Urbanos e Campestres
LUSO QUÊ? 11/12/2020
Editorial
Cá estamos de volta com mais estórias para dar um toquezinho de cor e sabor ao fimde-semana que já espreita. Preparem-se para mexer bem esses ossos, pois temos uma edição estimulante e que certamente vai ativar os 5 sentidos, numa nova viagem por várias latitudes.
Chave na ignição e arrancamos deixando o Cais do Sodré atrás. Metemos a 1ª e soltando a embraiagem rapidinho, rodas a derrapar, já estamos a rolar a alta velocidade como o Gustavo Ribeiro na sua tábua. Curvas, saltos e peripécias garantidos, pelo meio de cenários urbanos únicos. Não esqueçam o capacete!
Engrenamos a 2ª, sem deixar desembalar, e num pulo vamos avançando pela Marginal aos som da East Side Radio. Abrimos a pista de dança contagiados pelos ritmos alegres e coloridos que jorram das colunas como cataratas dançantes.
A 3ª vem em seguida, mas aqui temos já uma acalmia. A mudança arranha ao entrar… sem problema, agora há tempo. Vamos lá assimilar e digerir com calma a estória “animada” de Vasco Granja, o professor que ensinou uma geração através da sua paixão pelos desenhos animados.
Estamos a chegar ao Guincho… o mar embravece-se, o vento levanta-se, os deuses manifestam-se, os papagaios losango sobrevoam as dunas e como se pudéssemos continuar a conduzir pelo Atlântico adentro, metemos a 4ª e relaxamos. Apetece pensar em coisas divertidas e que nos façam soltar umas valentes gargalhadas. Tocamos solo brasileiro e entramos pela Porta dos Fundos! Ironia, sarcasmo, toques na ferida, crítica acutilante e rir como se não houvesse amanhã.
Nada como finalizar em velocidade cruzeiro. A 5ª vai soltinha e encaminha-nos para
Cabo-Verde com passagem rápida por Portugal. Somos recebidos pelo imenso sorriso de Lura e inebriantes ondas de boa vibe. Convite para deixarmos corpo e mente guiarem-se pelos ritmos cálidos desta magnífica intérprete que mistura na perfeição as raízes africanas com as vivências em Portugal.
Até já!
1. Rolamentos alfacinhas
Fica difícil escrever com calma sobre quem anda normalmente a rodar a grande velocidade.Gustavo Ribeiro (skateboarder) tem demonstrado ser um verdadeiro prodígio numa atividade que reúne em si mesma inúmeras características. Desporto radical, movimento urbano, arte expressiva ou grito de emancipação para alguns. Sem dúvida, uma paixão incontrolável para os seus amantes e praticantes.
Este jovem lisboeta (19 anos) tem deixado o mundo de boca aberta com a sua genialidade e destreza incomuns para dominar o skate. Capaz de realizar manobras e truques incríveis (criador inclusive de movimentos novos), que por vezes nem em câmera lenta se conseguem entender ou percecionar na totalidade. Gustavo vem ganhando cada vez maior notoriedade e prestígio, pelo que tem viajado e levantado a bandeira portuguesa por este mundo fora.
Em 2019 obteve a medalha de bronze no campeonato do mundo, numa prestação e demonstração de mestria incrível. Não estranha portanto que faça parte de um restrito grupo de atletas (SLS “9 Club”) onde se encontram aqueles que conseguiram obter uma nota 9 ou superior por um truque ou manobra realizado durante um campeonato mundial de Street Skating.
Atualmente, faz parte da equipa profissional de renome mundial Red Bull e representa a JART Skateboards. Apesar de o solo ser o habitat natural onde expressa a sua arte, o céu parece ser o limite.
Saltem daí e venham ver algumas manobras vertiginosas e alucinantes!
2. Discos à solta
DJ sets em jeito de autêntica filigrana sonora, malta cheia de garra e com muita música dentro. Veterania certificada e com provas dadas, mas também sangue novo cheio de vontade de despontar. É o que nos espera neste projeto de radio online iniciado em 2019 por André Granada e Tiago Pinto (duo que forma Funkamente) com o objetivo de passar música sem uma linha editorial rígida e cuja programação não seja formal nem regular como acontece normalmente nas rádios FM. Aqui o foco está na arte dos convidados e na sua seleção musical.
Atualmente, de modo provisório, têm o estaminé montado nas traseiras da mercearia mexicana Pistola y Corazon e é desde aí que emitem.
A East Side Radio promove uma programação diversa que dura das 14h às 18h, de segunda a sexta-feira onde o convidado de serviço faz as honras da casa.
3. O eterno menino pedagogo dos “bonecos”
Quem nunca vibrou com as ousadias, as aventuras e desventuras, os enredos e rápidos twists, as lutas entre os bons e os maus, as derrotas e a glória, as façanhas dos superheróis? E há por aí alguém que não tenha sido extraordinária e repetidamente feliz navegando no universo dos desenhos animados?
A infância nutre-se desses mundos de personagens fantásticos, nas suas cores e formas deslumbrantes, nas possibilidades ilimitadas e também através da possível identificação que fazemos com alguns desses seres imaginados que, no fundo, têm vida própria. Talvez parte da formação do caráter até se jogue nessas partidas, nessas fascinantes sessões de desenhos animados.
Ultimamente, nas bizarras circunstâncias que vimos experimentando nos últimos meses, precisamos cada vez menos de vilões e desejamos que cheguem cada vez mais heróis que nos ajudem e nos motivem para seguir em frente. Um dos meus super-heróis é na realidade humano (verbalizo no presente, apesar de já ter partido) e fez algo que merece um franco tributo que procuraremos fazer humildemente aqui no nosso espaço. Vasco Granja (apresentador, cineclubista e professor) foi um dos maiores responsáveis pela difusão dos desenhos animados naquele ido e profundamente rural Portugal dos anos 70.
Durante anos e anos (em mais de 1000 emissões) este Sr. com ar de “cientista louco”, com cabelo grisalho e meio desgrenhado, óculos de massa, entrava assídua e magicamente pelas nossas casas. No seu sorriso permanente, era ele quem nos levava a alegria, o entusiasmo, a criatividade e magia, em suma a magnificência única dos desenhos animados na TV. Fazia-o numa linguagem que não sendo paternalista ou abebezada nós, crianças, entendíamos perfeitamente. Recordo como enquadrava e contextualizava o que se ia ver em seguida, nas suas introduções. Aproveitava sabiamente aquele espaço de entretenimento para introduzir referências culturais, artísticas e históricas. A genialidade de juntar o útil ao agradável – “sim, veem desenhos animados, mas entretanto também aprendem!”
Falamos do tempo em que os miúdos do bairro se juntavam nas casas dos amigos para verem os desenhos animados na televisão. A pantera cor-de-rosa, o Bugs Bunny e o Duffy Duck, o Mickey, o Tom e Jerry… Era a antecipação, a conversa prévia, os deliciosos lanches preparados com carinho pelas mães e avós… depois, em silêncio, os olhos pousavam no ecrã tentando não perder pitada. E quando acabava a magia, era continuar a sonhar transpondo as aventuras para as brincadeiras, já com a expectativa posta na sessão da tarde seguinte.
Fica, pois, o convite para que espreitem alguns desses momentos que marcaram indelevelmente e de forma positiva a vida de muitas crianças, deixando belas e bonitas recordações em toda uma geração.
4. Humor tropical
No cinema, o que acontece lá atrás, nas traseiras de casas, restaurantes, lojas e outros locais, costuma ser misterioso. É frequentemente algo que manifestamente se pretende ocultar e esconder. Nessa retaguarda entram personagens suspeitos, de forma sorrateira e à socapa. Também saem em corrida sujeitos em fuga, almas penosas e assustadas… É justamente nessa dualidade de entradas e saídas em terrenos pantanosos, que outros evitam ou procuram manter à distância, que a Porta dos fundos se movimenta livremente e com um à vontade estonteante.
Este coletivo brasileiro de excelentes atores toca sem medo e sem tabus os temas mais delicados da sociedade. Vamos rir-nos enquanto pensamos e refletimos sobre política, relações amorosas, ambiente laboral, religião e espiritualidade, estereótipos, racismo, e tantos outros assuntos atuais, pertinentes e nem sempre fáceis de abordar.
Humor ácido e acutilante baseado em guiões fantasticamente estruturados que recriam fielmente situações quotidianas que com um toque de especiarias ganham a dimensão exagerada, ridícula ou absurda que as torna irresistivelmente hilariantes.
Eis algumas sugestões para aquecer os motores. No canal oficial do Youtube encontrarão centenas de propostas imperdíveis.
5. A voz crioula com berço luso
São já mais de 25 anos de carreira repletos de discos, tournées pelo mundo fora, participações em projetos discográficos variados (Red Hot + Lisbon foi um dos mais destacados pela crítica), dança e energia contagiante. É impossível assistir a Lura em palco e ficar indiferente às suas atuações. Essa energia contagiante chega-nos também quando ouvimos as canções gravadas em estúdio.
Nascida em Lisboa, desde muito jovem começou a dominar o crioulo cabo verdiano que aprendeu junto da família, amigos e colegas de escola. O seu amor pelo país originário dos seus pais levou-a a cantar e compor usando essa língua e também reunindo as influências que estão na génese musical que caracteriza os sons nascidos nessa costa atlântica do continente africano.
A oportunidade que teve de trabalhar e acompanhar de perto a lenda da música cabo verdiana Cesária Évora (em Lisboa durante a Expo 98 e em Paris numa série de concertos), a participação no Festival RTP da Canção foram, entre outras, experiências que a ajudaram a construir uma carreira sólida que conta com inúmeros discos editados. Tem-se afirmado ao longo dos anos como uma das principais embaixadoras da música e cultura cabo verdianas.
Deixem-se guiar pela energia única desta diva, ao som de ritmos mexidos!
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