sobre a lusofonia, em português! As boas estórias não se podem perder!
LQ? FM
Esta secção é também uma estreia neste regresso! Vem, de alguma forma, dar continuidade ao que já se fazia nos “Discos Pedidos” dos números anteriores, embora com um foco ligeiramente distinto.
Tendo como pano de fundo a nossa playlist no Spotify, com o título “Luso Quê? – Sons da Lusofonia”, usaremos este espaço para ir destacando as novas entradas, as descobertas felizes, as canções preferidas pelos nossos seguidores e também as sugestões que nos façam. Dancemos e cantemos juntos!
“Nha Morninha” – Pierre Aderne/Sara Tavares
O ritmo e cadência da morna com um toque brasileiro. Ora em português, ora em crioulo, somos embalados pela bela letra e embarcamos com alegria na magia sonora. Um ótimo exemplo de “mix” cultural.
“Lisboa é assim” – Rodrigo Costa Félix
Um fado com saborosos laivos afro-brasileiros que salpicam a melodia com as suas especiarias, aromas e perfumes exóticos. A letra retrata a mestiçagem secular que caracteriza as gentes que fazem a capital de Portugal. Bom passeio pelas ruas “alfacinhas”.
Agradecimentos
Muito obrigado pela vossa colaboração e pelos “grãos de areia” lançados ao projeto:
- João Antunes
- Joca Marino
- Nacho Flores
- Pedro Sereno
- Pilar Pino
Editorial
Viva Portugal. Viva Camões. Viva todas as comunidades portuguesas!
No rescaldo do dia 10 de junho achámos que um dia por ano é sobejamente pouco para celebrar tudo o que se tem feito ao longo de quase 900 anos de história. Quisemos por isso prolongar a celebração.
Sim, é sabido que nem tudo o que se fez correu bem, foi correto ou acertado. Cometeram-se, cometem-se e cometer-se-ão erros. Faz parte de existir e fazer acontecer de modo individual ou coletivo. É importante que sejam indesejados e involuntários. Oxalá saibamos antecipar-nos a eles, aprender quando se dão e fazer melhor.
Contudo, é certo que este povo conseguiu (vá lá saber-se como), a partir deste mínimo retângulo à beira-mar plantado, criar impossíveis e impensáveis. Portugal, os portugueses, bem como as ramificações lusófonas espalhadas pelo mundo formam inegavelmente parte da história universal.
É evidente que um país, uma nação, não se ergue e desenvolve sem pessoas. Convidamo-vos a dar um passeio pela vida e obra das gentes portuguesas. Uma vista de olha por figuras mais ou menos ilustres, conhecidos e desconhecidos, que ajudaram/ajudam a concretizar a terra das “quinas” com os seus feitos. Não cabem cá todxs. Nem aqui nem em lado algum, já que são tantos e tantas… ficam aqui as histórias de alguns deles.
Até já!
1. De olho nele
No dia 10 de Junho de 1579 faleceu o poeta de Portugal. Daí que a celebração do dia de Portugal e das comunidades portuguesas aconteça no mesmo dia em que se celebra a morte de Luís de Camões. É considerado uma das mais importantes figuras da literatura lusófona e um dos grandes poetas da tradição ocidental. O seu contributo para as fundações e pilares estruturantes da língua e literatura portuguesa foi fulcral e importantíssimo, sendo por esse motivo frequentemente apelidado de “pai” da língua portuguesa.
Na edição número 20 tínhamos já abordado a vida e obra desta figura incontornável da cultura e história portuguesas. Deem uma vista de olhos no artigo e documentário então publicados.
2. Por aqui, por acolá e por além
Um traço que caracteriza os portugueses é a facilidade que têm para adaptar-se a outros países e culturas quando emigram. Os lusitanos andaram desde sempre viajando pelo mundo fora, explorando, misturando-se, levando a cultura e tradições à volta do mundo e regressando com novos “inputs” artísticos e culturais que somariam à génese portuguesa. Viajando por mar, por terra ou ar houve e há atualmente muitos milhares de portugueses fazendo a sua vida em países espalhados pelo globo. O facto de viver fora de Portugal aumenta as saudades da portugalidade, o que conduz à vontade de perpetuar as tradições portuguesas nos países onde agora estão, procurando simultaneamente respeitar e adaptar-se à vida e cultura de acolhimento.
Estes portugueses e portuguesas “anónimos”, ilustres desconhecidos, enquanto tratam de fazer pela vida, ajudam à criação da expansão da cultura lusófona e até da língua portuguesa. São eles que passam para além fronteiras uma ideia de portugalidade, apoiando as comunidades espalhadas por todo o planeta e divulgando a singular cultura e tradição que caracteriza os lusitanos.
O programa “Portugueses pelo Mundo” da RTP mostra-nos as vidas de alguns destes “heróis do mar”. Ora espreitem, neste episódio (30:46), como se vive no Luxemburgo, um dos países onde existe uma das maiores comunidades de portugueses.
3. Motinha veloz
A nossa Rosa. Com um apelido que lhe assenta como uma luva. Foi ela, Rosa Mota, atleta nascida no Porto e a primeira mulher portuguesa a pisar orgulhosamente o pódio olímpico. Foi em Los Angeles (1984) que pela primeira vez se hasteava a bandeira de Portugal nuns Jogos Olímpicos, por uma performance feminina. Esta “lingrinhas” fazia algo grandioso e incrível. Talvez uma ilustração metafórica da história portuguesa – os pequeninos do minúsculo retângulo à beira-mar plantado a fazer, a conseguir, a alcançar enormes feitos. 4 anos depois, nos Jogos Olímpicos de 1988 em Seul, dava-se a apoteose ao alcançar a medalha de ouro na maratona. Um país de pé assistindo orgulhosamente àquele “impossível” tornado real.
Passaram mais de 30 anos. Foi muito mais que um êxito desportivo. Abriu-se ali uma nova era em que os portugueses ganhavam novo fôlego e voltavam a acreditar na sua capacidade de realizar e fazer acontecer. Crescia a auto-estima, o espírito de risco e empreendedorismo que marcou os anos 90 em Portugal. Percebia-se então que não precisamos necessariamente de ser melhores que outros ou ser mais que os outros, mas antes, fazer o melhor de nós mesmos. Para quê as comparações constantes? A memória balançava novamente para os sucessos, em vez de na eterna “saudade” que nos caracteriza, levar-nos aos dramas, misérias e derrotas do passado. Podemos ser nós mesmos, procurando a excelência e usando as qualidades que nos são intrínsecas para triunfar. Limava-se aquele característico sentimento de inferioridade e um novo impulso, uma energia renovada, começava a empurrar-nos novamente em boa direção e sob bons ventos.
Rosa ganhou, desde então, um lugar especial no coração dos portugueses. Mais que os brilhantes resultados desportivos por si alcançados, fascina pela sua perseverança, espírito de luta, aliados à humildade e simpatia que sempre a caracterizaram sempre. Um exemplo vivo!
Revejam neste vídeo narrado pela própria, o que aconteceu naquele dia memorável.
A memória olímpica de Rosa Mota (6:42)
4. Vistos que salvaram
Sabem onde está Cabanas de Viriato? Provavelmente, não. Eu sei porque tenho lá raízes de sangue. Foi nessa freguesia portuguesa de Carregal do Sal ((Viseu) que nasceu um bom homem, um homem bom que salvou dezenas de milhares de vidas usando “apenas” selos e papel e colocando-se em risco. Falo-vos de Aristides de Sousa Mendes, um diplomata português que usou o poder que lhe fora outorgado, à revelia das autoridades, para durante 3 dias e 3 noites (em plena Segunda Guerra Mundial) conceder vistos de entrada em Portugal a milhares de refugiados, incluindo muitos judeus, que fugiam da Alemanha, Áustria, da própria França e dos países já ocupados pelos exércitos alemães, mas também outros indivíduos de cidadania portuguesa, britânica, americana, etc. que tentavam regressar às suas pátrias.
Esta maravilhosa estória esteve durante décadas esquecida e apenas recentemente se lhe tem prestado mais atenção, pelo que quisemos dar-lhe visibilidade. Venham conhecer um pouco mais sobre a vida e obra deste homem que decidiu corajosamente salvar vidas, pagando um preço elevadíssimo por esse feito. O historiador André Canhoto Costa conta muitíssimo bem e de forma breve como tudo aconteceu no programa “Portugueses com História” da RDP Internacional (9:59).
5. Em português todas as semanas
Querem saber tudo o que está acontecendo e o que estão fazendo os portugueses por este mundo fora. Existe um programa semanal que nos conta as estórias das comunidades portuguesas e da diáspora – “Hora dos Portugueses” da RTP. Esta semana, como não podia deixar de ser, o programa incide na celebração do dia nacional. Espreitem o episódio 23 da 7ª temporada de a “Hora dos Portugueses”(36:43).
Lusoqueamos?
Estreamos um novo espaço dedicado à interação com os nossos leitores. Nesta secção queremos partilhar, juntos, as descobertas lusófonas que cada um faz no âmbito do universo da lusofonia e da língua portuguesa.
Estás a aprender português como língua estrangeira? Leste um maravilhoso livro de um autor ou autora lusófona? Viste um filme que aborda um aspeto da cultura lusófona ou decorre em algum dos territórios em que se fala português? Conheceste alguém lusófono e queres contar-nos essa experiência? Estás ou vais viver num país lusófono? Descobriste uma bela canção e queres dançá-la connosco? Tiveste uma experiência gastronómica incrivelmente deliciosa em terras lusófonas?
Grava um vídeo (com a imagem em horizontal e sem exceder os 2 minutos) onde contes essa experiência. Depois faz-nos chegar a gravação (por email para info@lusoque.es, usando google drive, wetransfer, etc) e nós publicá-lo-emos aqui. Partilhemos as nossas narrativas pessoais sobre a lusofonia, em português! As boas estórias não se podem perder!
LQ? FM
Esta secção vem, de alguma forma, dar continuidade ao que já se fazia nos “Discos Pedidos” dos números anteriores, embora com um foco ligeiramente distinto.
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“Mistura” – Senza (4:03)
Esta tinha encaixado tão bem no nosso anterior número intitulado “Somos mistura”. Ainda vamos a tempo… Senza canta a beleza de entender que somos realmente uma incrível amálgama cultural e isso é o que nos torna únicos e irrepetíveis. O genial cavaquinho do mestre Júlio Pereira e a percussão com instrumentos da música popular dão uma cor especialmente viva e rica a esta canção.
“Eu sou do roque” – Marco Rodrigues (3:17)
Nem tudo é fado. Nem toda a música portuguesa é fado. Nem todos os fadistas cantam apenas fado. Ora vejam como Marco Rodrigues explica com arte e algum humor numa letra fantasticamente redigida que os fadistas também podem gostar de “xutos” e de andar no “moche”.
Agradecimentos
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- Nacho Flores
- Pedro Sereno
- Pilar Pino
Editorial
Um lugar ao sol… quem o não almeja?
Esta semana, movidos pela celebração do início do verão no passado dia 21 de junho, decidimos fazer algo distinto. Pegámos num tema que não é obviamente exclusivo do universo lusófono, mas antes um tema central do nosso universo civilizacional enquanto humanos. O sol tem uma vital importância do ponto de vista biológico, sem ele a vida tal como a conhecemos seria impossível. Este astro, a nossa estrela, central ao sistema a que dá o nome tem assumido desde sempre também uma carga espiritual, metafórica e simbólica que marca profundamente a história, a arte e a cultura terráqueas.
Vamos então celebrar o sol, o verão, o calor (o que se mede em graus e o que se mede em afetos), a claridade, a luz, a alegria e a felicidade. Curiosidades sobre o astro, música, imagem e cor. Dicas e sugestões de atividades para fazer durante o verão.
Fiquem com o sol!
Até já!
1. O sol dito
Recolhemos algumas citações e frases proferidas ao longo da nossa história alusivas ao sol. Vejamos as distintas interpretações, perspetivas, significados e simbologias que se lhe vêm atribuindo. E depois de lerem, se vos apetecer, pensem, sorriam, partilhem ou simplesmente, e sem mais, metam as mãos nos bolsos e continuem caminhando ao sol.
Leonardo da Vinci
“Jamais o sol vê a sombra.”
Antoyne de Saint-Exupéry
“É o mesmo sol que derrete a cera e seca a argila.”
Victor Hugo
“A verdade é como o sol. Ela permite-nos ver tudo, mas não deixa que a olhemos.”
Vladimir Nabokov
“A vida é um grande nascer do sol. Não vejo por que a morte não deva ser uma coisa ainda maior.”
Bob Marley
“Seja humilde, pois até o sol com toda a sua grandeza se põe e deixa a lua brilhar.”
Fernando Pessoa
“Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol. Ambos existem; cada um como é.”
2. Mas afinal, o que é o Sol?
Neste breve documentário (legendas disponíveis em português) ficamos a conhecer mais em pormenor os mistérios desta bela estrela, a mais próxima do planeta Terra, e da qual a vida de fauna, flora e a nossa (dos humanos) depende. Os fenómenos, os perigos, as curiosidades e muitos dados e factos interessantíssimos. Vamos lá saber mais sobre o sol!
O sol (42:10)
3. Cuidado que é belo, mas queima
O ser humano é naturalmente curioso e quando encontra algo que o fascina dificilmente resiste a tentar aproximar-se, tocá-lo, guardá-lo para si. Num dos mais conhecidos episódios da mitologia grega, Ícaro constrói asas artificiais a partir da cera do mel de abelhas e penas de pássaros de diversos tamanhos para poder, junto com o seu pai Dédalo, escapar do labirinto que outrora construíra para aprisionar o minotauro. A aventura termina em desastre, já que o seu desejo e curiosidade o levam a insistir em aproximar-se do sol, apesar das advertências do seu pai e acaba despenhando-se após se derreterem as asas. Fiquem com esta performance representativa do Cirque du Soleil onde se retratam as façanhas de Ícaro recordando-nos, talvez, que há coisas que são extraordinariamente belas e existem, mas não as podemos tocar.
O voo de ícaro – Cirque du Soleil (5:02)
4. Arte solar
Vejam agora como este artista – Michael Papadakis – usa a luz solar e cria autênticas obras de arte através do controlo da reflexão e refração solares. Um domínio incrível e uma técnica excelente que permitem a realização de arte com a participação direta do sol.
O artista que usa a luz solar como pincel (3:07)
5. Para saborear à sombra
É certo e sabido que durante os dias de calor sabe maravilhosamente bem tomar algo doce e fresco. Deixamos aqui este fantástico vídeo com ideias para preparar autênticas delícias e saboreá-las com vista para o sol.
15 receitas para os dias quentes (15:50)
6. O verão e os miúdos
Todos os anos a situação se repete: chegam as férias escolares de verão e os pais desesperam pensando em formas de manter ocupados os seus filhos enquanto trabalham. Encontrámos no projeto Pumpkin várias dicas e sugestões magníficas para criar atividades estruradas e adaptadas às necessidades e perfis de cada criança. Pensámos que poderíamos ajudar quem tem filhos a “encontrar a luz”. Espreitem a web da pumpkin e ganhem leveza e tranquilidade para passar o verão em família.
LQ? FM
Esta secção vem, de alguma forma, dar continuidade ao que já se fazia nos “Discos Pedidos” dos números anteriores, embora com um foco ligeiramente distinto.
Tendo como pano de fundo a nossa playlist no Spotify, com o título “Luso Quê? – Sons da Lusofonia”, usaremos este espaço para ir destacando as novas entradas, as descobertas felizes, as canções preferidas pelos nossos seguidores e também as sugestões que nos façam. Dancemos e cantemos juntos!
Nesta edição fizemos uma seleção especial e alargada em homenagem e celebração do nosso astro protagonista.
“Meu sol” – Vanguarte (3:23)
Boa disposição, alegria, energia positiva e esperança numa declaração de amor. Um cocktail que só nos poderá fazer bem à alma.
“Estrada do Sol” – Carminho & Marisa Monte (4:05)
Duas estrelas brilhantes cantando a estrela central do sistema solar. É preciso dizer mais?
“O sol” – Vitor Kley (3:35)
Praia, juventude, um fundo azul e um leve toque de maresia. Simples para o ouvido, agradável para o coração. Quem não está já desejando pisar a areia e dar um mergulho no mar?
“Sol” – Olla Tshou (3:52)
Verão sem reggae? Improvável! Embarquem na melodia e deixem-se levar pela boa onda.
“O sol” – Carlos do Carmo & Bernardo Sassetti (5:24)
Como poderíamos resistir a fechar com este diamante eterno? É uma das nossas “insistências”. O tema perfeito para encerrar esta secção por hoje.
Agradecimentos
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Editorial
Estamos nas vossas mãos! Melhor dito, esta edição saiu delas.
Como sabem gosto de sair da caixa, ir à procura do desconforto, ver por onde ainda se pode experimentar, ir, descobrir, arriscar… Foi assim que cheguei a uma ideia talvez original de celebrar a nossa edição “quarteirão” – a forma antiga ou menos usual para denominar 25 unidades. Pois é, contando com o salto no vazio que foi a edição #0, esta é a vigésima quinta “aventura”. Pensei que podia deixar o “estaminé” nas mãos de quem gosta de nós, nos segue, lê e apoia. Foi então que me ocorreu que cada um dos leitores e leitoras poderia de forma absolutamente livre escolher um tema lusófono e que, posteriormente, trataria de criar os nexos, as uniões e canais entre todos os temas de modo a dar cara à edição.
Deste modo, agradecemos o vosso carinho e atenção permitindo-vos expressar uma das vossas preferências, insistências ou curiosidades lusófonas criando uma ramificação única. Depois de ter pensado nisto antevi o desastre. E se ninguém envia nada? Ou se todas as propostas são “toscas”, pobrezinhas ou feitas à pressa? E se não encontro forma de as encaixa umas nas outras?
Concluí que nada disso é tão importante como podermos construir conjuntamente uma publicação, partilhando o nosso interesse comum pela arte, história, cultura e língua lusófonas. Em tudo há riscos. Há sempre riscos. A todo o momento. Contudo, nos riscos e desafios (quem é do jiu-jitsu bem sabe) nunca perdemos: aprendemos ou ganhamos.
Eis, portanto, o resultado possível da combinação das vossas fundamentais dicas, sugestões e ideias. Muitíssimo obrigado a tod@s! Espero que gostem e desfrutem desta edição tanto como eu o fiz enquanto artimanhava como “colar” tudo.
Até já!
Uma breve nota introdutória apenas para esclarecer que a ordem em que se encontram as entradas foi verdadeiramente sequenciada pela chegada das vossas propostas, uma vez que fomos aceitando todas as dicas até ao último minuto. É, pois, bastante provável que nalguns casos a passagem de um artigo ao seguinte resulte num casamento perfeito e, noutros, numa queda pelas escadas abaixo. Ainda assim, as pontes entre artigos não serão hoje a nossa maior preocupação. Vejamos então o que vos passou pela cabeça!
1. Sábia dúvida (Miguel Martínez, Sevilha)
Começamos logo com este belo embalo de dúvida amorosa. Uma magnífica canção interpretada pelas doces vozes de António Zambujo e de Roberta Sá. Ficamos a pensar o que poderia acontecer se a guitarra de Yamandú Costa tivesse mais cordas ou se ele tivesse mais dedos. Sensacional!
“Eu já não sei” – António Zambujo, Roberta Sá & Yamandú Costa (6:13)
2. Do Porto, em Gaia, com arte (André Marinho da Rocha, Sevilha)
Seguimos com Avelino Rocha, um homem do Porto, um artista inquieto e multifacetado. Dedicou-se paralelamente ao ensino secundário e superior, enquanto produzia a sua extensa obra de cerâmica, pintura e escultura (mais de 15 exposições realizadas ao longo da carreira). Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Neste vídeo temos a oportunidade de rever a exposição que foi feita em homenagem ao seu trabalho (quando acabava de celebrar o octogésimo aniversário) e na qual apresentou o seu livro intitulado “Caminhos (In)acabados”, na Casa Museu Teixeira Lopes.
Caminhos (In)acabados (3:17)
3. Pelo Nordeste fora (Marieta Freitas, Lisboa)
Damos um saltinho rápido à genialidade inarrável do grande mestre Chico. Somos embalados numa “tour” musical pelo nordeste brasileiro cujo poema é absolutamente fantástico pela rima e a escolha de cada uma das palavras que contam a aventura.
“A violeira” – Chico Buarque (3:01)
4. Religiosamente enchida (Isabel Campos, Oeiras)
Depois das três delícias anteriores começa a ficar-se com alguma fome. É um ótimo momento para ficar a conhecer melhor a alheira. Este enchido típico da gastronomia portuguesa (com origem na região de Trás-os-Montes) surgiu numa interessante forma que os judeus encontraram de continuar guardando os seus costumes sem criar atritos e evitando conflitos, enquanto se integravam na sociedade cristã (espreitem a história no enlace anterior). Deixo-vos aqui duas receitas. Na primeira aprendemos o processo para criar o enchido e na segunda vemos como podemos criar um prato composto, usando a alheira na sua forma mais tradicional. Atualmente, a alheira utiliza-se para criar inúmeros e variados pratos como croquetes, migas, etc.
Como se faz a alheira (5:40)
Receita tradicional da alheira de Mirandela (3:59)
5. Mia sem medo (Roger Weber, Gines)
Talvez uma boa digestão se faça ao colo da boa literatura. Esta magnífica sugestão convida-nos a assistir à leitura de um texto lido pelo “gigantesco” Mia Couto num encontro realizado no Estoril a propósito do tema “segurança”. A beleza e valor da sua obra já foi várias vezes tocada e hoje voltamos lá. Neste vídeo, o autor moçambicano toca a história recente de Moçambique abordando o tema da segurança mundial. Ao seu estilo leve mas direto chama a nossa atenção para o que se poderá fazer para que o mundo seja um sítio melhor para TOD@S. Fala-se de interesses económicos e financeiros, de violência, armas, fome, da violência sobre as mulheres, de muros… do medo! O vídeo é de 2011. No entanto, é incrivelmente atual e é necessário ouvi-lo e pensar. Para que o medo acabe!
Há quem tenha medo que o medo acabe (7:44)
6. Golos que rimam (João Antunes, Benfica)
Há mundos que aparentemente não se cruzam, ou pelo menos não é frequente que assim aconteça. Francisco Geraldes é um jovem jogador de futebol com uma carreira que vem consolidando no futebol internacional de primeira linha. Paralelamente à paixão pelo desporto “rei” sempre alimentou o namoro com as letras. Publicou recentemente um livro de poesia intitulado “Cito, longe, tarde”. Conheçam-no nesta breve entrevista.
Pela Feira do livro com o Francisco Geraldes (4:32)
7. Lx Underground (Rita Veloso, Oeiras)
É unânime a beleza e variedade estética e cultural que a capital portuguesa ostenta. É impossível visitar a cidade e não ficar apaixonado por ela. Mas o que acontece por baixo do solo? Ou melhor dizendo, que histórias contam as camadas que estão por baixo do chão lisboeta? Preparem-se para uma viagem incrivelmente interessante através da arquitetura e engenharia romanas que remontam a mais de 2000 anos e que ainda hoje se mantêm debaixo das ruas alfacinhas.
Galerias romanas (7:20)
8. O errado no certo (Jorge Marino, Londres)
Há diversas maneiras de entender o mundo e a vida. Eduardo Marinho é uma artista, escritor e filósofo que tem levado a vida pensando, refletindo e procurando explicações/soluções para as inúmeras perguntas que o assaltam. Tem vivido intensamente e de forma nem sempre convencional à luz do que é tradicionalmente aceite. Já lhe chamaram imensas coisas, entre as quais “filósofo de rua”. Acredita que a “miséria é planejada”, no afeto e tem ·medo de viver uma vida sem sentido”. É um excelente comunicador e neste vídeo faz uma apresentação formidável e inspiradora. Preparem-se para pensar. A vida deve valer a pena!
A determinação para achar o sentido da vida: Eduardo Marinho (17:56)
9. Olhos na ponta do lápis (Fernando Germán Montes, Sevilha)
O Germán é um artista multifacetado e uma mente flexível em ação. Viveu a infância em Lisboa e cedo se apaixonou pelo país e pelo povo português. Regressou a Espanha fixando-se em Sevilha onde dedicou a sua vida ao ensino e à arte tendo tratado de viajar pelo mundo fora conhecendo imensa gente de culturas diversas. Teve a gentileza de partilhar connosco alguns dos trabalhos que elaborou sob a forma de desenho durante as inúmeras passagens que fez por Portugal.
LQ? FM
Esta secção vem, de alguma forma, dar continuidade ao que já se fazia nos “Discos Pedidos” dos números anteriores, embora com um foco ligeiramente distinto.
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Nesta edição apontamos o foco para um disco que rodou em “loop” enquanto os caquinhos, os fragmentos, os pedacinhos foram encontrando a forma de amoldar-se e formar um todo. Hoje a rádio é da Marisa Monte. Escutemos algumas das faixas de “Portas”, o seu mais recente trabalho. Uma obra de altíssima qualidade, com ótimos arranjos e letras deliciosas. Conta com músicos que são autênticos craques e com a brilhante participação de excelentes artistas, verdadeiros astros da música brasileira. Sei que não se vão aborrecer, pois há portas para tudo e para todos os gostos.
“Portas” (3:15)
O intro que indica a importância e beleza de ir abrindo várias portas para ficar a conhecer o que há em cada corredor e poder ventilá-lo.
“Calma” (3:54)
Alto astral, tudo sob controlo. Boa onda e uma secção de metais que arrebita qualquer um, mesmo nos dias mais negros.
“Déjà Vu” (3:49)
Ora orquestra, ora guitarrada elétrica… sempre com a melosa voz de Marisa cantando uma bonita mensagem de amor.
“Quanto tempo” (3:15)
Basicamente é “só deixar, a canção vai-te levar onde você quer chegar”. Um refrão lindo e um acompanhamento com cordas, violoncelo e violinos verdadeiramente onírico.
“Praia vermelha” (3:33)
Andamos todos a pensar em ir dar uns mergulhos no mar salgado e apanhar sol. Curtam os belos coros, a flauta hipnotizante e a percussão que marca a intensidade e ritmo deste tema.
“Pra melhorar” (5:00)
Uma linda mensagem de luta, esperança e positivismo para nos manter inspirados e motivados. Na vida há sempre solução! A melhor forma de fechar o disco!
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Editorial
Chegamos ao final da temporada. Foram 26 edições (contando com esta) cheias de inquietação, curiosidade e um imenso prazer em poder trazer-vos novidades e procurar cumprir a assumida missão de divulgar e promover a língua portuguesa e a lusofonia nas suas diversas vertentes e expressões.
Durante este novo caminho que tem sido pôr em pé a publicação (desde Novembro de 2020) temos evoluído e a própria dinâmica e estilo desta vem-se modificando na tentativa de apresentar conteúdos numa forma e dimensão enquadradas no perfil dos nossos leitores e leitoras, com o claro intuito de ir de encontro dos interesses dos mesmos.
Fica aqui uma seleção de alguns dos melhores artigos publicados ao longo da temporada (foi difícil escolher apenas 10 de entre tantos) para que possam ver e rever, ler e reler, voltar a desfrutar deles. Cada artigo tem a indicação, junto ao seu título, da edição em que originalmente foi publicado e clicando no link regressarão à edição em questão e poderão revisitá-la. É uma espécie de viagem que combina um pouquinho daquilo que vem sendo o LQ? e nos permite ter uma visão abrangente do que realizámos ao longo de tantas semanas.
Agradecemos o apoio e interesse que vêm demonstrando pelo projeto. Um abraço especial para os colaboradores habituais que têm contribuído com as suas sugestões e críticas, ajudando-nos a crescer enquanto tentamos fazer melhor. Em Setembro estaremos de volta com energias renovadas e com muitas novidades. Bom verão e façam o favor de ser felizes!
Até já!
1. Francamente genial – LQ? #0
O Projeto “Língua Franca” reúne um quarteto de artistas portugueses e brasileiros em torno da ideia de homenagear a língua portuguesa através da música usando ritmos do hip-hop e rap, numa onda urbana em que a mensagem é primordial.
Capicua, Valete, Emicida e Rael, rappers, autores, letristas, todos eles a viver momentos de excelente produção artística, criaram um conjunto de canções em que a língua de Camões toma o protagonismo. Chama a atenção a forma natural que encontraram de construir “pontes” numa época em que muitos se concentram em construir “muros”.
Longe vão os tempos em que dava vergonha cantar em português… e ainda bem! Escolhi o tema “Ela” para vos aguçar o apetite.
“Ela” – Língua Franca (3:43)
2. Rolamentos alfacinhas – LQ? #2
Fica difícil escrever com calma sobre quem anda normalmente a rodar a grande velocidade. Gustavo Ribeiro (skateboarder) tem demonstrado ser um verdadeiro prodígio numa atividade que reúne em si mesma inúmeras características. Desporto radical, movimento urbano, arte expressiva ou grito de emancipação para alguns. Sem dúvida, uma paixão incontrolável para os seus amantes e praticantes.
Este jovem lisboeta (19 anos) tem deixado o mundo de boca aberta com a sua genialidade e destreza incomuns para dominar o skate. Capaz de realizar manobras e truques incríveis (criador inclusive de movimentos novos), que por vezes nem em câmera lenta se conseguem entender ou percecionar na totalidade. Gustavo vem ganhando cada vez maior notoriedade e prestígio, pelo que tem viajado e levantado a bandeira portuguesa por este mundo fora.
Em 2019 obteve a medalha de bronze no campeonato do mundo, numa prestação e demonstração de mestria incrível. Não estranha portanto que faça parte de um restrito grupo de atletas (SLS “9 Club”) onde se encontram aqueles que conseguiram obter uma nota 9 ou superior por um truque ou manobra realizado durante um campeonato mundial de Street Skating.
Atualmente, faz parte da equipa profissional de renome mundial Red Bull e representa a JART Skateboards. Apesar de o solo ser o habitat natural onde expressa a sua arte, o céu parece ser o limite.
Saltem daí e venham ver algumas manobras vertiginosas e alucinantes!
“Nine to Five” (4:22)
3. Virtualmente lusófonos – LQ? #4
E agora venham daí dar uma voltinha pelo Museu Virtual da Lusofonia. Este projeto procura “promover o conhecimento por parte dos países lusófonos das suas inúmeras formas de expressão artística e cultural, que devem ser reunidas, preservadas e difundidas, quer dentro do contexto lusófono, quer a nível internacional.”
Nesta plataforma de ”cooperação académica, em ciência, ensino e artes, no espaço dos países de língua portuguesa e das suas diásporas” é possível aceder a arquivos divididos em 5 secções: biblioteca, filmoteca, fonoteca, galeria e glossários. Temos também acesso à programação que apresenta eventos, exposições e ainda a agenda científica (com seminários e congressos).
A equipa é essencialmente composta por elementos da Universidade do Minho em estreita colaboração com membros de universidades de países lusófonos (Brasil, Moçambique, Cabo Verde, Timor-Leste e Angola) e, inclusivamente, de outros países como Espanha e os Estados Unidos da América.
Trata-se de uma excelente iniciativa em crescimento e desenvolvimento e que pretende contar com a importante colaboração da cidadania através da sua participação ativa na recolha de obras (fotografias, registos sonoros, registos audiovisuais, textos, músicas, registos dos patrimónios arquitetónico e etnográfico) para engrandecer os seus arquivos e promover a lusofonia a nível internacional.
Merece totalmente a pena visitar e também, se for possível, colaborar direta e ativamente com a equipa do museu no desenvolvimento deste magnífico projeto.
4. O trota mundos – LQ? #20
Sabemos que o multifacetado Ondjaki cria constantemente ambientes e atmosferas muito particulares, onde se refletem as vivências do escritor angolano que está acostumado a caminhar pelas ruas da lusofonia, já que ao longo da sua vida viveu em Angola, Brasil e Portugal (também em Nova Iorque e Itália, onde estudou). Fica uma breve entrevista feita pelo TDM (canal de Macau) onde podemos conhecer um pouco melhor o poeta angolano e a variedade de experiências que vem vivendo nos últimos anos, bem como o trabalho que está realizando e uma visão pessoal sobre a Angola atual.
TDM entrevista Ondjaki (35:20)
5. O 4×4 das teclas – LQ? #6
É exatamente isso. Júlio Resende é como um todo-o-terreno que se adapta e move com total liberdade em qualquer terreno musical. Tendo começado a estudar piano muito jovem, com apenas 4 anos, e apesar da sua formação ser fundamentalmente de jazz e clássica, este genial pianista gosta de atravessar e habitar territórios sonoros variados.
A sua vasta e extensa obra, tendo em conta a sua idade, demonstra-nos exatamente esse gosto pela exploração do fado, rock e outros géneros. Daí surgiram imensas colaborações e participações em projetos com outros artistas. Por exemplo, em 2017, numa homenagem aos 20 anos do álbum “Ok Computer” dos Radiohead, com Salvador Sobral (ambos membros do projeto Alexander Search). Também com António Zambujo, em 2013 no Hot Club de Lisboa, interpretando “A tua frieza gela”. Ou, com Elisa Rodrigues onde toca “Dumb” de Nirvana, em 2011.
Um destaque especial para o disco “Amália”(2013), onde Júlio Resende se “atreve” a interpretar canções da fadista maior. “Medo” é um dos temas mais bonitos deste álbum.
“Medo” – dueto com Amália Rodrigues (5:03)
Num dos seus mais recentes trabalhos, vemos como integra a eletrónica na sua composição, resultando numa sonoridade viva e enérgica, bastante coesa e com um toque inovador.
“Fado Cyborg” (3:02)
Ainda uma referência ao “Júlio Resende Fado Jazz Ensemble” onde podemos ouvir pérolas tão belas como este “Vira Mais Cinco (para o Zeca)”.
Vira Mais Cinco (para o Zeca) (3:32)
Visitem a página oficial deste engenhoso artista para acederem a mais surpresas deliciosas.
6. Matar não cala – LQ? #13
Foi cobardemente assassinada no dia 14 de março de 2018 na região do Rio de Janeiro. Marielle Franco tinha 38 anos de idade. A História da humanidade está, infelizmente, repleta de mortes por assassinato que têm como protagonistas pessoas que lutaram firmemente pelas suas convicções de forma altruísta. Marielle foi uma socióloga e política filiada ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), elegeu-se vereadora do Rio de Janeiro para a legislatura 2017-2020. Defendia o feminismo, os direitos humanos, e criticava a intervenção federal no Rio de Janeiro e a Polícia Militar, tendo denunciado vários casos de abuso de autoridade por parte de policiais contra moradores de comunidades carentes. Mataram-na vilmente, mas jamais abafarão a sua voz!
Breve entrevista – Mulher, raça e classe (5:20)
7. Karnalizando – LQ? #15
O historiador e professor Leandro Karnal dá-nos uma breve e clara lição de 10 minutos sobre a felicidade. Não existe “uma” felicidade e ela não é universal. Não confundamos a felicidade com alegria e tristeza. A felicidade é estrutural. Ela é o presente, o aqui e o agora. A felicidade requer um treino de foco. Podemos, para além de trabalhar na procura da nossa própria, dar felicidade aos outros. A importância de saber o que está ao meu alcance e posso mudar. O autoconhecimento e a gestão de expectativas. Somos animais políticos e, logo, vivemos necessariamente em convivência com outras pessoas. Solitude vs solidão. Uma “chapada” doce! Vão ver.
4 passos para buscar a felicidade – Leandro Karnal (10:32)
8. E agora… o corá – LQ? #21
A música lusófona é um autêntico paraíso no que diz respeito ao sem fim de instrumentos que se tocam nos diferentes géneros e estilos existentes. Só no universo das cordas existe uma variedade incrível. Um dos instrumentos mais fascinantes, fortemente presente na música produzida no continente africano, é o corá. Falar-vos sobre ele é um desejo antigo que finalmente decidimos levar avante.
O corá é feito através de uma arte ancestral que se reflete num trabalho manual com uso de madeira e uma cabaça de grandes dimensões. É uma caixa de ressonância constituída por meia cabaça coberta com pele de cabra e um longo cabo cilíndrico com cordas sobrepostas em grupos. A sua versão tradicional conta com 21 cordas, que podem ser tocadas com os dedos indicador e polegar de ambas as mãos.
Como dissemos antes, trata-se de um instrumento maioritariamente presente em muitos países africanos, embora seja possível encontrar a sua presença em projetos musicais oriundos de outros continentes. A Guiné-Bissau é indubitavelmente um dos berços deste singular instrumento e é deste lindo país que têm surgido alguns dos melhores tocadores de corá do mundo.
Deixo-vos aqui um vídeo onde o Mestre Galissa, um verdadeiro especialista, nos transmite vários detalhes sobre os segredos do corá, quais as principais evoluções que o instrumento tem apresentado, como se pode construir um corá, como aprender a tocá-lo, o que fazer para preservar esta arte e passá-la a novas gerações e algumas outras dicas valiosíssimas. Poderão também assistir à interpretação de pequenos trechos musicais em que o Mestre toca e canta.
Galissa – Mestre de Corá (9:50)
9. Cantigas livres – LQ? #19
São tantas. Começando com “Grândola”, o hino criado por Zeca Afonso, passando pela canção código “E depois do adeus” de Paulo de Carvalho e fazendo paragens nos trabalhos de Fausto, Fernando Tordo e tantos outros. Há uma mão cheia de verdadeiros tesouros cancioneiros que cantam a liberdade. O antes, o durante e o depois da luta.
Escolhemos deixar-vos dois temas que nos parecem belos e especiais. A imortal ”liberdade” (já com várias versões desde a sua criação) cantada pelo multifacetado Sérgio Godinho. Quisemos passar este “hino”, ode à liberdade, sublinhando a merecida homenagem que o artista recebeu no passado dia 25. Tocamos também a sentida homenagem que o projeto A garota Não fez a José Mário Branco. Recordar o ativista e pensador, para não o esquecermos. Para não esquecermos quanto custou recuperar a liberdade e o seu incalculável valor.
Liberdade – Sérgio Godinho (3:52)
Canção a José Mário Branco – A garota não (6:06)
10. Estação da saudade – LQ? #7
Já imaginaram um museu dedicado a homenagear e contar uma língua. Pelos vistos existe um e logo da língua que amamos – o português. Numa antiga e bem conservada estação ferroviária – a Estação da Luz – em São Paulo (Brasil) está sediado o Museu da Língua Portuguesa, cuja inauguração ocorreu em 2006. Poder visitá-lo será mais uma razão, de peso, para dar um pulo até esta magnífica metrópole.
Embora atualmente esteja a ser reformado, podemos fazer visitas, descobrir o que conserva e explorá-lo à distância sem perder nem uma migalha do interessante espólio que alberga. Na página oficial do museu somos convidados a realizar uma completa e muito bem organizada visita virtual. Através do canal de Youtube temos à disposição inúmeros vídeos alusivos a exposições temporárias que se realizaram neste espaço, homenagens e eventos especiais, entre outros conteúdos interessantíssimos.
O que podemos ver no museu? Muitas coisinhas boas e interessantes. A cronologia histórica da língua portuguesa desde as suas origens e o seu desenvolvimento até à atualidade. Curiosidades sobre palavras tão presentes na lusofonia como “saudade” ou “trabalho”. A maior palavra da língua portuguesa. O processo de mistura entre o português original de Portugal com as línguas indígenas e as línguas europeias originando o português do Brasil. Notas sobre o importante contributo que Oswald de Andrade teve para a génese da cultura brasileira (prometemos dedicar futuramente um artigo ao brilhante poeta paulista). Também há espaço para futebol (como não, se estamos no Brasil?) e cinema. E a árvore das palavras, que apresenta aspetos etimológicos relacionados com o latim e o grego. Tudo isto e ainda mais coisas que não desvendamos.
O programa “Conhecendo Museus” fez uma ótima reportagem sobre o museu. Em aproximadamente 25 minutos, guiados pelo Diretor António Carlos Sartini, ficamos com uma ideia clara sobre a história do museu, a sua missão, como estão organizadas as exposições, a relação da instituição com importantes artistas brasileiros, etc. Tudo isto numa linguagem acessível que nos mantém com a atenção ativa durante todo o episódio e nos dá a oportunidade de contactar com o português do Brasil.
Ficamos ansiosamente aguardando pela reabertura (será no dia 31 de Julho de 2021). Entretanto, vão lá espreitar!
Conhecendo museus (26:01)
Agradecimentos
Muito obrigado pela vossa colaboração e pelos “grãos de areia” lançados ao projeto:
- João Antunes
- Joca Marino
- Nacho Flores
- Pedro Sereno
- Pilar Pino
Editorial
Um excelente ano para tod@s! Nesta primeira edição de 2022 decidimos dedicar a nossa atenção aos mares e oceanos. Afinal de contas, são absolutamente fundamentais à vida no nosso planeta Terra. Para além disso, o mar e toda a sua mística foram sempre um elemento de maior relevo na História universal. Foram tantas as civilizações e povos que nas ondas, na espuma e entre correntes, jogaram as suas cartadas principais. “All in”…. Por vezes com vitórias, noutros momentos vivenciando derrotas e revezes.
As marés, ora favoráveis ora destrutivas serviram de palco à construção da história e desenvolvimento das narrativas lusófonas. Épicas histórias de exploradores e navegantes, encontros e desencontros, aproximações, negócios e tratados, assaltos e roubos, namoros, casamentos e uniões diplomáticas, guerras e tratados de paz ou até alianças. Caravelas, barcos, pranchas de surf, veleiros, hidroaviões… Capitães, piratas, marinheiros, aventureiros, empreendedores ou simplesmente desesperados. Toda a beleza que a fauna e flora marinha encerram em si.
Podemos também pensar que cada um de nós vive de acordo com as suas próprias “marés”. Aquelas que vão embalando os estados de ânimo, os momentos altos e baixos, as alegrias e as tristezas, os triunfos e as derrotas. As quedas e ascensões que fazem de nós o que somos.
Eis então a nossa homenagem à bela força da natureza que se dá a conhecer nos seus matizes verdes e azulados com pinceladas brancas, acompanhada de coisinhas que nos podem fazer pensar e refletir de modo a entrar no novo ano com a maré favorável.
Até já e façam o favor de ser felizes!
1. Os vossos mares
Convidámos os nossos leitores, seguidores e subscritores a enviar-nos fotos relacionadas com a temática das marés. A ideia era que nos fizessem chegar imagens captadas por vós em território lusófono, atribuindo-lhes um título da vossa autoria. Recebemos imensas imagens, todas fantásticas, tendo selecionado algumas que poderão ver ao longo desta edição, em jeito de separador, entre cada artigo. Muito obrigado pelo vosso interesse em participar nesta iniciativa, dando a esta edição um toque único.
“Caraíbas para quê?” – foto de Rafael Cano tirada na Praia do Zavial (Algarve, Portugal)
2. Vozes doces da maresia
Uma incrível dupla lusófona, Marisa Monte e Cesária Évora, interpreta um lindíssimo poema do músico e compositor Dorival Caimmy – “É doce morrer no mar”. Segundo o autor, a criação desta letra surgiu durante uma tertúlia entre amigos realizada na casa do pai de Jorge Amado. O romance “Mar Morto”, do aclamado escritor brasileiro, terá servido de mote e inspiração a esta formidável canção. Reparem no belo mix lusófono que aqui vai!
É doce morrer no mar – Cesária Évora & Marisa Monte (3:42)
“O Cabo das Tormentas” – foto de Carmen Martínez tirada na Cidade do Cabo (África do Sul)
3. Marés ditas, escritas, pensadas
“O Atlântico é pequeno para nos separar, porque o sangue é mais forte que a água do mar.” – GABRIEL O PENSADOR
“Deve existir algo estranhamente sagrado no sal: está em nossas lágrimas e no mar…” – KHALIL GIBRAN
“Uma língua é o lugar donde se vê o mundo e de ser nela pensamento e sensibilidade. Da minha língua vê-se o mar. Na minha língua ouve-se o seu rumor como na de outros se ouvirá o da floresta ou o silêncio do deserto. Por isso a voz do mar foi em nós a da nossa inquietação. Assim o apelo que vinha dele foi o apelo que ia de nós.” – VERGÍLIO FERREIRA
“O mar não é um obstáculo: é um caminho.” – AMYR KLINK
“Esperto é o mar, que em vez da briga prefere abraçar o rochedo.” – MIA COUTO
“O coração do homem é muito parecido com o mar. Ele tem as suas tempestades, as suas marés e as suas profundezas. Ele tem as suas pérolas também.” – VINCENT VAN GOGH
“O mundo é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.” – CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
“O mar, uma vez que lança o seu feitiço, aprisiona a pessoa na sua rede de maravilhas para sempre.” – JACQUES-YVES COSTEAU
“Arrisquei muita braçada; Na esperança de outro mar; Hoje sou carta marcada; Hoje sou jogo de azar.” – CHICO BUARQUE
“Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu.” – FERNANDO PESSOA
“Vistas Junto ao Equador” – foto de Mari Cruz Díaz tirada na Ilha das Rolas (São Tomé e Príncipe)
4. Travessias do bacalhau
Terra Nova – série de 11 episódios onde se retrata o dia-a-dia das famílias das comunidades piscatórias da costa portuguesa nos anos 30 com os dramas, os imprevistos, as incertezas e dificuldades que a vida no mar representa. Trago-vos esta série portuguesa (os 13 episódios estão disponíveis através da plataforma RTP play) que retrata a vida na “faina maior”, a pesca do bacalhau. É uma ótima forma de aprender mais sobre esta arte e a importância vital que este peixe (e tudo o que a ele está associado) representou e representa para a sociedade lusitana, em vários níveis e vetores – económico, social, cultural, etc. É também uma excelente aproximação e contacto com diferentes sotaques da língua portuguesa, já que a ação decorre em diferentes zonas de Portugal. Está disponível a opção de ativação de legendas, o que poderá ser de grande utilidade para melhor compreender as falas.
Terra nova – episódio 1 (45:08)
“Morros Abençoados” – foto de Rita Veloso tirada no Arpoador (Rio de Janeiro, Brasil)
5. Versos que atravessam o Atlântico
Uma ode à nossa língua, o português, e à comunhão que todos os que a falamos podemos ter. A língua portuguesa é inequivocamente um idioma repleto de salpicos da maresia espalhada pelos diversos rios, mares e oceanos. É numa lógica de diversidade e mistura que a nossa língua se tem desenvolvido (embora nem sempre tenha sido fácil ou mesmo pacífica a relação de algumas fações que pretendem apropria-se dela). Que todos os “bairros” possam unir-se através das ondas, das correntes e marés. Fica aqui, à espera que o ouçam, o delicioso tema cantado por grandes intérpretes de diferentes gerações e latitudes.
Meu Bairro Minha Língua – Vinicius Terra, Elza Soares, Linn da Quebrada, Dino d’Santiago, Sara Correia (3:52)
“Agosto na Nazaré” – foto de Ángela Ruiz tirada na Praia da Nazaré (Portugal).
6. Navegando com Sophia
Se houve alguém cuja inspiração e foco de criação tiveram raiz nos mares e oceanos, essa pessoa, essa poeta/poetisa/escritora maior foi Sophia de Mello Breyner Andresen. Dona de uma obra extensa, variada no estilo, singular e exemplar (já falámos da sua mestria em anteriores edições), trata o mar e os oceanos por tu. Nos seus textos encontramos frequentemente referências e vocabulário relacionado com a temática do mar, exposto de uma forma que supõe um amplo e profundo conhecimento da fauna e flora marinha e também seguramente horas de observação e vivência a eles associados.
Durante gerações, e felizmente ainda na atualidade as suas obras formaram parte dos programas oficiais do ensino básico (antes denominado “primário”) em Portugal, sendo mesmo algumas integradas no famoso Plano Nacional de Leitura (PNL). Há uma que se destaca pela apreciação unânime que gera junto da pequenada, e até dos graúdos, falo da “Menina do Mar”. Merece absolutamente a pena escutar, sim é para ouvir sem ver, a narração e interpretação deste belo conto. Ficamos a conhecer as aventuras da menina e do mar, através de vozes conhecidas – Eunice Muñoz, Francisca Maria, António David e Luís Horta. Este projeto de 1961 contou com a direção de Artur Ramos.
A menina do mar (35:17)
“Trilho na Costa Vicentina” – foto de Ramón Vargas tirada em Vila do Bispo (Portugal)
7. Piet, surfista e Rei de Serrambi
Praias e ondas de mar salgado. Tínhamos de falar de surf.
Este breve vídeo em estilo documental trata a vida de um brasileiro descendente de holandeses que tem dedicado a vida ao surf. Chama-se Piet Snel. Viajou por todo o globo para surfar as melhores ondas, fazendo amizade com os “grandes” do surf mundial. No final dos ano 70 descobriu um local absolutamente perfeito para a prática do surf – Serrambi, em Pernambuco. Conseguiu manter a sua localização em segredo durante alguns anos, em parte devido às dificuldades de acesso e também por tratar-se de uma povoação que por então tinha aproximadamente 50 habitantes. Contudo, inevitavelmente, o segredo já foi revelado e muita gente foi chegando ao paraíso de Serrambi.
Hoje em dia Piet vive uma vida calma e tranquila lá, em Serrambi, onde surfa diariamente. Continua a criar pranchas de surf (ao longo da sua vida já construiu mais de 2000) para a sua marca “Concha Surfboards” e gosta de receber apaixonados pela modalidade que ama, dando-lhes conselhos e dicas sobre surf e também partilhando com eles a narrativa das fantásticas histórias que viveu dentro do mar ao longo de tantas décadas. Uma autêntica referência no seio do surf, como podemos constatar no documentário. Boas ondas, galera!
Surftopia (23:51)
“O Paraíso ao Pé de Mim” – foto de Mmar tirada em Vila Real de Santo António (Portugal)
8. Um farol com raízes
No mar, bem como na vida, necessitamos da ajuda de faróis para nos orientarem rumo ao destino que desejamos. Pela sua beleza, importância histórica no que à navegação respeita e pela sua original arquitetura, os faróis são alvo do interesse de muitas pessoas que os visitam por todo o mundo fora, os fotografam, documentam e colecionam em forma de miniatura.
Deixo, pois, aqui uma breve homenagem a um farol muito especial que me vem guiando desde a infância – o Farol do Bugio (Oeiras, Portugal). Este bonito edifício contruído num pequeno ilhote e situado num ponto em que o Tejo começa a unir-se com o Atlântico foi o eterno pano de fundo das aventuras e vivências que tive na praia em que nasci, para além de todas as demais façanhas que naquelas águas têm sucedido ao largo de 3 séculos de existência (podemos, por exemplo imaginar como terão sido as gloriosas batalhas entre frotas navais).
Neste breve vídeo vemos a beleza do rio Tejo na sua imensidão, ladeado pela “Marginal” e com a velhinha ponte 25 de Abril ao fundo, enquanto observamos a singularidade deste magnífico farol desde várias perspetivas.
Farol do Bugio (2:01)
“Rumo ao Paraíso” – foto de Angie tirada na Praia da Comporta (Portugal)
9. Vitória Coentrão
Se antes vimos as estórias de vida de quem procurava ganhar a vida através da pesca nos anos 30 (falo da série “Terra Nova” da RTP) dedicamos agora umas linhas a projetos inovadores levados a cabo por caras conhecidas e que pretendem trazer de volta o gosto pela pesca aliado à inovação, na esperança de manter o setor pesqueiro ativo e animar os mais jovens para que se lancem nessa vida do mar.
Fátima Lopes, a conhecida apresentadora, traz-nos este capítulo do canal de Youtube “empower brands channel” dedicado às Caxinas (bairro piscatório situado em Vila do Conde, Portugal), sem dúvida um dos locais lusitanos que rima sempre com pesca e mar. Entrevista vários intervenientes, todos ligados à pesca, sendo o ex-futebolista Fábio Coentrão a peça central deste episódio, no qual nos conta como pretende dinamizar o setor das pescas de forma inovadora e atualizada, bem como a felicidade que sente por poder (agora que já arrumou as chuteiras) regressar a casa e ao que para ele sempre foi objeto de fascínio e plenitude – o mar.
Mudar para melhor – Fábio Coentrão (17:32)
“Maresia” – foto de Pedro Roldán tirada em Albufeira (Portugal)
10. Nas ondas da guitarra
Fechamos esta edição com a mágica composição de Grutera. Um surfista e músico da Nazaré apaixonado pela guitarra. Melodias belas que resultam em temas instrumentais bem estruturados e que nos embalam. Para ler, estudar, pensar ou apenas escutar e deixar-se levar. A faixa que escolhemos – “Fica Entre Nós” – conta com um vídeo que retrata muito bem a vida no mar, do mar, para o mar… junto a ele.
Fica entre nós – Grutera (3:08)
Agradecimentos
Muito obrigado pela vossa colaboração e pelos “grãos de areia” lançados ao projeto:
- João Antunes
- Joca Marino
- Nacho Flores
- Pedro Sereno
- Pilar Pino
Editorial
E zás! Número 26 no dia 26… a vontade é tanta que nos antecipamos um dia ao nosso primeiro aniversário (27) para lançarmos o regresso do LQ? no dia da semana a que vos temos habituado, a sexta-feira!
Foi um ano em cheio! Um ano repleto e completo, de experiências cheias de palavras. Desejamos, portanto, assinalar a data representativa de um ano de desafios, aprendizagem, avanços e recuos, erros e acertos… parece que foi ontem o arranque, mas temos feito um bonito caminho, que nos vem permitindo desenvolver o projeto com um crescimento gradual, ponderado e consciente – sempre com o vosso apoio!
Esta publicação é um ramo importantíssimo do nosso projeto de ensino/aprendizagem e divulgação da língua portuguesa e da lusofonia. Voltar a publicá-la é um prazer. É certo que sem a vossa atenção e interesse, sem as vossa PALAVRAS, não seria a mesma coisa.
Vamos então focar-nos nas palavras… nas ditas e nas caladas. Nas que possuem uma sonoridade bela, mas também nas que são mais feiosas. Veremos as que estão escritas. Esgravatemos os seus significados, os leques semânticos e as relações que estabelecem umas com as outras. Os cantos, as esquinas e os labirintos dos guardiães de palavras, os dicionários. Os contextos. A ortografia e a grafia ou o grafismo. A comunicação. Quais acentos? Cantar-se-ão palavras. Sussurros ou gritos. E a pontuação? As palavras sublimes e nobres, as asneiras ou palavrões. A leitura em voz baixa e a interpretação, as palavras ditas com arte. A pronúncia e a fonética. As minhas, as nossas e as vossas palavras. Deixaremos espaços por preencher para que durante o próximo ano os possamos ir preenchendo… JUNT@S!
Até já e façam o favor de ser felizes!
1. Palavras vossas
Poderia haver melhor forma de arrancar esta edição do que apontar os holofotes às palavras dos que nos seguem e dão sentido a este projeto? Lançámos o desafio e a vossa adesão bateu as nossas expectativas! Cada seguidor escolheu a sua palavra preferida e explicou porque gosta dela e o que representa para si. Recebemos centenas de mensagens e vibrámos ao lê-las, pela multiplicidade de motivos que conduzem às vossas escolhas – a sonoridade, a origem, o contexto em que se aprendeu a palavra, uma recordação específica, a forma escrita… Muitíssimo obrigado pelo vosso entusiasmo e interesse!
Publicamos aqui uma seleção das palavras que recebemos juntamente com o nome e localização do seu autor ou autora. Cliquem em cada uma das palavras e poderão consultar diretamente a entrada da mesma (com o seu significado, a divisão silábica, a indicação de origem, exemplos de aplicação e sinónimos) no nosso “fiel amigo” – Dicionário Priberam Online.
Maria Cruz Barradas (Sevilha/Espanha)
Missanga, é uma palavra bonita que me faz lembrar as cores e os ritmos africanos, os meus avós viveram vários anos em Moçambique e o meu pai nasceu lá numa povoação que se chamava Vila Pery e hoje é Chimoio.
Rita Veloso (Oeiras/Portugal)
Gosto da palavra gentileza, pelo seu significado e porque devemos ser sempre gentis com/para o outro. Gosto especialmente da expressão “gentileza, gera gentileza” porque é isso mesmo, se formos gentis com o próximo, a resposta será dentro da mesma medida, com respeito, empatia e amabilidade. Ser-se gentil, é um ato tão simples e natural, que fico perplexa quando vejo as pessoas agirem de forma contrária.
Carmen Martínez (Sevilha/Espanha)
A minha palavra favorita é “maresia“. Me faz cheirar, sentir o mar … e isso não existe em espanhol.
Hugo Pereira (Lisboa/Portugal)
Palavras que destaco, provavelmente por sentir a sua falta são a ética e a coerência. Numa sociedade e num “mercado” onde o capital é a única regra, única lei e único fim. Não se liga ao processo, não se liga aos produtores, nem aos consumidores. A minha visão de vida é tão distante que a vejo tudo isto como uma utopia… essa também é uma palavra gira e que casa bem com as duas anteriores.
Pedro Roldán (Sevilha/Espanha)
Gosto da palavra “luvas” porque me traz recordações das minhas primeiras viagens a Lisboa e adoro a pronúncia da letra “v”.
Nuria Silveira (Cáceres/Espanha)
A minha palavra preferida é saudade, parece-me uma palavra bonita e o seu significado faz-nos lembrar coisas e pessoas… É o título de uma canção da Cesária Évora muito triste, mas linda, linda.
Carmen Herrera (Sevilha/Espanha)
A minha palavra preferida é gafanhoto.Eu sei que há palavras mais lindas como “saudade” ou particulares como “chatice”, mas a palavra “gafanhoto” é muito sonora e gosto do facto de que é muito diferente da tradução ao espanhol: saltamontes. Acho que é uma palavra jeitosa.
Javier Suárez (Ilhas Canárias/Espanha)
Depois de ter pensado na minha palavra portuguesa favorita acho que não posso destacar só uma porque eu gosto de todas as palavras da língua portuguesa. Gosto delas pela sonoridade e a pronúncia delas nos meus ouvidos. Por isso para representar toda a língua numa única palavra escolho: português, o nome do idioma e que além disso tem uma bonita grafia com o acento circunflexo no “e”.
Nuria Montero (Sevilha/Espanha)
Das minhas palavras favoritas eu tenho fundamentalmente duas. Paneleiro – foi uma das palavras que eu primeiro aprendi nas minhas aulas de português. Cabeleireiro – é também outra palavra favorita e é porque no princípio das minhas aulas parecia-me impossível de dizer, é muito difícil.
Esteban Moreno Hernández (Sevilha, Espanha)
Para mim, desde que tirei o primeiro ano da língua e cultura portuguesa, a palavra mais bela da vossa língua é, sem dúvida, o luar. Não conheço outra similar nas restantes línguas. Descreve muito bem uma noite de clara lua cheia, não precisa muito mais. Beleza, simplicidade e poesia numa palavra.
Elaine Santos (Pindamonhangaba – São Paulo/Brasil)
Obnubilante. Gosto muito dessa palavra, deriva do verbo obnubilar, que significa: escurecer, tornar-se obscuro; ou provocar alteração de consciência. Mas o que mais me atrai não é nem o seu significado e sim o seu som, as movimentações que provocam na boca ao falar: “ob-nu-bi-lan-te!” É como se minha língua dançasse dentro da boca, levada pelos diferentes ritmos de cada sílaba. Para mim é uma palavra musicalizada e por isso gosto tanto de sua pronúncia.
Germán Montes (Sevilha/Espanha)
Pirilampo é a minha palavra preferida. Sempre achei essa palavra no limite da descrição da realidade para a fantasia. Parece uma palavra dirigida às crianças, com um som musical e mágico. É por isso que eu gosto dela.
Chiti (Cáceres/Espanha)
A minha palavra favorita é “nós”. É curta, mas grande, com acento, com força e fácil de escrever. Gosto muito do seu significado.
Angie (Sevilha/Espanha)
Uma das minhas palavras preferidas é “orvalho”. Pela sua musicalidade e o seu significado. Muito ouvida na música brasileira. Algumas canções em que aparece: Viver na fazenda (Maria Bethania), (Adoro toda a família Veloso jejeje), “Eu gosto da gota de orvalho na flor do canteiro”, E sobre tudo, na arquiconhecida “Felicidade” – “A felicidade é como uma gota de orvalho numa pétala de flor”.
2. Fica apalavrado
Eis um projeto que trata a palavra por tu. Quer conhecê-la, abordá-la, explorá-la “nas suas múltiplas vertentes, combinações e possibilidades”. Em “a palavra” encontramos como protagonista principal o vocábulo em vários prismas e ângulos. Merece absolutamente a pena dar uma vista de olhos no seu site oficial – www.apalavra.pt
3. Caixa forte dos vocábulos
Não é que seja inviolável, no sentido literal (até porque o seu expólio cresce sem parar). O dicionário online PRIBERAM é indubitavelmente um fiel e preciso companheiro para quem quer saber mais sobre as palavras da língua portuguesa. Contém diferentes variantes da língua (como a europeia e a brasileira), indica a divisão silábica (preciosa ajuda para a pronunciação correta), explicita a morfologia da palavra e dá exemplos de uso da mesma, apresenta sinónimos e palavras relacionadas com a que estamos pesquisando e, muito importante, no caso dos verbos apresenta a conjugação completa. Sem dúvida um “must” que deve residir na mesa de trabalho ou estudo de quem aprecia a língua portuguesa
4. Mata… dá vida às palavras
Que palavras tem guardadas para nós a grandiosa Vanessa da Mata? Querem ouvir? E dançar ao som da batida?
As palavras – Vanessa da Mata (4:27)
5. Vidas com história dentro
Com as palavras contam-se estórias e a História. Sempre adorei as histórias das pessoas, das suas vidas. Podem ser mais ou menos fantásticas, mas todas têm sumo nelas. Quando são narrativas com rugas, com mãos gastas e cabelos grisalhos a coisa fica ainda mais apetecível – são os mais velhos, mestres da vida a contá-la. Em “histórias de vida”, uma iniciativa apoiada pela Câmara Municipal de Oeiras, ficamos a conhecer em primeira mão e pela voz de cada protagonista uma das histórias da sua vida. Que maravilha. Consultem a web oficial – https://historiasdevida.cm-oeiras.pt/ – para aceder à informação completa. Entretanto, deixamos aqui uma das histórias para vos aguçar o apetite.
Um museu de vontade (3:58)
6. Palavra de Pedros
Não podia faltar nesta edição a referência a quem sabe dizer como ninguém. Escolhemos, por isso, dois Pedros muito especiais que darão um toque de excelência a este número. O Pedro Freitas que é também conhecido como “o poeta da cidade” e que declama poesia aproveitando-a para agitar as mentes. E o Pedro Lamares, colaborador de imensos projetos e conhecido pela forma muito pessoal que tem de declamar os poemas dos grandes mestres (e não só). Ora ouçam!
Raízes – Sofar Lisbon
“Uma pequenina luz” de Jorge de Sena por Pedro Lamares (3:09)
7. Lar das palavras
Sim… é uma insistência. Convite renovado para regressar ao recém reformado Museu da Língua Portuguesa (São Paulo/Brasil). Já tínhamos abordado este assunto no LQ? #7, mas pareceu-nos fundamental incluir novamente esta proposta, uma vez que tratamos justamente das palavras. Regressem lá e acedam à web oficial, onde encontrarão todas as novidades sobre este fantástico museu!
8. Palavras miúdas
Sam The Kid é um verdadeiro génio que encontra nas palavras (e nos “beats”) a matéria-prima para criar a sua obra. É incrível a forma como manipula e adapta as palavras, as frases, brincando com elas e moldando-as a seu belo prazer. É sem dúvida uma referência e um referente da língua portuguesa contemporânea e claramente um dos seus maiores defensores (desde o início da sua carreira). É uma tarefa difícil selecionar apenas um tema seu, dada a elevada qualidade da sua obra, pelo que deixamos aqui uma espécie de ode à canção “em português”. Acabou-se a vergonha de cantar em português! Deliciem-se!
Poetas do Karaoke – Sam The Kid (5:36)
9. Quando a língua nos atraiçoa
É a “Porta dos Fundos” no seu melhor. Ai a malandra da pronominalização! Nem os nativos acertam…
Português fluente – Porta dos Fundos (2:44)
10. Sobre elas muito se tem dito e escrito…
“A melhor prosa, a mais perfeita, a mais lúcida, a mais lógica, a que tem sido a grande educadora literária e tem civilizado o mundo, é feita com meia dúzia de vocábulos que se podem contar pelos dedos.” – EÇA DE QUEIRÓS
“Descobri vivendo que sofrer não deixa nada mais dramático, que chorar não alivia a raiva e que implorar não traz ninguém de volta… A palavra é valor!” – LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO
“Em vez de ouvirem os escritores em busca de respostas sobre o que somos, as pessoas precisam ouvir-se umas às outras, porque nós, autores, não somos mais do que meros trabalhadores da palavra.” – JOSÉ SARAMAGO
“As palavras são a nossa condenação. Com palavras se ama, com palavras se odeia. E, suprema irrisão, ama-se e odeia-se com as mesmas palavras!” – EUGÉNIO DE ANDRADE
“Aprendi novas palavras e fiz outras mais bonitas.” – CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
“Podemos ter muitas palavras para dizer uma coisa que aparentemente é a mesma, mas a verdade é que cada um a diz de forma diferente. É por isso que as possibilidades de reprodução do mundo pelas palavras são tantas.” – JOSÉ LUÍS PEIXOTO
“Saiba também calar-se para não se perder em palavras.” – CLARICE LISPECTOR
“A gente quer exprimir sentimentos em relação a pessoas e as palavras são gastas e poucas. E depois aquilo que a gente sente é tão mais forte que as palavras…” – ANTÓNIO LOBO ANTUNES
“Muitas coisas se diz melhor calado, pois o silêncio não tem fisionomia, mas as palavras sim têm muitas faces.” – MACHADO DE ASSIS
“Um poema é a projeção de uma ideia em palavras através da emoção. A emoção não é a base da poesia: é tão-somente o meio de que a ideia se serve para se reduzir a palavras.” – FERNANDO PESSOA
11. Com bonecos
Portuguesices… um dicionário das expressões idiomáticas que se usam na língua portuguesa (sobretudo em Portugal e no Brasil). Neste projeto encontramos belas ilustrações que com uma pitada de humor e boa disposição nos permitem conhecer o sentido e a semântica encerrada em muitas das frases que fazem parte da lusofonia quotidiana das ruas. Vão lá “dar uma vista de olhos”!
12. Além das palavras
Estamos acostumados a ficar “sem palavras” quando procuramos descrever o Camané partindo a louça toda com a sua voz e interpretação únicas. Como o adjetivariam? Ficam aqui as suas palavras sobre as palavras.
As Palavras – Camané (4:42)
13. Com queda para as palavras
Já deslizando para o final deste número. A nossa existência está repleta de quedas e o regresso à verticalidade. Nesses movimentos encontramos a poesia. No podcast – O poema ensina a cair (no link encontramos acesso direto a várias plataformas onde podemos assistir) – temos a oportunidade, pela mão de Raquel Marinho, de escutar entrevistas a artistas que de formas múltiplas e variadas trabalham com as palavras. Quem anda por lá? Muita gente… Capicua, Luca Argel, Afonso Cruz, Márcia… Vão lá descobrir!
14. A brincar, a brincar…
Inventar ou criar palavras deve ser certamente complicado. Já conheci quem o faça… No entanto, podemos sempre brincar e divertir-nos com elas sozinhos, com amigos ou com a família. Em puzzel.org podem criar sopas de letras, crucigramas e outros jogos com palavras portuguesas. É fácil, intuitivo, extremamente criativo e muito divertido. Experimentem e depois contem-nos como foi!
Agradecimentos
Muito obrigado pela vossa colaboração e pelos “grãos de areia” lançados ao projeto:
- João Antunes
- Joca Marino
- Nacho Flores
- Pedro Sereno
- Pilar Pino
Esta semana, recebi com surpresa e muita alegria uma fotografia antiga muitíssimo especial. Foi mais uma das que voou pelo whatsapp a dentro e em milésimas de segundo veio aterrar no meu telemóvel.
Quem a mandava? A minha mãe! Conseguira uma rara imagem do meu avô, o seu pai, e rapidamente ma enviou. Está junto à Banda Filarmónica que o viu nascer, bem como à alargada prole de onze filhos e filhas, em Cabanas de Viriato (histórica aldeia do Distrito de Viseu, em Portugal e que como o nome indica serviu de assento a Viriato e ao seu exército durante as épicas vitórias e feitos que este realizou contra as tropas romanas durante o século II a.C.). Devo dizer que este homem, o meu avô não o Viriato, dedicou a sua vida ao trabalho, à família e, claro está, à banda filarmónica da sua aldeia. Participou na sua fundação e foi membro integrante da mesma até uma idade bastante avançada (creio que a minha enorme paixão pela música ter-me-á chegado também através dele e do seu exemplo de dedicação). “Sempre que ia tocar a alguma outra aldeia, vila ou cidade trazia os bolsos cheios de pequenas surpresas para nós: guloseimas, brinquedos…” – contou-me a minha mãe, recordando episódios deliciosamente bonitos da sua infância.
Podem vê-lo aqui (o primeiro da esquerda) com um semblante concentrado para sair bem na “chapa”, ele que foi sempre conhecido pelo permanente sorriso que dia sim e dia também, ostentava no seu rosto rugoso e queimado pelo sol do campo. Garanto-vos que o João “dos pratos”, como era conhecido por toda a gente, foi/é provavelmente o homem mais bondoso que conheci até hoje. Sei que sendo seu neto pode soar imparcial ou tendencioso, mas é realmente assim! Jamais lhe percebi uma expressão de desagrado, zanga ou mau humor. Era assim, alegre, feliz e ponto!
Recordar é viver! Claro que ao ver a fotografia vieram-me à memória toneladas de momentos, pessoas, sabores e cheiros e uma mão cheia de fortes emoções. Estavam de repente comigo os primos e primas a correr descalços em frente ao cruzeiro da casa familiar feita de pedra. As mulheres da família conversando e rindo enquanto preparavam um coelho para a cabidela que degustaríamos todos juntos ao almoço. As galinhas a cacarejar como loucas dentro da capoeira porque o galo não as deixava em paz. O meu avô trabalhando o vinho dentro da adega, junto às pipas envelhecidas, com aquele típico perfume da humidade misturada com o mosto no ar. A minha avó sentada junto ao forno a lenha distribuindo pão com chouriço pelas dezenas de netos e netas, os catraios que por ali andavam nas suas correrias e brincadeiras. Um carro velho que irrompia pela aquela curva da nacional, junto ao pátio, apitando repetidamente. Algum vizinho que passava e dava as boas tardes.
E depois veio a vontade, a urgência, de regressar lá. Àquela povoação onde tudo começou. Há muito que lá não vou e as últimas visitas foram fugazes e motivadas por partidas de familiares. Está a faltar regressar com tempo e paciência para caminhar pelas ruas empedradas, ver o que estava e já não está, também o que mudou. Mas sobretudo pisar as raízes que ali permanecem e visitar os poucos ramos familiares que ali se encontram instalados. “É incrível com certas pessoas e determinados locais podem ser determinantes e modelares mesmo sendo pinceladas rápidas no quadro da nossa existência”, penso enquanto me dou conta que durante a minha vida devo ter estado ali pouco mais de uma dezena de vezes.
Afinal de contas, (e é aqui que quero chegar) como bem se demonstra na celebração da “noche de los muertos” no México, podemos dar vida eterna às pessoas que recordamos. Se ou quando já ninguém nos lembrar, deixamos de existir. Talvez, tendo isto em mente, possamos começar ainda em vida a tratar de ser, fazer, sentir, partilhar, construir e amar de maneira a ir entrando na memória de quem é importante para nós. Desconheço a melhor estratégia para o fazer, mas estou certo que ser profunda e legitimamente bom, praticar a bondade para com o próximo, é uma das maneiras mais simples e direta de lá chegar. O melhor que nos poderá acontecer será dentro de muitos, muitos anos, haver alguém que nos veja numa foto esbatida pelo tempo e ainda antes de cheirar as memórias, sorria!
GNTK – Raízes 3:48
Editorial
Esta semana regressamos com sugestões que nos farão viajar por geografias variadas, contactando com a ruralidade, o campo e a natureza no seu estado mais puro. Mas também pisaremos espaços urbanos e as ruas de grandes cidades e metrópoles, sempre focando a gente que cria, recria e conta as estórias de que o mundo é feito.
A nossa travessia inicia-se por uma imersão no cerne da música popular portuguesa, sem complexos, sem luxos nem grandes efeitos especiais ou fogos-de-artifício. Abriremos a caixinha de A Música Portuguesa a Gostar dela Própria para constatar que nem sempre é mau ser-se um pouco narcisista e que não é preciso ser-se Mozart ou Jimi Hendrix para compor temas musicais inebriantes, cantar e tocar instrumentos.
Ainda cantarolando canções ao ritmo do estalido dos dedos e entre assobios, chegamos à segunda paragem. Aterramos bem pertinho da linha equatorial, no belíssimo e açucarado arquipélago de São Tomé e Príncipe. Entre aromas de café e cacau visitaremos alguns dos locais mais emblemáticos, enquanto cozinhamos entre sorrisos Na Roça com os Tachos.
A imensa natureza exótica, este povo tão amável, generoso e genuinamente anfitrião, mais as paisagens de cortar a respiração… É uma jornada fantástica, mas lenta e progressivamente começamos agora a sentir vontade de saltar de novo até à urbe, com a sua confusão inebriante, as luzes intermitentes e o ritmo acelerado – reféns talvez desta coisa de querermos sempre o que não está à mão de semear… Então, num pulo, entramos a abrir no mundo artístico colorido, multifacetado, inovador e incrivelmente rico de Odeith e Bordalo II, dois jovens artistas portugueses absolutamente geniais na forma como conceptualizam e executam as suas obras.
Eis então que surge o convite para nos adentrarmos nos túneis da língua portuguesa, sem nos deixarmos perder nos seus labirintos. É melhor irmos com quem sabe do assunto! Vamos apanhar boleia do Babelite com os provérbios ao volante e as expressões idiomáticas no banco do pendura. E nós? Lá atrás, bem sentadinhos a gozar as curvas.
O circuito aproxima-se já do final… Vamos até ao Brasil sem sairmos do sofá, claro. Com o Novo Cine podemos empanturrar-nos de curtas até nos sair cinema de alta qualidade pelos ouvidos. Sim, em versão original! Sim, grátis! Ainda bem que há coisas das quais podemos abusar sem nos sentirmos culpados e cujos efeitos secundários só poderão ser benéficos.
Até já!
1. Música portuguesa??? Com muito gosto!
Acontece com frequência que começamos por ver o que está lá longe, no horizonte, sem antes observarmos atentamente o chão que pisamos. Não que haja algum mal nisso, cada um deve caminhar como e para onde quer. Só que andar sempre com binóculos faznos passar ao lado de verdadeiros tesouros que estão mesmo à frente do nosso nariz.
Observo como a rapidez estonteante com que recebemos música de todo o globo, de diferentes géneros e estilos, privilegiando os tops, por vezes não deixa espaço para podermos ver (neste caso escutar) os temas, as canções populares que piam em voz baixinha nos youtubes e afins.
Neste sentido, A Música Portuguesa a Gostar dela Própria, trabalho que Tiago Pereira (realizador, documentarista, visualista, mentor e coordenador deste projeto) e a sua equipa vêm realizando desde 2011 é absolutamente notório. Num excelente labor de documentação resultante de uma pesquisa exaustiva é-nos apresentado um panorama abrangente da música popular feita em Portugal , na sua versão mais autêntica e genuína. Recordam-se a tradição oral, as cantigas, os romances, os contos, as práticas sacroprofanas, as músicas, as danças e também a gastronomia, reutilizando fragmentos da memória de um povo. Aqui não encontramos estrelas e palcos gigantes, nem lantejoulas ou luzes e focos potentes, tão pouco colunas do tamanho dum camião… Em compensação somos enfeitiçados por vozes absolutamente únicas e preciosas, instrumentos artesanais e ancestrais e também instrumentos acústicos ou elétricos. Tudo isto emoldurado com os rostos do povo (desde anciãos a crianças) em cenários quotidianos (interiores e exteriores, urbanos, rurais e campestres) capazes de cortar a respiração, que contam estórias sem a necessidade de dizer.
A visita à web possibilita pesquisar por distritos e ilhas, num total de 2980 projetos apresentados em 5368 vídeos, reunindo 9171 instrumentos (dados do dia 30 de novembro de 2020). Números que à medida que teclo me parecem surreais e custam a assimilar, sublinhando a grandiosidade desta iniciativa. Podemos também aceder ao canal do youtube e escolher os vídeos a la carte.
Merece totalmente a pena dar uma vista de olhos e uma escuta de ouvidos. Pezinho de dança garantido!
2. Façam o favor de ser felizes!
É com esta melosa e alegre frase que João Carlos Silva (JCS), no seu sorriso de orelha a orelha, se despede em cada um dos episódios de “Na Roça com os Tachos”.
Neste programa da RTP2 que se emitiu entre 2003 e 2005, somos convidados a viajar pela mão de JCS através da beleza única e da tremenda paisagem exótica do arquipélago de São Tomé e Príncipe, a pretexto de aprender mais sobre a culinária local usando os recursos naturais.
Em cada capítulo JCS desloca-se a uma roça diferente onde prepara 3 pratos (normalmente uma entrada, um prato principal e uma sobremesa) usando os produtos locais. Pelo meio contacta com as gentes, faz referências culturais e históricas e mostranos aspetos da fantástica flora.
Se esperam cozinhas ultra-sónicas ou de última geração, tirem o cavalinho da chuva – isto não é para vocês. É fascinante o tanto que se pode fazer com tão pouco! A cozinha conta apenas com o essencial: uma bancada, um pequeno fogão a gás e meia dúzia de utensílios… Só que o “chef” JCS vai cozinhando enquanto brinca e nos embala com o seu bom-humor e boa disposição. Ali dança-se, canta-se, “namora-se” com os alimentos, tudo com tempo, pausado e com carinho, enquanto se vai preparando o petisco, sempre ao som de excelente música e de algumas piadas com o câmera – Calú.
Mesmo quem não tem mãozinha de cozinheiro deve dar uma olhadela a esta delícia, sobretudo nos dias em que estamos “de chuva”, cabisbaixos, mal-humorados ou a precisar de genica. As cores de São Tomé e Príncipe e a alegria de JCS contagiam e curam!
3. Urbanar-te
A arte urbana, da rua com a rua e na rua, nas suas mais variadas formas é hoje em dia um potente dínamo cultural e uma das expressões de criatividade associadas a mensagens pensadas, com uma intenção clara (por vezes rompedora, provocadora ou agitadora), um espírito inovador e em constante transformação. Se andarmos com os sentidos alerta enquanto passeamos pelas ruas das grandes cidades do mundo, é impossível não sermos convidados pelos estímulos à nossa volta a apreciar obras de pintura, escultura, desenho, graffiti, entre outros.
Uma das características mais fascinantes de alguns destes artistas é a integração de materiais pouco convencionais nas suas criações, dando uma segunda oportunidade a estruturas e edifícios que estavam moribundos, à beira da morte, e esquecidos ou abandonados pela nossa vista. Mas muitas vezes não se ficam por aí, usando diretamente esses materiais já encaminhados ao desuso, ao lixo, ao fim terminal, como parte integrante e definidora das suas obras.
Nesta perspetiva transformadora e recuperadora, encontramos dois nomes que vêm realizando um trabalho simplesmente extraordinário, cada vez mais reconhecido em Portugal e a nível internacional.
Um verdadeiro mestre no uso da perspetiva, da escala e conhecido pelo perfeito realismo tridimensional, Odeith resgata paredes em escombros, espaços devolutos e outras estruturas abandonadas e dá-lhes uma nova vida. O seu trabalho surpreende pela forma, mas também pelo conteúdo e a visão conceptual que transpira em cada novo projeto do artista. Filho da revolução – nascido nos finais dos anos 70 – representa uma geração de ouro no que respeita à arte urbana em Portugal.
Um pouco mais jovem, nascido no final dos anos 80 e igualmente genial, Bordalo II tem uma abordagem artística simplesmente singular. Este artista recupera materiais do lixo e transforma-os em “luxo” artístico. Numa perspetiva que promove a reutilização dos materiais, protetora do ambiente, do planeta, da fauna e flora, o artista constrói enormes peças (normalmente em paredes de edifícios). As suas obras são indecifráveis ao perto, o que nos convida a distanciar-nos delas para podermos apreciar o que inicialmente parecera um monte de quinquilharia e sucata e agora se nos afigura como algo concreto e definido – quase sempre animais que se integram com a arquitetura. O nada, passa a ser algo através da interpretação de quem vê e sente.
Percam a vergonha e deem um salto pelo trabalho magnífico destes dois artistas lusitanos!
4. Grão a grão, em pedra dura… nem é 8, nem se mede aos palmos!
Zás! O carreto do trangalho dobrou-se, a roda do pivanço empenou e os provérbios mesclaram-se todos numa amálgama de desastre. Como saímos desta?
Sem stress, está aí o Babelite para salvar a situação! Esta web (de estética e aspeto pouco apelativos, há que dizê-lo) procura dar solução a uma das maiores dificuldades dos estudantes de línguas estrangeiras (e até de falantes nativos), enquanto faz também o papel fundamental de registo e arquivo.
As expressões idiomáticas e os provérbios são geralmente uma tremenda dor de cabeça! Representam lições, tradições, lendas, procuram fornecer uma moral ou derivam de factos históricos que frequentemente escapam aos falantes não nativos, sobretudo no início do percurso de progressão linguística. Ainda por cima, são usados com muita frequência e a impossibilidade (quase sempre) de os entender através da tradução literal e direta provoca angústia, chegando a impossibilitar a participação comunicativa eficaz.
Como funciona? Muito simples! Primeiro temos de escolher uma das 5 opções de línguas disponíveis (inglês, francês, castelhano, catalão ou português). Basta teclar a expressão ou a palavra-chave que pretendemos pesquisar e imediatamente são-nos sugeridas várias hipóteses como resultado. Podemos então consultá-las e procurar a que mais se adequa ao contexto em questão.
É fantástico? É apelativo? Não e não, mas procura esclarecer e dar respostas que nem sempre são fáceis, contribuindo para melhorar o conhecimento no domínio dos provérbios e das expressões idiomáticas. Não é excelente, mas é melhor que nada e, como se costuma dizer: quem não tem cão, caça com gato!
5. Curtas brasileiras
E vamos aproximando-nos do final da viagem de esta semana. É sempre bom ter a opção de escolher como acaba, como termina e se conclui o passeio e a aventura. Afinal de contas somos todos diferentes, sendo todos iguais. Aqui oferecemos a possibilidade de escolher como se ramifica o término, o interlúdio até à próxima semana.
Na web Novo Cine encontra-se disponível uma excelente seleção de curtas-metragens brasileiras, com elencos recheados de qualidade (estreias e valores inquestionáveis) e que abrangem um vasto leque de temas e géneros. Um autêntico manjar para os amantes da 7ª arte!
Todos os títulos em versão original e com legendas disponíveis em espanhol e inglês (para os que possam ter maior dificuldade de compreensão do português do Brasil).
Celebremos esta fantástica iniciativa da Embaixada do Brasil em Espanha. Divulgação através da qual ficamos a conhecer o que de melhor se está a fazer, no panorama do cinema mais atual, no outro lado do Atlântico.
Já fomos petiscando… impressionante o trabalho do “gigante” Lima Duarte em “A volta para casa”.
Vão lá buscar as pipocas!
Editorial
Bem-vindos!!!
É com enorme alegria e maior responsabilidade que constato ter um elevado número de pessoas que aceitaram o repto de me seguir nesta aventura. Já embarcaram amigos, família, colegas de profissão, alunos… Vamos lá desfrutar disto e ver quem mais se junta e onde nos leva!
Esta é a primeira edição, o arranque de uma ideia, um projeto, que venho desenvolvendo de forma intuitiva e natural, mas que agora tenta ganhar uma estrutura mais sólida e uma organização mais eficaz. Não esperem, para já, grandes grafismos, fintas estéticas ou decorações exuberantes.
Como sabem trata-se de procurar fazer-vos chegar sugestões e dicas (de qualidade) sobre cultura lusófona e língua portuguesa nos seus mais variados domínios e formas. Tentarei dar maior visibilidade a artistas e projetos que costumam ter uma visibilidade mais reduzida e, simultaneamente, reforçar aqueles nomes que não necessitam apresentações e por isso mesmo devem ser regularmente trazidos à baila.
No final de cada artigo encontram referências para poderem aprofundar mais e obter mais informação sobre os artistas, autores, entidades e projetos abordados. Claro está que a internet está disponível e à vossa espera para poderem sempre descobrir ainda mais sobre algum dos temas de que possam gostar mais.
Vejamos então o que temos preparado neste recém-nascido, o número 0.
Primeiro daremos um passeio pela música urbana atual de alto nível, de mãos dadas com a Capicua, Valete, Emicida e Rael , numa fantástica mistura luso-brasileira homenageando a língua portuguesa sem fronteiras ou barreiras.
Seguidamente podemos espreitar um pouco da vida e obra do escritor moçambicano Mia Couto . Preparem-se para a fantasia exótica que conta vidas e estórias absolutamente extraordinárias.
Também conheceremos uma ferramenta para os amantes das línguas estrangeiras. O Forvo veio para nos ajudar a conhecer e aperfeiçoar a pronúncia em várias línguas, de forma fácil, simples e grátis.
Com a viagem já a mais de meio, aproveitaremos para renovar o ar nos pulmões da alma através da maravilhosa ementa sonora da Rádio Oxigénio.
Finalmente, veremos como um grupo de jovens inconformistas e determinados procuram informar sem mais. Sem lobby, sem interesses, sem âncoras, sem batota… Vai haver Fumaça!.
Francamente genial
O Projeto “Língua Franca” reúne um quarteto de artistas portugueses e brasileiros em torno da ideia de homenagear a língua portuguesa através da música usando ritmos do hip-hop e rap, numa onda urbana em que a mensagem é primordial.
Capicua, Valete, Emicida e Rael, rappers, autores, letristas, todos eles a viver momentos de excelente produção artística, criaram um conjunto de canções em que a língua de Camões toma o protagonismo. Chama a atenção a forma natural que encontraram de construir “pontes” numa época em que muitos se concentram em construir “muros”.
Longe vão os tempos em que dava vergonha cantar em português… e ainda bem! Escolhi o tema “Ela” para vos aguçar o apetite.
O “brincador de palavras”.
Costumo dizer que tenho centenas de livros que ainda não li. Há quem se escandalize, quem ignore ou desvalorize esse facto e quem partilhe desta taça. Realmente não consegui, nem conseguirei brevemente, dar conta de todos os volumes que habitam as estantes cá em casa. Mas uma das coisas mais positivas disto é que de vez em quando tropeço nalgum livro que já anda por aqui estacionado há uns anos e decido começar a lê-lo. Foi este o caso recente com Mia Couto
“Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra” tinha o travão de mão bem puxado desde o Natal de 2002, quando a minha irmã mo ofereceu. No outro dia piscou-me o olho e não resisti a dar-lhe uma oportunidade. E voltou a acontecer o que sempre me acontecera ao ler Mia Couto… Quando se começa já não há volta atrás! A forma como narra os acontecimentos e conta a estória é de tal forma autêntica e genuína que me sinto como se estivesse lá, a viver todos os incríveis acontecimentos. Damos por nós a habitar cenários exóticos e a experimentar uma cultura riquíssima, enquanto nos apercebemos também dos dramas que os conflitos armados e a indefinição política provocaram ao longo dos anos em Moçambique. É quase uma miséria doce… Delicia-me a maneira como brinca e reinventa palavras munindo-se do crioulo e das expressões locais, cruzando-as com a língua portuguesa com um engenho singular.
Entrei de cabeça no universo do autor, fui transportado para uma pequena ilha de Moçambique onde os seus habitantes têm uma relação muito especial com as coisas que não se veem, com os espíritos e a alma. Nesta estória sobre uma família que se vê a contas com um problema para resolver motivado pela morte do patriarca, a natureza abunda e as tradições mandam (quase sempre). O protagonista é o jovem Mariano obrigado a regressar à sua ilha natal e que se vê num emaranhado de fios que ao longo da narrativa se vão desembaraçando com as intervenções de outros através das impressionantes descobertas que ele vai fazendo enquanto (re)descobre a sua casa (a sua terra).
Não há duas sem três, costuma dizer-se. Quando terminei a leitura parei-me a pensar o que leria agora. Fugi da montanha crescente de volumes na mesa de cabeceira e acabei por deixar o coração mandar. Lá fui de volta à prateleira parking e desencalhei outra pérola do autor moçambicano – “Terra Sonâmbula” . E lá ando de volta de este romance considerado por muitos um dos melhores livros africanos do século XX. Sobre este não conto nada, na esperança que a curiosidade “mate” e vos faça espreitar.
Sons na ponta da língua
Quantas vezes nos aconteceu querer dizer uma palavra noutra língua e não ter a certeza de como se pronuncia? Também devem ter tido alguma vez dúvidas ao ouvir uma palavra, não sabendo exatamente quais os sons (fonemas) que lhe correspondem, o que pode gerar dificuldades na escrita.
Durante a navegação pelo mestrado, descobri esta semana o FORVO. Trata-se de uma maravilhosa ferramenta disponível online que permite escutar palavras de imensos idiomas (desde turco e russo a árabe, sueco ou japonês – centenas de línguas). Um dos aspetos que destaco é o facto de ter em conta as suas variantes, por exemplo português europeu e do Brasil ou inglês britânico e americano) com a pronúncia correta. É muito simples. Basta aceder à página e escrever a palavra. Se a palavra constar da gigante base de dados, será apresentada em diferentes variantes. Clicamos na que nos interessa e, zás, ouvimos alguém a pronunciar a palavra.
Parece-me muito útil a nível académico e profissional, mas também no âmbito pessoal. Já vos estou a ver viciados nisto!
Respirar
Acordar cedo, filhos, trabalho, estudos, obrigações, faturas e contas para pagar, compras, transportes, trânsito… ramerrame… lufa-lufa… UUUUFAAAAA!
Preciso de respirar…Todos sabemos o que isto é.
Nesses momentos em que só queremos dispor de alguns minutos para nós, para estar na caixa do nada, relaxar e…respirar fundo, pausadamente e sem pressas, existe uma frequência na rádio portuguesa perfeita. A Rádio Oxigénio (102.6 FM)!
Esta estação apareceu na minha vida há muitos anos e marcou-a profundamente. Foi culpa de amigos, a descoberta não foi minha. Ao som das suas riquíssimas propostas musicais respirei em diversas situações. Recordo as viagens diárias no comboio da linha de Cascais, ensonado, observando o Tejo, o horizonte com pinceladas de eletrónica, jazz ou hip hop. Os regressos a casa, com o sol a descer ao som de DJ’s que apostavam em grooves enérgicos e divertidos enquanto contextualizavam o que se ouvia (que artista, que ano, qual o disco e estilo…). Os programas de reggae ao sábado de manhã enquanto se lia o jornal. As danças animadas, repletas de energia positiva, com amigos em terraços e festas ao ar livre. Enfim… tantas estórias e tantos momentos.
A abordagem e linha programática é muito particular e foge bastante ao mainstream. Aprecio imenso o esforço por contemplar os diversos estilos musicais, criando uma plataforma democrática onde cabe de tudo um pouco, mas apenas tudo o que tem qualidade. Passam vários programas de especialidade com convidados e gente que vive a música e da música. Som brutal 24/7.
Convido-vos, pois, a chegar o ouvido a esta frequência. Está disponível online, além da forma mais tradicional na “velhinha” FM.
Vai valer a pena RESPIRAR!
Notícias fumegantes
Numa era de informação massiva, globalizada, imediata surge um projeto que pretende fazer jornalismo de uma forma “independente, progressista e dissidente que aposta no jornalismo de investigação em áudio, feito com profundidade e tempo para pensar”.
Choquei com o Fumaça muito recentemente. Foi uma dica preciosa de um grande amigo, um “maninho” como eu gosto de dizer. Dei uma vista de olhos nas publicações disponíveis na web e gostei bastante do tom, o seu enfoque, o estilo comunicativo e a perspetiva ou ângulo informativo
Está formado por uma jovem equipa multifacetada de gente com experiências variadas e ricas, num estilo cool, sério e responsável onde se nota uma enorme determinação em levar para a frente as convicções que originaram o projeto.
Parece-me que podem contribuir positivamente acrescentando um modo diferente de estar num meio em que, é sabido, se movem interesses, lobbies e poderes instalados. Passem pela web e deem uma vista de olhos. Se gostarem podem sempre dar uma ajudinha para este projeto continuar a caminhar.
Editorial
Cá estamos de volta com mais estórias para dar um toquezinho de cor e sabor ao fimde-semana que já espreita. Preparem-se para mexer bem esses ossos, pois temos uma edição estimulante e que certamente vai ativar os 5 sentidos, numa nova viagem por várias latitudes.
Chave na ignição e arrancamos deixando o Cais do Sodré atrás. Metemos a 1ª e soltando a embraiagem rapidinho, rodas a derrapar, já estamos a rolar a alta velocidade como o Gustavo Ribeiro na sua tábua. Curvas, saltos e peripécias garantidos, pelo meio de cenários urbanos únicos. Não esqueçam o capacete!
Engrenamos a 2ª, sem deixar desembalar, e num pulo vamos avançando pela Marginal aos som da East Side Radio. Abrimos a pista de dança contagiados pelos ritmos alegres e coloridos que jorram das colunas como cataratas dançantes.
A 3ª vem em seguida, mas aqui temos já uma acalmia. A mudança arranha ao entrar… sem problema, agora há tempo. Vamos lá assimilar e digerir com calma a estória “animada” de Vasco Granja, o professor que ensinou uma geração através da sua paixão pelos desenhos animados.
Estamos a chegar ao Guincho… o mar embravece-se, o vento levanta-se, os deuses manifestam-se, os papagaios losango sobrevoam as dunas e como se pudéssemos continuar a conduzir pelo Atlântico adentro, metemos a 4ª e relaxamos. Apetece pensar em coisas divertidas e que nos façam soltar umas valentes gargalhadas. Tocamos solo brasileiro e entramos pela Porta dos Fundos! Ironia, sarcasmo, toques na ferida, crítica acutilante e rir como se não houvesse amanhã.
Nada como finalizar em velocidade cruzeiro. A 5ª vai soltinha e encaminha-nos para
Cabo-Verde com passagem rápida por Portugal. Somos recebidos pelo imenso sorriso de Lura e inebriantes ondas de boa vibe. Convite para deixarmos corpo e mente guiarem-se pelos ritmos cálidos desta magnífica intérprete que mistura na perfeição as raízes africanas com as vivências em Portugal.
Até já!
1. Rolamentos alfacinhas
Fica difícil escrever com calma sobre quem anda normalmente a rodar a grande velocidade.Gustavo Ribeiro (skateboarder) tem demonstrado ser um verdadeiro prodígio numa atividade que reúne em si mesma inúmeras características. Desporto radical, movimento urbano, arte expressiva ou grito de emancipação para alguns. Sem dúvida, uma paixão incontrolável para os seus amantes e praticantes.
Este jovem lisboeta (19 anos) tem deixado o mundo de boca aberta com a sua genialidade e destreza incomuns para dominar o skate. Capaz de realizar manobras e truques incríveis (criador inclusive de movimentos novos), que por vezes nem em câmera lenta se conseguem entender ou percecionar na totalidade. Gustavo vem ganhando cada vez maior notoriedade e prestígio, pelo que tem viajado e levantado a bandeira portuguesa por este mundo fora.
Em 2019 obteve a medalha de bronze no campeonato do mundo, numa prestação e demonstração de mestria incrível. Não estranha portanto que faça parte de um restrito grupo de atletas (SLS “9 Club”) onde se encontram aqueles que conseguiram obter uma nota 9 ou superior por um truque ou manobra realizado durante um campeonato mundial de Street Skating.
Atualmente, faz parte da equipa profissional de renome mundial Red Bull e representa a JART Skateboards. Apesar de o solo ser o habitat natural onde expressa a sua arte, o céu parece ser o limite.
Saltem daí e venham ver algumas manobras vertiginosas e alucinantes!
2. Discos à solta
DJ sets em jeito de autêntica filigrana sonora, malta cheia de garra e com muita música dentro. Veterania certificada e com provas dadas, mas também sangue novo cheio de vontade de despontar. É o que nos espera neste projeto de radio online iniciado em 2019 por André Granada e Tiago Pinto (duo que forma Funkamente) com o objetivo de passar música sem uma linha editorial rígida e cuja programação não seja formal nem regular como acontece normalmente nas rádios FM. Aqui o foco está na arte dos convidados e na sua seleção musical.
Atualmente, de modo provisório, têm o estaminé montado nas traseiras da mercearia mexicana Pistola y Corazon e é desde aí que emitem.
A East Side Radio promove uma programação diversa que dura das 14h às 18h, de segunda a sexta-feira onde o convidado de serviço faz as honras da casa.
3. O eterno menino pedagogo dos “bonecos”
Quem nunca vibrou com as ousadias, as aventuras e desventuras, os enredos e rápidos twists, as lutas entre os bons e os maus, as derrotas e a glória, as façanhas dos superheróis? E há por aí alguém que não tenha sido extraordinária e repetidamente feliz navegando no universo dos desenhos animados?
A infância nutre-se desses mundos de personagens fantásticos, nas suas cores e formas deslumbrantes, nas possibilidades ilimitadas e também através da possível identificação que fazemos com alguns desses seres imaginados que, no fundo, têm vida própria. Talvez parte da formação do caráter até se jogue nessas partidas, nessas fascinantes sessões de desenhos animados.
Ultimamente, nas bizarras circunstâncias que vimos experimentando nos últimos meses, precisamos cada vez menos de vilões e desejamos que cheguem cada vez mais heróis que nos ajudem e nos motivem para seguir em frente. Um dos meus super-heróis é na realidade humano (verbalizo no presente, apesar de já ter partido) e fez algo que merece um franco tributo que procuraremos fazer humildemente aqui no nosso espaço. Vasco Granja (apresentador, cineclubista e professor) foi um dos maiores responsáveis pela difusão dos desenhos animados naquele ido e profundamente rural Portugal dos anos 70.
Durante anos e anos (em mais de 1000 emissões) este Sr. com ar de “cientista louco”, com cabelo grisalho e meio desgrenhado, óculos de massa, entrava assídua e magicamente pelas nossas casas. No seu sorriso permanente, era ele quem nos levava a alegria, o entusiasmo, a criatividade e magia, em suma a magnificência única dos desenhos animados na TV. Fazia-o numa linguagem que não sendo paternalista ou abebezada nós, crianças, entendíamos perfeitamente. Recordo como enquadrava e contextualizava o que se ia ver em seguida, nas suas introduções. Aproveitava sabiamente aquele espaço de entretenimento para introduzir referências culturais, artísticas e históricas. A genialidade de juntar o útil ao agradável – “sim, veem desenhos animados, mas entretanto também aprendem!”
Falamos do tempo em que os miúdos do bairro se juntavam nas casas dos amigos para verem os desenhos animados na televisão. A pantera cor-de-rosa, o Bugs Bunny e o Duffy Duck, o Mickey, o Tom e Jerry… Era a antecipação, a conversa prévia, os deliciosos lanches preparados com carinho pelas mães e avós… depois, em silêncio, os olhos pousavam no ecrã tentando não perder pitada. E quando acabava a magia, era continuar a sonhar transpondo as aventuras para as brincadeiras, já com a expectativa posta na sessão da tarde seguinte.
Fica, pois, o convite para que espreitem alguns desses momentos que marcaram indelevelmente e de forma positiva a vida de muitas crianças, deixando belas e bonitas recordações em toda uma geração.
4. Humor tropical
No cinema, o que acontece lá atrás, nas traseiras de casas, restaurantes, lojas e outros locais, costuma ser misterioso. É frequentemente algo que manifestamente se pretende ocultar e esconder. Nessa retaguarda entram personagens suspeitos, de forma sorrateira e à socapa. Também saem em corrida sujeitos em fuga, almas penosas e assustadas… É justamente nessa dualidade de entradas e saídas em terrenos pantanosos, que outros evitam ou procuram manter à distância, que a Porta dos fundos se movimenta livremente e com um à vontade estonteante.
Este coletivo brasileiro de excelentes atores toca sem medo e sem tabus os temas mais delicados da sociedade. Vamos rir-nos enquanto pensamos e refletimos sobre política, relações amorosas, ambiente laboral, religião e espiritualidade, estereótipos, racismo, e tantos outros assuntos atuais, pertinentes e nem sempre fáceis de abordar.
Humor ácido e acutilante baseado em guiões fantasticamente estruturados que recriam fielmente situações quotidianas que com um toque de especiarias ganham a dimensão exagerada, ridícula ou absurda que as torna irresistivelmente hilariantes.
Eis algumas sugestões para aquecer os motores. No canal oficial do Youtube encontrarão centenas de propostas imperdíveis.
5. A voz crioula com berço luso
São já mais de 25 anos de carreira repletos de discos, tournées pelo mundo fora, participações em projetos discográficos variados (Red Hot + Lisbon foi um dos mais destacados pela crítica), dança e energia contagiante. É impossível assistir a Lura em palco e ficar indiferente às suas atuações. Essa energia contagiante chega-nos também quando ouvimos as canções gravadas em estúdio.
Nascida em Lisboa, desde muito jovem começou a dominar o crioulo cabo verdiano que aprendeu junto da família, amigos e colegas de escola. O seu amor pelo país originário dos seus pais levou-a a cantar e compor usando essa língua e também reunindo as influências que estão na génese musical que caracteriza os sons nascidos nessa costa atlântica do continente africano.
A oportunidade que teve de trabalhar e acompanhar de perto a lenda da música cabo verdiana Cesária Évora (em Lisboa durante a Expo 98 e em Paris numa série de concertos), a participação no Festival RTP da Canção foram, entre outras, experiências que a ajudaram a construir uma carreira sólida que conta com inúmeros discos editados. Tem-se afirmado ao longo dos anos como uma das principais embaixadoras da música e cultura cabo verdianas.
Deixem-se guiar pela energia única desta diva, ao som de ritmos mexidos!
Editorial
Nesta última edição de 2020 (fazemos uma pausinha paras as festividades) queremos levar-vos alegria e positividade, já com os olhos e o coração esperançadamente postos no 20+1.
Vamos pois dedicar esta edição à música e dança como meio de celebração e detox. O nosso gira-discos deixará que nos adentremos num vinil múltiplo e pluralista, um universal esperanto sonoro, para navegar embalados pelas melodias criadas em diferentes lusofonias.
No final de um 2020 tão singularmente surpreendente, tratemos de celebrar a união, o conjunto, a cooperação, a amizade entre culturas, nações, raças de homens e mulheres. Demos voz, usemos a linguagem do mundo, aquela que é una e que todos conhecem. A da paz, da empatia, da tolerância, do respeito e do amor!
A agulha toca o disco, o som vintage, o ruído fino da antecipação e somos imediatamente arrebatados pelo ritmo. Chega Gonzaguinha espalhando alegria e cantando a inabalável esperança de um povo.
Continuamos a escuta, agora com mais intensidade na poesia cálida e doce de Eneida Marta Cantam-se e contam-se estórias de vidas e de uma terra onde apesar das dificuldades, há sempre espaço para mais um sorriso genuíno.
O set atinge o seu ponto médio. Baterias já recarregadas e alma sanada, urge novo momento dançante e Pacas vai tratar do assunto. Contem com movimento, energia contagiante através da união das influências africanas com inúmeros géneros e uma capacidade interpretativa incomum.
Não deu para descansar… Vamos deixar-nos guiar pelo experimentalismo e a conjugação de sonoridades que aparentemente podem parecer distantes ou que dificilmente namorariam num mesmo palco. Orelha Negra conduz-nos por uma travessia de intensidades variáveis onde a música surge como uma amálgama sonora perfeita.
Em jeito de fecho, vamos acendendo progressivamente as luzes apontadas para a pista. O baile vai ficando mais morninho. A cadência afrouxa. Os corpos acalmam e descansam. Amaura murmura-nos ao ouvido a sua vida feita poesia e voltamos à realidade mais equilibrados.
A agulha levanta-se lentamente e volta ao ponto de partida. Mente sã e corpo são!
Estreamos também una nova secção – (in)Raizados – onde contaremos em cada edição a estória de lusófon@s que fazem a sua vida por aí, nos cantos arredondados do mundo.
Até já!
1. Cantar a felicidade
É samba, é bossa nova e é aquela batida enérgica e alegre que transpira no sorriso do povo brasileiro. É a esperança, a crença na felicidade mesmo quando ela parece estar bem longe do nosso alcance. É Gonzaguinha!
O compositor e cantor, apesar da sua breve carreira (faleceu prematuramente num acidente de automóvel durante uma das suas digressões em 1982), conquistou a nação. Filho de uma outra lenda musical, Luís Gonzaga, iniciou a sua carreira num tom mais crítico e ativista, mas ao longo da sua discografia vai-se aproximando mais de temas como o amor, a amizade e a felicidade. Eis dois temas icónicos e que impossibilitam manter o pezinho parado no chão.
O que é que é?
Música e trabalho: é
2. Dureza doce
Esta guineense, combina de uma forma moderna e atual as tradições musicais do seu país de origem usando instrumentos tradicionais como a corá , o balafon e percussão com cabaça, em arranjos de uma beleza sonora indescritível. Nos seus discos combina os estilos tradicionais da Guiné como o Gumbé, o Tina, o Singa, o Djanbadon, o Afro-beat e canta em Mandinga, Fula, Crioulo, Futa-Fula e Português
As canções de Eneida Marta não nos deixam indiferentes, elas contam rostos duros e profundos, também a alegria, o (des)amor, as agruras da vida, a força das mulheres, a família, as paisagens maravilhosas da Guiné-Bissau e o seu fantástico povo. Embarquemos na melosa voz ao colo dos deliciosos dedilhados e batidas da sua obra.
Amor livre
Mindjer doce mel
3. Na rua de todos
Nascido em Luanda, crescido em Lisboa. Quase 3 décadas dedicadas à arte e pelo meio imensos quilómetros em tournée (Tabanka Djaz, They Must Be Crazy, entre muitos outros), inúmeros palcos e a participação em projetos variados de música, dança e animação cultural.
Pacas é tudo isto e mais. A sua música é como o sorriso que ostenta sempre: grandiosa, contagiante e enérgica. Nas suas canções coabitam inúmeras influências e géneros musicais que vão desde o soul e jazz, ao rap e hip hop, funk e pop, tudo bem temperado com o calor do jindungo africano e moderado pela urbanidade lisboeta, numa interpretação singularmente intensa. Topem só algumas das faixas bailantes do seu mais recente álbum “A rua é minha”.
Boato
Geração Yo!
4. Laboratório sonoro
Experimentalismo controlado e com altíssima qualidade! Estes “cientistas” musicais, em 2010, pegaram nas sinergias que foram descobrindo ao longo de colaborações em estúdio e na estrada e criaram, como se de um laboratório se tratasse, um projeto com uma sonoridade realmente única.
Em Orelha Negra estamos perante um grupo constituído por elementos de diferentes gerações, distintos backgrounds musicais (temos jazz, hip hop e rap, funk…), que através de uma espécie de comunhão sem censura ou travões criativos realiza um cruzamento extremamente profícuo de influências aproveitando o melhor que cada um tem para dar através da sua experiência.
Chama também a atenção ver como instrumentos como o baixo elétrico, a bateria e as teclas se unem plenamente e de forma harmonizada com os scratches do DJ e os samples lançados por Sam the Kid. Deixo-vos navegar livremente neste universo muito particular e tão especial.
M.I.R.I.A.M.
Parte de mim
5. Com a alma aberta
A enorme maturidade pessoal e musical refletem-se na carreira de Amaura . A artista está sem dúvida a passar por um momento brilhante e de grande produção.
Habituada a participar e colaborar com vários artistas nos seus projetos, nos trabalhos que lançou individualmente é clara a presença assumida de R&B, soul e jazz nos arranjos. Destaque também para o cunho pessoal das suas letras que contam amores mal-amados, desilusões geracionais e inconsistências com o próprio ser. Fechamos a sessão com esta bela voz, numa boa vibe.
Denso
EmContraste
(in)Raizados
Esta nova secção está dedicada a contar as aventuras e desventuras, as peripécias e o quotidiano de pessoas fantásticas que nasceram em países lusófonos e agora andam pelo mundo fora fazendo pela vida, fazendo a sua vida e espalhando a língua portuguesa pelos 4 cantos do globo.
Gente ordinária que faz coisas tão extraordinárias como simplesmente andar de bicicleta, dedilhar uma guitarra, tratar e cuidar de animais, plantar flores, cozinhar petiscos, passear à beira-rio, dançar com amigos, desenhar paisagens ou escrever poesia… Onde nasceram e onde vivem, com quem partilham os seus dias, o que fazem nos seus tempos livres, quais os seus projetos profissionais?
Estreamos este espaço com a fabulosa estória de uma grande amiga – a Lena .
Helena Matos (40 anos, Antuérpia)
Nasci em Lisboa e sou a segunda filha de um jovem casal de retornados. Fui uma criança tal como as outras mas que, desde sempre, soube que o meu futuro não seria em Portugal. Aos 3 anos, pelo que conta a minha mãe, já lhe dizia que eu não era dali, que vinha de França.
Estudei em Lisboa, onde me formei em gestão de empresas e comecei a trabalhar numa conhecida empresa internacional. A experiência não foi muito boa e cedo soube que aquele não era o meu lugar.
Em fevereiro de 2005 surgiu um projeto em Barcelona, numa ONG, como responsável por projetos internacionais de voluntariado. Apesar de não ser a minha especialidade, tinha tanta vontade de viver e conhecer coisas novas que aceitei logo o desafio. Foi o início da minha aventura! Em Barcelona aperfeiçoei o meu espanhol e aprendi catalão. Conheci pessoas de inúmeros países e vivi experiências novas e inéditas. Adaptei-me à realidade do momento e, passados alguns meses, conheci o meu atual marido – o Jelle. Ele é belga e estava a fazer o mesmo tipo de trabalho que eu noutra ONG catalã.
O tempo passou e surgiu a oportunidade de fazer o mesmo trabalho, mas em Paris. Aceitei sem hesitar e, em meados de 2006, enquanto o Jelle voltava para a Antuérpia, comecei a viver na capital francesa. Foi uma experiência espetacular! Para nos vermos, viajávamos de 2 em 2 semanas de TGV, entre a França e a Bélgica.
Ao fim de meio ano o meu projeto acabou e decidimos ir viver juntos para a Antuérpia. 2007 foi um ano de altos baixos. Por sorte, encontrei logo trabalho, mas as mudanças foram tantas num pequeno espaço de tempo, que fiquei doente. Foi o início de uma doença crónica com a qual tive de aprender a viver e que hoje em dia está controlada.
Sou uma pessoa positiva e com a ajuda de família, amigos, festas e viagens consegui dar a volta e, em 2011, decidimos começar a tentar ter filhos. Em 2012 nasceu o Daniel. Passados 2 anos, voltei a ficar grávida. Infelizmente, durante o nascimento houve complicações, e a Laura faleceu. Foram momentos dificílimos. Para ser sincera, tenho a sensação que 2014 foi um ano em que não vivi…só respirei. A nossa vida parou naquela época mas, pouco a pouco, com muito esforço, em 2015 começámos a dar a volta. No fim desse mesmo ano, voltei a ficar grávida e, em 2016, nasceu a nossa estrelinha de esperança – o Mathis.
Os anos foram passando, mudei de trabalho, aprendi novas línguas e conheci novos amigos. Ri, chorei, aprendi a viver o dia a dia e hoje, em tempos de pandemia, não me deixo levar pelo pânico. Sempre que ele “bate à porta”, olho para trás e penso: isto é apenas mais uma parte da minha aventura! Uma nova estrelinha de esperança chegará.
És ou conheces algum (in)raizado sobre quem possamos contar estórias aqui no LUSO QUÊ?? Escreve um breve texto com esse relato, junta uma foto do(s) protagonista(s) e envia-o por escrito para o endereço eletrónico disponível em O vosso espaço. Se és daquelas pessoas que dizem não ter jeito para escrever, contacta-nos e nós ajudamos-te a dar forma à aventura que tens para contar – as boas estórias não se podem perder!
Agradecimentos
Muito obrigado pela vossa colaboração e pelos “grãos de areia” lançados ao projeto: Helena Matos, João Antunes, Nacho Flores e Pedro Sereno.