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LUSO QUÊ? 23/07/2021

Editorial

Chegamos ao final da temporada. Foram 26 edições (contando com esta) cheias de inquietação, curiosidade e um imenso prazer em poder trazer-vos novidades e procurar cumprir a assumida missão de divulgar e promover a língua portuguesa e a lusofonia nas suas diversas vertentes e expressões.

Durante este novo caminho que tem sido pôr em pé a publicação (desde Novembro de 2020) temos evoluído e a própria dinâmica e estilo desta vem-se modificando na tentativa de apresentar conteúdos numa forma e dimensão enquadradas no perfil dos nossos leitores e leitoras, com o claro intuito de ir de encontro dos interesses dos mesmos.

Fica aqui uma seleção de alguns dos melhores artigos publicados ao longo da temporada (foi difícil escolher apenas 10 de entre tantos) para que possam ver e rever, ler e reler, voltar a desfrutar deles. Cada artigo tem a indicação, junto ao seu título, da edição em que originalmente foi publicado e clicando no link regressarão à edição em questão e poderão revisitá-la. É uma espécie de viagem que combina um pouquinho daquilo que vem sendo o LQ? e nos permite ter uma visão abrangente do que realizámos ao longo de tantas semanas.

Agradecemos o apoio e interesse que vêm demonstrando pelo projeto. Um abraço especial para os colaboradores habituais que têm contribuído com as suas sugestões e críticas, ajudando-nos a crescer enquanto tentamos fazer melhor. Em Setembro estaremos de volta com energias renovadas e com muitas novidades. Bom verão e façam o favor de ser felizes!

Até já!

1. Francamente genial – LQ? #0

O Projeto “Língua Franca” reúne um quarteto de artistas portugueses e brasileiros em torno da ideia de homenagear a língua portuguesa através da música usando ritmos do hip-hop e rap, numa onda urbana em que a mensagem é primordial.

Capicua, Valete, Emicida e Rael, rappers, autores, letristas, todos eles a viver momentos de excelente produção artística,  criaram um conjunto de canções em que a língua de Camões toma o protagonismo. Chama a atenção a forma natural que encontraram de construir “pontes” numa época em que muitos se concentram em construir “muros”.

Longe vão os tempos em que dava vergonha cantar em português… e ainda bem! Escolhi o tema “Ela” para vos aguçar o apetite.

“Ela” – Língua Franca (3:43)


2. Rolamentos alfacinhas – LQ? #2

Fica difícil escrever com calma sobre quem anda normalmente a rodar a grande velocidade. Gustavo Ribeiro (skateboarder) tem demonstrado ser um verdadeiro prodígio numa atividade que reúne em si mesma inúmeras características. Desporto radical, movimento urbano, arte expressiva ou grito de emancipação para alguns. Sem dúvida, uma paixão incontrolável para os seus amantes e praticantes.

Este jovem lisboeta (19 anos) tem deixado o mundo de boca aberta com a sua genialidade e destreza incomuns para dominar o skate. Capaz de realizar manobras e truques incríveis (criador inclusive de movimentos novos), que por vezes nem em câmera lenta se conseguem entender ou percecionar na totalidade. Gustavo vem ganhando cada vez maior notoriedade e prestígio, pelo que tem viajado e levantado a bandeira portuguesa por este mundo fora.

Em 2019 obteve a medalha de bronze no campeonato do mundo, numa prestação e demonstração de mestria incrível. Não estranha portanto que faça parte de um restrito grupo de atletas (SLS “9 Club”) onde se encontram aqueles que conseguiram obter uma nota 9 ou superior por um truque ou manobra realizado durante um campeonato mundial de Street Skating.

Atualmente, faz parte da equipa profissional de renome mundial Red Bull e representa a JART Skateboards. Apesar de o solo ser o habitat natural onde expressa a sua arte, o céu parece ser o limite.

Saltem daí e venham ver algumas manobras vertiginosas e alucinantes!

“Nine to Five” (4:22)


3. Virtualmente lusófonos – LQ? #4

E agora venham daí dar uma voltinha pelo Museu Virtual da Lusofonia. Este projeto procura “promover o conhecimento por parte dos países lusófonos das suas inúmeras formas de expressão artística e cultural, que devem ser reunidas, preservadas e difundidas, quer dentro do contexto lusófono, quer a nível internacional.”

Nesta plataforma de ”cooperação académica, em ciência, ensino e artes, no espaço dos países de língua portuguesa e das suas diásporas” é possível aceder a arquivos divididos em 5 secções: biblioteca, filmoteca, fonoteca, galeria e glossários. Temos também acesso à programação que apresenta eventos, exposições e ainda a agenda científica (com seminários e congressos).

A equipa é essencialmente composta por elementos da Universidade do Minho em estreita colaboração com membros de universidades de países lusófonos (Brasil, Moçambique, Cabo Verde, Timor-Leste e Angola) e, inclusivamente, de outros países como Espanha e os Estados Unidos da América.

Trata-se de uma excelente iniciativa em crescimento e desenvolvimento e que pretende contar com a importante colaboração da cidadania através da sua participação ativa na recolha de obras (fotografias, registos sonoros, registos audiovisuais, textos, músicas, registos dos patrimónios arquitetónico e etnográfico) para engrandecer os seus arquivos e promover a lusofonia a nível internacional.

Merece totalmente a pena visitar e também, se for possível, colaborar direta e ativamente com a equipa do museu no desenvolvimento deste magnífico projeto.

4. O trota mundos – LQ? #20

Sabemos que o multifacetado Ondjaki cria constantemente ambientes e atmosferas muito particulares, onde se refletem as vivências do escritor angolano que está acostumado a caminhar pelas ruas da lusofonia, já que ao longo da sua vida viveu em Angola, Brasil e Portugal (também em Nova Iorque e Itália, onde estudou). Fica uma breve entrevista feita pelo TDM (canal de Macau) onde podemos conhecer um pouco melhor o poeta angolano e a variedade de experiências que vem vivendo nos últimos anos, bem como o trabalho que está realizando e uma visão pessoal sobre a Angola atual.

TDM entrevista Ondjaki (35:20)


5. O 4×4 das teclas – LQ? #6

É exatamente isso. Júlio Resende é como um todo-o-terreno que se adapta e move com total liberdade em qualquer terreno musical. Tendo começado a estudar piano muito jovem, com apenas 4 anos, e apesar da sua formação ser fundamentalmente de jazz e clássica, este genial pianista gosta de atravessar e habitar territórios sonoros variados.

A sua vasta e extensa obra, tendo em conta a sua idade, demonstra-nos exatamente esse gosto pela exploração do fado, rock e outros géneros. Daí surgiram imensas colaborações e participações em projetos com outros artistas. Por exemplo, em 2017, numa homenagem aos 20 anos do álbum “Ok Computer” dos Radiohead, com Salvador Sobral (ambos membros do projeto Alexander Search). Também com António Zambujo, em 2013 no Hot Club de Lisboa, interpretando “A tua frieza gela”. Ou, com Elisa Rodrigues onde toca “Dumb” de Nirvana, em 2011.

Um destaque especial para o disco “Amália”(2013), onde Júlio Resende se “atreve” a interpretar canções da fadista maior. “Medo” é um dos temas mais bonitos deste álbum.

“Medo” – dueto com Amália Rodrigues (5:03)


Num dos seus mais recentes trabalhos, vemos como integra a eletrónica na sua composição, resultando numa sonoridade viva e enérgica, bastante coesa e com um toque inovador.

“Fado Cyborg” (3:02)


Ainda uma referência ao “Júlio Resende Fado Jazz Ensemble” onde podemos ouvir pérolas tão belas como este “Vira Mais Cinco (para o Zeca)”.

Vira Mais Cinco (para o Zeca) (3:32)


Visitem a página oficial deste engenhoso artista para acederem a mais surpresas deliciosas.

6. Matar não cala – LQ? #13

Foi cobardemente assassinada no dia 14 de março de 2018 na região do Rio de Janeiro. Marielle Franco tinha 38 anos de idade. A História da humanidade está, infelizmente, repleta de mortes por assassinato que têm como protagonistas pessoas que lutaram firmemente pelas suas convicções de forma altruísta. Marielle foi uma socióloga e política filiada ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), elegeu-se vereadora do Rio de Janeiro para a legislatura 2017-2020. Defendia o feminismo, os direitos humanos, e criticava a intervenção federal no Rio de Janeiro e a Polícia Militar, tendo denunciado vários casos de abuso de autoridade por parte de policiais contra moradores de comunidades carentes. Mataram-na vilmente, mas jamais abafarão a sua voz!

Breve entrevista – Mulher, raça e classe (5:20)


7. Karnalizando – LQ? #15

O historiador e professor Leandro Karnal dá-nos uma breve e clara lição de 10 minutos sobre a felicidade. Não existe “uma” felicidade e ela não é universal. Não confundamos a felicidade com alegria e tristeza. A felicidade é estrutural. Ela é o presente, o aqui e o agora. A felicidade requer um treino de foco. Podemos, para além de trabalhar na procura da nossa própria, dar felicidade aos outros. A importância de saber o que está ao meu alcance e posso mudar. O autoconhecimento e a gestão de expectativas. Somos animais políticos e, logo, vivemos necessariamente em convivência com outras pessoas. Solitude vs solidão. Uma “chapada” doce! Vão ver.

4 passos para buscar a felicidade – Leandro Karnal (10:32)


8. E agora… o corá – LQ? #21

A música lusófona é um autêntico paraíso no que diz respeito ao sem fim de instrumentos que se tocam nos diferentes géneros e estilos existentes. Só no universo das cordas existe uma variedade incrível. Um dos instrumentos mais fascinantes, fortemente presente na música produzida no continente africano, é o corá. Falar-vos sobre ele é um desejo antigo que finalmente decidimos levar avante.

O corá é feito através de uma arte ancestral que se reflete num trabalho manual com uso de madeira e uma cabaça de grandes dimensões. É uma caixa de ressonância constituída por meia cabaça coberta com pele de cabra e um longo cabo cilíndrico com cordas sobrepostas em grupos. A sua versão tradicional conta com 21 cordas, que podem ser tocadas com os dedos indicador e polegar de ambas as mãos.

Como dissemos antes, trata-se de um instrumento maioritariamente presente em muitos países africanos, embora seja possível encontrar a sua presença em projetos musicais oriundos de outros continentes. A Guiné-Bissau é indubitavelmente um dos berços deste singular instrumento e é deste lindo país que têm surgido alguns dos melhores tocadores de corá do mundo.

Deixo-vos aqui um vídeo onde o Mestre Galissa, um verdadeiro especialista, nos transmite vários detalhes sobre os segredos do corá, quais as principais evoluções que o instrumento tem apresentado, como se pode construir um corá, como aprender a tocá-lo, o que fazer para preservar esta arte e passá-la a novas gerações e algumas outras dicas valiosíssimas. Poderão também assistir à interpretação de pequenos trechos musicais em que o Mestre toca e canta.

Galissa – Mestre de Corá (9:50)


9. Cantigas livres – LQ? #19

São tantas. Começando com “Grândola”, o hino criado por Zeca Afonso, passando pela canção código “E depois do adeus” de Paulo de Carvalho e fazendo paragens nos trabalhos de Fausto, Fernando Tordo e tantos outros. Há uma mão cheia de verdadeiros tesouros cancioneiros que cantam a liberdade. O antes, o durante e o depois da luta.

Escolhemos deixar-vos dois temas que nos parecem belos e especiais. A imortal ”liberdade” (já com várias versões desde a sua criação) cantada pelo multifacetado Sérgio Godinho. Quisemos passar este “hino”, ode à liberdade, sublinhando a merecida homenagem que o artista recebeu no passado dia 25. Tocamos também a sentida homenagem que o projeto A garota Não fez a José Mário Branco. Recordar o ativista e pensador, para não o esquecermos. Para não esquecermos quanto custou recuperar a liberdade e o seu incalculável valor.

Liberdade – Sérgio Godinho (3:52)


Canção a José Mário Branco – A garota não (6:06)


10. Estação da saudade – LQ? #7

Já imaginaram um museu dedicado a homenagear e contar uma língua. Pelos vistos existe um e logo da língua que amamos – o português. Numa antiga e bem conservada estação ferroviária – a Estação da Luz – em São Paulo (Brasil) está sediado o Museu da Língua Portuguesa, cuja inauguração ocorreu em 2006. Poder visitá-lo será mais uma razão, de peso, para dar um pulo até esta magnífica metrópole.

Embora atualmente esteja a ser reformado, podemos fazer visitas, descobrir o que conserva e explorá-lo à distância sem perder nem uma migalha do interessante espólio que alberga. Na página oficial do museu somos convidados a realizar uma completa e muito bem organizada visita virtual. Através do canal de Youtube temos à disposição inúmeros vídeos alusivos a exposições temporárias que se realizaram neste espaço, homenagens e eventos especiais, entre outros conteúdos interessantíssimos.

O que podemos ver no museu? Muitas coisinhas boas e interessantes. A cronologia histórica da língua portuguesa desde as suas origens e o seu desenvolvimento até à atualidade. Curiosidades sobre palavras tão presentes na lusofonia como “saudade” ou “trabalho”. A maior palavra da língua portuguesa. O processo de mistura entre o português original de Portugal com as línguas indígenas e as línguas europeias originando o português do Brasil. Notas sobre o importante contributo que Oswald de Andrade teve para a génese da cultura brasileira (prometemos dedicar futuramente um artigo ao brilhante poeta paulista). Também há espaço para futebol (como não, se estamos no Brasil?) e cinema. E a árvore das palavras, que apresenta aspetos etimológicos relacionados com o latim e o grego. Tudo isto e ainda mais coisas que não desvendamos.

O programa “Conhecendo Museus” fez uma ótima reportagem sobre o museu. Em aproximadamente 25 minutos, guiados pelo Diretor António Carlos Sartini, ficamos com uma ideia clara sobre a história do museu, a sua missão, como estão organizadas as exposições, a relação da instituição com importantes artistas brasileiros, etc. Tudo isto numa linguagem acessível que nos mantém com a atenção ativa durante todo o episódio e nos dá a oportunidade de contactar com o português do Brasil.

Ficamos ansiosamente aguardando pela reabertura (será no dia 31 de Julho de 2021). Entretanto, vão lá espreitar!

Conhecendo museus (26:01)


Agradecimentos

Muito obrigado pela vossa colaboração e pelos “grãos de areia” lançados ao projeto:

  • João Antunes
  • Joca Marino
  • Nacho Flores
  • Pedro Sereno
  • Pilar Pino

O vosso espaço Queres falar connosco? Tens sugestões ou ideias? Há temas ou assuntos que gostarias de ver tratados? Queres colaborar com o LUSO QUÊ?? Estamos à tua espera de braços, ouvidos e olhos bem abertos! Escreve-nos