Nas vossas mãos
LUSO QUÊ? 09/07/2021
Editorial
Estamos nas vossas mãos! Melhor dito, esta edição saiu delas.
Como sabem gosto de sair da caixa, ir à procura do desconforto, ver por onde ainda se pode experimentar, ir, descobrir, arriscar… Foi assim que cheguei a uma ideia talvez original de celebrar a nossa edição “quarteirão” – a forma antiga ou menos usual para denominar 25 unidades. Pois é, contando com o salto no vazio que foi a edição #0, esta é a vigésima quinta “aventura”. Pensei que podia deixar o “estaminé” nas mãos de quem gosta de nós, nos segue, lê e apoia. Foi então que me ocorreu que cada um dos leitores e leitoras poderia de forma absolutamente livre escolher um tema lusófono e que, posteriormente, trataria de criar os nexos, as uniões e canais entre todos os temas de modo a dar cara à edição.
Deste modo, agradecemos o vosso carinho e atenção permitindo-vos expressar uma das vossas preferências, insistências ou curiosidades lusófonas criando uma ramificação única. Depois de ter pensado nisto antevi o desastre. E se ninguém envia nada? Ou se todas as propostas são “toscas”, pobrezinhas ou feitas à pressa? E se não encontro forma de as encaixa umas nas outras?
Concluí que nada disso é tão importante como podermos construir conjuntamente uma publicação, partilhando o nosso interesse comum pela arte, história, cultura e língua lusófonas. Em tudo há riscos. Há sempre riscos. A todo o momento. Contudo, nos riscos e desafios (quem é do jiu-jitsu bem sabe) nunca perdemos: aprendemos ou ganhamos.
Eis, portanto, o resultado possível da combinação das vossas fundamentais dicas, sugestões e ideias. Muitíssimo obrigado a tod@s! Espero que gostem e desfrutem desta edição tanto como eu o fiz enquanto artimanhava como “colar” tudo.
Até já!
Uma breve nota introdutória apenas para esclarecer que a ordem em que se encontram as entradas foi verdadeiramente sequenciada pela chegada das vossas propostas, uma vez que fomos aceitando todas as dicas até ao último minuto. É, pois, bastante provável que nalguns casos a passagem de um artigo ao seguinte resulte num casamento perfeito e, noutros, numa queda pelas escadas abaixo. Ainda assim, as pontes entre artigos não serão hoje a nossa maior preocupação. Vejamos então o que vos passou pela cabeça!
1. Sábia dúvida (Miguel Martínez, Sevilha)
Começamos logo com este belo embalo de dúvida amorosa. Uma magnífica canção interpretada pelas doces vozes de António Zambujo e de Roberta Sá. Ficamos a pensar o que poderia acontecer se a guitarra de Yamandú Costa tivesse mais cordas ou se ele tivesse mais dedos. Sensacional!
“Eu já não sei” – António Zambujo, Roberta Sá & Yamandú Costa (6:13)
2. Do Porto, em Gaia, com arte (André Marinho da Rocha, Sevilha)
Seguimos com Avelino Rocha, um homem do Porto, um artista inquieto e multifacetado. Dedicou-se paralelamente ao ensino secundário e superior, enquanto produzia a sua extensa obra de cerâmica, pintura e escultura (mais de 15 exposições realizadas ao longo da carreira). Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. Neste vídeo temos a oportunidade de rever a exposição que foi feita em homenagem ao seu trabalho (quando acabava de celebrar o octogésimo aniversário) e na qual apresentou o seu livro intitulado “Caminhos (In)acabados”, na Casa Museu Teixeira Lopes.
Caminhos (In)acabados (3:17)
3. Pelo Nordeste fora (Marieta Freitas, Lisboa)
Damos um saltinho rápido à genialidade inarrável do grande mestre Chico. Somos embalados numa “tour” musical pelo nordeste brasileiro cujo poema é absolutamente fantástico pela rima e a escolha de cada uma das palavras que contam a aventura.
“A violeira” – Chico Buarque (3:01)
4. Religiosamente enchida (Isabel Campos, Oeiras)
Depois das três delícias anteriores começa a ficar-se com alguma fome. É um ótimo momento para ficar a conhecer melhor a alheira. Este enchido típico da gastronomia portuguesa (com origem na região de Trás-os-Montes) surgiu numa interessante forma que os judeus encontraram de continuar guardando os seus costumes sem criar atritos e evitando conflitos, enquanto se integravam na sociedade cristã (espreitem a história no enlace anterior). Deixo-vos aqui duas receitas. Na primeira aprendemos o processo para criar o enchido e na segunda vemos como podemos criar um prato composto, usando a alheira na sua forma mais tradicional. Atualmente, a alheira utiliza-se para criar inúmeros e variados pratos como croquetes, migas, etc.
Como se faz a alheira (5:40)
Receita tradicional da alheira de Mirandela (3:59)
5. Mia sem medo (Roger Weber, Gines)
Talvez uma boa digestão se faça ao colo da boa literatura. Esta magnífica sugestão convida-nos a assistir à leitura de um texto lido pelo “gigantesco” Mia Couto num encontro realizado no Estoril a propósito do tema “segurança”. A beleza e valor da sua obra já foi várias vezes tocada e hoje voltamos lá. Neste vídeo, o autor moçambicano toca a história recente de Moçambique abordando o tema da segurança mundial. Ao seu estilo leve mas direto chama a nossa atenção para o que se poderá fazer para que o mundo seja um sítio melhor para TOD@S. Fala-se de interesses económicos e financeiros, de violência, armas, fome, da violência sobre as mulheres, de muros… do medo! O vídeo é de 2011. No entanto, é incrivelmente atual e é necessário ouvi-lo e pensar. Para que o medo acabe!
Há quem tenha medo que o medo acabe (7:44)
6. Golos que rimam (João Antunes, Benfica)
Há mundos que aparentemente não se cruzam, ou pelo menos não é frequente que assim aconteça. Francisco Geraldes é um jovem jogador de futebol com uma carreira que vem consolidando no futebol internacional de primeira linha. Paralelamente à paixão pelo desporto “rei” sempre alimentou o namoro com as letras. Publicou recentemente um livro de poesia intitulado “Cito, longe, tarde”. Conheçam-no nesta breve entrevista.
Pela Feira do livro com o Francisco Geraldes (4:32)
7. Lx Underground (Rita Veloso, Oeiras)
É unânime a beleza e variedade estética e cultural que a capital portuguesa ostenta. É impossível visitar a cidade e não ficar apaixonado por ela. Mas o que acontece por baixo do solo? Ou melhor dizendo, que histórias contam as camadas que estão por baixo do chão lisboeta? Preparem-se para uma viagem incrivelmente interessante através da arquitetura e engenharia romanas que remontam a mais de 2000 anos e que ainda hoje se mantêm debaixo das ruas alfacinhas.
Galerias romanas (7:20)
8. O errado no certo (Jorge Marino, Londres)
Há diversas maneiras de entender o mundo e a vida. Eduardo Marinho é uma artista, escritor e filósofo que tem levado a vida pensando, refletindo e procurando explicações/soluções para as inúmeras perguntas que o assaltam. Tem vivido intensamente e de forma nem sempre convencional à luz do que é tradicionalmente aceite. Já lhe chamaram imensas coisas, entre as quais “filósofo de rua”. Acredita que a “miséria é planejada”, no afeto e tem ·medo de viver uma vida sem sentido”. É um excelente comunicador e neste vídeo faz uma apresentação formidável e inspiradora. Preparem-se para pensar. A vida deve valer a pena!
A determinação para achar o sentido da vida: Eduardo Marinho (17:56)
9. Olhos na ponta do lápis (Fernando Germán Montes, Sevilha)
O Germán é um artista multifacetado e uma mente flexível em ação. Viveu a infância em Lisboa e cedo se apaixonou pelo país e pelo povo português. Regressou a Espanha fixando-se em Sevilha onde dedicou a sua vida ao ensino e à arte tendo tratado de viajar pelo mundo fora conhecendo imensa gente de culturas diversas. Teve a gentileza de partilhar connosco alguns dos trabalhos que elaborou sob a forma de desenho durante as inúmeras passagens que fez por Portugal.
LQ? FM
Esta secção vem, de alguma forma, dar continuidade ao que já se fazia nos “Discos Pedidos” dos números anteriores, embora com um foco ligeiramente distinto.
Tendo como pano de fundo a nossa playlist no Spotify, com o título “Luso Quê? – Sons da Lusofonia”, usaremos este espaço para ir destacando as novas entradas, as descobertas felizes, as canções preferidas pelos nossos seguidores e também as sugestões que nos façam. Dancemos e cantemos juntos!
Nesta edição apontamos o foco para um disco que rodou em “loop” enquanto os caquinhos, os fragmentos, os pedacinhos foram encontrando a forma de amoldar-se e formar um todo. Hoje a rádio é da Marisa Monte. Escutemos algumas das faixas de “Portas”, o seu mais recente trabalho. Uma obra de altíssima qualidade, com ótimos arranjos e letras deliciosas. Conta com músicos que são autênticos craques e com a brilhante participação de excelentes artistas, verdadeiros astros da música brasileira. Sei que não se vão aborrecer, pois há portas para tudo e para todos os gostos.
“Portas” (3:15)
O intro que indica a importância e beleza de ir abrindo várias portas para ficar a conhecer o que há em cada corredor e poder ventilá-lo.
“Calma” (3:54)
Alto astral, tudo sob controlo. Boa onda e uma secção de metais que arrebita qualquer um, mesmo nos dias mais negros.
“Déjà Vu” (3:49)
Ora orquestra, ora guitarrada elétrica… sempre com a melosa voz de Marisa cantando uma bonita mensagem de amor.
“Quanto tempo” (3:15)
Basicamente é “só deixar, a canção vai-te levar onde você quer chegar”. Um refrão lindo e um acompanhamento com cordas, violoncelo e violinos verdadeiramente onírico.
“Praia vermelha” (3:33)
Andamos todos a pensar em ir dar uns mergulhos no mar salgado e apanhar sol. Curtam os belos coros, a flauta hipnotizante e a percussão que marca a intensidade e ritmo deste tema.
“Pra melhorar” (5:00)
Uma linda mensagem de luta, esperança e positivismo para nos manter inspirados e motivados. Na vida há sempre solução! A melhor forma de fechar o disco!
Agradecimentos
Muito obrigado pela vossa colaboração e pelos “grãos de areia” lançados ao projeto:
- João Antunes
- Joca Marino
- Nacho Flores
- Pedro Sereno
- Pilar Pino
O vosso espaço Queres falar connosco? Tens sugestões ou ideias? Há temas ou assuntos que gostarias de ver tratados? Queres colaborar com o LUSO QUÊ?? Estamos à tua espera de braços, ouvidos e olhos bem abertos! Escreve-nos